"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

26 janeiro 2010

Bem-Aventurado o Homem...
















Pr. Luiz Carlos Tibúrcio

Abra a sua Bíblia no Livro de Salmos, capítulo 1, versículo 1, onde o salmista diz:

“Bem-Aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”

Graças a Deus, que nos abençoa e nos tem dado esta preciosa palavra. Esta é uma palavra boa para aconselhar aquele que está desejoso de andar nos caminhos do Senhor, e desejando, realmente, ter uma vida abençoada. Para ele o salmista coloca: “Bem-Aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios”. O salmista afirma que o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, esse é um homem bem-aventurado.

Nós, em todas as situações da nossa vida, durante a nossa grande peregrinação por esta terra, vamos sempre seguir conselhos; vamos sempre seguir tendências. Aquele que diz que anda por si mesmo, que não ouve a ninguém, que tem uma personalidade própria, engana-se; e esta é uma tolice.

O homem é um ser criado por Deus para viver junto aos seus semelhantes; ele necessita viver em comunidade, em comunhão com outros homens; ele não vive e não pode viver isolado das outras pessoas, pelo contrário, os homens desejam viver juntos uns dos outros, e ter uma vida em sociedade; e eles seguirão a outros homens, estando em suas companhias.

A palavra de Deus diz: “Bem-Aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios”; e em Provérbios 4.14, afirma categoricamente: “Não entre pelas veredas dos ímpios, nem ande no caminho dos maus”. Salomão, escritor de Provérbios, nos trata aqui como um pai dando conselhos ao filho, como alguém que nos ama e deseja nos alertar para fugirmos do mal. Ele ordena: não entre! Não ande pela vereda dos ímpios! Ele não fala: “Olha, eu vou com você até ali, para dar uma 'espiadinha' no caminho no qual você anda e tem andado”.

A palavra de Deus nos diz através de Salomão, o pregador, o homem de sabedoria: Meus filhos, não entrem pelas veredas dos ímpios, nem andem no caminho dos maus, mas evita-o; alertando-nos a afastar-nos dele, não passando por ele; nem pisando nele; desvia-te dele e passa de largo.

A exortação é para não passarmos pelo caminho dos pecadores, é não trilharmos esse caminho, é desviar-nos e não sentirmos o menor desejo de aproximar-nos dele. Devemos evitá-lo, passar longe, dar a volta, passar ao largo, afastar-nos definitivamente.

É assim que muitos se arriscam a experimentar a iniqüidade, a "flertar" com o pecado, ao experimentar drogas, o cigarro, o álcool; saiba que estes caminhos levaram muitos à destruição. O escritor de Provérbios diz-nos que, conhece o homem o caminho ímpio, portanto, afasta-se dele.

A palavra de Deus fala aos jovens: foge da mulher adúltera, passa longe dela; a palavra de Deus nos diz como deve ser a nossa reação a uma vida pecaminosa, de como devemos andar distantes do pecado, e do caminho da perdição.

São muitos os pecados em que um homem pode se envolver; são muitos os pecados que um homem pode cometer em sua vida. A maior parte deles ele deixará de conhecer, se observar as pessoas com quem anda, e o que elas fazem.

Um crente deve ter uma comunhão, uma comunicação com outros crentes. Um crente deve ter um relacionamento íntimo com outros irmãos, e deve ter o desejo de compartilhar, e de viver, segundo a verdade, segundo a vontade Deus. A Bíblia diz para não andarmos nos caminhos pecaminosos, não andarmos na perversidade, evitando-a, desviando-nos deles. Passando de lado, ao largo.

Voltando ao Salmo 1, a palavra de Deus vai nos dizer: “Bem-Aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”. É algo interessante o qual não devemos fazer, mas que começamos a fazer, pois, primeiramente, o homem anda no caminhos dos ímpios, depois se detém, para enfim, assentar-se tranqüilamente. Há uma progressão para uma vida daquele que anda no pecado. Começa com uma simpatia por aquela pessoa, para depois se envolver com o pecado, e desviar-se dos caminhos do Senhor.

É-me permitido relacionar com as pessoas do mundo, e devo relacionar-me; de outra forma, como é que falarei do amor de Cristo para elas? Mas eu não devo e não posso ter comunhão, nem que seja por um segundo, naquilo que é a iniqüidade deles. Realmente, eu não posso condescender, nem dar o meu consentimento ao pecado. Eu não posso tomar um copinho de cerveja para agradar a um amigo; eu não posso dar uma voltinha com ele, falar umas bobagens e rir de uma piadinha imoral que ele contou, apenas para mostrar que não sou carrancudo, que não sou azedo, e vivo com uma carranca; eu não posso dar uma olhadinha, por menor que seja, num site pornográfico, ou falar coisas maliciosas, ou fazer fofocas, porque isso não representa e reflete uma vida cristã, e não deve ser o meu testemunho, pois não é o testemunho cristão, de alguém que ama ao nosso Senhor. É melhor eu ter uma carranca, parecer azedo, porque aquela pessoa quando precisar conversar, quando precisar de um conselho, ela vai-se aproximar de mim, porque ela verá que eu não busco uma vida relaxada com Deus, que eu sou diferente, e Deus me usará como instrumento para proclamar a Sua palavra.

