"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

27 maio 2012

Deus, o Tentador, a Tentação e o Tentado


Por Natan de Oliveira

"E a ira do Senhor se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá." 2 Samuel 24.1

1. Pergunto às pessoas "boazinhas"... O Deus da imaginação de vocês pode irar-se?

2. Ficou claro ou não que o Deus da Bíblia se ira?

3. Pergunto também a quem possa interessar, Deus incitou a Davi? Será isto mesmo, não estaria errado o texto sagrado?

Agora leia este texto paralelo:

"Então Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a Israel." 1 Crônicas 21.1

Afinal quem foi que incitou Davi a fazer a contagem do povo de Israel? Foi Deus ou foi satanás?

Pois bem, Davi homem "obediente" que era, foi e fez a contagem.

Então...

"E este negócio pareceu mau aos olhos de Deus..." 1 Crônicas 21.7a

E mais tarde por causa da "obediência" de Davi...

"Mandou, pois, o Senhor a peste a Israel; e caíram de Israel setenta mil homens." 1 Crônicas 21.14

Humanistas religiosos torcem o semblante e já refutam tal texto bíblico, pois na concepção deles nunca um Deus justo, santo e bom poderia mandar mantar setenta mil homens via peste por causa do pecado de um só (Davi).

E pior, de forma alguma eles entendem que Davi possa ter sido punido, por uma coisa que o próprio Deus (através do diabo) incitou no seu coração para que fizesse.

Muitos irmãos cristãos diante de versos assim, simplesmente ignoram tais textos bíblicos e afirmo com convicção que é mais fácil achar um homem com 6 dedos num só pé do que achar um púlpito cristão pregando tais textos.

Pregam sim: Você (homem) pode, você consegue, você tem valor, você é importante para Deus, você, você, você.... Homem.

Pregam uma doutrina que exalta o homem em detrimento de exaltar a Deus, por vezes para se defenderem desta acusação, exaltam os dois, Deus e o homem e por isto entendem que a salvação depende de um esforço conjunto entre Deus que proporciona a salvação e o homem que a tornaria efetiva quando a aceita e toma posse dela pelo exercício do seu suposto livre arbítrio.

Pois bem, no caso do título presente, respondemos com coragem sobre o exemplo de Davi:

Deus é Deus.
Ele nem foi o Tentador, nem pode ser confundido com a Tentação, nem com o Tentado.

O Tentador foi satanás, o diabo.

A Tentação foi a situação em que Davi foi colocado, veio do seu coração um forte desejo de contar o povo.

O Tentado foi Davi.

E todas as três coisas Tentador, Tentação e Tentado, todas elas o tempo todo e de forma absoluta e completa, pois Deus é totalmente soberano e nada existe e subsiste sem Ele, todas estas três coisas foram controladas por Deus.

Se Deus te colocasse numa situação semelhante, o que você faria?
Blasfemaria contra Ele e o deixaria?

Vejamos um segundo caso e identifiquemos as mesmas questões:

“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado quando atraído e engodado pela própria concupiscência. Depois havendo a concupiscência concebido, dá a luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.” Tiago 1.13-15

Vejamos as quatro figuras novamente: Deus, o Tentador, a Tentação, e o Tentado.

Neste caso Deus não é o Tentador, uma vez que Ele não nos diz diretamente “peque”.

O Tentador é satanás.

A Tentação por si vem do coração concupiscente (que tem desejo exagerado por prazeres) que pode se manifestar de mil e uma formas.

O Tentado é o pecador.

E como nada pode existir a parte de Deus, também neste caso Deus reina soberanamente sobre o Tentador, sobre a Tentação e sobre o Tentado.

Vejamos agora um caso mais famoso, pois afinal todos os cristãos já aprenderam a oração do Pai Nosso um dia, e pelo menos uma vez na vida já a fizeram:

“Pai nosso, que estás nos céus... E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal...” Mateus 6.9-13

Neste caso Deus também não é o Tentador, mas Ele é quem controla totalmente a tentação, pois o texto mostra claramente que quem induz ou não para a tentação é Ele (Pai nosso que estás nos céus).

Quando Ele por motivos que a Ele pertence, nos induz a tentação, o faz através do Tentador satanás dando-lhe permissão e limites expressos para tal.

No texto é ainda mais constrangedor o fato de que Ele também é o Senhor e controlador do mal, pois quem tem o poder de livrar-nos do mal (ou não) é Ele.

