"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

04 fevereiro 2011

A Tribuna ou o Púlpito?



Posse dos deputados federais eleitos para a 54a. legislatura
Posse dos novos deputados federais. Créditos: Site da Câmara dos Deputados


Por Vanderson Moura da Silva


Hoje é o dia em que tomam posse os 513 deputados federais eleitos para a nova legislatura. Destes, 71 compõem a chamada “bancada evangélica”, o que representa um acréscimo de 65% em relação aos 43 do período antecedente. A maioria desses congressistas, como é largamente sabido, ocupam posição de liderança em suas respectivas igrejas, isto é, ao menos em tese, exercem função pastoral, ainda que com títulos como bispo etc. Pelas Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores Brasil afora a participação desses políticos é igualmente significativa, como sabemos.


O testemunho que essa crescente bancada vem dando ao longo dos anos, com as honrosas exceções de sempre, tem deixado muito a desejar. Para ficarmos apenas na esfera federal, em escândalos como os do “Mensalão”, da “Máfia das Ambulâncias”, dos “Anões do Orçamento” etc. sempre tem aparecido o nome de parlamentares a ela pertencentes, enxovalhando o nome de Cristo (de que se dizem portadores) aos olhos da sociedade brasileira, já tão carente de exemplos de autoridades que lhe sirvam de referência na integridade ética e moral.


Porém, não é sobre o péssimo testemunho desses supostos “irmãos” que quero tratar hoje aqui. O que gostaria de abordar hoje é um aspecto pouco debatido quando se discute a atuação dos políticos evangélicos: o fato de muitos deles deixarem a função pastoral que alegam exercer para atuarem em cargos eletivos. Afinal, não é no mínimo questionável que, num País onde a falta de obreiros em muitos campos missionários é gritante, tantos pastores pretextem ter chamado do Senhor e, no entanto, se lançarem candidatos para a carreira política? E o chamado ao pastorado que receberam (ou dizem ter recebido), não estaria sendo traído por eles? E, se estão traindo o chamado, estariam eles em condições espirituais para o próprio papel original de liderança eclesiástica?


No estado de São Paulo mesmo, a minha denominação batista se vê às voltas com a constrangedora realidade de igrejas e congregações fechadas por falta de obreiros — e, para maior constrangimento ainda, a situação é mais grave justamente na região onde se estabeleceram os seus primeiros missionários, vindos dos EUA, os quais organizaram em 1871 a primeira igreja batista em território nacional. E, passados tantos anos, ainda é grande o número de municípios sem nenhum trabalho batista em terra bandeirante. Tudo isso torna legítimo questionar, por exemplo, o porquê de um ministro do Evangelho jubilado, ou perto do jubilamento, ter ainda “lenha para queimar” na atividade política, mas não para dar alguma ajuda naqueles trabalhos, onde a contribuição dele seria de valor inestimável.


Portanto, salvo situações excepcionais, seria mais apropriado deixar que alguns dentre as próprias ovelhas (não gosto do termo “leigos”) se envolvessem na disputa e exercício de cargos políticos eletivos, e os pastores se ocupassem da “excelente obra” do episcopado (1 Timóteo 3.1), que é o seu mister (1 Pedro 5.1ss). E essa “excelente obra”, como nos lembra o autor de Hebreus, consiste em  velar pelas almas das ovelhas, como aqueles que hão de dar conta delas (Hebreus 13.17). Aos ministros fieis à sua vocação é dada a bendita promessa: “Quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória” (1 Pedro 5.4).


O grande número de pastores (ou “pastores”) lançando-se candidatos em cada período eleitoral é mais um indicador da triste situação espiritual em que se encontra hoje o movimento evangélico nativo. E é mais um motivo para encararmos com maior senso crítico o bordão “irmão vota em irmão”.


Fonte: Texto gentilmente cedido pelo autor  e disponível originariamente em "Polemista Reformado" 

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