Um famoso pregador, certa vez, em vista a uma cidade, foi convidado para pregar no culto de uma igreja local. E ele pregou com autoridade, com a autoridade das Escrituras, uma palavra abençoada e usada por Deus. O motorista, encarregado de levá-lo ao aeroporto, ouviu atentamente a pregação; e ao final, quando o famoso pregador dirigia-se ao carro, ele disse: “Pastor, o senhor pregou tão bem, que quero conhecer melhor a respeito deste Deus que o senhor pregou”.

E durante o tempo do percurso até o aeroporto, o famoso pregador havia relaxado, brincando, e mesmo contando piadas relacionadas às coisas de Deus. E quando desceu do carro, o motorista disse: “Pregador, eu realmente tenho uma certa tristeza agora... Aquela mensagem que pregou abriu o meu coração, eu estava desejoso de conhecer mais o Deus do qual falou, mas ouvindo o que você disse aqui no carro, durante o trajeto, eu vi que há duas pessoas, e as duas são muito diferentes, e eu não sei se quero mais conhecer o Deus que você pregou”.

É triste quando abrimos mão da nossa cristandade, da nossa vida e comunhão com Deus, e começamos a andar por caminhos aonde o crente não deve andar, flertando com a iniqüidade, sentindo o “gostinho” amargo do pecado.

Meus irmãos, a palavra de Deus diz que, primeiro começamos a andar no conselho dos ímpios, e depois há uma atitude de se deter no caminho dos pecadores, envolvido com as coisas do mundo, com as atitudes do mundo, e não tendo o temor de Deus. Estamos tão envolvidos com as festas, programações, teatros, danças, cinema, e, verdadeiramente, são atividades que nos levam para bem distante de Deus.

A palavra do Senhor diz: Bem-Aventurado aquele que não assenta na roda dos escarnecedores; e muitas vezes, esse tem sido o problema entre nós, irmãos, temos cada vez mais nos agradado com o mundo, e abandonado as coisas de Deus. Devemos perguntar a nós mesmos: Eu tenho vigiado, sido vigilante e me preocupado com o meu testemunho? Com aquilo que penso, digo e faço? E será que, se perguntado, serei capaz de responder qual a razão da minha fé?

No versículo 2 lemos: “Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”. O Salmo 19.7, diz: “A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma.

Talvez, irmãos, estejamos passando por tempos difíceis, tempos de tristezas, de lutas, de angústias, e o salmista diz que a lei do Senhor é perfeita, e refrigera a sua alma. Talvez a alma esteja seca, talvez esteja angustiada, mas a lei de Deus refrigera a sua alma.

“O testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos símplices”. A palavra de Deus diz que o testemunho do Senhor dá sabedoria aos símplices. O que mais pode ser importante na vida de uma pessoa do que ter sabedoria? Que bom seria se todos nós tivéssemos conselhos bons, e que da nossa boca saíssem palavras de sabedoria, que buscássemos na palavra de Deus a nossa fonte de sabedoria, e debruçássemos sobre ela, aprendendo do próprio Deus os seus ensinamentos, e assim, podermos usá-los para a Sua glória.

O versículo 8 diz: “Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos”. Vejam o que a palavra de Deus está nos mostrando: sabedoria, alegria, refrigério... tudo isso vem e provém da palavra do Senhor.

O salmista diz que antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e medita nela de dia e de noite. Bem-Aventurado o varão, Bem-Aventurado o jovem que medita na lei do Senhor. Será que realmente eu tenho tempo para me dedicar à leitura da palavra de Deus, será que é importante para eu meditar na lei do Senhor, ou será que o meu dia é tão corrido que não há tempo para meditar na lei do Senhor?

No Salmo 119.9, a palavra de Deus diz: “Com que purificará o jovem o seu caminho?”. O salmista responde: “Observando-o conforme a tua palavra”. A palavra de Deus é apresentada para nós como aquela que purifica o nosso caminho. Há uma vida de pureza esperando por nós na palavra de Deus. Há uma vida de santidade nos esperando na palavra de Deus.

Quando nós viemos a estar na comunhão do Senhor, estávamos numa vida de tanta sujeira, de tantos pecados, que era como estar num lamaçal juntamente com os porcos. O Senhor pela Sua maravilhosa palavra, purificou as nossas vidas.

Você tem sentido a sua vida transformada, purificada pela palavra de Deus? A palavra de Deus tem agido em você como água límpida, que lava e remove a sujeira? Observa o seu caminho, para que ele seja purificado e direcionado pela palavra de Deus.

O versículo 11 do mesmo capitulo diz: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti”. O pecado pode afligir a alma do cristão; o pecado vai fazer o cristão sofrer, mas o pecado não pode habitar na vida do crente que medita na lei do Senhor. Porque ela diz: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu na pecar contra ti”.

Quando a palavra de Deus está em nosso coração, ela vai guiar a nossa mente em obediência ao Senhor. Ela vai nos orientar para que sigamos ao Senhor.

Sabe de uma coisa meus irmãos, isso realmente não é uma fórmula mágica, mas esse é o processo de renovação da nossa mente, segundo a vontade de Deus.

No versículo 18, temos: “Abre tu os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei”.
Meus irmãos, quando eu vejo as maravilhas do Senhor, e somente quando eu vejo as maravilhas do Senhor, é que estou realmente vendo. O Senhor Jesus Cristo disse: “Eu vim para que aqueles que não vêem vejam”. Muitas pessoas que pensam ver, jamais viram, e cegos têm visto a face de Deus. Quando compreendermos os caminhos do homem segundo os olhos de Deus, então veremos a realidade da vida. Quando vemos os caminhos dos homens pelos olhos do homem, então vemos um caminho de vaidade e de ilusão.

