"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

27 novembro 2011

Por que, eventualmente, acredito no Papa Bento XVI?




Por Fábio Ribas


Penúltimo artigo desta nossa série em que estamos comemorando o aniversário de 1 ano do nosso blog pró-família, publicando artigos escritos por nós e que foram muito importantes na nossa formação, porque foram textos escritos na ebulição de ideias que nos apaixonam. 

Abraços sempre afetuosos. Casal 20.
____________________________________________

Quantas vezes entrávamos na capela dos orionitas para nos curvar diante da presença do sagrado naquele lugar? Mas não naquela manhã de outubro. Estávamos ali há quase 10 horas e, à medida que se arrastavam os minutos, estes iam diluindo o sagrado que eu julgava haver ali. Por fim, alguém trouxe o rádio que usávamos em nossas devocionais e o colocou ali para tocar "a mais bonita das noites" de Chitãozinho e Xororó, sucesso nacional daquela época. 

Chegou a minha vez de subir com os padres. Todas as portas dos armários dos meus colegas de quarto estavam abertas e todas as roupas e pertences deles jogados bem no meio do quarto. Pegaram meus livros, cadernos e roupas e os jogaram junto às outras coisas que já estavam no chão. Eles estavam procurando alguma coisa, eu sei. A secretaria do seminário havia sido roubada e certamente um de nós seria o ladrão. Estavam procurando pelo dinheiro… Não! Soubemos depois que eles já sabiam qual seminarista havia roubado o dinheiro, mas eles aproveitaram a oportunidade para nos devassar, descobrir sujeiras, fotos, revistas, outras possíveis perversidades juvenis que poderíamos esconder deles. Voltei à capela. Abaixei a cabeça. Fechei os olhos… o sagrado morria para mim naquele dia.

Depois daquela experiência da morte do sagrado, muitos foram embora do Seminário. Eu ainda tentei insistir num outro ano, mas o rasgo havia sido feito: a experiência do sagrado já era morta. E se pudesse tentar explicar o que considero a mais importante diferença entre Barth e Tillich diria que este avançou sobre essa ideia da experiência do Sagrado Universal como revelação salvífica, enquanto Barth permaneceu compreendendo que o Cristianismo é o único detentor da revelação especial. Para Tillich, o caminho natural das religiões mostrava nelas a revelação salvífica de Deus, enquanto para Barth existia a cisão entre a verdadeira religião e as falsas religiões, ou melhor, entre revelação e religião. Todas as religiões possuem a experiência do sagrado (Tillich, Rahner, etc), mas somente no Cristianismo é possível a experiência da fé (Barth). Assim, naquele dia na capela, o que morria em mim era a experiência do sagrado, já que ainda não conhecia a experiência da fé.

Ao ler a reportagem da Revista Ultimato, cujo título é “A coragem de dizer aos que querem mudanças na igreja que eles, eventualmente, têm razão”, percebi por que Bento XVI (colega de Karl Barth na juventude) continua a achar que homens como Pedro Casaldáglia, Hans Küng e Frei Betto não têm razão. Estes compactuam tão somente do pluralismo da experiência do sagrado e não da experiência da fé revelacional e salvífica em Cristo Jesus. Eles fazem do Cristianismo apenas um espaço para a manifestação dos deuses de seus ventres. É claro que Bento XVI nunca achará que eles têm razão. É evidente também que acusarão Bento XVI de retrógrado. A discussão sobre o casamento dos padres é fachada para esses homens. O assunto do fim do celibato é apenas uma desculpa de apelo populista, porque o que eles querem mesmo é o nivelamento do cristianismo com todas as demais religiões. O que resultará numa grande apoteose de um panenteísmo universal (Tillich, Boff).



