"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

31 dezembro 2010

Oração: opção pelo impossível

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O veículo dado por Deus para que o homem invada a esfera do sobrenatural é a oração. Aquilo que naturalmente é impossível ao homem, Deus faz acessível através da oração. Pela oração respiramos a atmosfera espiritual.
O próprio Senhor Jesus ensinou seus discípulos a orar e ele mesmo orou várias vezes.
O apóstolo Paulo manteve uma vida de oração e por meio dela recebeu inspiração/poder para a obra evangelizadora.
Em todos os movimentos do Espírito Santo neste mundo, houve antes, um mover da igreja no campo da oração.
A oração precede o avivamento espiritual.
A oração dinamiza a igreja e une seus membros.
A oração transforma um ambiente estéril em um jardim cheio de vida.
A oração muda o curso da história de nossas vidas, família e é através dela que o Senhor Jesus se torna participante das nossas crises.
O vigor espiritual do homem/mulher está proporcionalmente ligado ao tempo investido em oração.
Não existe poder espiritual somente no ordenar sobre as coisas e situações.
No mundo espiritual existe reconhecimento daqueles que têm autoridade de uma vida derramada no altar de Deus.
A igreja vem perdendo seu vigor por ter abandonado a oração. O pentecostes em Atos foi precedido por oração. Avivamentos ao longo da história da igreja chegaram depois de vidas terem sido derramadas no altar através da oração.
Percebo que muitas igrejas perderam seu tonus vital porque os sermões ali pregados são sermões mortos. E. M. Bounds em seu extraordinário livro Poder Através da Oração disse: "Homens mortos tiram de si sermões mortos e sermões mortos matam".
O mais difícil na pregação não é o preparo do sermão, mas o preparo do pregador. Livros não substituem o poder do Espírito Santo. Oratória não traz Deus para o sermão, mas Deus se faz presente em um sermão através da oração.
Quanto Elias após três anos e meio de ausência se apresenta a Israel ele viu os resultados de sua oração feita anteriormente. Seca, mortes, um país arrasado e um rei inseguro. Agora novamente Elias ora. Permanece em oração até que uma nuvem em forma de uma mão se apresenta nos céus. Era a certeza que a chuva viria.
Que oremos até que a pequena nuvem se forme e depois venha o poder de Deus sobre sua igreja.
Antes das decisões, ore.
Ore por sua mulher, marido, filhos, ore em qualquer situação.
Se você espera pela interferência do Senhor em sua vida, clame por ela, suplique.
No sermão do monte há um texto onde o Senhor Jesus nos incentivando a orar diz: "Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente".
A construção deste texto no grego quer dizer assim: "Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secretoe teu Pai, que já está lá te esperandote recompensará publicamente".
O Senhor Jesus está nos dizendo que a oração é um encontro com alguém que está nos esperando. Deus está à nossa espera aguardando nossa entrada em sua presença. Daí concluirmos que A ORAÇÃO É UMA OPÇÃO PELO IMPOSSÍVEL.

Soli Deo Gloria

Pr. Luiz Fernando R. de Souza



Nota: Texto originalmente postado em "Ministério Força para Viver"

25 dezembro 2010

Liturgia: orações diárias

Por Igor Miguel [1]

Liturgia é uma palavra de origem grega que significa "serviço". Cristãos evangélicos temem esta palavra, principalmente aqueles oriundos de comunidades pentecostais e neo-pentecostais, por causa de alguma influência do "protestantismo radical" e dos avivamentos que receberam grande influência de correntes pietistas. Por isso, círculos renovados (carismáticos/pentecostais) preferem um culto espontâneo, com orações livres, sem expressões simbólicas de culto, por causa de uma radicalização da reforma protestante a seu passado católico romano, que se valia de expressões litúrgicas como meios de obtenção de graça e alguns problemas que foram criticados com razão pela reforma protestante.

Não obstante, a crítica reformada não era à liturgia em si, mas ao uso abusivo de "formas litúrgicas" que substituíam em muitos casos a consciência cristã e uma espiritualidade sóbria pela performance mecânica de determinados rituais.

Sempre tive apreço por algumas expressões clássicas de espiritualidade, sempre gostei de me integrar à textos bíblicos e recitá-los como se fossem orações de minha autoria para Deus. E o mais importante, expressões litúrgicas como: orações coletivas, leitura pública das Escrituras, a ceia do Senhor e outros elementos, expressavam umaespiritualidade comunitária, ao invés de um pietismo que explora e concentra a vida do espírito na experiência individual, algo recorrente em nossos dias, principalmente nos círculos cristãos já mencionados.