“Abre os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei”.


Nota:Todos os versículos são transcritos da Bíblia Almeida Corrigida e Fiel da SBTB (ACF)
Fonte: Tabernáculo Batista Bíblico

22 janeiro 2010

Nunca Tente Persuadir o Tolo com Argumentos. É Inútil!



Por Jonas Madureira

Tolos. Se você conhece algum, você vai entender perfeitamente a razão pela qual considero o caminho da persuasão lógica e racional um caminho contraproducente no diálogo com eles (se é que é possível tal diálogo!). A razão é bem simples: o tolo é, por natureza, completamente satisfeito consigo mesmo. Ou seja, ele está tão embriagado de si mesmo que a única coisa que ele consegue aceitar, no diálogo com o outro, é ele próprio e suas ideias. Nada mais lhe interessa senão confirmar ou reafirmar suas teses. Ele não consegue olhar para o outro, esforçando-se por compreendê-lo. E essa incapacidade decorre do fato de que ele foi sociológico-psicologicamente sugestionado a acreditar em si mesmo e em suas ideias sem ter que, ao mesmo tempo, refletir criticamente sobre si mesmo e suas ideias. Em outras palavras, o tolo é aquele que foi ensinado por “autoridades inquestionáveis” a absorver inúmeros pressupostos, muitos deles plausíveis e verdadeiros, porém sem questioná-los, sem pensá-los.

Que não se entenda a tolice dos tolos como uma patologia da qual os hábeis intelectuais estão imunes! Dizer que a tolice faz parte apenas da natureza daqueles que não alcançaram o paroxismo da inteligência humana é um erro crasso que apenas os tolos cometem. É indubitável que a tolice não é, por natureza, um defeito intelectual, mas um defeito humano. Por exemplo, existem pessoas que são intelectualmente ligeiras, sacam as coisas com rapidez, mas são tolas (basta lembrar do filósofo alemão Martin Heidegger, que possuía uma notável habilidade lógico-filosófica, mas que, em um determinado momento de sua vida, defendeu os ideais nazistas). Em contrapartida, existem pessoas que são muito lentas quando pensam, mas são tudo menos tolas (Lutero, por exemplo, vivia reclamando pelos cantos da Universidade de Erfurt, na Alemanha, de que ele jamais poderia ser um teólogo de verdade porque se considerava lento demais para o raciocínio lógico; e, diga-se de passagem, muitos seguidores de Philipp Melanchthon concordariam com Lutero!).

Entender que a tolice é um defeito humano é sacar que todas as pessoas são, por natureza, tolas. Portanto, pessoas não se tornam tolas, elas no máximo deixam de ser tolas. E como elas deixam de ser tolas? Dietrich Bonhoeffer, quando estava preso por causa da perseguição nazista, escreveu inúmeras cartas. Numa delas, ele disse que “somente um ato de libertação poderia vencer a tolice; um ato de instrução ou argumentação lógica nada pode fazer para convencer o tolo de sua tolice. Antes de tudo, o tolo precisa de uma libertação interior autêntica, e enquanto isso não ocorre temos de desistir de todas as tentativas de persuadi-lo”.

Essa necessidade de “libertação interior autêntica”, enfatizada por Bonhoeffer, também pode ser encontrada entre os primeiros filósofos gregos. No livro VII da República, Platão mostra Sócrates “ensinando” para o jovem Glauco que para as pessoas conhecerem a verdade elas precisam ser primeiramente libertas. Para isso, o filósofo contou uma história sobre seres humanos que, desde o seu nascimento, estão aprisionados em uma caverna subterrânea. Eles não sabem o que é o mundo fora da caverna. Suas pernas e seu pescoço estão algemados de tal sorte que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas em direção a uma parede. Atrás deles, na entrada da caverna, há um foco de luz que ilumina todo o ambiente. Entre esse foco de luz e os prisioneiros, há uma subida ao longo da qual foi erguido um pequeno muro. Para além desse pequeno muro, encontram-se homens que transportam estátuas que ultrapassam a altura do pequeno muro. Eles carregam estátuas de todos os tipos: de seres humanos, de animais e de toda sorte de objetos. Por causa do foco de luz e da posição que ele ocupava, os prisioneiros são capazes de enxergar, na parede do fundo, as sombras dessas estátuas, mas sem verem as próprias estátuas, nem os homens que as transportam. Como nunca viram outra coisa além das sombras, os prisioneiros pensam que elas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que as sombras não passam de projeções das coisas, nem podem saber que as coisas projetadas são, na verdade, estátuas carregadas por outros seres humanos.


O que aconteceria, pergunta Sócrates a Glauco, se alguém libertasse os prisioneiros? O que faria um prisioneiro liberto daquelas algemas? Sem dúvida, olharia toda a caverna. Ao seu redor, veria os outros prisioneiros, o pequeno muro às suas costas, as estátuas e a entrada da caverna. Seu corpo doeria a cada passo dado. Afinal de contas, ele ficou imóvel durante muitos anos. Não bastassem as dores do corpo, ao se dirigir à entrada da caverna ficaria momentaneamente cego, pois aquele foco de luz que clareava a caverna, na verdade, era o sol. Porém, com o passar do tempo, já acostumado com a claridade, seria capaz de ver não só as estátuas, mas também os homens que as carregavam. Prosseguindo em seu caminho, passaria a enxergar as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não contemplara senão sombras das estátuas projetadas no fundo da caverna.