O Tentador portanto é satanás.

A Tentação é o mal que brota de dentro do coração do homem, cuja natureza é propensa para isto e por isto pecador, satanás apenas provoca a situação e o coração do pecador já se alvoroça.

O Tentado (ou não) será aquele que está a fazer a oração do Pai Nosso.

Mais e mais exemplos poderiam ser dados, mas apenas mais um será apresentado para ilustrar plenamente as quatro figuras:

“Então foi conduzido Jesus pelo Espírito Santo ao deserto, para ser tentado pelo diabo... ... E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem pães...” Mateus 4.1-3

Também neste caso as figuras de Deus, do Tentador, da Tentação e do Tentado se apresentam da mesma forma.

Deus continua sendo Deus.
Deus continua sendo soberano e Rei sobre todas as coisas e acontecimentos.

Deus mesmo através da pessoa do Espírito Santo é quem leva e conduz Jesus ao deserto para ser tentado pelo diabo.
Mas ele diretamente não foi o Tentador.

O Tentador foi satanás.

A Tentação brotou neste caso da pergunta do diabo e não do coração maligno de Jesus, pois Jesus não tinha coração maligno, nem natureza pecadora.

O Tentado neste caso era Jesus, o Deus Filho.

Quando eu sou tentado na minha mente a usar o argumento da predestinação absoluta, e da soberania de Deus contra o próprio Deus, eu confesso que eu sofro um pouco.

Todavia, recomendo que creiam na Palavra de Deus que diz que Deus é santo e justo, e de uma maneira que não compreendemos é soberano sobre o mal, controla o Tentador, a Tentação e o Tentado, e mesmo assim de uma forma inexplicável (pelos menos por mim) continua sendo santo, justo e bom.

Você não precisa retroceder e se omitir em relação ao que a Bíblia ensina, não precisa criar argumentos para aliviar a “pressão sobre Deus” quanto ao mal presente no mundo e na história.

Deus não precisa do esforço da tua defesa.
Mantenha-se firme.
Deus é Deus, santo, justo e bom, um dia Ele me explicará como consegue reinar sobre o mal sem deixar de ser santo.

Se o diabo ainda assim te perturbar, faça o que a Palavra de Deus recomenda:

“Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.” Tiago 4.7

23 maio 2012

Piper e o dom de línguas


[John Piper, um dos grandes expoentes atuais do neocalvinismo. 
Créditos: Rachel Ford James (sob Creative Commons)]

Por Vanderson M. da Silva

E não é que o pastor e escritor batista reformado americano John Piper defende a contemporaneidade do dom de línguas? Confira o leitor mesmo aqui.

A posição dele sobre essa questão é compartilhada por outros que, juntamente com Piper, são os expoentes do chamado neocalvinismo, como Paul Walsher e Mark Driscoll (malgrado divergirem entre si sobre outras questões). Discordam, assim, que a Bíblia ensine que certos carismas da Igreja Primitiva hajam cessado no presente, como os dons de línguas e o de profecia — embora seja lícito questionar como este último dom pode se coadunar hoje com o princípio de Sola Scriptura, por exemplo.

Todavia, quero me ocupar aqui com o dom de línguas, manifestando minha discordância quanto à sua continuidade atual e expondo minhas razões para assim pensar. É o que farei a seguir.

Pois bem, o Senhor Jesus disse que línguas eram um “sinal” (Mc 16.17). Nas ocorrências em Atos, fica implícito que se tratava de um sinal indicativo da universalidade do Evangelho, destinado não só aos judeus (os primeiros recipientes da mensagem), mas também aos prosélitos (cap. 2), gentios (cap. 10) e mesmo aos joanitas (19.1-7). Portanto, confirmando que absolutamente todos os grupos possíveis eram abarcados pelo cristianismo. Mesmo o remanescente dentre a nação judaica (representado pelos apóstolos) teve dificuldades para aceitar que os gentios foram “enxertados” na oliveira (Romanos 11), mas o sinal das línguas serviu para atestar tal verdade aos judeus fieis (At 11.1-18).