Pedro Casaldáliga é a favor das invasões de terra e da luta armada, compôs poema para elogiar Che Guevara, um terrorista e comunista. Bento XVI não vai ser contraditório com Pio XI. Este condenou o comunismo (Divini Redemptoris) dizendo que o sistema marxista era "intrinsecamente mau". Este mesmo Papa declarou ainda que ninguém poderia ser verdadeiro católico e verdadeiro socialista.

Frei Betto participa do mesmo ambiente de Pedro Casaldáliga e se coloca como amigo de Fidel Castro, o ditador cubano. Em seu texto “Raízes éticas da minha esperança”, Frei Betto confessa a quem ainda tenha dúvidas de suas aspirações: “Experimentei muitas derrotas: a morte de Che na Bolívia, o fracasso dos grupos armados contra a ditadura militar brasileira, o terror da Revolução Cultural chinesa, a falência da Revolução Sandinista, acrescida de casos escabrosos de corrupção, a queda do Muro de Berlim, o fim do eurocomunismo”. 

Hans Küng, outro personagem controverso citado na reportagem da Ultimato, é um teólogo liberal que não crê na ressurreição literal de Jesus. Bem, como o comunismo também não crê, é louvável pensar que nem Frei Betto e nem Casaldáliga creiam também, se juntando ao também já declarado descrente Leonardo Boff.

Por tudo isso, digo mais uma vez que homens como esses não estão interessados que padres casem ou não. Não estão interessados em questões como paz, amor, fraternidade, embora estas palavras abundem em seus textos. Eles tão somente erguem essas bandeiras por crerem que elas terão um apelo mais popular. O que está por trás deles é o fim do cristianismo bíblico e da salvação somente em Jesus. Karl Barth percebe este desenvolvimento da Teologia Natural nas teologias modernas e pós-modernas e reage teologicamente: “a possibilidade do conhecimento de Deus encontra-se na Palavra de Deus e em nenhum outro lugar” e “o Deus eterno deve ser conhecido em Jesus Cristo e não em outro lugar.” Tillich cria que haveria revelação salvífica em outras religiões. Barth não. Frei Betto já expressou sua fé no socialismo. Bento XVI não. 



Assim, quando se juntam pessoas de interesses tão diversos (e excludentes) debaixo de um único guarda-chuva: descrentes comunistas, descrentes liberais, padres que querem casar, Reformadores do século 16, Concílio Vaticano II e até Simonton, o missionário presbiteriano que trouxe sua Denominação ao Brasil, acaba-se por nivelar por baixo causas nobres juntamente com aquelas causas escusas. Sem falar que colocar Frei Betto, Casaldáliga e Hans Küng ao lado dos Reformadores do Século 16 e de Simonton é dar aqueles uma envergadura teológica e moral que jamais tiveram. Finalmente, desenha-se uma caricatura de Bento XVI e o coloca isolado de um lado, enquanto do outro estariam “os heróis da resistência”. Mas isto não é cristianismo, é maniqueísmo. E apresentar ao leitor estas controvérsias de modo tão parcial é ruinoso para a Cristandade. É isto o que faz a reportagem da Revista evangélica Ultimato, uma revista fundada por um pastor presbiteriano. É neste contexto, portanto, que afirmo que, certamente, Bento XVI tem discernimento e coragem de dizer NÃO às verdadeiras intenções dos seus inquisidores que o acusam de reacionário.

Título original deste post: 

"A coragem de Bento XVI em dizer... ... eventualmente, não!" 

FONTE: "Casal 20" e "Mulheres Sábias... Blog da Rô"

19 novembro 2011

Responsabilidade e Liberdade














Por Natan de Oliveira

“Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis.” Isaías 6.9

----

De madrugada o menino Pedro acordou, tirou a jarra de suco da geladeira, encheu um copo, bebeu.

Sonolento, voltou a dormir e esqueceu a jarra de suco sobre a mesa da cozinha.

Pela manhã seu pai pergunta:
- Quem foi o responsável por este fato?

Ou talvez tenha perguntado assim:
- Quem que deixou a jarra de suco sobre a mesa?