Por isso, estou a procura de expressões clássicas de espiritualidade, principalmente aquelas que me integram ao Corpo de Cristo e me fazem sentir parte de uma grande comunidade, a Igreja. Hoje, procuro trazer um tempero litúrgico para minhas orações devocionais, principalmente de manhã, e confesso, tem sido muito bom.

Tenho seguido o livro de orações diárias da Igreja da Inglaterra (Common Worship Prayer Book), que é um livro das comunidades protestantes daquele pais. Obviamente, o material não está em português, quem sabe um dia poderemos traduzi-lo. Esse livro de orações encontra-se disponível gratuitamente na Internet. Nele é possível encontrar uma sequência litúrgica em que orações se intercalam com textos bíblicos e orações de personagens cristãos importantes da antiguidade e da modernidade (Agostinho, Calvino, John Wesley, João da Cruz, Tertuliano e outros), além de motivos especiais de oração para cada dia semana.

De qualquer forma, para aqueles que não leem inglês e se interessam por este formato milenar de espiritualidade, abaixo lhes dou uma sugestão liturgicamente estruturada de devocional:

1) Oração do Senhor (O Pai Nosso)

2) Orar um Salmo de Louvor (Sl 113-118), ou
2.1) Orar um texto bíblico ou outros salmos.

3) Meditar na Lei do Senhor

Ler e meditar
(estas são algumas sugestões de textos que podem ser intercalados durante a semana):
  • Os 10 mandamentos.
  • Trechos do Sl 119
  • Trechos do Sermão da Montanha (Mt cap.5-7).
  • Deuteronômio 6:4 e seg. (conhecido conhecido entre os judeus por Shemá)
4) Afirmar o Credo Apostólico (resumo da fé cristã)
--> Sobre o uso protestante do Credo Apostólico veja aqui e aqui.
Creio em Deus Pai, todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo,
seu único Filho
nosso Senhor.
Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos Céus
está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,
donde há de vir julgar os vivos e mortos.
Creio no Espírito Santo,
na Santa Igreja Universal,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne,
na vida eterna.

5) Oração espontânea.
- Motivos de intercessão:
  • Pela Igreja perseguida;
  • Pelos poderes políticos;
  • Pelos santos e a Igreja no mundo;
  • Pela expansão missionária;
  • Pela salvação dos eleitos do Senhor;
  • Pelas necessidades da comunidade local;
  • E outros motivos.
Obviamente, que esta é uma sugestão básica e flexívelpara aqueles que querem organizar seu devocional e sua vida de oração. Lembrado-lhes que, práticas como essa devem ser feitas a partir de uma perspectiva de "Docilidade Comunitária", de uma consciência de integração e pertencimento a uma comunidade eleita, composta de mártires, santos, missionários, de todos os tempos e eras na unidade do Espírito Santo. Em algum sentido, quando oramos e confessamos nossa milenar fé em Jesus Cristo, nos integramos aos discípulos de Cristo de todas as eras e lugares, fazemos parte de um Corpo.

Tenho observado, que uma estrutura litúrgica no devocional nos disciplina e cria "ilhas de eternidade"*, de reflexão e contrição em um mundo frenético, que igualmente é palco de nosso engajamento vocacional. Além disso, orações estruturadas desta forma, evitam orações egoístas, privadas e orações que por sua excessiva espontaneidade acabam se tornando vazias de conteúdo e direção. Após este ritmo devocional, mesmo as orações feitas de forma livre, tornam-se mais alinhadas com uma espiritualidade comunitária e menos individualizada.

Para uma reflexão sobre a liturgia vale a pena uma lida no meu texto: Amor, Corpo e Liturgia.

Vamos orar?

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*Para uma compreensão da ideia de "ilhas de eternidade" e espiritualidade no tempo, vale a pena ler o livro "O Schabbat" de Abraham Joschua Heschel. Uma reflexão filosófica e teológica de um filósofo judeu a respeito dos intercursos da eternidade na história e rotina.

Nota:[1] Texto originariamente postado em Pensar...