Mas o que fica implícito nesse livro, Paulo deixa explícito em 1 Coríntios 14.21,22. Lemos ali: “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis”. O que o apóstolo queria dizer com isso? Simplesmente, que o dom de línguas (que se manifestava em Corinto) era sinal para o povo judeu (os “infiéis”), e isso para cumprir a profecia de Isaías 28.11,12. Lembremos ainda que, desde o seu estabelecimento na cidade, tal igreja enfrentou forte oposição judaica (cf. At 18: parece mesmo que aquela ficava bem ao lado de uma sinagoga, v. 7; ainda, tal oposição recrudesceu justamente quando Paulo decidiu “partir para os gentios”, vv. 6ss).

A profecia citada por Paulo é um trecho de um capítulo que fala do juízo de Deus sobre Efraim e Judá por causa de sua impenitência. É também em Isaías 28 que temos o bem conhecido versículo: “Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse” (v. 16). Tal pedra é Cristo, rejeitada pelos judeus, em sua maioria, os quais sofreriam o devido castigo pela rebelião ( 1Pe 2.1-10), castigo do qual Jesus trata em seu longo Sermão Profético (Mt 24, 25). O propósito de tal carisma foi cumprido: independentemente da visão escatológica que se adote, nenhuma contempla a volta da necessidade da manifestação das línguas para atestação à nação judaica do caráter universal da religião de Cristo.

Todavia, alguns ainda insistem que tal dom poderia ter por finalidade viabilizar a proclamação do Evangelho para falantes de outros idiomas, e usam o próprio texto de Atos 2.1ss para respaldar tal ideia. Nesse caso, porém, não é crível que os judeus de outras partes do mundo, que ali estavam em peregrinação, e que visitavam a Judeia regularmente, não tivessem um meio comum de comunicação com os seus compatriotas locais, seja aramaico, hebraico ou mesmo grego koiné. Assim, as línguas manifestadas eram cumprimento de profecias do AT e sinal de que o Evangelho era de fato universal — e que abrangia também os odiados gentios, em cujas terras aqueles judeus viviam como estrangeiros, em hostilidade e desconfiança.

Por tudo isso, entendo que, pelo menos quanto ao dom em apreço, não se pode cogitar que ele não tenha cessado para a nossa era.

18 maio 2012

O Meu Racionalismo




Por Gordon H. Clark

Eu não objeto à palavra racionalismo, embora talvez o termo racionalidadepoderia causar menos mau-entendidos. Descartes, Espinosa, e Leibniz produziram uma teoria epistemológica que poderia muito bem ser chamada Racionalismo do século XVII. Para todos eles o conhecimento deve ser baseado na lógica somente. Num sentido Hegel é similar. Para esses homens, como para Platão, a mente humana é essencialmente onisciente, e nem a experiência sensorial, muito menos a revelação sobrenatural podem adicionar informação aos equipamentos da sabedoria inata. Se alguém me acusar de ser um Racionalista neste sentido do século XVII, creio que ele não precisa de nenhuma resposta complementar nessa conjuntura.

Na teologia de séculos mais recentes, o termo racionalismo tomou um significado diferente. Sem qualquer ligação epistemológica, o termo tem sido aplicado àqueles que rejeitam a revelação. Por exemplo, os deístas, que eram empiristas, tinham uma religião supostamente desenvolvida a partir de um estudo da natureza física e humana. A informação verbalmente revelada por Deus era desnecessária e impossível. Como alguns dos meus antigos oponentes podem tentar me associar com essa linha de pensamento é inexplicável, e novamente não é necessário nenhuma resposta complementar nesta altura do campeonato.

Ainda assim, “absolutizando a lei da contradição”, “fazendo a mera razão humana autônoma” e até mesmo que igualo a mente de Deus à minha própria mente são acusações que têm sido feitas. Talvez as Palestras de Wheaton* são uma réplica suficiente a essas acusações. E eu sorrio diante das objeções mais recentes, pois minha mente meramente humana está tão longe de ser autônoma que eu não a concedo nenhuma capacidade inerente, seja qual for.

Contudo, um cristão deve se comprometer ao racionalismo ou racionalidade sob a pena de ser irracional, e ele deve ser lógico, sob a pena de ser ilógico, e também sob a pena de negar que Deus é sabedoria e verdade, e sob a pena de afirmar que Deus é o autor de paradoxo e confusão.

[...]

Que eu sou um “evangélico racionalista e calvinista”, eu não nego. Mas à luz do uso contemporâneo do termo evangélico, utilizado por aqueles que não têm nenhum direito histórico a ele, seria melhor tornar evangélico um adjetivo e deixar o calvinista como substantivo. 