Pedro não é considerado responsável pelo ato, devido ao fato de ele ter tido a liberdade de deixar a jarra ou não na mesa, mas ele é responsável, pois o fato se remete a ele, afinal foi ele quem deixou a jarra na mesa.

A responsabilidade se estabelece não por causa da liberdade de escolha que ele teve em guardar a jarra ou não.

A responsabilidade se caracteriza devido à ação do Pedro, e por isto ele é o responsável.

Mesmo tendo sido negligente (estava sonolento) em não guardar a jarra, mesmo assim é responsável pelo fato de a mesma não ter sido guardada.

----

Este pequeno exemplo, procura explicar em palavras simples como que responsabilidade moral pode não estar associada à liberdade autônoma de escolha.

Somos responsáveis pelo pecado, e também somos responsáveis pelo correto agir, não porque temos liberdade de escolha entre as duas opções, mas simplesmente porque o pecado cometido foi feito por nós.

O Senhor perguntará:
- Quem foi o responsável por este pecado?

Ou talvez assim:
- Quem fez o pecado tal?

A pessoa que cometeu o delito, esta é a responsável.
Ele não vai perguntar se pecamos livremente ou não, mas sim se fizemos.

“Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo.“ Mateus 12.36

O problema é que a Bíblia declara que algumas coisas são pecados e outras não.
E mais, explica que o salário do pecado é a morte.

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Romanos 6.23

Deus facilmente poderia ter decretado diferente.
Friamente falando, a relação sexual entre marido e mulher é diferente entre a relação sexual entre solteiros?

Por que Deus disse que entre marido e mulher não é pecado e por que disse que a outra relação é adultério ou fornicação e abominação, se na essência elas são uma série de atos íntimos praticamente idênticos?

Por quê?
Ninguém sabe.
Deus desejou assim.

“Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu (Jesus), porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.” Mateus 5.27-28

Decidiu também punir os pecadores.
Desejou salvar muitos deles.

“Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?” Romanos 9.22-24

A responsabilidade do pecado dos reprovados será punida por Deus.

A responsabilidade do pecado dos eleitos (aqueles que crerem no Evangelho) foi assumida por Deus na cruz através de Jesus Cristo, e a estes não será imputada punição, pois já foi aplicada em Cristo.

“Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.” Romanos 8.33

Assim, num cenário de predestinação absoluta, que a meu ver, é o que a Bíblia ensina, mesmo que o homem não tenha livre-arbítrio, mesmo assim ele é responsável por todos os seus atos.

"Quem poderá falar e fazer acontecer, se o Senhor não o tiver decretado? Não é da boca do Altíssimo que vêm tanto as desgraças como as bençãos? Lamentações 3. 37-38

Acho que ainda não consegui explicar como que responsabilidade não tem nenhuma ligação com liberdade de escolha... 

Afinal o humanismo colocou na cabeça das pessoas que o homem só poderia ser responsável por alguma escolha, se ele fosse livre para fazê-la. 

Para estes a predestinação retira a responsabilidade do homem.

Todavia vou continuar tentando achar formas simples de explicar tal assunto, que entendo ser o correto ensinamento da Escritura (O determinismo bíblico), mas que a minha mente ainda não dá conta de imaginar analogias simples que possam explicar.

Humanisticamente falando, algumas pessoas (o louco, por exemplo) são inimputáveis diante do Direito Penal, ou seja, um louco mata alguém, ele não sabe o que está fazendo, então não será punido... Mas mesmo sem ser punido ele ainda é o responsável, pois foi ele, o louco, quem matou.

Biblicamente falando, algumas pessoas (os eleitos) são inimputáveis diante do Julgamento Final, ou seja, estes eleitos também pecaram e são pecadores miseráveis, mas não serão condenados apenas pelo fato de que o próprio Deus pagou na cruz pelos seus pecados... Mas mesmo sem serem punidos, eles ainda são os responsáveis pelos seus pecados, pois foram eles que o fizeram.

“Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” Isaías 53.5

Assim Deus, mesmo sendo soberano e tendo decretado todas as coisas antes da fundação do mundo, não é o responsável pelo pecado de ninguém, pois não é Ele quem peca.

Mas Deus é o pagador, o resgatador, aquele que por muitos diz: Por este Eu paguei com o meu próprio sangue, este Eu não punirei, não porque ele não mereça punição, ele merece, mas porque a sua punição já foi paga por Mim.

“Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.” 1 Pedro 1.18-19

Uma vez pago, podemos até falar em responsabilidade, mas não se pode mais falar em punição ou novo pagamento.

Está consumado!
Está pago!

“E (Jesus) disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.” João 19.30

Mesmo não tendo liberdade de escolha, mesmo sem livre-arbítrio, mesmo assim sou responsável por todos os meus atos.

Nas escrituras sagradas nós temos arbítrio, temos escolha, mas note que ela não é livre, não é um livre-arbítrio, nem mesmo uma livre-escolha, porque ou somos escravos do Pecado ou somos escravos de Deus.

Diante da escolha abaixo, qual será o caminho que um pecador escravo do pecado irá tomar?
“Eis que, hoje, eu ponho diante de vós a bênção e a maldição...” Deuteronômio 11.26

Pode parecer diante do texto acima, que o pecador tem livre-arbítrio, todavia perceba que é apenas arbítrio, pois se você ainda é escravo do pecado, não irá de forma alguma escolher a vida (a benção).

“Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz” Romanos 8.6

Até mesmo para que o pecador possa escolher a vida, Deus precisa antes, vivificar o coração do pecador para que ele então tenha condições de fazer a escolha correta.

Aproxime-se de Deus.
Leia a Escritura, afinal como é que você vai saber se é escravo do pecado, se nem mesmo sabe o que é pecado ou não?
Nem mesmo sabe o que a Lei de Deus permite e o que proíbe? 

“Escondi a Tua Palavra no meu coração, para não pecar contra ti.” Salmos 119.11

Se você chegou até aqui, parece que você tem fome em saber sobre a Verdade (Jesus Cristo).

É isto pode ser um sinal de que a salvação também pode ser sua... Será?
Quem é que sabe?
Tomara que sim.

Se você verdadeiramente crer na mensagem do Evangelho, isto será uma cristalina evidência que a salvação chegou sobrenaturalmente no seu coração, e neste caso, ainda és RESPONSÁVEL por todos os miseráveis e indizíveis pecados que você cometeu, mas a boa nova é que Jesus Cristo já levou sobre si cada um deles, que você está perdoado, e que agora é LIVRE para não mais pecar.

“Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior.” João 5.14

13 novembro 2011

A autoria do mal, na visão Calvinista













Por Ricardo Castro


Sicut scriptum est... 

Quem é diretamente responsável pelas más obras?

Quando se põe a serviço do Diabo, o homem é levado pelo que agrada ao Diabo, e não pelo que lhe agrada?

Devemos atribuir algo a Deus quanto às más obras, nas quais a Escritura revela que seu poder age de algum modo?

As questões acima são relevantes e intrigantes.

Agostinho comparava a vontade do homem com um cavalo, que é governado pelo desejo daquele que o monta.

A vontade do homem natural está sujeita ao senhorio do diabo, sendo por ele conduzida, o que não significa que seja constrangida pela força e sem a sua aprovação, como se força um servo ou um escravo a fazer o seu trabalho, por mais que este o deteste. Sofrendo os abusos e as mentiras do diabo, é por necessidade, e não por constrangimento, que a vontade se sujeita a obedecer ao que o diabo quer. Isso é assim, porque aqueles que não recebem de Deus a graça de serem governados por seu Espírito, são abandonados e deixados com o diabo, para serem conduzidos por ele – 2Co 4.4. A cegueira de todos os praticantes do mal e todos os malefícios resultantes são declaradamente obras do diabo; e, todavia, não é preciso procurar a causa fora da vontade humana, da qual procede a raiz do mal e na qual está a base do reino do diabo, quer dizer, o pecado. Os incrédulos se encontram tão intoxicados pelo diabo, que, em seu estupor, não tem consciência da sua miséria. Assim, todos os que vivem segundo o curso do mundo, ou seja, segundo as inclinações da carne, batalham sob o comando do diabo – Ef 2.2.

