"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

29 dezembro 2009

"O Cavaleiro Das Trevas"






















Por Jorge Fernandes Isah


1) Assisti ao filme “O Cavaleiro das Trevas” com o meu filho, dias atrás. A direção é do Chris Nolan, um diretor de qualidade, responsável por bons produtos como “Amnésia” e “Insônia”. A partir de “Begins”, ele assumiu a direção da grife criada pelo lendário Bob Kane nos anos 30. Batman é um personagem interessante, conflituoso, e que ainda mantém certa moralidade mesmo nos tempos pós-modernos e relativistas de hoje (o que prova que o homem comum tem no seu íntimo a Lei Moral de Deus).
O filme é permeado por disputas morais e éticas, onde o bem e o mal se digladiam numa luta sem fim. Não vou entrar nos méritos da produção, direção e interpretação. Há pessoas mais qualificadas para isso. Ater-me-ei ao fato que julgo principal no filme, e que Nolan destaca: a fé no homem.
Desde o início existe uma confrontação entre a justiça e a injustiça, entre polícia e bandidos (alguns infiltrados no governo), entre moral e imoral (ainda que os limites da moral estiquem-se para além da moralidade), entre ético e antiético, entre bem e mal. Esse dualismo, se não me engano, remete a Descartes e Locke, mas talvez a algo mais distante: os gnósticos, Aristóteles e Sócrates. O mundo da ficção é assim mesmo, e o dos quadrinhos nem se fala, mas no mundo criado por Deus não há dualismo. O mal não é uma força antagônica a Deus, antes sujeita-se, servindo-O como tudo o mais no universo. 

2) Para a indústria do cinema Deus é um espectador. Durante as duas horas e meia do filme Ele está ausente, excluído do mundo, ainda que do mundo fictício. Sobra espaço para a sorte, o acaso, o destino e outros tons místico/fatalistas (o promotor Dent lançando o “cara ou coroa” antes de executar as suas vítimas é um exemplo). No mundo de Gothan onde sobra maldade, delitos e desordem, o homem rejeita Deus, mantendo-se mais e mais distante enquanto afunda-se na destruição. Para o homem pós-moderno o pecado individual não existe, há somente o pecado institucional e coletivo; e a sociedade desesperadamente busca um salvador, mas nem Estado nem cidadãos estão aptos. Um super-herói talvez. Mas será ele capaz? 

3) Ainda que Gothan City esteja dominada pelo submundo do crime: Máfia, corrupção policial, tumulto social, etc, o inspetor Gordon, o promotor Dent, e o Homem-Morcego, representam o lado “benigno” da raça humana. Eles são os guardiões, os paladinos, nos quais a cidade deposita a sua esperança. Há um tom otimista em meio ao pessimismo, de que no limiar da crueldade os homens poderão redescobrir a bondade esquecida, e buscar em si mesmos o fio de esperança que tornará o mundo um lugar justo e melhor para se viver. Mas o próprio filme encarrega-se de destruir esse paradigma. 

4) Batman é o herói anti-herói: incompreendido, rejeitado, acusado (inicialmente as pessoas se fantasiam de Homem-Morcego, e se sentem estimuladas a combater o crime)... e, por fim, culpado. Ele vê todo o seu esforço em manter a paz e a ordem em Gothan culminar num encadeamento de tragédias onde todos os planos redundam, um a um, em estrondosos fracassos (mesmo quando aparentam vitórias). Neste ponto, Batman, Dent, Gordon e Gothan têm o mesmo sentimento: vulnerabilidade; e estão à mercê da insanidade catastrófica do Coringa. O mal toma as suas feições, e parece invencível. Batman e Dent são alçados aos postos de heróis, de salvadores, mas a impressão é de que o mal triunfará; personificado no caos fomentado pelo Coringa, o qual, implacável, derrota cada investida do trio do bem (não há aqui a alusão à Trindade Santa como nos filmes “O Senhor dos Anéis” e “Matrix”). 

5) Na seqüência em que o Coringa coloca bombas em dois barcos, um abarrotado de cidadãos fugindo do caos e outro com os prisioneiros mafiosos transportados para fora da cidade; ambos são alvos da ira do vilão. Dois detonadores são colocados nos barcos, e cada um deles tem o poder de destruir o outro barco. O Coringa coloca em xeque a moral ou a amoralidade da população. Trava-se uma luta pela ética: até que ponto tem-se o direito à vida alheia? Deve-se apertar o botão e destruir centenas de vidas a fim de se salvar? Há uma tensão moral, uma disputa na mente das pessoas entre o certo e o errado, e em alguns momentos a indecisão ou covardia parece ser o ponto determinante.
Fico a imaginar se esta cena fosse real. Não haveria uma disputa para se apertar o botão primeiro e mandar aos ares o barco “inimigo”?
O desfecho da cena sugere que a salvação do homem encontra-se no coletivo, na consciência social, e de que ela será capaz e suficiente para resgatá-lo do mal. 


6) De certa forma, Batman assemelha-se a Cristo, ainda que seja uma semelhança estética, fragilmente delineada. O filme parece mesmo uma alegoria à Bíblia. Batman é o homem encarregado de redimir o povo de Gothan, assim como Cristo redimiu os Seus eleitos. Batman, ao assumir os crimes cometidos por Dent, torna-se criminoso, sem, contudo, ser condenado. Cristo, ao assumir os pecados dos escolhidos, tornou-se criminoso, pagando o preço com a própria vida, derramando o Seu sangue na cruz do Calvário. Batman era incompreendido pelos cidadãos de Gothan. Apenas Alfred, Lucius, Gordon e o filho, sabiam de sua inocência. Cristo foi rejeitado até por Seus discípulos. Batman foi perseguido. Cristo também, culminando em sua morte expiatória. Batman foi odiado. Cristo, idem. 

7) Batman jamais salvará Gothan (ele tem de conviver com os seus pecados, erros, e consciência aflita), por mais altruísta que seja, o super-herói não está disposto a morrer por Gothan, e ela sabe disso: nunca estará livre do mal, do Coringa e do caos, mesmo que Batman se decidisse pelo sacrifício. Cristo não tem pecados, e entregou-se voluntariamente pelos Seus como o único meio pelo qual o homem é salvo. Batman não tem controle sobre si mesmo. Ele simplesmente reage aos fatos. Cristo tem completo controle sobre Si (Jo 10.17); sobre todas as coisas (Jo 1.3), inclusive o pecado, a morte e o mal (Hb 4.15; Rm 6.9; 2Co 5.10).
 
8) O Cavaleiro das Trevas é uma ficção, como o homem que deseja salvar a si mesmo também vive uma ficção. E olhará para si, e se verá condenado. Assim como Bruce Wayne está confinado ao estigma do morcego, o homem está preso às correntes do pecado, e por si só é impossível livrar-se. 

9) Ao contrário, Cristo é o poder real, o único e suficiente salvador do homem: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). A realidade irrefutável de que Deus não é um mero espectador e não pode ser alijado do universo (a despeito da vontade e dos esforços sobre-humanos), é que Ele opera a redenção na vida dos eleitos pelo Seu Filho Amado. 

10) Cristo é a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem, mas o mundo não o conheceu. E como Batman, o homem cavalga nas trevas, rumo à condenação.

Fonte: Kálamos

18 dezembro 2009

Lutero e a Bula de Excomunhão

“Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito” (Êxodo 20.3).













 Pr. Marcos Antônio Ferreira*
  
O dia 10 de dezembro, passado na última quinta-feira, é uma data muito importante na história da igreja cristã. Nesse dia, em 1520, o ex-monge agostiniano Martinho Lutero queimou em praça pública, em ato simbólico, a bula papal que o excomungava da Igreja Católica Romana. Esta ação de Lutero tem um significado muito importante para a igreja em todas as épocas. Antes de tudo, significa que a consciência de todos os cristãos não está cativa a instituições terrenas, nem a suas autoridades, mesmo que se proclamem os donos da verdade e sustentem que seus atos são feitos em nome de Deus, em nome de Jesus, ou na autoridade do Espírito Santo. Isto quer dizer que, individualmente, todo cristão sincero e comprometido com os valores e propósitos do reino de Deus é um sacerdote e profeta na Casa de Deus, conclusão derivada de um dos fundamentos doutrinários da Reforma – o sacerdócio universal dos crentes.

  O sacerdócio universal dos crentes foi uma doutrina que Lutero e os demais Reformadores nos legaram, mas que sempre esteve implícita em toda a Escritura Sagrada e mais explícita ainda no Novo Testamento. Porém, a igreja medieval a obscurecia sob o manto das autoridades episcopais e de sua hierarquia sacerdotal. Os bispos e seus concílios se achavam acima do bem e do mal, inquestionáveis sob todos os ângulos. Os motivos da excomunhão de Lutero foram suas ousadas publicações e suas conseqüências naturais. Começou com as 95 teses contra a venda das indulgências e prosseguiu com diversos livros que conclamavam o povo cristão a se submeter somente à autoridade das Escrituras. Se Lutero não tivesse a consciência de profeta e fosse primeiro pedir licença a seus superiores hierárquicos para publicar suas obras, não seria ele o grande pivô da revolução que a História denominou de Reforma.

  Por isso, todo o povo de Deus pode ser profeta. Uma das funções principais do profeta é denunciar o erro, o pecado, sem pedir licença a ninguém, mesmo se os transgressores sejam os que usam como escudo seus ofícios eclesiásticos e pomposos títulos de “ungidos do Senhor”, como se só eles o fossem. Infelizmente no meio evangélico essa tal síndrome de “ungidos do Senhor” em exclusividade vem tomando corpo por grande influência do pentecostalismo e seus afluentes. Mas nenhum cristão pode perder a visão de estar sempre alerta contra desmandos e negligências de lideranças frequentemente apenas preocupadas com a manutenção de suas vaidades, inclusive e principalmente as vaidades espirituais alimentadas pela síndrome dos “ungidos do Senhor”.

