"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

31 dezembro 2010

Oração: opção pelo impossível

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O veículo dado por Deus para que o homem invada a esfera do sobrenatural é a oração. Aquilo que naturalmente é impossível ao homem, Deus faz acessível através da oração. Pela oração respiramos a atmosfera espiritual.
O próprio Senhor Jesus ensinou seus discípulos a orar e ele mesmo orou várias vezes.
O apóstolo Paulo manteve uma vida de oração e por meio dela recebeu inspiração/poder para a obra evangelizadora.
Em todos os movimentos do Espírito Santo neste mundo, houve antes, um mover da igreja no campo da oração.
A oração precede o avivamento espiritual.
A oração dinamiza a igreja e une seus membros.
A oração transforma um ambiente estéril em um jardim cheio de vida.
A oração muda o curso da história de nossas vidas, família e é através dela que o Senhor Jesus se torna participante das nossas crises.
O vigor espiritual do homem/mulher está proporcionalmente ligado ao tempo investido em oração.
Não existe poder espiritual somente no ordenar sobre as coisas e situações.
No mundo espiritual existe reconhecimento daqueles que têm autoridade de uma vida derramada no altar de Deus.
A igreja vem perdendo seu vigor por ter abandonado a oração. O pentecostes em Atos foi precedido por oração. Avivamentos ao longo da história da igreja chegaram depois de vidas terem sido derramadas no altar através da oração.
Percebo que muitas igrejas perderam seu tonus vital porque os sermões ali pregados são sermões mortos. E. M. Bounds em seu extraordinário livro Poder Através da Oração disse: "Homens mortos tiram de si sermões mortos e sermões mortos matam".
O mais difícil na pregação não é o preparo do sermão, mas o preparo do pregador. Livros não substituem o poder do Espírito Santo. Oratória não traz Deus para o sermão, mas Deus se faz presente em um sermão através da oração.
Quanto Elias após três anos e meio de ausência se apresenta a Israel ele viu os resultados de sua oração feita anteriormente. Seca, mortes, um país arrasado e um rei inseguro. Agora novamente Elias ora. Permanece em oração até que uma nuvem em forma de uma mão se apresenta nos céus. Era a certeza que a chuva viria.
Que oremos até que a pequena nuvem se forme e depois venha o poder de Deus sobre sua igreja.
Antes das decisões, ore.
Ore por sua mulher, marido, filhos, ore em qualquer situação.
Se você espera pela interferência do Senhor em sua vida, clame por ela, suplique.
No sermão do monte há um texto onde o Senhor Jesus nos incentivando a orar diz: "Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente".
A construção deste texto no grego quer dizer assim: "Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secretoe teu Pai, que já está lá te esperandote recompensará publicamente".
O Senhor Jesus está nos dizendo que a oração é um encontro com alguém que está nos esperando. Deus está à nossa espera aguardando nossa entrada em sua presença. Daí concluirmos que A ORAÇÃO É UMA OPÇÃO PELO IMPOSSÍVEL.

Soli Deo Gloria

Pr. Luiz Fernando R. de Souza



Nota: Texto originalmente postado em "Ministério Força para Viver"

25 dezembro 2010

Liturgia: orações diárias

Por Igor Miguel [1]

Liturgia é uma palavra de origem grega que significa "serviço". Cristãos evangélicos temem esta palavra, principalmente aqueles oriundos de comunidades pentecostais e neo-pentecostais, por causa de alguma influência do "protestantismo radical" e dos avivamentos que receberam grande influência de correntes pietistas. Por isso, círculos renovados (carismáticos/pentecostais) preferem um culto espontâneo, com orações livres, sem expressões simbólicas de culto, por causa de uma radicalização da reforma protestante a seu passado católico romano, que se valia de expressões litúrgicas como meios de obtenção de graça e alguns problemas que foram criticados com razão pela reforma protestante.