Na condição de conhecedor desse “novo” mundo, o prisioneiro liberto regressaria ao velho mundo subterrâneo. Ao chegar, ele contaria aos outros prisioneiros, ainda algemados, o que viu. Sua missão seria libertá-los, pois é somente na condição de livre que alguém pode ser capaz de contemplar o mundo das coisas tais como elas são. O que mais poderia acontecer após esse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras, pois o único mundo real é o mundo da caverna. Por isso, tentariam silenciá-lo de todas as formas. No entanto, se ele teimasse em afirmar o que viu e insistisse em convidá-los a sair da caverna, os homens das sombras o matariam. Foi assim que Sócrates concluiu o mito da caverna.

Os tolos são aqueles que tomam as sombras como se fossem as coisas mesmas. O homem-que-deixou-de-ser-tolo, porém, é aquele que não se satisfaz com as imagens projetadas no fundo da caverna, mas impulsionado pelo desejo de contemplar as coisas mesmas, arrebenta os grilhões que o aprisionam. Ao se libertar, dirige-se ao mundo verdadeiro. E quando o mundo verdadeiro se abre para ele, ou seja, no momento em que ocorre a revelação da verdade (alethéia), o homem-que-deixou-de-ser-tolo se compraz apenas em perceber sua própria tolice. Esse é o ponto. O tolo, por natureza, não sabe que é tolo, não tem consciência de sua tolice. Ele toma as sombras como se fossem as coisas mesmas. Por isso, a única maneira de um tolo se livrar de sua tolice é descobrir que ele é tolo. Mas veja, esse é o ponto de partida não o de chegada. Depois da consciência da tolice, é preciso deixar de ser tolo!

Enquanto o tolo não enxerga a sua tolice não adianta argumentar. Não adianta tentar persuadir aquele que está completamente preso em si mesmo. E por que? Porque onde há oprimidos há um opressor. Há um opressor dentro do tolo. Na conversa com ele percebe-se que não é com ele mesmo que se está tratando, mas com chavões, clichês, palavras de ordem, argumentos ad hominem, que operam nele e tomam conta de sua mente. O tolo, como diz Bonhoeffer, “está fascinado, obcecado, foi maltratado e abusado em seu próprio ser. Tendo-se tornado, assim, um instrumento sem vontade própria”.

Enfim, minha ojeriza pela tolice não deveria ser entendida como mero ódio ao tolo, mas, sim, como ódio ao poder que inevitavelmente precisa e se nutre da tolice humana.

“Hey! Teacher! Leave them kids alone!”

Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor
Fonte: Teologia e Cosmovisão

18 janeiro 2010

O Sermão de um Pai, e o Conselho de um Sogro

Por Natan de Oliveira

Recentemente tanto meu pai quanto meu sogro completaram 72 anos.
Dedico esta reflexão para relembrar dentre muitas histórias as duas que são as minhas prediletas.

Relembrarei aqui a que eu considero como a melhor história que meu pai já me contou.
Relembrarei aqui o melhor conselho que meu sogro me deu e os efeitos deste conselho na minha vida.


Começarei pelo meu pai.

Desde pequeno, sempre que amigos nos visitavam, eu gostava de ouvir as conversas ao redor da mesa.

E nestes anos todos, esta história que vou lhes contar, eu já ouvi muitas vezes.

E em todas as vezes que ouço, eu gosto muito de ouví-la.
E definitivamente é a melhor história de meu pai.
Uma lembrança inesquecível que ouvi pela primeira vez quando eu era bem menino, e se for impreciso nos detalhes, pouco me importa, o que desejo relembrar é a mensagem da lembrança.

Há muitos anos atrás, quando meu pai já era casado, um dia ele estava se arrumando para ir ao culto da sua igreja, quando ouviu uma voz que disse “José...”.
Meu pai chamou pela minha mãe que estava noutra peça da casa e ela lhe disse que não o tinha chamado.
Logo meu pai lembrou da experiência de Samuel relatada no Velho Testamento.

Passado um tempo, novamente ouviu a mesma voz “José...”.
Meu pai disse então as mesmas palavras de Samuel “Fala Senhor, que o teu servo ouve” 1 Samuel 3.10

A voz lhe disse: “Te prepara que no domingo você irá pregar o sermão na igreja”.
Meu pai que raramente era convidado a falar, disse para a voz que não iria pedir a palavra, nem nada.
A voz insistiu: “Te prepara que no domingo você irá pregar o sermão”.
Meu pai se preparou, estudou, fez o esboço, reviu, refez, orou, e no dia em questão já tinha remoído o assunto muitas vezes.

Na véspera quando estava arrumando a gravata disse para minha mãe: “Hoje eu vou pregar o sermão”.
Minha mãe achou altamente improvável que ocorresse.
Meu pai insistiu e lhe afirmou que não iria pedir para falar, mas que ele tinha certeza que o sermão daquele dia seria ministrado por ele.

Ao chegarem ao culto, a liturgia foi se desenrolando...
E o meu pai lá sentado no banco como crente “comum”.
Na sua igreja os ministros e pastores sentavam no púlpito.
Os cânticos foram cantados e se aproximava a hora do sermão... Meu pai continuou em silêncio no seu banco.

Quando chegou à véspera da hora do sermão, o pastor anuncia que excepcionalmente naquela noite dividiria o tempo do sermão com meu pai... E que meu pai iniciaria falando a primeira meia-hora.

Eu menino, sempre fiquei imaginando a emoção de meu pai e minha mãe na ocasião.