Agora atentemos para o que ocorreu com Jó. Os caldeus causaram vários danos a Jó, matando os seus pastores e roubaram todos os seus camelos. E nós, quando vemos ladrões cometendo todo o tipo de roubos e mortes, não temos dúvida em lhes imputar culpa e de os condenar. Ora, assim é, e a história atesta que isso provém do diabo. Mas, Jó reconheceu que era obra de Deus, dizendo que Deus o tinha despojado dos bens que lhe tinham sido arrebatado pelos caldeus!

Como, então, poderemos dizer que uma mesma obra foi realizada por Deus, pelos homens e pelo diabo, e não desculparmos o diabo, sendo que parece agir em conjunto com Deus, ou, por que não dizer que Deus é o Autor do Mal? 

Para responder a questão acima, temos de considerar primeiro o fim e depois a maneira de agir. O propósito de Deus era responder a um questionamento do diabo e também, nos mostrar a paciência de Jó em meio à adversidade. Satanás esforçou-se para levar Jó ao desespero. Os caldeus se empenharam na empreitada de enriquecer-se roubando bens alheios. Temos então, bem definido as diferenças de propósitos, entre a obra de uns e outros. E vemos aqui uma verdade, dura verdade: “Os ladrões e os homicidas, e os demais malfeitores são instrumentos da divina providência, dos quais o próprio Senhor se utiliza para executar os juízos que determinou” - (Calvino). Assim, Satanás e os perversos salteadores foram os ministros, e Deus foi o autor.

“O que é Satanás senão o verdugo de Deus para punir a ingratidão humana?” – Calvino

O Senhor deixou o seu servo Jó com Satanás para que este o afligisse e, por outro lado, entregou-o aos caldeus, ordenando-lhes que agissem como seus ministros, e encarregou o diabo de os impulsionar e guiar. É evidente que Satanás está sujeito ao poder de Deus, e é de tal maneira governado por sua vontade, que se vê obrigado a obedecer-lhe e a cumprir o que lhe manda. Assim, ele, Satanás, que opera interiormente com seu poder compelidor, é ministro de Deus, de tal maneira que só age em obediência à ordem divina. Voltando ao caso que estamos considerando: Satanás estimulou com os seus aguilhões venenosos, o coração dos caldeus para cometerem aquela iniquidade e, estes, por sua vez, eram maus e, dando-se à prática daquela maldade, contaminaram o seu corpo e a sua alma.

Portanto, segundo Calvino, é próprio falar que a atividade de Satanás é reprovada, exercendo ele o seu reinado, isto é, o reinado da perversidade. Podemos muito bem dizer também que, de algum modo, Deus age quando Satanás, como instrumento de sua ira, segundo a sua vontade e as suas ordens, impele os homens para lá e para cá para executarem os seus juízos. Por tudo isso, vemos que não há incoerência em atribuir uma mesma obra a Deus e ao diabo, como também aos homens. Mas a diversidade, que está na intenção e no meio empregado, faz com que a justiça de Deus em tudo e por tudo se veja irrepreensível. A malícia do diabo e a do homem são reveladas pela confusão feita em ambos.

