"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

18 janeiro 2010

O Sermão de um Pai, e o Conselho de um Sogro

Por Natan de Oliveira

Recentemente tanto meu pai quanto meu sogro completaram 72 anos.
Dedico esta reflexão para relembrar dentre muitas histórias as duas que são as minhas prediletas.

Relembrarei aqui a que eu considero como a melhor história que meu pai já me contou.
Relembrarei aqui o melhor conselho que meu sogro me deu e os efeitos deste conselho na minha vida.


Começarei pelo meu pai.

Desde pequeno, sempre que amigos nos visitavam, eu gostava de ouvir as conversas ao redor da mesa.

E nestes anos todos, esta história que vou lhes contar, eu já ouvi muitas vezes.

E em todas as vezes que ouço, eu gosto muito de ouví-la.
E definitivamente é a melhor história de meu pai.
Uma lembrança inesquecível que ouvi pela primeira vez quando eu era bem menino, e se for impreciso nos detalhes, pouco me importa, o que desejo relembrar é a mensagem da lembrança.

Há muitos anos atrás, quando meu pai já era casado, um dia ele estava se arrumando para ir ao culto da sua igreja, quando ouviu uma voz que disse “José...”.
Meu pai chamou pela minha mãe que estava noutra peça da casa e ela lhe disse que não o tinha chamado.
Logo meu pai lembrou da experiência de Samuel relatada no Velho Testamento.

Passado um tempo, novamente ouviu a mesma voz “José...”.
Meu pai disse então as mesmas palavras de Samuel “Fala Senhor, que o teu servo ouve” 1 Samuel 3.10

A voz lhe disse: “Te prepara que no domingo você irá pregar o sermão na igreja”.
Meu pai que raramente era convidado a falar, disse para a voz que não iria pedir a palavra, nem nada.
A voz insistiu: “Te prepara que no domingo você irá pregar o sermão”.
Meu pai se preparou, estudou, fez o esboço, reviu, refez, orou, e no dia em questão já tinha remoído o assunto muitas vezes.

Na véspera quando estava arrumando a gravata disse para minha mãe: “Hoje eu vou pregar o sermão”.
Minha mãe achou altamente improvável que ocorresse.
Meu pai insistiu e lhe afirmou que não iria pedir para falar, mas que ele tinha certeza que o sermão daquele dia seria ministrado por ele.

Ao chegarem ao culto, a liturgia foi se desenrolando...
E o meu pai lá sentado no banco como crente “comum”.
Na sua igreja os ministros e pastores sentavam no púlpito.
Os cânticos foram cantados e se aproximava a hora do sermão... Meu pai continuou em silêncio no seu banco.

Quando chegou à véspera da hora do sermão, o pastor anuncia que excepcionalmente naquela noite dividiria o tempo do sermão com meu pai... E que meu pai iniciaria falando a primeira meia-hora.

Eu menino, sempre fiquei imaginando a emoção de meu pai e minha mãe na ocasião.

Meu pai subiu no púlpito, abriu sua Bíblia e leu o versículo bíblico sobre o qual falaria.
Ao terminar de ler, o pastor que ficava assentado ao lado do púlpito do pregador, fechou sua Bíblia com estrondo e diz com impacto: “Acabou de roubar o texto que eu iria falar, agora que pregue sozinho todo o sermão!”.

Nas palavras de meu pai, ele já pregou o mesmo sermão outras vezes, mas nunca com a mesma autoridade e impacto quanto naquela noite.

E o texto do sermão...?
“Disse-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, chamado Cristo?”
Esta pergunta sempre me acompanhou o pensamento...

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Conheci meu sogro quando tinha 10 anos de idade.

Iniciei meus estudos de clarinete com meu pai aos 9 anos, mas foi com meu sogro que terminei os meus estudos musicais.
E aos 10 anos de idade, após várias lições com meu futuro sogro, eu me vi tocando minha clarineta de 13 chaves na igreja que freqüentávamos.
Foram 17 anos tocando na banda e convivendo com meu sogro. Tempos deliciosos.

E lá pelas tantas, quando tinha 23 anos, me apaixonei pela sua filha, esta mesma que hoje é minha esposa.
Lá fui eu então, no estilo antigo, pedir “a mão” da filha em namoro.
E pedido daqui, aceite dali, eu muito envergonhado, meu sogro igualmente constrangido pela situação, eu lhe perguntei se tinha algum conselho ou recomendação quanto ao namoro...

Ouvi dele então o melhor conselho que um genro pode receber de seu sogro.

Sua frase me acompanhou por todos os 2 anos de namoro e 2 anos de noivado (e ainda me acompanha).
Mais tarde sempre que tinha alguma intimidade com sua filha, um beijo roubado, um abraço oferecido, a tentação de ultrapassar limites sempre surgia... Mas com ela vinham as palavras do conselho de meu sogro...

Eu sempre me controlava.
Casamos virgens.

Pretendo, quando o tempo certo chegar, passar o mesmo conselho para minha filha.
Qual foi o conselho...?
“Meu filho, o temor do Senhor é o princípio da Sabedoria...”.
Os anos se passaram, não penso mais neste texto bíblico quando beijo minha esposa, mas o aplico a diversas outras situações da minha vida. Conselho precioso.

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Realmente não sei se chegarei aos 72 anos.

Mas certamente um dia, num momento que Deus oportunizará, perguntarei a minha filha: “Filha, que farás de Jesus chamado o Cristo?”.

E noutra oportunidade, como um atleta numa corrida por revezamento passa o bastão para outro atleta que lhe sucederá, lhe direi: “Filha, o temor do Senhor é o princípio da Sabedoria!”.

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“E, respondendo o presidente, disse-lhes: Qual desses dois quereis vós que eu solte? E eles disseram: Barrabás. Disse-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos: Seja crucificado.” Mateus 27.21-22

“O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução. Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe.” Provérbios 1.7-8

Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor

Fonte: Reflexões Reformadas

Um comentário:

Helveciop disse...

Caríssimo irmão...é dessas históriaa simples e reais que precisamos para que as pessoas saibam o que é a vida cristã, Nada mais, nada menos.

Um abraço.