Meu pai subiu no púlpito, abriu sua Bíblia e leu o versículo bíblico sobre o qual falaria.
Ao terminar de ler, o pastor que ficava assentado ao lado do púlpito do pregador, fechou sua Bíblia com estrondo e diz com impacto: “Acabou de roubar o texto que eu iria falar, agora que pregue sozinho todo o sermão!”.

Nas palavras de meu pai, ele já pregou o mesmo sermão outras vezes, mas nunca com a mesma autoridade e impacto quanto naquela noite.

E o texto do sermão...?
“Disse-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, chamado Cristo?”
Esta pergunta sempre me acompanhou o pensamento...

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Conheci meu sogro quando tinha 10 anos de idade.

Iniciei meus estudos de clarinete com meu pai aos 9 anos, mas foi com meu sogro que terminei os meus estudos musicais.
E aos 10 anos de idade, após várias lições com meu futuro sogro, eu me vi tocando minha clarineta de 13 chaves na igreja que freqüentávamos.
Foram 17 anos tocando na banda e convivendo com meu sogro. Tempos deliciosos.

E lá pelas tantas, quando tinha 23 anos, me apaixonei pela sua filha, esta mesma que hoje é minha esposa.
Lá fui eu então, no estilo antigo, pedir “a mão” da filha em namoro.
E pedido daqui, aceite dali, eu muito envergonhado, meu sogro igualmente constrangido pela situação, eu lhe perguntei se tinha algum conselho ou recomendação quanto ao namoro...

Ouvi dele então o melhor conselho que um genro pode receber de seu sogro.

Sua frase me acompanhou por todos os 2 anos de namoro e 2 anos de noivado (e ainda me acompanha).
Mais tarde sempre que tinha alguma intimidade com sua filha, um beijo roubado, um abraço oferecido, a tentação de ultrapassar limites sempre surgia... Mas com ela vinham as palavras do conselho de meu sogro...

Eu sempre me controlava.
Casamos virgens.

Pretendo, quando o tempo certo chegar, passar o mesmo conselho para minha filha.
Qual foi o conselho...?
“Meu filho, o temor do Senhor é o princípio da Sabedoria...”.
Os anos se passaram, não penso mais neste texto bíblico quando beijo minha esposa, mas o aplico a diversas outras situações da minha vida. Conselho precioso.

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Realmente não sei se chegarei aos 72 anos.

Mas certamente um dia, num momento que Deus oportunizará, perguntarei a minha filha: “Filha, que farás de Jesus chamado o Cristo?”.

E noutra oportunidade, como um atleta numa corrida por revezamento passa o bastão para outro atleta que lhe sucederá, lhe direi: “Filha, o temor do Senhor é o princípio da Sabedoria!”.

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“E, respondendo o presidente, disse-lhes: Qual desses dois quereis vós que eu solte? E eles disseram: Barrabás. Disse-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos: Seja crucificado.” Mateus 27.21-22

“O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução. Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe.” Provérbios 1.7-8

Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor

Fonte: Reflexões Reformadas

12 janeiro 2010

Jovem Rico: Condenado? [Comentário Marcos 10.17-27]












Por Jorge Fernandes Isah



Por causa do texto Velhos e Novos Fariseus entrei novamente no debate sobre o amor divino, se ele é extensivo a toda humanidade ou somente aos eleitos. Os argumentos podem ser lidos nos comentários ao post, inclusive a discussão se Deus tem sentimento e emoção, ou não.

O irmão que levantou a questão de Deus amar a todos citou o trecho de Marcos 10.17-31, reivindicando-o como prova de que Deus ama até mesmo os réprobos. No que, não concordei; e expus parcialmente minhas conclusões à luz do texto.

Como ainda não havia lido nada parecido com a minha interpretação (a qual nem mesmo eu tinha pensado anteriormente, ainda que lesse o trecho por várias vezes), decidi fazer um estudo, e aprofundar-me nela. Especialmente na única parte que não está presente em Mateus 19.16-30 e Lucas 18.18-30 (textos correlatos), o qual é: “E Jesus, olhando para ele, o amou” (Mc 10.21).

A questão é: Jesus amou o jovem rico, e mesmo amando-o, condenou-o ao inferno? O centro da questão é a expressão “o amou”, aoristo derivado do verbo grego agapao[1], empregado para designar o amor de Deus para com o homem. 

O versículo completo é: “E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me” (v.21).

De uma forma geral, e eu mesmo sempre pensei assim, é dado como certa a condenação do jovem, como alguém que não alcançou o Céu. Mas, baseado em quê podemos afirmar tal coisa?

Existe alguma passagem que evidencie claramente a não conversão daquele jovem?

Vejamos algumas declarações na passagem:

1- O jovem demonstrou-se humilde e reverente ao correr até Jesus e ajoelhar-se diante dele, chamando-O "Bom Mestre” (v.17).
2- O jovem quer saber como herdar a vida eterna (v.17).
3- Cristo assevera que apenas um é bom, Deus (v.18). E pergunta-lhe se sabe os mandamentos, citando alguns deles (v.19).
4- O jovem respondeu:"Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade” (v.20).
5- Após o Senhor dizer que lhe faltava vender tudo, dar aos pobres, tomar a sua cruz e segui-lO; ele, “pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades” (v.22).

A partir desse relato, sabemos que o jovem rico partiu, e nada mais sabemos dele. Então, por que a maioria dos comentaristas e pastores decidiu-se pela sua condenação irremediável? 