17 dezembro 2010

Cristianismo anticristão




















Por Jorge Fernandes Isah

Há um empenho quase generalizado de se propagar a idéia de que todos os caminhos levam a Deus. De que qualquer religião praticada com sinceridade é aceita por Deus. De que qualquer forma de devoção, ritual ou religiosidade pode agradá-lO. Seria o mesmo que confundir um maestro com um condutor de trem, um golfista com um cavador de buracos, um domador de leões com um exterminador de insetos. Essa falácia está presente em todas as religiões, especialmente entre os deístas e politeístas. No caso do teísmo, onde essa falsa idéia deveria ser rejeitada, infelizmente tem ganhado corpo e achado guarita. Tanto o judaísmo, como o cristianismo, e o islamismo estão sendo contaminados pela premissa de que, em princípio, tudo é possível ao homem no satisfazer a Deus. Esquecem-se contudo de que Ele explicitou claramente o que lhe apraz: a sujeição do homem a Cristo, e o senhorio de Cristo sobre o homem. Mas isso está sendo cada vez mais desprezado e ridicularizado entre aqueles que se dizem cristãos. E o que poderia levar a tamanho engano e disparate?


Há de se analisar que existem apenas duas religiões: a divina e a humanista. Uma se contrapõe à outra, e, infelizmente, alguns crentes e denominações cristãs têm se apegado a parte da verdade, como se ela pudesse ser fatiada e cada pedaço viver coerentemente sem o todo. Então, com o pedaço na mão e a partir dele, constrói-se um sistema falacioso e corrupto em que essa partícula verdadeira é soterrada por camadas e camadas de entulhos, ao ponto em que não se é possível mais identificá-la, ou ganhou uma conotação tão espúria e degradada, unida ao paganismo e ao sincretismo, que se acaba por formatar uma cosmovisão pluralista, inconsistente e, sobretudo, anticristã. Partindo-se do princípio de que o mundo tem e pode ser entendido por ele mesmo, de que a resposta está ao alcance dos dedos sem a necessidade da sabedoria divina para explicá-lo. Em linhas gerais, prega-se a autosuficiência e o autoconhecimento, bem ao estilo gnóstico de se interpretar o mundo através de um sistema subjetivo, quase sentimental, em que a maior virtude é a dúvida, disfarçada de falsa sabedoria. É a maneira sutil de apanhar os tolos numa espécie de piedade e nobreza, onde há apenas autocomiseração, a fim de mantê-lo domesticado pelo pecado.

A intenção é claramente uma só: através da ontologia, da epistemologia, da ética e da teleologia criar-se um conjunto uniforme que se oponha ao cristianismo ortodoxo; operando a partir do ponto de vista relativista, pragmático e imanentista, colocando o homem como o ser supremo, o centro do universo, quando ele nada mais é do que o bobo da corte.

Desta forma a religião humanista (e nela está contido o arminianismo e todas as outras formas e concepções em que o homem tenta desesperadamente usurpar o trono de Deus; alguns conscientes, outros nem tanto) subverte algo do cristianismo para moldar a idéia de que todas as concepções são legítimas, de que todos os caminhos são aceitáveis, vistos que eles ensinam e se preocupam apenas com o bem-estar do homem; então, a cosmovisão que proclama o estado de depravação e iniqüidade do mesmo homem e a completa soberania de Deus tem de ser combatida a fim de se resguardar a integridade da criatura.

Logo, não há lugar para a ortodoxia cristã, nem para Deus como o ser supremo, justo e santo, que irá julgar esse mesmo homem; não há chance de salvação além dele mesmo, e muitos consideram desnecessária a própria salvação na toda poderosa e suficiente super-humanidade.

Por isso, entre os cristãos, criou-se a imagem de um deus paspalhão, um sentimentalóide tosco e tolo que acaba por se sujeitar ao padrão estabelecido pelo homem, e do qual o próprio homem desconhece quais serão as suas conseqüências, mas de uma forma estúpida, arvora-se uma tranquilidade bovina. Esse deus não é reconhecido na Escritura, nem em momento algum é visto ou descrito por ela; por isso eles têm a necessidade de, primeiro, relativizar e desqualificar o texto bíblico como a fiel palavra de Deus; colocando-a somente como mais um manual ético-moral entre tantos outros criados pela mente humana. Inclui-se a destruição de qualquer aspecto sobrenatural e histórico em suas páginas, e a revelação divina nada mais é do que "contos da carochinha" ou alegorias extraídas da nossa capacidade criativa. E assim o homem estará pronto a exercer a sua credulidade em qualquer coisa e em qualquer um; imitando a si mesmo num exercício de não-convicção-não-fundamentada na revelação especial e racional do Deus vivo.