O que alguns apresentam no sentido de que Deus permite o mal, mas não o envia, não pode subsistir. Frenquentemente as Escrituras afirmam que Deus cega e endurece os maus, e que muda, dobra e move o coração deles. Não está certo empregar essas formas de falar recorrendo à presciência ou à permissão de Deus. O que vemos claramente é que o que existe é a Providência de Deus, e não outra coisa. Deus, para executar os seus juízos por meio do diabo, ministro da sua ira, dirige para onde bem lhe parece o conselhos dos maus, dá seguimento à vontade deles e confirma o seu esforço – Jó 12.20,24; 2Ts 2.11; Is 63.17; Ex 4.21; 7.3; 10.20; Ex 3.21; Dt 2.30; Sl 105.25.

“Enquanto por instrumentalidade dos ímpios, Deus leva a cabo o que decretou em seu juízo absconso, não são eles excusáveis, como se lhe estejam a obedecer ao preceito, que, deliberadamente, violam em sua desregrada cobiça.” – Calvino

Todas as vezes que aprouve a Deus castigar as transgressões de seu povo, não o fez por meio dos maus? Certo, nesses casos veja-se bem que o poder e a eficácia da ação procediam dele, e que aqueles maus eram apenas seus ministros. Por vezes ele ameaçou que com assobios chamaria nações para virem destruir Israel, por vezes os comparou com uma rede, e também como um martelo – Is 5 e 7; Ez 12.13; 17.20; Jr 51.20; Jr 50.

“No que os iníquos pecam, isso vem deles mesmos; e que, se ao pecarem fazem algo, isso vem do poder de Deus, que divide as trevas como bem lhe parece.” O ministério de Satanás se propõe a incitar os maus, ao passo que Deus, por sua providência, os quer dobrar ora para cá, ora para lá. Isso vemos claramente na ocasião em que um espírito maligno, enviado por Deus, invadiu Saul (ou o deixou). Não é lícito atribuir isso ao Espírito Santo. Portanto, vemos que o espírito imundo é chamado de espírito de Deus, sendo que ele responde ao beneplácito e ao poder de Deus; é instrumento da sua vontade, e não autor propriamente dito.

Há uma grande distância entre o que Deus faz, o que o diabo faz e o que os malfeitores fazem numa mesma obra. Deus faz servir à sua justiça os instrumentos maus que ele tem na sua mão, e que ele pode manobrar em prol de tudo quanto lhe pareça bom. O diabo e os ímpios, maus como são, produzem e criam, mediante suas obras, maldade concebida em seu espírito perverso.

O diabo reina num homem mau e, Deus age tanto num como no outro.

Sicut scriptum est...

Bibliografia utilizadas na construção deste artigo:
- As Institutas, volume 1 (João Calvino – Editora Cultura Cristã)
(Há, no artigo acima, várias compilações da obra acima, não havendo indicação por aspas ou referências, a todas elas. Minha intenção é incitar o leitor a pesquisar nessa obra e, assim lê-la.)

05 novembro 2011

CONFUNDIR O PECADO COM OS EFEITOS DO PECADO


















Por Greg Gilbert

Está ficando comum apresentar o evangelho por dizer que Jesus salva a humanidade de um senso inato de culpa, ou de falta de significado, ou de falta de propósito, ou de falta de sentido. É claro que essas coisas são realmente problemas, e muitas pessoas as sentem profundamente. Mas, a Bíblia ensina que o problema fundamental da humanidade – aquilo do que precisamos ser salvos – não é falta de significado, a desintegração de nossa vida ou mesmo um debilitante senso de culpa.

Essas coisas são apenas sintomas de um problema muito mais profundo: o nosso pecado. O que temos de entender é que a triste situação em que estamos é algo que nós mesmos produzimos. Nós temos desobedecido à Palavra de Deus. Nós temos ignorado os mandamentos de Deus. Nós temos pecado contra Ele.

Falar sobre ser salvos da falta de significado ou da falta de propósito sem reconhecer que essas coisas têm sua origem no pecado pode tornar o remédio mais fácil de ser tomado, mas é o remédio errado. Isso permite que o ouvinte continue pensando em si mesmo como uma vítima e nunca encare o fato de que é um criminoso, injusto e merecedor de condenação.