Muitos se apegam ao que o Senhor disse aos seus discípulos: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!... Quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” (v. 23-25)

Recapitulando: 

1- Cristo o amou, pediu-lhe para dispor os seus bens, e então, segui-lO.
2- O jovem, pesaroso, afasta-se.
3- O Senhor proclama que é muito difícil um rico entrar no reino de Deus. 

Onde está escrito que esse jovem não foi salvo? Onde se encontra a garantia de que ele não foi regenerado? E de que não herdou o reino de Deus? A inferência que a maioria faz é de que, como é difícil ao rico herdar o Reino, e aquele jovem teve a sua chance e não a aproveitou, ele foi condenado. A conclusão vai muito além do texto bíblico; na verdade, ela impõe-se ao texto bíblico. Não seria o caso do texto revelar a impossibilidade de alguém obter a salvação por mérito próprio, de, sem a regeneração e o convencimento dado pelo Espírito Santo, alcançar a salvação? 

Seria por demais imperioso sustentar a sua perdição. O que está visível e claro é que o jovem, por si só, por suas forças e méritos, não conseguiria a salvação, evidenciando-se que ninguém, por justiça própria (ainda que seja uma mera alegação como a do jovem), pode requerê-la ou obtê-la de Deus.


Alguns pressupostos escriturísticos:

1- Cristo amou a Igreja (Jo 15.9; Rm 8.37; Ef 2.4, 5.2; 1Jo 4.10; Ap 1.5).
2- Cristo morreu pela Igreja, e expiou-a (At 20.28; Ef. 5.25;1Ts 5.10).
3- Cristo não ama os réprobos, pois sobre eles a Sua ira permanece (Jo 3.36; Rm 1.18, 2.5, 9.22; Ef 2.3, 5.6; Cl 3.6;1Ts 2.16).
4- Cristo ama os eleitos, porque sobre eles não derramará a Sua ira (Rm 5.9, 9.23; 1Ts 1.10, 5.9).

Voltando à pergunta inicial, não parece ilógico que Cristo amou o jovem rico, mas ainda assim o condenou? Se Deus é imutável, como pode amar e odiar ao mesmo tempo? Alguém pode alegar: Mas Cristo tem a natureza humana. Sim, é verdade. Contudo, Ele jamais pecou (Hb 4.15, 7.26, 9.14; 1Pe 1.19) e, como Deus, é imutável, porque Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13.8).

Logo, temos aqui um conflito. Ou Cristo amou aquele jovem, e se o amou, assim como ama apenas e tão somente a Igreja, ele foi salvo. Se Cristo condenou-o, não o amou. Mas o texto diz que Ele o amou, então não há por que duvidar que o jovem fosse alvo da graça divina, que o salvou.

Porém, é possível confirmar isso?

Lê-se: “E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se?” (v.26)

Diante do que o Senhor disse, os apóstolos, como bons mortais, olharam para si mesmos e não viram a menor chance de salvação. Se aquele jovem dizia seguir os mandamentos, parecia sincero em seu desejo de salvar-se, e havia procurado Cristo com esse objetivo, ao não abrir mão de suas posses, refugou; quais seriam então as suas chances? A pergunta demonstrava o estado de espírito deles: não tinham a menor capacidade de salvarem-se por seus esforços.

Aquele rapaz serviu como o modelo de fracasso humano em se obter êxito próprio diante de Deus. A natureza ímpia em nada ajuda. As boas intenções são infrutíferas. A justiça própria é como trapo imundo. Por maior que seja a vontade, o empenho, a disposição de agradar a Deus, decididamente, restar-nos-á a desgraça. Por que, apenas pela Sua graça, a qual proporcionou a remissão dos pecados pelo sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, aos eleitos é possível a salvação. Não há outra maneira. Deus decidiu-se por um único caminho, Jesus Cristo, E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (At 4.12). Mas parece que os discípulos ainda não tinham noção do caráter redentor do Senhor entre nós.

Há de se entender também que diante das promessas do AT da abundância de coisas temporais, e da tradição dos mestres judeus em afirmar que os homens ricos eram os escolhidos por Deus, a resposta de Jesus caiu-lhes como uma ducha de água fria. Se o rico não podia entrar, quanto mais os pobres. Porém, ao meu ver, a questão principal não é se ricos ou pobres são mais aceitáveis diante de Deus, mas a completa impossibilidade de tanto ricos como pobres de salvarem-se a si mesmos. Cristo quer que os discípulos concluam que é impossível ao homem, por seus meios exclusivos, escapar da condenação eterna. É o que lhes respondeu:

“Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis” (v. 27).

A salvação portanto é um dom de Deus, “para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1.6-7); “porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” (Rm 8.29.30).

Assim sendo, da mesma forma que muitos inferem que o jovem foi condenado, de minha parte deduzo que Cristo respondeu não somente aos seus discípulos, mas a todos nós, declarando que também aquele jovem, ao qual o Senhor amou, podia ser alvo da graça divina, e salvo finalmente. 

O amor de Deus está diretamente ligado àqueles que foram comprados pela morte do Seu Filho Amado. Se um reprovado não foi comprado por Cristo, não há amor. Por que todos fomos feitos um em Cristo, todos somos participantes do Corpo de Cristo, todos fomos eleitos em Cristo, todos seremos semelhantes a Cristo, viveremos e reinaremos eternamente por Cristo. O condenado não participará de nenhuma dessas situações, logo, não pode ser o alvo do amor de Deus, por que ele não está em Cristo, nem Cristo nele.