No mundo subjetivo, onde as "verdades" são mutáveis e adaptáveis à corrupção, qualquer defesa do cristianismo bíblico deve ser combatida. Por isso o empenho em erradicar algo tão divisor, sectário e que define claramente o caráter de cada decisão e ação, julgando-a à luz da Palavra, anunciando-a verdadeira ou revelando-a enganosa. 

Por isso o Estado, com a falsa premissa de ser laico, torna-se antireligioso, mas não o suficiente para impedir que "técnicas" religiosas se convertam em métodos "científicos"aplicados à satisfação humana. A prova está na aceitação pacífica da yoga, da acupultura, da ecologia (o culto pagão da deusa "Gaia") , e tantas outras “técnicas” holísticas como o padrão aceitável de espiritualidade humana, aparentemente neutra, aparentemente inofensiva, mas que em seu cerne contém apenas destruição. Ao financiá-las e propagandeá-las o que se tem é a subversão “pacífica” dos valores cristãos, através da implementação e institucionalização de formas religiosas inclusivas e não-conservadoras. É como colocar o gato, o rato e o cão na mesma caixa e esperar que vivam pacificamente, sustentando-se apenas com a idéia de que o outro é ele mesmo, e vice-versa.

Como o Cristianismo proclama a necessidade do novo-nascimento, da regeneração, da santificação, ao ponto em que o homem espiritual derrote o homem carnal e seja semelhante ao nosso Senhor Jesus Cristo, e por Ele seja reconhecido como tal, nada mais funcional do que fazer todos acreditarem que a fonte salobra é algo fresca e pura, e assim, ninguém jamais saberá a diferença entre o líquido que mata e aquele capaz de dar vida. 

Portanto todas as formas que possam se fundir ao humanismo são aceitas, exceto o Cristianismo Bíblico, ortodoxo e histórico, o qual não é antropocêntrico, mas teocêntrico; e por isso, deve ser destruído, já que em seu escopo não existe a menor possibilidade de comunhão entre luz e trevas.  

14 dezembro 2010

Doce Comunidade

*Por Igor Miguel

Tenho vivido dias modestos. Dias de simplicidade, de valorizar coisas básicas, criar expectativas próximas. Nada muito grande, sem pretensões ou sonhos aprisionadores. Descobri que a forma mais agradável de se viver é viver em comunidade.

A graça me beijou, meu coração enche-se de gratidão. Quando oro a oração que Jesus me ensinou, quando chamo Deus de Pai, alguma coisa me integra a uma multidão de mártires, peregrinos, a uma grande nuvem de testemunhas (Hb 12:1): homens, mulheres de desertos, de monastérios, de cidades, de universidades, de fogueiras, de livros, alguma coisa me inclui na cidade de Cristo, a Cidade de Deus.

Em comunidade vejo rostos familiares, uma família milenar, ao redor da mesa da comunhão, na sacralidade do partir do pão, do misterioso sacramento, que emerge da páscoa, shulchan arúch, mesa posta.

Quando seguro o pão, quanto pego no cálice da Nova Aliança, diante do banquete sacramental, alguma coisa me coloca na mesa da última ceia, ouvindo cantigas e salmos, com a presença de discípulos covardes, amados e traidores, lá estão todos reunidos, com riscos, alegrias, fraquezas e amor.

Comunidade... mesa eucarística[1], de comunhão, edificados não no Monte do Templo, agora, construídos sobre a Pedra Angular, sobre o fundamentos dos apóstolos e profetas: Jesus Cristo.

Uma comunidade universal. Nela a linha entre o existente e não-existente, incluídos e excluídos, se dissolve, porque lá todos se aproximam para se tornar um em Cristo. Evangelho da paz para que os estavam perto e para os que estavam longe (Ef 2).

Lá na comunidade, na comunhão dos santos, como assevera o credo, cresce um interesse pelo que é o outro. Uma curiosidade irresistível de saber como aquele que chamamos irmão vê a Cristo: será que com o mesmo olhar? Será com a mesma alegria? Que história o Espírito de Adoção inscreveu em sua história?

Perguntas silenciosas, que perpassam biografias, causos dramáticos, que compõem uma grande comunidade chamada: IGREJA.

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[1] Eucaristia significa comunhão.

*Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor, e disponível originariamente no blog Pensar...