Nota: * Texto gentilmente cedido pelo irmão e amigo Marcos A. Ferreira,  pastor presbiteriano em Campos - RJ. 

13 dezembro 2009

Seria o Gênesis História de Criança?







Por Mário Persona*


Esta é a resposta que dei a alguém que comentou o vídeo #164 do "Evangelho em 3 minutos". Vou transcrever aqui parte do comentário para contextualizar minha resposta:

"Já ouvi várias crianças perguntarem a seus pais como nascem os bebes. Como você responderia esta pergunta para uma criança de 5 anos? Você falaria que "papai plantou uma sementinha na barriga da mamãe" ou você reponderia que houve uma relação sexual e um processo chamado espermiogênese no qual uma célula normalmente diploide, através de um processo chamado meiose dá origem à celulas aploides onde não existem pares de cromossomos e que estas celulas se fundirãso perfeitamente a outro tipo de célula, os óvulos, e que estas passariam por processos de divisão celular, (mórula, blástula...) seriam formados folhetos embrionário e assim vai...

O que ocorreria se Deus contasse isto à Moises. Será que o povo ná época estaria pronto para ouvir isto? O que Deus,nosso Pai usaria para explicar? Não seria mais facil falar que fez o Bonequinho de Barro e sopro o espírito de vida?"

Prezado, acredito que você não tenha percebido o quão orgulhosa e soberba é sua afirmação. O que o faz pensar que é "mais evoluído" que Moisés? Em que "plano evolutivo" você acredita estar, ao afirmar que para falar com Moisés Deus precisava reduzir seu discurso ao diálogo com uma criança de 5 anos, enquanto com você Deus falaria como adulto?

É bem provável que Moisés soubesse como foram construídas as pirâmides, coisa que nem você nem a ciência atual ainda tem certeza. Moisés ouviu a voz de Deus em alto e bom som. Você ouviu? Ele esteve tão perto de Deus ao ponto de sua face brilhar. Você? Deus revelou a Moisés a respeito de Cristo que só viria mil e quinhentos anos depois. Pergunto: Você acaso sabe de alguma coisa que vai acontecer daqui a 1.500 anos?

A grande falácia da ciência e dos que se arvoram conhecê-la é acharem que o estágio atual do conhecimento humano é a última bolacha do pacote. Não é. A ciência continuará descobrindo novas coisas e enterrando as velhas. Nassim Nicholas Taleb disse que "a ciência progride de funeral em funeral". Enquanto isso a Palavra de Deus continuará incólume a esses ataques temporários de quem acredita ter a última peça do quebra-cabeça. Ninguém tem. Daqui a mil anos a ciência terá abandonado muitas de suas afirmações atuais, porém o Gênesis continuará lá, do jeito que Moisés escreveu.

Deus não nos deixou detalhes da Criação porque não viu necessidade ou utilidade para nós do ponto de vista da eternidade. Saber que do nada ele fez tudo simplesmente falando é a mensagem principal do Gênesis, repetida depois em Hebreus 11:3: "Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê".

Você pode especular o quanto quiser e talvez até acerte em algum detalhe, mas não se considere numa posição mais privilegiada do que Moisés para entender essas coisas. Você não esteve no Monte Horebe, não viu o Mar Vermelho se abrir e nem a rocha verter água no deserto. Pode ser até que a você e a mim Deus precisasse falar como a crianças de 5 anos, tamanho o ceticismo com que fomos bombardeados em nosso ensino fomal, mas não a Moisés. Antes de revelar essas coisas a ele, Deus o deixou literalmente de quarentena no deserto (entre seus 40 anos na corte egípcia e os 40 anos finais no êxodo) para descontaminá-lo de tudo o que aprendeu.

Nos 40 anos em que viveu na corte egípcia "Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios" (At 7:22). Depois de outros 40 anos no deserto pastoreando ovelhas e aprendendo a não confiar em si mesmo e na ciência que os egípcios lhe ensinaram, Deus revelou a Moisés coisas como a Criação, que não tem nada a ver com os mitos correntes na "ciência dos egípcios" da época. Daqui a 4 mil anos alguém poderá olhar para nós e para nossa época, como olhamos para o Egito do passado e seus mitos, e rir de muitos mitos de nossa ciência atual.

Portanto, lembre-se de que nem eu nem você somos mais inteligentes ou capazes que Moisés, e aceite a Palavra de Deus como ela é. Desfrute daquilo que Deus queria nos ensinar ao revelar o Gênesis e pode ter certeza de que, se ler em submissão e reverência, vai descobrir ali coisas mais sublimes e elevadas do que o processo da espermiogênese da diploide através da meiose que resulta em aploides desprovidas de pares de cromossomos. Esse vocabulário todo não lhe dará qualquer vantagem em relação a Moisés na eternidade.

Fonte:  O Que Respondi...

* Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originariamente Aqui.

06 dezembro 2009

Esboço de Um Esquema



Por Jorge Fernandes Isah 

Incipientemente, tentei montar um esquema sobre a soberania de Deus e a criação, conforme exposta na Escritura. Não há uma ordem cronológica na proposta, e ele não quer explicar o dilema infra/supralapsariano (o qual acho irrelevante, tendo-se em vista que o decreto de Deus é único e não tem uma ordem sucessória, pois foi estabelecido fora do tempo. Porém, a proposição mais coerente com a soberania de Deus é o supralapsarianismo, que não conflita com a onisciência e onipotência divinas). É uma síntese do meu entendimento sobre a soberania de Deus e a criação, onde está contido o bem, o mal e a Lei Moral.
Pode parecer um esforço tolo ou pretensioso, mas creio que o entendimento da soberania de Deus é o divisor de águas que nos fará compreender o Senhor, Sua vontade, e a nos sujeitar completamente a Ele em servidão, inclusive, intelectual, ao reconhecer o Seu poder e como age em nossas vidas. E é isso que a Bíblia nos exorta a ser, meditar, compreender e aceitar.
Muitos reputam como algo impossível, mas se Deus nos revelou a verdade na Escritura, e deu-nos conhecê-la pela ação do Espírito Santo, não há porque refugarmos e afastar-nos das questões difíceis. Se essa não fosse a Sua vontade, que conhecêssemos os Seus preceitos, não nos teria dado a Palavra revelada e a capacidade de entendê-la.
Não se deve colocar "chifre em cabeça de cavalo" e ir além do que Deus nos faz conhecer, mas também não se pode negligenciar e ficar aquém do que Ele quer nos mostrar.
É urgente que se dê a Deus a glória devida, e entendamos que Ele não brinca de gato e rato com os Seus filhos, para, no fim, deixar-nos completamente abatidos, ignorantes diante da Sua palavra; mas deu-nos o poder de conhecê-lO pela Sua vontade, a qual todos estamos submetidos.

ESBOÇO DE UM ESQUEMA:

DEUS (É o ser supremo, e sujeita à Sua vontade tudo e todos, não havendo nada sobre Ele ou que o submeta, nem o bem, nem o mal ou a Lei moral. Portanto, Deus não está subordinado a nada do que criou, ao passo que tudo o que foi criado está-lhe subordinado ativamente)

CRIAÇÃO
(Tudo o que Deus criou por Sua vontade, seja para o bem ou para o mal, manifesta a Sua sabedoria)

BEM (Parte da Criação. Mas, também, atributo inerente de Deus, e o qual a Bíblia afirma ser a Sua natureza por definição)

MAL
(Parte da Criação. Do Seu eterno decreto)

LEI MORAL
(Parte da Criação. Do decreto de Deus. Por ela temos conhecimento do pecado e da condenação/punição)

QUEDA E PECADO
(Parte da Criação, do decreto de Deus, para que a graça e misericórdia fossem manifestadas na salvação dos eleitos; e a ira na condenação e castigo dos reprovados)

PREDESTINAÇÃO
(Tudo ocorre segundo a vontade de Deus, estabelecida antes da fundação do mundo. E nesse contexto soberano, Deus, em Sua infinita sabedoria, destinou alguns homens para a salvação e outros para a condenação eterna)

ELEIÇÃO E SALVAÇÃO
(Deus resgatou o Seu povo por Seu muito amor, que elegeu por filhos, a fim de se revelar a Sua graça e misericórdia, através do sacrifício do nosso Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário, o qual ressuscitou dos mortos corporalmente; e o mesmo ocorrerá com todos os santos salvos pelo Seu sangue em todas as eras)

CONDENAÇÃO
(Deus destinou à perdição aqueles que não seriam justificados pelo sacrifício do nosso Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário, os quais seriam endurecidos e mantidos cegados a fim de serem condenados e sofrerem a punição eterna no fogo do inferno, a fim de que a Sua ira fosse manifesta)


Este é o esboço das principais doutrinas bíblicas, em que a soberania de Deus encontra-se ativa em cada um dos pontos da criação, desde o início quando Ele as decretou, quanto agora em seu desenrolar, e no futuro, quando todo o Seu plano estiver completo e consumado, com os salvos vivendo eternamente na glória celestial, e os condenados recebendo a punição eterna no inferno... e a justiça de Deus triunfalmente contemplada.

26 novembro 2009

Por Que Precisamos de Avivamento?