Não obstante, a crítica reformada não era à liturgia em si, mas ao uso abusivo de "formas litúrgicas" que substituíam em muitos casos a consciência cristã e uma espiritualidade sóbria pela performance mecânica de determinados rituais.

Sempre tive apreço por algumas expressões clássicas de espiritualidade, sempre gostei de me integrar à textos bíblicos e recitá-los como se fossem orações de minha autoria para Deus. E o mais importante, expressões litúrgicas como: orações coletivas, leitura pública das Escrituras, a ceia do Senhor e outros elementos, expressavam umaespiritualidade comunitária, ao invés de um pietismo que explora e concentra a vida do espírito na experiência individual, algo recorrente em nossos dias, principalmente nos círculos cristãos já mencionados.

Por isso, estou a procura de expressões clássicas de espiritualidade, principalmente aquelas que me integram ao Corpo de Cristo e me fazem sentir parte de uma grande comunidade, a Igreja. Hoje, procuro trazer um tempero litúrgico para minhas orações devocionais, principalmente de manhã, e confesso, tem sido muito bom.

Tenho seguido o livro de orações diárias da Igreja da Inglaterra (Common Worship Prayer Book), que é um livro das comunidades protestantes daquele pais. Obviamente, o material não está em português, quem sabe um dia poderemos traduzi-lo. Esse livro de orações encontra-se disponível gratuitamente na Internet. Nele é possível encontrar uma sequência litúrgica em que orações se intercalam com textos bíblicos e orações de personagens cristãos importantes da antiguidade e da modernidade (Agostinho, Calvino, John Wesley, João da Cruz, Tertuliano e outros), além de motivos especiais de oração para cada dia semana.

De qualquer forma, para aqueles que não leem inglês e se interessam por este formato milenar de espiritualidade, abaixo lhes dou uma sugestão liturgicamente estruturada de devocional:

1) Oração do Senhor (O Pai Nosso)

2) Orar um Salmo de Louvor (Sl 113-118), ou
2.1) Orar um texto bíblico ou outros salmos.

3) Meditar na Lei do Senhor

Ler e meditar
(estas são algumas sugestões de textos que podem ser intercalados durante a semana):
  • Os 10 mandamentos.
  • Trechos do Sl 119
  • Trechos do Sermão da Montanha (Mt cap.5-7).
  • Deuteronômio 6:4 e seg. (conhecido conhecido entre os judeus por Shemá)
4) Afirmar o Credo Apostólico (resumo da fé cristã)
--> Sobre o uso protestante do Credo Apostólico veja aqui e aqui.
Creio em Deus Pai, todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo,
seu único Filho
nosso Senhor.
Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos Céus
está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,
donde há de vir julgar os vivos e mortos.
Creio no Espírito Santo,
na Santa Igreja Universal,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne,
na vida eterna.

5) Oração espontânea.
- Motivos de intercessão:
  • Pela Igreja perseguida;
  • Pelos poderes políticos;
  • Pelos santos e a Igreja no mundo;
  • Pela expansão missionária;
  • Pela salvação dos eleitos do Senhor;
  • Pelas necessidades da comunidade local;
  • E outros motivos.
Obviamente, que esta é uma sugestão básica e flexívelpara aqueles que querem organizar seu devocional e sua vida de oração. Lembrado-lhes que, práticas como essa devem ser feitas a partir de uma perspectiva de "Docilidade Comunitária", de uma consciência de integração e pertencimento a uma comunidade eleita, composta de mártires, santos, missionários, de todos os tempos e eras na unidade do Espírito Santo. Em algum sentido, quando oramos e confessamos nossa milenar fé em Jesus Cristo, nos integramos aos discípulos de Cristo de todas as eras e lugares, fazemos parte de um Corpo.

Tenho observado, que uma estrutura litúrgica no devocional nos disciplina e cria "ilhas de eternidade"*, de reflexão e contrição em um mundo frenético, que igualmente é palco de nosso engajamento vocacional. Além disso, orações estruturadas desta forma, evitam orações egoístas, privadas e orações que por sua excessiva espontaneidade acabam se tornando vazias de conteúdo e direção. Após este ritmo devocional, mesmo as orações feitas de forma livre, tornam-se mais alinhadas com uma espiritualidade comunitária e menos individualizada.