Concluindo, Cristo amou os eleitos, e não levou sobre Si os pecados de todos, mas de muitos (Hb 9.28); não deu a Sua vida e morreu por todos, mas por muitos (Mt 20.28, 26.28; Jo 11.51-52); não amou a todos, mas a muitos (2Ts 2.15-16); e não rogou pelo mundo, nem por todos, “mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9), referindo-se às ovelhas que o Pai eternamente depositou em Suas mãos, a fim de serem infalivelmente resgatadas da condenação eterna.

Cristo amou o jovem rico.

Por que duvidar da sua salvação?

Nota: [1] Agape e Agapao se empregam em quase todos os demais casos no NT para falar do relacionamento entre Deus e o homem - e isto não de modo inesperado, tendo em vista o uso no AT. No caso do subs. agape, porém, não há uso negativo correspondente no NT. é sempre no sentido de he agape tou theou, "o amor de Deus", ou no gen. subsjetivo (i.é, o amor dos homens por Deus), ou com referência ao amor divino por outras pessoas, que a presença de Deus evoca. Desta forma, agape fica bem perto de conceitos tais como pistis -> justiça e charis -> graça, todos os quais têm um ponto único de origem, em Deus somente (Dic. Internacional de Teologia do NT, pg 117 - Editora Vida Nova).


Fonte: Kálamos

07 janeiro 2010

O CADÁVER QUE A CHUVA MOLHA









 Por Jorge Fernandes Isah
 
Muitos se perguntam se o Inferno existe. E dou-lhes certeza, existe! Por que a Bíblia diz. Não vou nem me ater a relacionar versículos. Eles estão em tão grande profusão por toda a Escritura que é desnecessário. Se alguém lhe falar que isso é “lenda”, “mentira”, “coação psicológica” ou “radicalismo teológico”, afaste-se dele, pois o objetivo é unicamente o de destruí-lo definitivamente, assim como ele mesmo se acha devastado.

Nos piores momentos de impiedade da minha vida, quando estava escravizado pelo pecado, eu acreditava tanto num tipo equivocado de amor divino, um amor engodado e subjugado, que não O considerava capaz de me condenar. Em minha loucura, achava que o Deus bondoso não poderia criar um lugar tão terrível como o descrito na Escritura, onde os pecadores fossem lançados e atormentados eternamente, "para o fogo que nunca se apaga, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga" [Mc 9.43-44]. O meu coração estava tão corrompido pela autocompaixão, que o Seu amor era uma espécie de escudo protetor a me desobrigar de cumprir a Sua palavra, garantindo-me descumpri-la, e manter-me enredado no caminho pervertido. O objetivo era de que a minha iniqüidade prevalecesse sobre o amor de Deus; era como o calço que equilibraria a mesa defeituosa e manca; uma muleta capaz de fazer o coxo se arrastar sem que seja curado do seu mal. Era preciso que eu anulasse a Sua justiça e, por conseguinte, o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, com a idéia perversa de um amor contemplativo e inútil, suficiente para me manter num coma irreversível.

É interessante como tudo se processa:

1) O conhecimento de Deus e de Sua Lei Moral, inatos em minha alma, revelavam-me os pecados, ainda que não os assumissem como tal.

2) Para justificá-los, apelava para o amor complacente, tolerante e conveniente, o qual julgava divino, quando não passava de uma tentativa desesperada de ser aprovado por Ele, sem a necessidade de arredar o pé da antiga vida de pecados.

3) Então suprimia o Inferno e qualquer tipo de condenação; acreditando que mesmo o diabo seria absolvido em nome desse suposto amor divino. No fundo, não passava de uma tentativa frustrada de demovê-lO da sua convicção, de considerá-lO volúvel e maleável, facilmente moldado por todo o meu coração perverso e estúpido.

4) Por fim, como a Escritura é categórica em relação ao julgamento de Satanás [e também do réprobo], optei pela sua não existência; e as citações escriturísticas não passavam de apelos morais à minha consciência, no sentido de o mal ser condenado e combatido na sociedade, sem que o pecador o seja. Desta forma, as criaturas tornavam-se mais importantes do que o Criador, e o projeto de santidade de Deus era uma mera obsessão ortodoxa, um delírio teológico legalista [1].

5) A expiação do Senhor, o tema central e corrente de toda a Escritura, passou a ter também um apelo meramente moral, no sentido de se buscar, seja na bondade, no serviço, na consciência, na integração social, o bem que há em nós e que sempre vencerá o mal. Somente desse modo a humanidade evoluirá por seus próprios meios, à sua maneira, até finalmente alcançar a perfeição [2].

Assim, progressivamente, vai-se afastando da revelação especial, em detrimento de uma “revelação pessoal”, na qual o ímpio conforta-se com a idéia de que tudo será perdoado, ainda que não seja necessário arrependimento, ainda que seja preservada a sua velha natureza, e a dissolução servisse de prêmio à desobediência, à leviandade, ao ignóbil pensamento de que se é possível “passar a perna em Deus”.