  







Pr. Luiz Fernando Ramos de Souza

A vida da igreja no Novo Testamento foi marcada por uma dinâmica e compromisso que não vemos hoje em dia. Presenciamos gelo seco nos cultos, lutas de várias formas para atrair jovens em ringues dentro de igrejas, conversões espúrias que desonram a Cristo, oferecimento de libertações e vitórias que a Palavra não ensina. Tudo isso tem, mas não tem Jesus Cristo com seu poder para salvar o homem do pecado. Tem circo, mas não tem alegria no Espírito. Tem dança profética, mas não profecia. Tem atos proféticos, mas não profeta. Somente uma entrega absoluta de nós mesmos nas mãos do Espírito Santo poderá inverter o atual quadro da igreja. Cada vez que uma atrocidade é cometida por um neopetencostal, as igrejas históricas se fecham para tudo o que não podem definir. Colocam tudo o que Deus pode fazer dentro de uma camisa de força. Saiu disso, nada vale. Precisamos ver e entender que as atrocidades impetradas por pseudo-pastores desajustados emocionalmente e totalmente ignorantes da Palavra não são nossos balizadores, mas a Sua Palavra e aquilo que o Senhor vem operando na história. Precisamos de um avivamento. Precisamos de um soprar do Espírito Santo no meio da igreja do Senhor para que as cinzas sejam varridas para longe do salvos. Deus sempre, em momentos específicos, despertou sua igreja e a obra foi feita rapidamente. Em tempos específicos Deus sopra com seu Espírito e a igreja acorda, confessa pecados, multiplica-se em evangelismo e missões e sua presença se faz sentir de modo benfazejo. Tanto tradicionais como pentecostais admitem e aceitam que a igreja deve viver na dinâmica do Espírito Santo. Tanto pastores de igrejas históricas e de igrejas renovadas sabem que sem o agir do Espírito Santo tudo fica mecânico, difícil e sem brilho. Vejamos algumas considerações porque precisamos de um reavivamento.

1 – PORQUE A IGREJA PERDEU O FERVOR MISSIONÁRIO.

Cada ano que passa menos missionários são enviados para fora de nossas fronteiras e isso não mais nos incomoda. Cidades e regiões inteiras dentro de nossos estados e no mundo estão sem contato com o evangelho de Cristo. A igreja sofre de uma disfunção que poderíamos classificar de autofagia. Tem se alimentado de si mesma e está perdendo sua eficácia rapidamente. Já não consegue olhar para fora de si e ver que a seara está branca para ceifa. Somente trabalha para resolver seus problemas e isso tem satisfeito seus desejos. Já não se apresenta como a resposta para a perene pergunta de Deus: "Quem há de ir por nós?". O eis me aqui envia-me a mim é desconhecido de toda uma geração que cresce sem saber o que isso significa. Esta geração é autofágica. Devora-se a si mesma. Essa geração só pensa em dançar profeticamente, fazer atos proféticos, cura interior, batalha espiritual e em determinar as bênçãos de Deus. Esqueceu de levantar sua cabeça e ver que o mundo está indo de mal a pior. A resposta para as angústias e tragédias causadas pelo pecado está em Cristo e se Ele não for levado para cada ser humano, eles morrerão em seus pecados. A igreja não foi chamada para olhar para dentro de si mesma. Não foi chamada para se alimentar de si mesma. Israel foi chamado para fazer brilhar a luz de Deus. Israel deveria atrair as nações para Deus. Fracassou. A igreja foi chamada para ser a luz do mundo. Só que agora não deveria atrair, mas levar esta luz a todas as nações. Foi chamada para ser luz do mundo e uma luz acesa não se coloca debaixo de uma mesa, mas em cima para iluminar. No século XIX Deus enviou reavivamento no qual milhares de missionários foram enviados por todo o mundo. Poderia citar alguns: Jonatas Goforth (1859-1936) presbiteriano cheio do Espírito Santo trabalhou na China. Oswald Chambers (1874-1917) Batista cheio do Espírito Santo trabalhou no Japão e Egito. John Ryde (1865-1912) presbiteriano cheio do Espírito Santo trabalhou na Índia. Poderia discorrer sobre dezenas de outros, mas estes servem com bons exemplos. Sempre que o Espírito Santo sopra de forma peculiar a igreja sai de suas fronteiras e vê o mundo como seu campo de trabalho.

2 – PORQUE OS PÚPITOS ESTÃO VAZIOS DA PALAVRA.

Precisamos de um avivamento porque os púlpitos estão vazios da Palavra. Hoje quase que exclusivamente só escutamos mensagens de auto-ajuda. Pregações sem o mínimo de conteúdo bíblico, mas que atendem as necessidades de um mercado ávido e consumidor de novidades como os atenienses nos dias de Paulo. Este tipo de pregação preenche o vazio gerado pelo pós-modernismo, onde os valores absolutos foram explodidos e a relativização tomou o centro. Não se prega Jesus e a cruz, mas prega-se sobre Jesus e a cruz. A verdadeira pregação não consiste falar algo sobre Jesus ou a cruz, mas falar incisivamente sobre Jesus e sua obra na cruz. Daí termos um contingente de cristãos ocos, light, vazios de tudo aquilo pode ser estrutura para enfrentar os embates da vida. Cristãos totalmente alienados da vida. Não se pratica mais o sermão expositivo. Os pastores têm medo de se defrontar com todo um livro da Bíblia. Sabem que terão dificuldades em explicar algumas passagens que são contra aquilo que vêem pregando há anos. Com isso a prática de um bom preparo para o sermão foi esquecida. Muitos pastores abrem a Bíblia na hora da pregação e pregam de qualquer jeito. Muitos criticam um bom preparo do sermão dizendo que a unção do Espírito Santo anula o esforço do preparo. Quero lembrar que a unção do Espírito Santo ajuda, fortalece e favorece aquele que se empenhou em extrair da Palavra aquilo de Deus quis falar. A unção do Espírito vivifica aquilo que foi apreendido e compreendido através de um esforço diligente. O Espírito Santo não abençoe ou vivifica a preguiça, a incompetência e a indolência. Um grande exemplo que temos é o de Jônatas Edwards. É tido como um dos maiores filósofos e teólogos da América do Norte. Viveu um grande avivamento por volta de 1737 e no meio desse avivamento pregava sermões puramente calvinistas. Enquanto vivenciava o avivamento nutria o povo com bons sermões fundamentados em princípios sadios, históricos e bíblicos. Não via incompatibilidade entre teologia, doutrina e unção do Espírito Santo.
Hoje em dia os “pseudos-apóstolos” pregam muito no Antigo Testamento e como são castrados mentalmente espiritualizam tudo e tentam aplicar para hoje. Forçam o texto a dizer aquilo que ele não diz e afirmam ser mensagem ungida para igreja. O povo de Deus está morrendo de anemia por falta de alimento sadio. Paulo queria todo homem maduro em Cristo. Os dons ministeriais na igreja foram dados para que todo cristão possa desenvolver seu ministério. Paulo aconselha Timóteo a pregar sobre todo conselho de Deus. Precisamos de um reavivamento para que os púlpitos voltem a florescer com e pela Palavra de Deus.

3 – PORQUE AS REUNIÕES DE ORAÇÃO ESTÃO VAZIAS.

O profeta Joel fez um alerta a Israel que vale para nossos dias. Falava do dia do Senhor e candentemente apelava ao povo para rasgarem seus corações e não suas vestes e disse mais: “tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembléia solene.
Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai as crianças, e os que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu aposento.
Chorem os sacerdotes, ministros do SENHOR, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a teu povo, ó SENHOR, e não entregues a tua herança ao opróbrio, para que os gentios o dominem; porque diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?”.
Muitos acham que orar é somente pedir, reclamar, importunar Deus com nossos pedidos. Orar também é pedir, buscar e interceder, mas, além disso, é muito mais. Para mim orar é buscar intimidade com Deus. É se achegar ao Pai e aprender dele no sossego do nosso lugar secreto. Quem ama busca a companhia do amado. Temos um texto no sermão da montanha que me é muito especial. Está em Mateus 6:6 “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”. A construção no grego é fantástica. Ela diz assim: “Mas tu, quando orares, entra em teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que já está lá te esperando, te recompensará publicamente”. A idéia é que Deus já está nos esperando para aqueles momentos de comunhão, intimidade e relacionamento. Conta-se de G. Campbell Morgan, ministro inglês, esperava um pastor de outro país. Morgam disse à sua governanta para interrompê-lo quando o visitante chegasse. Ele entrou em seu escritório para orar às 7:00h e quando foi às 10:00h chegou o visitante. Sua governanta foi ao escritório chamá-lo, mas antes resolveu olhar pela fechadura para ver o que sucedia. O Dr. Morgan terminou de orar às 14:00 h e saindo do seu escritório perguntou sobre o visitante. Soube que ele já havia almoçado e o aguardava na sala. Irritado indagou porque não havia sido chamado na hora que o visitante chegara. A governanta lhe disse: às 10:00 h ele chegou. Fui avisá-lo, mas quando vi o Sr ajoelhado orando e seu rosto brilhando, não pude interrompê-lo. Sua comunhão com Deus era demais para ser interrompida. Falei com o visitante e ele compreendeu perfeitamente.
Quando entramos em comunhão com Deus parece que o tempo deixa de ser contado. Não percebemos que oramos tantas horas.
A igreja não sabe o que é buscar Deus somente pelo prazer de ter comunhão com ele. Aprendeu que orar é somente pedir. Precisamos de um avivamento para que nosso povo volte a orar. Volte a clamar por um mundo perdido. Para que nosso povo e ministros do altar chorem por uma visitação do Senhor. Os tempos são maus. As angústias aumentam. Sem oração tudo fica mais difícil.
A história mostra que antes dos avivamentos acontecidos houve um movimento de oração por parte da igreja. As vezes meses ou anos de oração antecederam os avivamentos. Mas quando chegou regiões e países inteiros foram despertados. Conversões verdadeiras aconteceram aos milhares. Igrejas foram cheias rapidamente por pessoas desejosas de um encontro com Cristo. Hábitos foram mudados e o temor do Senhor estava em toda parte. Os cultos duravam 4, 6 ou 8 horas ininterruptas.