Para uma reflexão sobre a liturgia vale a pena uma lida no meu texto: Amor, Corpo e Liturgia.

Vamos orar?

___________________________
*Para uma compreensão da ideia de "ilhas de eternidade" e espiritualidade no tempo, vale a pena ler o livro "O Schabbat" de Abraham Joschua Heschel. Uma reflexão filosófica e teológica de um filósofo judeu a respeito dos intercursos da eternidade na história e rotina.

Nota:[1] Texto originariamente postado em Pensar...

17 dezembro 2010

Cristianismo anticristão




















Por Jorge Fernandes Isah

Há um empenho quase generalizado de se propagar a idéia de que todos os caminhos levam a Deus. De que qualquer religião praticada com sinceridade é aceita por Deus. De que qualquer forma de devoção, ritual ou religiosidade pode agradá-lO. Seria o mesmo que confundir um maestro com um condutor de trem, um golfista com um cavador de buracos, um domador de leões com um exterminador de insetos. Essa falácia está presente em todas as religiões, especialmente entre os deístas e politeístas. No caso do teísmo, onde essa falsa idéia deveria ser rejeitada, infelizmente tem ganhado corpo e achado guarita. Tanto o judaísmo, como o cristianismo, e o islamismo estão sendo contaminados pela premissa de que, em princípio, tudo é possível ao homem no satisfazer a Deus. Esquecem-se contudo de que Ele explicitou claramente o que lhe apraz: a sujeição do homem a Cristo, e o senhorio de Cristo sobre o homem. Mas isso está sendo cada vez mais desprezado e ridicularizado entre aqueles que se dizem cristãos. E o que poderia levar a tamanho engano e disparate?


Há de se analisar que existem apenas duas religiões: a divina e a humanista. Uma se contrapõe à outra, e, infelizmente, alguns crentes e denominações cristãs têm se apegado a parte da verdade, como se ela pudesse ser fatiada e cada pedaço viver coerentemente sem o todo. Então, com o pedaço na mão e a partir dele, constrói-se um sistema falacioso e corrupto em que essa partícula verdadeira é soterrada por camadas e camadas de entulhos, ao ponto em que não se é possível mais identificá-la, ou ganhou uma conotação tão espúria e degradada, unida ao paganismo e ao sincretismo, que se acaba por formatar uma cosmovisão pluralista, inconsistente e, sobretudo, anticristã. Partindo-se do princípio de que o mundo tem e pode ser entendido por ele mesmo, de que a resposta está ao alcance dos dedos sem a necessidade da sabedoria divina para explicá-lo. Em linhas gerais, prega-se a autosuficiência e o autoconhecimento, bem ao estilo gnóstico de se interpretar o mundo através de um sistema subjetivo, quase sentimental, em que a maior virtude é a dúvida, disfarçada de falsa sabedoria. É a maneira sutil de apanhar os tolos numa espécie de piedade e nobreza, onde há apenas autocomiseração, a fim de mantê-lo domesticado pelo pecado.

A intenção é claramente uma só: através da ontologia, da epistemologia, da ética e da teleologia criar-se um conjunto uniforme que se oponha ao cristianismo ortodoxo; operando a partir do ponto de vista relativista, pragmático e imanentista, colocando o homem como o ser supremo, o centro do universo, quando ele nada mais é do que o bobo da corte.

Desta forma a religião humanista (e nela está contido o arminianismo e todas as outras formas e concepções em que o homem tenta desesperadamente usurpar o trono de Deus; alguns conscientes, outros nem tanto) subverte algo do cristianismo para moldar a idéia de que todas as concepções são legítimas, de que todos os caminhos são aceitáveis, vistos que eles ensinam e se preocupam apenas com o bem-estar do homem; então, a cosmovisão que proclama o estado de depravação e iniqüidade do mesmo homem e a completa soberania de Deus tem de ser combatida a fim de se resguardar a integridade da criatura.