O novo-nascimento operado pelo Espírito Santo, primeiramente, nos revela a nossa condição imoral e iníqua. Sem a constatação do que somos, o reconhecimento de que estamos verdadeiramente perdidos e mortos para Deus, não há arrependimento nem salvação. Duvido do crente que diz que sempre foi crente. Por menor que seja o processo de regeneração, por mais tênue que seja a diferença entre a sua vida pregressa e a nova vida, há de se arrepender. Mesmo crentes nascidos em berços cristãos, cujos pais, avós e bisavós eram crentes, terão de se deparar mais cedo ou mais tarde com os seus pecados, sendo confrontados pela Palavra e o mover do Espírito em suas vidas. Ainda que se tenha lido a Bíblia muitas vezes, ouvido dezenas de pregações, e até se concluiu o seminário, o Evangelho não passará de construções gramaticais aos seus olhos e ouvidos, nada além de palavras e frases sucedendo-se sem sentido, ou quando muito, confundindo-o.

Porém, quando Deus o confronta com o texto bíblico e o Espírito Santo lhe revela a sua condição de rebelde, mostrando o seu estado miserável diante da santidade e glória divinas, não há como resistir: somos inapelavelmente abatidos em nossa soberba, nossos olhos são abertos, nossa mente é conformada à mente de Cristo, os joelhos se dobram, a cerviz se curva, e a escravidão do pecado é-nos arrancada, reconhecemos Cristo como Senhor, e somos eternamente salvos pelo Seu perfeito amor.

Então, qualquer tentativa de se minimizar o novo-nascimento como a transposição radical do reino das trevas para o Reino da luz, deve ser combatida. Nada é mais diabólico do que rejeitar o novo-nascimento, porque sem ele, o homem apenas será mantido no estado de impiedade, sustentando a inimizade contra Deus, a sua condição de caído em Adão, e a perpetuar a sua natureza carnal, conservando-se morto.

Sem a regeneração, não há salvação. Não adianta saber todos os versículos de cor, nem ter uma vida de aparente piedade, nem estar a serviço da igreja, nem dizimar e ofertar, nem participar da ceia, nem mesmo pregar a palavra. Deus pode usá-lo de várias maneiras [e o usará quer você queira ou não] e você pode até mesmo estar convencido de sua salvação, mas a sua fé não é por Cristo, mas em seus méritos próprios. E ninguém será justificado por obras de justiça própria; porque a sua fé não está nEle, mas em si mesmo, em seu esforço, e no grande cristão que você aparenta ser; nada disso surtirá algum efeito, a não ser condená-lo; ainda que se considere bom o suficiente para receber a misericórdia divina, quando, se não for lavado no sangue do Cordeiro, não poderá chegar diante do Seu trono alegando qualquer outra justificativa. A única que satisfaz o Todo-Poderoso é ser expiado por Cristo, e ser absolvido dos pecados pelo Seu sacrifício remidor.

Você não passa de um tolo! Não é salvo. Nunca foi. E continua sob a ira de Deus.

Se não houver aquele dia, em que numa ínfima fração de tempo você se viu como realmente é, e foi movido irresistivelmente pelo Espírito Santo a ser como Cristo, você ainda está morto em seus delitos e pecados. De nada adiantará espernear, alegar inocência, porque a obra de salvação é completamente de Deus, e o homem não pode auxiliá-lO em nada. Tudo é dEle para o eleito, o qual foi destinado para a vida eterna apenas pela Sua vontade. Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado” [Rm 6.6].

O réprobo somente faz produzir provas contra si, infringindo a Lei Moral tantas vezes quanto a sua mente caída é capaz de se deleitar na malignalidade.

Por isso, muitos se recusam a crer no Inferno e na condenação; por que não foram regenerados, e se não foram, como acomodar os seus pecados à Palavra? Não tem jeito. É impossível. Então usarão de artifícios para desqualificá-la, distorcê-la ou recriá-la. Ao idealizarem o paraíso, contentam-se em permanecer atolados no pântano como se fosse possível fazer dele um jardim sem remover toda a lama. Querem que brote flores no terreno estéril. Querem exalar o doce perfume de Cristo, quando estão apodrecendo.

Querem-se vivos, quando estão mortos. Querem respirar, quando estão asfixiados. É como o cérebro sem oxigênio.

Assim é o ímpio.

O cadáver que a chuva molha.

Nota: [1] Interessante que os liberais nos acusam de todo o tipo de distorção. Dizem que traçamos absolutos quando eles não existem. Dizem que levamos a Bíblia a uma literalidade doentia. Dizem que o propósito de Deus não é o de condenar ninguém. Dizem que a revelação especial foi construída por homens, e, portanto, está sujeita a falhas. Dizem que Deus deu apenas uma idéia geral do Seu plano, e que os homens acrescentaram e distorceram essa mensagem inicial. Dizem que a Bíblia não é divina, mas humana; e tem apenas bons exemplos morais, mas nada que leve a criatura à salvação ou condenação. 
Eles proclamam uma cartilha de motivos para a sua impiedade, para manterem-se em conluio com o pecado, sem que haja qualquer prova concreta do que afirmam; nada além da mais simplória e débil especulação. Contrariamente, podemos afirmar que eles não passam de incrédulos, de crentes em uma fé distorcida e talhada à imagem dos seus deuses: eles mesmos e o diabo. E isso não é mera especulação. É o próprio Deus falando através da Bíblia, a revelação especial. 
[2] A qual nada mais é do que a integração de todos os povos, raças e credos numa simbiose capaz de fazer com que a humanidade se unisse no projeto de construção do homem ideal. Isso significaria a união da luz com as trevas, do bem com o mal, do absoluto com o relativo, do fundamental com o dispensável, de Cristo com Belial, do santo com o profano, do incorruptível com o corrompido. Seria o mesmo que fundir água e óleo; e sabemos que eles não se confundem.