4 – PORQUE MUITAS CONVERSÕES SE MOSTRAM ESPÚRIAS.

No Brasil têm acontecido conversões de pessoas famosas. Deus salva em qualquer esfera social. Louvamos a Deus pelas conversões verdadeiras. Mas algumas personalidades quando entram para igreja logo são jogadas na arena gospel e viram espetáculos. Sem nenhuma base doutrinária são consagradas pastores, como o caso do cantor Lázaro. Isso que fizeram com este cantor foi covardia. Mas algumas estrelas da mídia ao se converterem não demonstram mudança de vida. Descaradamente se dizem evangélicas e continuam sem mostrar arrependimento. Quando falam de seus passados não se envergonham de nada. Uma ex-atriz pornô que se diz convertida, disse não se envergonhar de seus filmes pornográficos. Outra manteve um caso com um presidiário do antigo Carandiru, tendo filhos com ele e dizendo-se cristã. Outra se deixou fotografar para revista masculina e quando foi interpelada sobre este novo trabalho fotográfico, pois era evangélica, disse que quem não quisesse ver estrelas que não olhasse para o céu.
Um evangelho desprovido de arrependimento e da cruz não poder gerar conversões genuínas. Um evangelho onde Cristo não é o Senhor só pode gerar conversões espúrias e difamatórias. Muitos confundem freqüentar igreja com conversão. As igrejas estão cheias de pessoas que irão para a perdição eterna. Mas os líderes querem seus ambientes lotados, seus gazofilácios cheios e muito movimento. Não mais importam se seus ouvintes são salvos ou não.
Precisamos de reavivamento para que as conversões se tornem em testemunhos brilhantes de mudanças de vidas. Conversões que apontem para suficiente graça de Deus. Conversões que honrem Jesus Cristo como Senhor de suas vidas.

5 – PORQUE A IGREJA FOI TRANSFORMADA EM MERCADO GOSPEL.

Querem transformar a igreja e um grande mercado. Criaram ou adaptaram o termo gospel para segmentar os evangélicos. Tudo hoje é gospel. Nunca houve na história da igreja tamanha banalização do sagrado como agora. Temos espaços gospel nas igrejas para vendas de produtos. Já não incomoda mais o lugar de culto também ser lugar de comércio. A ganância venceu o temor e a reverência. Cantores gospel dão shows. Agem como se fossem artistas mundanos. Cobram valores astronômicos para se apresentarem como se fossem especiais demais. Ficam milionários usando descabidamente o nome de Deus, cantando aquilo que deveria ser louvor a Deus. São nojentos e intragáveis a maioria desses cantores gospel. Suas músicas são afronta à glória de Deus. . As letras são ordinárias e ridículas. Ouvir causa náuseas em qualquer um. Suas posturas envergonham tudo o que é sagrado. Fico pensando: 1 – a vida que possuem vem de Deus. 2 – os talentos que apresentam vêem de Deus. 3 – as oportunidades são de Deus. 4 – os temas que abordam falam sobre Deus. No entanto, vendem tudo isso como se fosse deles. Barganham com tudo aquilo que receberam de Deus para seus próprios benefícios. Enriquecem-se rapidamente com aquilo que não lhes pertence e no final dizem que o Senhor os levantou como geração profética de adoradores. Que fazem tudo para glória de Deus. Precisamos de avivamento para que os pecados sejam confessados e abandonados no meio evangélico. Que a glória que pertence a Deus seja tributada somente a Ele. O que importa que Ele cresça e que eu diminua.
Há uma canção evangélica chamada Meu Tributo. Ela diz mais ou menos assim: “e se surgir um louvor ao Calvário seja sim”. Que verdade maravilhosa! Pena que foi esquecida. Para os cantores gospel os louvores surgem e eles ficam com ele, não os levam para o Calvário. O exemplo mais irritante disso é o chamado troféu talento. Essa idéia é mundana, perversa e nociva à igreja. Os agraciados recebem suas premiações, aplausos, louvores. Vivem seus 5 minutos de astros e com a maior “humildade” dizem que a glória é de Deus. Se a glória fosse para Deus nunca iriam lá receber troféu nenhum. Fico imaginando um troféu talento para pregadores do Novo Testamento. Apóstolo Paulo, destaque entre os apóstolos. Pedro, revelação na evangelização entre os judeus. Timóteo, jovem revelação como pastor. Revelação Dupla missionária, Paulo e Silas.
Ridículo isso. Ainda bem que é só imaginação.
Hoje promovem turismo em grandes navios para evangélicos. Roupas para evangélicos. Água evangélica e essa onda não tem mais onde parar.
Precisamos de reavivamento para a igreja deixar de ser mercado e voltar a ser corpo. Avivamento para que haja repulsa contra essa mundanização crescente no meio evangélico.

Tenho orado para chegue o avivamento. Para que o Senhor torne a visitar sua igreja e a faça acordar de seu sono letárgico. Oro para que as lideranças se conscientizem que não são donos das igrejas, mas pastores, servos e modelos para os cristãos.

Deus é Senhor de tudo. Com certeza Ele agirá.

Soli Deo Gloria.

Notas: 1 - Texto gentilmente pelo pr. Luiz Fernando Ramos de Souza, tutor do blog "Ministério Força para Viver", o qual poder-se-á ler originalmente AQUI
2 - A foto no alto não faz parte da postagem original.


13 novembro 2009

Presciência Divina x Arbítrio Humano

 Por Tiago Vieira

Escolhendo o sabor do sorvete

sorvete 

Considere o seguinte exemplo hipotético:
Amanhã você irá até uma sorveteria e escolherá entre vários sabores de sorvete.

Pois bem, por este simples exemplo, veremos que a presciência divina exclui o livre-arbítrio humano, e o livre-arbítrio humano exclui a presciência divina. Não há como os dois co-existirem.
Se Deus é presciente, se Ele sabe de antemão qual você escolherá, isso significa que você não fará, de forma alguma, uma escolha diferente. Se Ele sabe que você escolherá chocolate, então você escolherá chocolate. Não há a mínima possibilidade de você escolher morango ou creme, pois se fosse possível escolher algo diferente do que Deus previu, a presciência de Deus seria falha, e Deus não seria presciente de fato. Aquilo que Deus previu, inevitavelmente deve acontecer. Neste caso, então, a presciência de Deus destrói o livre-arbítrio humano.
Por outro lado, se você tem livre-arbítrio, isso significa que você é completamente livre para fazer qualquer escolha a qualquer tempo. Com o livre-arbítrio, sua decisão é soberana e imprevisível, e não há como Deus conhecê-la de antemão. Ele poderia prever, por exemplo, que você vai escolher morango, mas até o momento exato em que você fará a escolha, sua decisão pode mudar, e mudar até várias vezes, pois você é totalmente livre para isso. Você poderá escolher baunilha ou amendoim, frustrando assim a previsão de Deus. Neste caso, o livre-arbítrio humano destrói a presciência divina.
Portanto, não há como conciliar estas duas crenças opostas entre si: a presciência divina e o livre-arbítrio humano. Ou Deus conhece o futuro ou não conhece; e se Ele conhece, o futuro é inalterável. Portanto, não há como ser arminiano; não há como afirmar que Deus conhece o futuro por simples previsão, pois eventos livres não podem ser previstos. Ou você aceita a soberania de Deus sobre o arbítrio humano como ensinada pelo calvinismo, ou você cai no erro do teísmo aberto, que ensina que Deus não conhece totalmente o futuro e pode mudar de idéia conforme as circunstâncias.
Talvez aqui você esteja pensando: “tudo bem, eu concordo que não é possível prever um evento livre, mas no caso de Deus é diferente, pois Ele pode todas as coisas”.
Sim, é verdade que Deus pode todas as coisas, mas somente todas as coisas logicamente possíveis. Deus é lógico, nEle não há contradições ou paradoxos. Ele não pode fazer uma reta torta, nem criar uma pedra tão pesada que Ele mesmo não possa levantar. Ele não pode se contradizer afirmando e negando algo ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Essa impossibilidade de contradição, porém, não nega a onipotência de Deus, antes a afirma.
Portanto, é impossível que Deus preveja um evento livre, porque eventos livres são logicamente imprevisíveis. Da mesma forma, é impossível que um evento seja livre se Deus o previu. Um evento previsto infalivelmente é um evento predeterminado, e não pode se alterar.
Então, das duas possibilidades (calvinismo e teísmo aberto, pois já demonstramos que o arminianismo é auto-contraditório) qual está de acordo com a Bíblia? O que ela ensina? Que o homem tem livre-arbítrio e que suas ações são imprevisíveis? Ou que Deus conhece o futuro e que, consequentemente, o homem não tem livre-arbítrio?
Vejamos:
Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei. [Isaías 46:9-11]
A Bíblia é clara, Deus conhece previamente o futuro. Portanto, o teísmo aberto está excluído.
E quando afirmamos que Ele conhece o futuro, não nos referimos à mera presciência passiva, pois isto não existe, mas ao Seu decreto ativo. Ou seja, Deus sabe o futuro porque Ele decretou e tem o controle sobre os eventos. Em outras palavras, Ele sabe o que ocorrerá porque Ele próprio fará ocorrer.