Logo, não há lugar para a ortodoxia cristã, nem para Deus como o ser supremo, justo e santo, que irá julgar esse mesmo homem; não há chance de salvação além dele mesmo, e muitos consideram desnecessária a própria salvação na toda poderosa e suficiente super-humanidade.

Por isso, entre os cristãos, criou-se a imagem de um deus paspalhão, um sentimentalóide tosco e tolo que acaba por se sujeitar ao padrão estabelecido pelo homem, e do qual o próprio homem desconhece quais serão as suas conseqüências, mas de uma forma estúpida, arvora-se uma tranquilidade bovina. Esse deus não é reconhecido na Escritura, nem em momento algum é visto ou descrito por ela; por isso eles têm a necessidade de, primeiro, relativizar e desqualificar o texto bíblico como a fiel palavra de Deus; colocando-a somente como mais um manual ético-moral entre tantos outros criados pela mente humana. Inclui-se a destruição de qualquer aspecto sobrenatural e histórico em suas páginas, e a revelação divina nada mais é do que "contos da carochinha" ou alegorias extraídas da nossa capacidade criativa. E assim o homem estará pronto a exercer a sua credulidade em qualquer coisa e em qualquer um; imitando a si mesmo num exercício de não-convicção-não-fundamentada na revelação especial e racional do Deus vivo.

No mundo subjetivo, onde as "verdades" são mutáveis e adaptáveis à corrupção, qualquer defesa do cristianismo bíblico deve ser combatida. Por isso o empenho em erradicar algo tão divisor, sectário e que define claramente o caráter de cada decisão e ação, julgando-a à luz da Palavra, anunciando-a verdadeira ou revelando-a enganosa. 

Por isso o Estado, com a falsa premissa de ser laico, torna-se antireligioso, mas não o suficiente para impedir que "técnicas" religiosas se convertam em métodos "científicos"aplicados à satisfação humana. A prova está na aceitação pacífica da yoga, da acupultura, da ecologia (o culto pagão da deusa "Gaia") , e tantas outras “técnicas” holísticas como o padrão aceitável de espiritualidade humana, aparentemente neutra, aparentemente inofensiva, mas que em seu cerne contém apenas destruição. Ao financiá-las e propagandeá-las o que se tem é a subversão “pacífica” dos valores cristãos, através da implementação e institucionalização de formas religiosas inclusivas e não-conservadoras. É como colocar o gato, o rato e o cão na mesma caixa e esperar que vivam pacificamente, sustentando-se apenas com a idéia de que o outro é ele mesmo, e vice-versa.

Como o Cristianismo proclama a necessidade do novo-nascimento, da regeneração, da santificação, ao ponto em que o homem espiritual derrote o homem carnal e seja semelhante ao nosso Senhor Jesus Cristo, e por Ele seja reconhecido como tal, nada mais funcional do que fazer todos acreditarem que a fonte salobra é algo fresca e pura, e assim, ninguém jamais saberá a diferença entre o líquido que mata e aquele capaz de dar vida. 

Portanto todas as formas que possam se fundir ao humanismo são aceitas, exceto o Cristianismo Bíblico, ortodoxo e histórico, o qual não é antropocêntrico, mas teocêntrico; e por isso, deve ser destruído, já que em seu escopo não existe a menor possibilidade de comunhão entre luz e trevas.  

14 dezembro 2010

Doce Comunidade

*Por Igor Miguel

Tenho vivido dias modestos. Dias de simplicidade, de valorizar coisas básicas, criar expectativas próximas. Nada muito grande, sem pretensões ou sonhos aprisionadores. Descobri que a forma mais agradável de se viver é viver em comunidade.