OBS: * Se Deus quiser, as Palestras de Wheaton serão publicadas no primeiro semestre de 2012 pela Editora Monergismo, com o título “Introdução à Filosofia Cristã”.

** O texto original, que compreende as páginas 367 a 373 do livro editado por Ronald Nash, possui o título “Resposta a Roger Nicole”. Este livro é um Festschrift em honra ao Dr. Gordon H. Clark, no qual Clark interage com os seus críticos.

Fonte: Clark and His Critics, p. 367-368, 373.

Tradução: Felipe Sabino – 08/11/2011

Extraído do site Monergismo

Gordon H. Clark
Gordon Haddon Clark (1902–1985) was a philosopher and Calvinist theologian and taught philosophy at the college level for most of his life. He was an expert in pre-Socratic and ancient philosophy and was noted for his rigor in defending Platonic realism against all forms of empiricism, in arguing that all truth is propositional, and in applying the laws of logic. The Trinity Foundation continues to publish his writings and other books as well. 

07 maio 2012

Ganhamos o dia!




Por Tom Alvim

Aqueles que tem me acompanhado neste blog desde o começo, sabem da luta que passamos nos primeiros dias de vida de nosso filho Lucas. Fiz breves relatos do que estava acontecendo, até porque não conseguiria escrever muito pensando na situação gravíssima em que ele se encontrava. Os textos estão aqui: Pedido de oração; O milagre está acontecendo; Deus falando; O temporal está passando;Novas postagens e finalmente - Devolta ao lar!

Foram dias intensos, de lutas intermináveis comigo mesmo e de oração incessante para o Pai. Creio que aprendi um pouco sobre essa excelente ferramenta que ainda não dominamos por completo - a oração! Talvez por preguiça, talvez por falta de fé ou apenas por que ainda achemos que não precisamos tanto dela assim. Mas o nosso Mestre nos ensinou através de seu próprio exemplo a importância de dobramos os joelhos e de nos quebrantarmos diante de Deus em reverência - daquelas quase inexistentes nos dias atuais, daquelas insólitas, ou de entrega total sem pensar em mais nada que possa nos mover do propósito divino de nos ligarmos a ele, para que os seus objetivos sejam concretizados em nossas vidas e o seu nome seja glorificado.

Pois bem, hoje levamos o nosso "Luquinha" para mais uma consulta médica. O doutor iria fazer uma avaliação de todo esse período em que estivemos ministrando uma medicação chamada amiodaronadiariamente, duas vezes por dia, para controlar os batimentos cardíacos do Lucas. Ficamos olhando para o médico fazendo os cálculos e a sua avaliação, enquanto o nosso pequeno guerreiro estava alheio a tudo o que se passava ali. Para ele era apenas um lugar chato, com coisas chatas, não havia nada de interessante para ele brincar, a não ser um pequeno coraçãozinho de plástico que o instigava com suas cores e formas peculiares, alvo de suas ágeis mãozinhas, contidas somente pelo papai e pela mamãe. 

Depois de alguns minutos intermináveis veio a excelente notícia de que poderíamos suspender o medicamento na parte da manhã, e no aniversário do lucas que cai no dia 5 de junho poderemos suspendê-la por completo, e retornarmos para mais uma consulta apenas em agosto deste ano. 

O médico disse que "pelo andar da carruagem" nem precisaremos fazer o procedimento chamado ablação por radiofrequência, porque tudo estava colaborando para isso.

Ganhamos o dia, o ano, a vida! Em Cristo não ganhamos esta vida, mais o que é infinitamente mais importante, ganhamos a vida eterna nele, por ele e através dele!

Abro um parêntesis aqui: Não creio que Deus ame o meu filho mais do que outras pessoas que ainda não foram curadas, ou que nunca o serão. Creio apenas que Deus tem a sua forma de agir e muitas das vezes não iremos compreendê-la nesta vida. Se Deus o tivesse levado, agradeceríamos a ele pelos dias em que havia permitido termos tido o Lucas conosco, alegrando nossa casa com sua presença infantil e doce. Mas aprouve ao Criador deixá-lo sob os nossos cuidados por mais alguns anos, para que nós possamos cumprir o nosso papel de pais na difícil tarefa de ensina-lo no caminho em que deve andar, e desta forma crescermos juntos, como filhos de Deus que o amam e o temem.

Que Deus seja engrandecido por mais este milagre em nossa família. A ele toda honra e toda a glória para sempre. soli Deo gloria!

Imagem: Stock.xchng