07 novembro 2009

Frankenstein Teológico






Por Jorge Fernandes Isah


Há tempos me pergunto por que os crentes insistem em enviar tantas mensagens tolas, despropositadas e contra o Evangelho de Cristo a outros irmãos, e o que é pior, a incrédulos também. Falta-lhes sabedoria? “Não sabeis então discernir este tempo?” (Lc 12.56). Ou ainda não se converteram do seu mau caminho? (Jr 3.19).  

É possível identificar os motivos. Primeiro, o desconhecer escriturístico. Segundo, o prazer em propalar o mundanismo, afinal, ele aguça a delicadeza e os sentidos da carne. Terceiro, uma vida cristã sem Cristo. Este ponto deveria ser o primeiro, mas coloquei-o em último para abordá-lo detidamente, pois, de certa forma, pode-se falar em dois tipos de vida cristã: a verdadeira, proporcionada pelo novo-nascimento e pela ação do Espírito Santo na vida do convertido, e a falsa, onde há o engano e uma pretensa submissão a Deus. Quer saber sobre o novo-nascimento? Leia o texto “A Morte da Morte”.

Porém, é possível haver uma conversão ao contrário? 
O pecador aparentemente converte-se a Cristo, batiza-se, participa dos trabalhos na igreja (às vezes torna-se evangelista, diácono, pastor), alcançando a liderança para, sutilmente, corromper o Evangelho? Essa é a capacidade da heresia de se reformular e aproximar da verdade, fazendo com que as diferenças pareçam insignificantes, e o pior é que ela vem acompanhada de um compêndio de justificativas insanas e perigosas, que a torna ainda mais diabólica. O que antes era doutrina bíblica agora não é mais, e o que não era doutrina bíblica transforma-se na própria maldade pelas bocas de seus defensores. Eles acreditam ser possível redefinir as palavras do Senhor: “Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons” (Mt 7.17-18). Nessa linha de raciocínio, seriam capaz de pular da Torre Eiffel em pêlo e sair voando como pássaros. Mas se apenas os morcegos, pássaros e insetos têm o dom natural de voar, é crível uma árvore má dar bons frutos ? Pelo contrário, ela será cortada e lançada no fogo (Mt 7.19); porque é impossível, sem conversão, que o homem natural dê “frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (Fp 1.11).

Não contente em ter o inferno, querem dividi-lo com o máximo de irmãos, e num jogo demoníaco, promoverem as obras da carne, “as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl 5.19-21). Mas esquecem-se de que, “tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7). Crêem plantar para outros a condenação, mas acabam por plantá-la a si mesmos. Assim, com o objetivo de combater a verdade, incitam, pregam e vivem a mentira, enquanto a verdade é desprezada, tornando-a antiquada, obsoleta e irrelevante.

Infelizmente, esses falsos mestres penetram nas igrejas como
crentes estabelecidos, são aceitos pela comunidade cristã, e seus ensinos enganosos espalham-se como erva daninha, cujos objetivos importunos, nocivos e artificiosos intentam trair a credulidade irrefletida da igreja. Sutilmente a heresia contamina as pessoas, pouco a pouco, tornando-a popular exatamente por ser quase a verdade, e se amoldar perfidamente à natureza corrompida e pecaminosa do homem, o qual é incapaz de vê-la, e mesmo os que a vêm, por sua perspicácia, acabam por considerá-la inofensiva ou uma verdade recriada, uma espécie de Frankenstein teológico.

Para eles, existe a verdade sem Deus ou Deus sem a verdade; mas a verdade sem Deus não existe, nem Deus sem a verdade, porque a primeira não passa de abstração, a loucura máxima a que o homem pode atingir, enquanto a segunda é a blasfêmia em sua forma mais virulenta, a treva mais densa em que o homem pode penetrar; porque a verdade para ser real e não uma fantasia leviana, tem de provir de Deus, o qual é a única verdade
(Jo 14.6).

Para eles, a verdade não precisa ser defendida nem proclamada, mas escondida a
sete chaves como um tesouro secreto do qual não se sabe o esconderijo nem se tem o mapa. Graças a Deus por nos dar a Sua revelação, a Bíblia, a qual “é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3.16-17).

Para eles, a igreja não precisa da verdade; como Paulo diz, não suportão a sã doutrina,
“mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2Tm 4.3-4). Para que crer na verdade? Se pelo humanismo é possível acomodar o homem no redil das incertezas, incitá-lo ao pecado, à apostasia e ao nominalismo religioso?

Para eles, o que importa é a aparência, a reputação, o sucesso e a covardia de jamais admitir a cumplicidade com o mal, tolerando-o utilitariamente a fim de obter seus interesses pessoais (o Evangelho beneficia o indivíduo, no caso, o escolhido de Deus, mas jamais o indivíduo poderá impedir que os demais eleitos sejam igualmente beneficiados pela palavra), permitindo que todo o tipo de heresia substitua os princípios bíblicos, afastando-se da revelação divina (não são precisas todas as heresias; uma ou duas, e o trabalho estará feito).


Para eles, é fundamental abandonar a objetividade da Palavra e uma vida santa, e substituí-las pela subjetividade, o egoísmo, o individualismo, o sentimentalismo e o hedonismo como filosofias de vida, onde a dissolução e a falsa liberdade os manterá em prisão, indo
“de mal para pior, enganando e sendo enganados” (2Tm 3.13).

Por quê? Qual a finalidade? Ao diluírem a palavra de Deus a fim de torná-la aceitável aos descrentes (muitos falsos mestres não se esquivam de reescrevê-la ao bel prazer dos seus corações perversos), esses líderes buscam a aprovação dos homens, negando a autoridade bíblica, tornando-a o mais agradável possível ao mundo, e com isso rejeita-se toda a verdade escriturística: Cristo, o Espírito Santo, a expiação vicária, a salvação, regeneração, santidade e todo o conjunto de doutrinas cristãs (inclusive a Igreja), pois a negação de qualquer um deles implicará na recusa inevitável do próprio Deus.

Em nome da verdade, todo crente deve lutar contra a heresia e o engano perpetrado por satanás e seus discípulos; porque sempre teremos a segurança pela fé, e como ovelhas ouvimos a voz do Bom Pastor, somos conhecidos dEle, e seguimo-lO, o qual nos dá a vida eterna e nunca haveremos de perecer e ninguém nos arrebatará de Suas mãos (Jo 10.27-28), como a mais indubitável e sublime verdade. Somente Cristo pode nos libertar através do Evangelho; sem Ele tudo é permitido, mas nada possível; sem Ele a condenação é certamente a mais pura verdade.


A heresia é uma conversão contrária, o caminho inverso pelo qual a igreja trilhará ao se afastar da verdade, ao opor-se ao Evangelho, desprezando Cristo, o qual revelou-lhe a própria desobediência:
“O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca. E porque me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” (Lc 6.45-46).

Se crê no Evangelho mas não o proclama, se crê em Cristo como Senhor e Salvador mas não o obedece, se vê a igreja como uma extensão do mundo (e tanto faz um como o outro), se não se preocupa em dar bons frutos, nem com a conversão dos ímpios, cuidado! Abandone as mensagens tolas, psicológicas, de auto-ajuda, despropositadas, sentimentalóides; renuncie a ideologia satânica que o quer preso às armadilhas do mundo, proclamando um reino superior quando está nas profundezas abissais do inferno, mantendo-se perdido em si mesmo como um cão cego e epilético a perseguir o próprio rabo.


Entregue-se à suave palavra de Deus, e não faça pouco caso da sua consolação, arrependa-se, e põe fim aos seus pecados e às suas iniquidades, praticando a justiça
(Dn 4.27).

Ouça o alerta: onde os princípios bíblicos encontram-se corrompidos e demolidos, não sobra muito mais o que destruir.


E você estará morto!


Nota: Publicado originalmente no blog Kálamos
 

30 outubro 2009

NEM UM NEM OUTRO... É POSSÍVEL?





Por Jorge Fernandes Isah



Há um grupo de teólogos e discípulos que se diz nem arminiano nem calvinista, e se considera fora do escopo de qualquer dessas linhas teológicas. Levando-se em conta que, ou se glorifica a Deus crendo na Sua plena e total soberania (o que não pode ser uma soberania compartilhada), ou no homem e sua suposta liberdade, mesmo que seja de forma parcial; não há outra definição: ou se é calvinista ou arminiano, não existe outra classificação, apenas variações do mesmo princípio, ou como popularmente se diz, variações do mesmo tema.
O “novo” teólogo sequer estudou minimante os dois sistemas, e diz discordar mais pelo que não leu do que pelo efetivamente leu a respeito. Ainda assim, está convicto de não pertencer nem a um nem a outro grupo. Mas qual a base para afirmação tão inconsistente? A incoerência é uma delas. A soberba, outra. A vaidade exclusivista complementa o quadro, aliada à fraude. Porque assumir-se arminiano ou calvinista apenas o tornará mais um entre tantos, ao passo que afastar-se de ambos o colocará em uma posição aparentemente destacada, pelo menos aos olhos dos incautos e ignorantes. Alardear os erros alheios é mais fácil de se encobrir os próprios erros, e essa é a cortina de retalhos que utilizam para dissimular o próprio dolo.
O calvinismo está calcado em 5 pontos1:
1) Total Depravação;
2) Eleição Incondicional;
3) Expiação Limitada;
4) Graça Irresistível;
5) Perseverança dos Santos.
Se há discordância em apenas um dos pontos não se é calvinista, é-se arminiano (acho que foi McGregor Wright em seu “A Soberania Banida”2 que disse: o calvinista de 04 pontos é um arminiano inconsistente).
O que pode acontecer é do “arminiano inconsistente” não assumir a pecha de arminiano. Agindo assim, ele não abdicará do seu “exclusivismo”, e poderá atirar pedras no telhado alheio, tanto de um como do outro, sem se ver comprometido. Estará livre para criticar a tudo e todos sem qualquer base bíblica, coerente e lógica, pois seus fundamentos são exclusivamente pecaminosos (interesses a serviço do pecado).
É cômodo jogar com as pessoas, com as idéias, e manter-se distante num estado de expectação acintosa, tal qual o pirotécnico ateia faísca à lona e vê o "circo pegar fogo". Como se fosse um deus, colocar-se acima do bem e do mal, impondo regras e normas que ele mesmo recusa, enquanto observa seus subalternos debaterem-se esterilmente.
A principal forma de se conseguir isso é acusar de erro, indistintamente, toda e qualquer pessoa ou grupo que não pactue 100% com seus ideais (os quais nem ele mesmo sabe quais são, e por definição, o que há é apenas a rejeição aos conceitos alheios), e rechaçá-los totalmente. A obediência cega é o seu alicerce (ainda que fincada na areia), depois a edifica com paus, palha e feno, os quais são: forjar fatos, distorcer conceitos, subverter a verdade. Cabe-nos a defesa da fé, e refutar qualquer posição arrogantemente tola e descabida; e distinguir os fundamentos bíblicos dos espiritual e humanamente falhos.
Uma coisa é ser ignorante, desconhecer a doutrina cristã, outra é a desonestidade em que alguns se colocam como sábios mas são loucos, enredados pelo próprio desejo de serem admirados e venerados pelos homens por suas posições e atitudes pretensamente livres de qualquer influência (por si só, uma máxima arminiana). Eles enganam e iludem para manterem-se intocados, e suas idéias rotas e desvairadas permanecerem de pé, mesmo que não passem de um cadáver preso à parede por longos rebites.
Ao desprezar todos os sistemas, crêem descobrir a “roda”, quando o que fazem é repetir o erro de muitos teólogos que viveram séculos antes dele. Mas o pior é manter presos à ignorância uma legião de “súditos” devotados e cegos. Por isso, não querem se aprofundar na questão, nem entendê-la, basta deixar tudo do jeito que está, porque assim é mais fácil controlar e manter domesticado o rebanho de ovelhas perdidas.
Então, não nos iludamos com a pretensa sabedoria desses homens, pois eles são obscuros e querem manter nas trevas o maior número possível de pessoas. Para elas, infelizmente, manter-se-ão cativas mesmo na morte... eterna.

1- Para maior explicação dos pontos, ler texto em http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/joao_calvino_5pontos_silverio.htm
2- O comentário ao livro A Soberania Banida pode ser lido em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/05/soberania-banida.html e AQUI
3- O fato de considerar o arminianismo heresia não implica na perdição de todos. Creio que há arminianos sinceros, mas errados doutrinariamente. Até porque a salvação é inteiramente de Deus, e Ele escolhe quem será salvo ou não.

Texto publicado originalmente no blog Kálamos.


23 outubro 2009

Algumas Coisas que os Não-calvinistas Deveriam Saber sobre o Calvinismo


Por Colin Maxwell*

Esta é uma tentativa de corrigir alguns dos mal-entendidos sobre o Calvinismo. Isto não pretende ser uma defesa doutrinária detalhada das Doutrinas da Graça.

1) Calvinismo e Hiper-calvinismo são pólos opostos. Os termos não devem ser usados como sinônimos. Um hiper-calvinista não é apenas um calvinista zeloso. Ambos consideram o outro como calvinistas “mistos”. Ninguém chama a si mesmo de hiper-calvinista.
2) Sim, os calvinistas se dividem em várias facções. Mas existem muitas escolas doutrinárias, e.g. Dispensacionalismo, Governo da Igreja, Adoração… nós cantamos somente Salmos ou usamos hinos? Quais hinos? Nós usamos música? Qual música? Com que conjunto de textos nós baseamos nossa tradução da Bíblia? É o Textus Receptus que é importante ou a (KJV) AV ? Ou ambos? Etc.
3) O termo livre-arbítrio precisa ser definido para evitar confusão. Calvinistas poderão afirmá-lo ou negá-lo, dependendo do que eles acham que você quis dizer… Isto algumas vezes leva a acusações de contradição. Consulte as Confissões Calvinistas padrão, e.g. a Confissão de Fé de Westminster, capítulo 9, para uma definição de termos.
4) O termo livre agência não é automaticamente o mesmo que livre-arbítrio quando usado por um calvinista. Ele é o termo calvinista preferido para livre-arbítrio. Preferido de forma a evitar a confusão tratada no ponto acima.
5) Calvinistas acreditam na responsabilidade do homem, mas negam sua capacidade de arrepender-se e crer no Evangelho. Os dois termos não são sinônimos. Calvinistas crêem que a incapacidade do homem de arrepender-se e crer é causada por seu próprio pecado, e a sua incapacidade não anula a sua responsabilidade.
6) Calvinistas não acreditam que os homens são fantoches, bonecos de madeira ou robôs, mas seres responsáveis e tratados assim por Deus, mesmo quando decaídos.
7) Calvinistas não são fatalistas. Calvinistas acreditam que Deus ordenou o fim e também os meios para este fim. Portanto, eles crêem no evangelismo como o meio que Deus usa para cumprir sua intenção de salvar os eleitos. Não é verdadeiro dizer que os calvinistas acreditam que Deus salva homens sem o Evangelho. Calvinistas acreditam em oração.
8) Calvinistas acreditam que é obrigação dos homens arrependerem-se e crerem no Evangelho. Esta é um de nossas disputas com alguns hiper-calvinistas.
9) Calvinistas acreditam que o Evangelho deve (para citar Calvino) ser pregado indiscriminadamente aos eleitos e réprobos (Comentário de Isaías 54:13), visto que não sabemos quem são eles, mas somente Deus.
10) Calvinistas não limitam o valor ou mérito ou dignidade do sangue de Cristo. Eles limitam a intenção do sangue para salvar qualquer um além dos eleitos. Nós estamos satisfeitos o bastante (como estava João Calvino) com a afirmação de que o sangue de Cristo é suficiente para o mundo inteiro, mas eficiente somente para os eleitos.
11) Calvinistas não pregam apenas os Cinco Ponttos e nada mais. Pelo menos não mais que Dispensacionalistas que pregam apenas sobre profecias ou Pentecostais que só pregam sobre os dons do Espírito, etc.
12) Calvinistas não lêem os Cinco Pontos em todos os textos da Escritura. Muitos dos maiores comentários bíblicos, amados e valorizados por todos os cristãos (e.g, Mattew Henry) foram escritos por calvinistas.
13) Calvinistas acreditam que os homens podem resistir ao Espírito Santo. Eles acreditam que mesmo os eleitos podem resistir ao Espírito Santo, e o fazem… mas somente até o momento em que o Espírito regenera seus corações de forma que não resistam mais a Ele. Os não-eleitos efetivamente resistem a ele por toda a vida.
14) Calvinistas não acreditam que todos os homens são levados se debatendo e gritando irresistivelmente a Cristo. Nós acreditamos na graça irresistível. A vontade não é ignorada na salvação. Nenhum homem vem a Cristo involuntariamente, ou se lamenta por ter sido trazido.
15) Calvinistas não acreditam que existam almas lá fora que querem ser salvas, mas não podem ser salvas porque não são eleitas.
16) Calvinistas, sem ter acesso ao Livro da Vida do Cordeiro, vêem todo homem como potencialmente eleito e pregam o evangelho a ele.
17) Calvinistas acreditam na eleição incondicional mas eles não acreditam na salvação incondicional. A não ser que o homem nasça de novo, ele não entrará no Reino dos céus (João 3:3). A não ser que ele se arrependa, ele perecerá (Lucas 13:3). A não ser que seja convertido, etc… todas estas são condições da salvação.
18) Calvinistas acreditam que a regeneração precede a fé em Cristo. Nós não confundimos o termo regeneração com justificação ou salvação. O Espírito de Deus regenera o pecador eleito capacitando-o a abandonar seu pecado e voluntariamente abraçar a Cristo e então ser justificado pela fé e salvo pela eternidade. Regeneração, portanto, não é sinônimo de justificação ou salvação assim como convicação de pecado não é sinônimo de conversão a Cristo.
19) Perseverança dos santos não significa que os calvinistas crêem que eles podem levar sua querida vida sem qualquer referência a observar o poder de Deus. Isto simplesmente significa que nós cremos que os cristãos provarão ser vencedores, de acordo com 1 João 5:4-5, etc…
20) Alguns calvinistas usam a frase redenção particular em oposição à expiação limitada porque eles podem ver como a posição da redenção geral também limita a expiação, embora de uma forma diferente, isto é, ela não realiza a tudo que se pretende.
21) Calvinistas não acreditam que João Calvino era infalível… não mais que Metodistas acreditam que João Wesley foi infalível ou Dispensacionalistas dão a Schofield ou John Darby a palavra final.
22) Embora os calvinistas creiam que a graça salvadora e o arrependimento são dons de Deus, dados somente a seus eleitos, eles não crêem que Deus exercita a fé por eles ou arrepende-se por eles. O pecador eleito, capacitado pelo poder de Deus, realmente se arrepende e crê por si mesmo.
23) Embora possa não haver um meio-termo real entre a posição calvinista e aquela dos não-calvinistas, ainda assim muitos calvinistas acreditam que os dois lados realmente pregam o Evangelho. Apesar de nossas diferenças em muitos dos detalhes, um homem que prega que Cristo morreu pelos ímpios e que a obra foi suficiente para salvar aquele que se arrepende e crê está realmente pregando o Evangelho. Nós nos regozijamos na pregação do Evangelho de John Wesley tanto quanto na de George Whitefield, apesar de (naturalmente) considerarmos Whitefield um teólogo melhor.
24) Não há nenhuma contradição ou paradoxo entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Em nenhum lugar a Escritura diz que o homem é responsável porque ele é livre, ou seja, a afirmação de que a responsabilidade pressupõe a liberdade é uma falácia. Pelo contrário, a Escritura ensina que o homem é responsável porque Deus, que é soberano, o considerada assim. Além do mais, Paulo, em Romanos 1, afirma que é o conhecimento inato do homem que o torna responsável pelos seus atos, e não a sua suposta liberdade. Isso está de acordo com o que Jesus diz em João 9:41: “Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado”.
25) Embora os calvinistas creiam que até mesmo atos pecaminosos são ordenados por Deus (Efésios 1:11/Provérbios 16:4), isso não faz de Deus o autor do pecado. Concordamos com o Dr. Clark, que ao escrever seu livro sobre o problema do mal, disse: “Deus não é o autor deste livro, como os arminianos seriam os primeiros a admitir; mas ele é a causa última dele, como a Bíblia ensina. Todavia, eu sou o autor. Autoridade, portanto, é um tipo de causa, mas há outros tipos. O autor de um livro é a sua causa imediata; Deus é a sua causa última… Deus não comete mais pecado do que ele está escrevendo essas palavras”.
Então, aqui está. Eu não espero que esta lista realmente convença alguém da verdade da posição calvinista. Isto não intenta ser uma defesa doutrinária do Calvinismo. Eu dei poucas referências porque queria manter curto e de fácil acesso. As confissões calvinistas padrão (isto é, a Confissão de Fé de Westminster, etc.) devem ser consultadas para afirmações definitivas. O Dictionary of Theological Terms (Rev. Alan Cairus) é uma ferramenta inestimável. Espero que esclareça mais que alguns poucos mal-entendidos. É desanimador ao extremo ver uma caricatura de sua fé ridicularizada. Talvez alguém do outro lado da batalha (não-calvinistas) possa esforçar-se e esclarecer alguns mal-entendidos que os calvinistas porventura tenham.

* 1- Texto gentilmente cedido pelo irmão Marcos Sampaio, tutor do blog "Fé Reformada", onde poder-se-á ler a postagem original.
2- A foto acima não faz parte do texto original.

16 outubro 2009

F1 e a Soberania de Deus*









Por Jorge Fernandes

O último GP Brasil de Formula 1, trouxe-me a seguinte reflexão:
Diante do final surpreendente da corrida, culminando com Lewis campeão e Felipe quase, como se deu a ação de Deus?

Relembrando: Para o inglês ter o título, era necessário que terminasse em 5º lugar, independente da posição ocupada pelo brasileiro, 2º colocado no Mundial (não se pode esquecer do tempo instável em SP. Durante a prova houve momentos de chuva, o que modificou o desempenho de pilotos e carros). Faltando três voltas para o final, Lewis estava com a taça na mão quando o alemão Sebastian Vettel ultrapassou-o. Hamilton foi deslocado para o sexto lugar, e o Mundial passava às mãos do brasileiro, que ocupou a liderança durante toda a prova. Esta combinação dava:

Massa em 1º lugar;
Hamilton em 6º lugar;
Campeão: Felipe Massa

Quando tudo parecia resolvido, a pouco mais de 500 metros do fim da prova, Vettel e Hamilton ultrapassaram o alemão Timo Glock que ocupava o 4º lugar. Numa reviravolta inesperada, o inglês voltou a ocupar o 5º posto e, após a bandeirada, tornou-se o mais jovem campeão mundial, aos 23 anos e 9 meses. Aconteceu a combinação necessária:

Massa em 1º lugar;
Hamilton em 5º lugar;
Campeão: Lewis Hamilton.

Como fica a soberania de Deus numa prova em que o resultado foi alterado duas vezes, em questão de minutos?

Pode-se analisar o fato de algumas formas:
a) Deus não está nem aí para F1. O que definiu o campeonato foi o trabalho das equipes e dos pilotos.
b) Deus deu a vitória ao inglês.
c) Deus fez Massa perder.
d) A sorte ou acaso foi quem determinou o vencedor.

A Bíblia é clara em afirmar que Deus é soberano. Que tudo está sob o Seu controle, e nada pode escapar-lhE das mãos (Sl 10.14, 24.1, 115.3, 148.5; Rm 13.1; 1Co 10.26): “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” (Jó 42.2).
Você pode perguntar: o que tem Deus a ver com a F1?

Como soberano, Deus não pode ter controle apenas sobre algumas coisas, como as chuvas, secas, o nascer da erva, o trazer a neve e a geada (Sl 147.8-18), mas sobre tudo, absolutamente tudo: “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (Mt 10.29-30). Portanto, todo o universo está sob o constante olhar do Senhor, e o Seu reino domina sobre tudo (Sl 103.19).

Por que a Fórmula 1 (por mais insignificante que seja) seria deixada ao “acaso” por Ele?

Primeiro, porque não existe acaso. Esse é o típico jargão usado por aquele que não quer honrar a Deus, pelo contrário, quer desprezá-lO ou ignorá-lO. O tolo, que não O conhece, esconde-se neste tipo de artifício mental para revelar o que existe em seu coração: completa e total descrença, total e completa rebeldia a Deus.

Segundo, Deus zela por Sua glória, e jamais permitirá que ela seja transferida a quem quer que seja (Is 48.11), ainda que à inexeqüível e improvável sorte: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei” (Is 42.8). Paulo disse de Deus: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm 11.36). Então, não há porque o Senhor negligenciar uma simples disputa numa curva no GP Brasil. Mesmo que jamais houvesse uma corrida em Interlagos, o autódromo seria alvo da soberania de Deus. Ele está ali com um propósito: glorificá-lO!

Mas como Deus pode ser glorificado por uma pista asfaltada?... Voltemos à corrida.

As chances de Lewis ser campeão eram maiores do que as de Massa. Isto é probabilidade matemática. Eram de 5 x 1 a favor do inglês. Alguns dirão que as chances de Massa eram maiores, pois havia vinte carros na prova e Lewis poderia terminar do 6º ao 20º lugar, o que daria a vitória a Felipe se terminasse em 1º, 2º ou 3º lugares, dependendo da colocação do inglês. Hamilton poderia sofrer um acidente (a torcida do Galvão Bueno e seus colegas chegaram à morbidez, ou seria sordidez?), ser desclassificado, ter uma “pane seca”, ou outro incidente que o fizesse abandonar a disputa. Mas, diante da capacidade de Lewis e da Mclaren durante a temporada, era pouco provável que isso acontecesse. Por isso, chega-se à conclusão de que as chances de vitória de Hamilton eram maiores do que as do Felipe; ele dependia apenas de si mesmo e do seu equipamento. Mas havia a chuva, o calor, as trocas de pneus, os reabastecimentos, e toda a parafernália que controlava o carro, que poderia falhar. Além do quê, Lewis poderia sofrer um mal-estar, uma tonteira, vertigem, queda de pressão, afetando o seu desempenho. Se verificarmos, cuidadosamente, são muitas as variantes que interferem no resultado. E pode o “acaso” cuidar de todas ao mesmo tempo? E, aleatoriamente, provocar um resultado que não desejou? Pode a sorte desejar, ou não desejar? Se cremos que pode, fazemo-la o nosso deus!... Porém, diz o Senhor: “Eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Is 46.9-10).

A maioria dirá que o campeonato foi decidido pelo talento, esforço e capacidade do inglês. É verdade. Ele é hábil e treinado para dirigir um F1 como somente os melhores pilotos podem fazê-lo. Este é um talento que Deus lhe deu, a fim de se cumprir a Sua eterna vontade. Provavelmente, se eu treinar a vida inteira e for colocado no cockpit da Ferrari ou Mclaren não dará em nada. Apenas prejuízos para a equipe, para mim mesmo, para os outros pilotos... e o público, que veria um “roda-dura” imbatível (desculpem o trocadilho infame).

Então, é claro que Lewis fez por merecer a vitória. Mas Massa também não mereceria? Ambos não são grandes pilotos, estão em equipes de ponta, cercados da melhor tecnologia e patrocínios disponíveis? Por que a F1 não terminou empatada?... Porque não foi esta a vontade de Deus (Dn 4.35). Ele quis que houvesse um campeão: o inglês Lewis Hamilton. Por quê? Apenas posso responder que essa foi a Sua santa vontade, e que ela aconteceu como Ele havia decretado eternamente (mesmo os vários critérios de desempate presentes no regulamento da competição estão ali segundo o propósito divino). E ao cumprir-se, Ele foi glorificado. Alguém pode dizer: “bem, quem lhe garante que não foi o diabo que deu a vitória ao inglês?”. Eu lhe digo que, ainda assim, a soberania de Deus permanece intocável, pois Satanás é um servo dEle, e não é livre para fazer o que quiser, mas tem a sua vontade subordinada ao Senhor (Jó 1.12; 2.6). Assim como todas as criaturas do universo, justas ou não, puras ou não, servem aos propósitos de Deus. Mesmo que o diabo tenha dado a vitória a Lewis, não o fez sem que a vontade do Senhor estivesse manifesta. Não uma mera constatação, como o pai que após anos tentando fazer do filho um craque de futebol percebe enfim que ele não passa de um perna-de-pau. Algo completamente alheio à sua vontade; que apesar do esforço, do investimento em tempo e dinheiro, vê cair por terra os seus intentos. Deus não é um expectador que se surpreende com o final do filme. Como roteirista e diretor é Ele quem determina como será o final. E nada, nem ninguém, seja eu, você, ou o próprio diabo, poderá frustrá-lO.

Ao lembrar-me das vitórias do Airton Sena (quando eu era um descrente), não me aflige mais a antipatia que nutria por ele. Sei que cada pole-position, cada volta rápida, cada pódio e campeonato foram traçados e planejados meticulosamente por Deus, e cumpridos ao seu tempo. Resta-me apenas render-me à Sua soberania, sabendo que “o caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; é um escudo para todos os que nele confiam” (Sl 18.30).

Na F1, seja com a vitória do Massa, Lewis, Kubrica, Alonso ou outro piloto, Deus está no controle, tudo foi criado por Ele, Seus propósitos cumprem-se e cumprir-se-ão infalivelmente, e nada foge-lhE ou contraria a vontade. Seja na alegria de uns ou na tristeza de outros, sabeis “que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele” (Dt 4.35).

*Nota: Escrevi este texto há quase um ano, quando da decisão do título mundial de 2008. Como estamos próximos de um novo "Gran Prix Brasil de F1", decidi republicá-lo.

Publicado originalmente no blog Kálamos

11 outubro 2009

Dagg Estava Certo?








Por Gregory A.Wills [2]


Há cento e cinqüenta anos, John Dagg sugeriu que “quando a disciplina deixa uma igreja, Cristo sai da igreja com ela”. Naquela época, os Batistas, bem como a maioria dos evangélicos, praticavam uma disciplina eclesiástica abrangente. Ao longo dos cinqüenta anos seguintes, a maioria dos evangélicos abandonou essa prática. Hoje em dia, durante pelo menos três gerações consecutivas, as igrejas evangélicas do ocidente têm negligenciado a disciplina; apesar de, durante esse período, o Senhor tenha abençoado muitas dessas igrejas espiritual e materialmente. Então, será Dagg estava certo?

Achamos que DAGG deveria estar certo, mas...

Não há dúvidas de que pensamos que Dagg deveria estar certo. Negligenciar a disciplina na igreja é desobedecer a Jesus Cristo. Em Mateus 18:15-17, o Senhor ordena que as igrejas exerçam a disciplina, assim como em muitas outras passagens do Novo Testamento. No entanto, o fato de que Cristo ainda não abandonou nossas igrejas evangélicas é evidente, apesar de nossas igrejas terem abandonado a disciplina. Esse fato nos lembra que não existe uma simples correlação entre a desobediência de uma igreja, por um lado, e a ruína espiritual e o abandono por parte de Cristo, por outro. Nosso Senhor julga nossa desobediência no tempo e na medida de sua sabedoria.

Um fator que pode ter adiado o julgamento de Deus é que nossas igrejas têm sido fiéis em algumas áreas importantes do trabalho evangélico. Mas, na verdade, nossa ambição por propagar o evangelho tem sido um obstáculo na questão da obediência a Cristo no que diz respeito à disciplina. Muitos pastores e membros de igrejas temem que disciplinar os membros em desobediência resulta mais em prejuízos do que em benefícios para o avanço do evangelho. Isso levará "boas" famílias à vergonha e à ira, tornando-nos objeto de escárnio e aversão entre os incrédulos, que vêem a disciplina como algo incivilizado e contrário ao senso comum e à compaixão. Nossas igrejas negligenciam a disciplina por temer que essa prática prejudique a causa de Cristo.

Entretanto, mesmo que seja por motivações virtuosas, a desobediência continua sendo desobediência, e teremos de prestar contas por isso. O fato de o Senhor ter demonstrado misericórdia e paciência para com as igrejas desobedientes não é uma desculpa para sua desobediência. Estamos abusando da misericórdia do Senhor e deixando de temer o seu julgamento.

No entanto, negligenciar a disciplina eclesiástica põe em risco outros aspectos fundamentais da igreja. A perda da disciplina na igreja enfraquece os seus próprios alicerces.

ENFRAQUECENDO OS ALICERCES DA IGREJA

As igrejas que falham em praticar a disciplina enfraquecem sua característica regeneradora. Ao omitir a disciplina, elas toleram um comportamento pecaminoso na membresia e tornam-se um lugar confortável para as pessoas não regeneradas.

As igrejas que falham na prática da disciplina também enfraquecem a santidade da Igreja, visto que enfraquecem os crentes em sua luta contra o pecado. Jesus providenciou a disciplina como um remédio de seu evangelho contra o pecado, sem o qual a nossa santificação será mais lenta. A aplicação da disciplina eclesiástica às doenças do pecado fortalecerá os cristãos em sua batalha contra Satanás, o mundo e a carne, ao longo de suas vidas.

As igrejas que falham em praticar a disciplina favorecem o enfraquecimento de sua espiritualidade, de seu zelo e de sua devoção ao Salvador. A disciplina ensina a igreja a obedecer ao Senhor nas áreas que são mais ofensivas, desagradáveis e contrárias aos pensamentos tolerantes da cultura. Ao exercitar a disciplina, comprometemo-nos a andar no caminho espiritual de Cristo, mesmo quando a razão, a compaixão e a civilidade parecem argumentar que não devemos obedecer. Dessa forma, os cristãos aprendem a confiar na sabedoria de Cristo em vez de confiarem na sabedoria do mundo. Aprendem a obedecer a Cristo, independentemente das conseqüências desconfortáveis.

Negligenciar a disciplina é um treinamento para não tomarmos a nossa cruz; não temermos a Deus; não sofrermos voluntariamente por amor a Cristo e não nos opormos ao mundo. E uma vez que as igrejas estejam bem treinadas pela negligência na prática da disciplina, perderão o seu compromisso com o próprio evangelho.

Quando uma igreja abandona a disciplina, abandona CRISTO

É por essa razão que Dagg afirmou que quando a disciplina deixa uma igreja, Cristo sai da igreja com ela. No entanto, talvez seja mais apropriado dizer que quando uma igreja abandona a disciplina, abandona a Cristo. As igrejas não têm a intenção de abandonar a Cristo e não podem fazê-lo completamente. Mas, ao negligenciarem a disciplina, começam a criar uma barreira entre elas e Jesus.

Além disso, o princípio que as levou a abandonar a disciplina funciona como um fermento, agindo de forma abrangente para enfraquecer o compromisso da igreja com Cristo, bem como sua capacidade para tomar a sua cruz e segui-lo. Ela ficará cada vez mais conformada ao mundo. E o abandono da igreja, por parte de Cristo, será apenas uma questão de tempo.

No Novo Testamento, o Senhor julgou as igrejas que toleraram ofensas contra a lei de Deus. A igreja de Corinto observava a Ceia do Senhor de um modo pecaminoso, tolerando imoralidade, divisões, parcialidade e desrespeito entre membros. Por essa razão, Deus visitou alguns deles com doenças e outros, com a morte (1 Co 11:30). Tanto o texto em grego como o contexto sugerem que o fracasso deles não se devia tanto a uma falha em reconhecer a presença de Cristo ou em "discernir o corpo", mas à uma falha na disciplina; em “julgar o corpo” (1 Co 11:29 ). De qualquer forma, há uma conexão direta entre o fato da igreja de Corinto tolerar o comportamento pecaminoso e o julgamento de Deus sobre ela.

Jesus repreendeu as igrejas que desobedeceram sua ordem de exercer, com fidelidade, a disciplina eclesiástica. Ele advertiu as igrejas de Pérgamo e Tiatira por negligenciarem a disciplina na igreja (Ap 2:14-15, 20). A igreja de Pérgamo tolerava aqueles que sustentavam a "doutrina de Balaão" e outros que apoiavam a "doutrina dos nicolaítas". A igreja de Tiatira tolerava uma falsa profetisa. Jesus ordenou-lhes o arrependimento, que só poderia ser cumprido por meio da disciplina eclesiástica. Não sabemos até que ponto essas igrejas se arrependeram de sua falha na questão da disciplina. No entanto, sabemos que, no final, Jesus as julgou, abandonando-as.

SE NOS RECUSARMOS A NOS ARREPENDER...

Se nossas igrejas se recusam a se arrependerem por tolerarem o pecado não arrependido entre os membros, podemos esperar julgamento. Portanto, não abusemos da misericórdia do Senhor. Consideremos bem o que a repreensão do Senhor, feita à igreja de Sardes, em Apocalipse 3:1-3 tem a dizer às nossas igrejas:

Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti.

Naquela hora, descobriremos que Dagg estava certo.

www.editorafiel.com.br
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Traduzido por: Waléria Coicev

Copyright:

© 9Marks & © Editora FIEL 2009.

Traduzido do original em inglês:Was
Dagg Right?
Com a permissão do ministério 9Marks
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Nota: [1] A foto é do pr. John Leadley Dagg. Ele nasceu em Middleburgb, município de Loundoun, Virgínia, nos Estados Unidos da América, em 13 de fevereiro de 1794. Foi o primeiro filho do casal Robert Dagg e Sarh (Davis) Leadley. Pastor evangélico batista, téologo, filantropo e conspícuo educador, John Dagg é "um dos mais eruditos teólogos batistas do Sul". Ele faleceu em Hayneville, Alabama, em 11 de junho de 1884.

Leia na íntegra o texto escrito pelo pr. Gilson Santos em Biografias

[2] Gregory A. Wills é coordenador e professor da matéria “História da Igreja”, no Seminário Teológico Batista do Sul, em Louisville, Kentucky. Também é autor dos livros Southern Baptist Theological Seminary, 1859-2009. New York: Oxford Unversity Press Inc., 2009 e Democratic Religion. New York: Oxford Unversity Press Inc., 1997.