A graça me beijou, meu coração enche-se de gratidão. Quando oro a oração que Jesus me ensinou, quando chamo Deus de Pai, alguma coisa me integra a uma multidão de mártires, peregrinos, a uma grande nuvem de testemunhas (Hb 12:1): homens, mulheres de desertos, de monastérios, de cidades, de universidades, de fogueiras, de livros, alguma coisa me inclui na cidade de Cristo, a Cidade de Deus.

Em comunidade vejo rostos familiares, uma família milenar, ao redor da mesa da comunhão, na sacralidade do partir do pão, do misterioso sacramento, que emerge da páscoa, shulchan arúch, mesa posta.

Quando seguro o pão, quanto pego no cálice da Nova Aliança, diante do banquete sacramental, alguma coisa me coloca na mesa da última ceia, ouvindo cantigas e salmos, com a presença de discípulos covardes, amados e traidores, lá estão todos reunidos, com riscos, alegrias, fraquezas e amor.

Comunidade... mesa eucarística[1], de comunhão, edificados não no Monte do Templo, agora, construídos sobre a Pedra Angular, sobre o fundamentos dos apóstolos e profetas: Jesus Cristo.

Uma comunidade universal. Nela a linha entre o existente e não-existente, incluídos e excluídos, se dissolve, porque lá todos se aproximam para se tornar um em Cristo. Evangelho da paz para que os estavam perto e para os que estavam longe (Ef 2).

Lá na comunidade, na comunhão dos santos, como assevera o credo, cresce um interesse pelo que é o outro. Uma curiosidade irresistível de saber como aquele que chamamos irmão vê a Cristo: será que com o mesmo olhar? Será com a mesma alegria? Que história o Espírito de Adoção inscreveu em sua história?

Perguntas silenciosas, que perpassam biografias, causos dramáticos, que compõem uma grande comunidade chamada: IGREJA.

______________________
[1] Eucaristia significa comunhão.

*Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor, e disponível originariamente no blog Pensar...

29 novembro 2010

Sobre o recente protesto contra a UP Mackenzie

Em protesto ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), publicado desde 2007 no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie contra o PL 122/2006 (conhecido como “lei anti-homofobia”), um grupo de ativistas organizou uma manifestação no dia 24 de novembro de 2010, por volta das 18h, em frente à universidade. Com previsão de mais de três mil participantes, o evento contou somente com cerca de 400, que se postaram diante dos portões da instituição, na Rua Itambé. Em seguida, o grupo deslocou-se do Mackenzie para a Avenida Paulista com um número já bastante reduzido, conforme anunciado por diversos veículos de comunicação como a Globo News, a Folha de São Paulo, a CET, o site da UOL e dezenas de outros sites informativos. Na universidade, as aulas transcorreram normalmente.

A oposição da IPB ao projeto de lei se baseia não só no senso comum e em análises jurídicas especializadas (que consideraram o projeto “inconstitucional”), mas sobretudo nos princípios cristãos que norteiam tanto a denominação quanto o Mackenzie. Não há novidade nisso: quando se matriculam na instituição, os alunos assinam o contrato de serviços educacionais, em que há uma cláusula explicando esse caráter confessional. Isso não significa perseguição a quem não subscreve essas bases cristãs, muito pelo contrário: não há registro na história da universidade de casos de discriminação de qualquer tipo, seja contra alunos homossexuais, seja contra alunos que professam outras religiões, ou nenhuma. Todos têm acesso aos mesmos benefícios, como bolsas de estudo.

No entanto, desde o momento em que a publicação do texto da IPB no site do Mackenzie foi “descoberta” pelos ativistas neste ano, a igreja, a universidade e a pessoa de seu Chanceler têm sido duramente atacados e acusados de “homofobia”. Filmados em vídeo, os manifestantes pediam a demissão do Chanceler, cuja foto foi estampada em diversos sites homossexuais acompanhada de palavras de ódio. A virulência que caracterizou essas expressões de indignação, mesmo antes da aprovação do projeto, confirma o quanto é perigoso que a sociedade se veja refém de uma minoria militante, que procura impor seus pontos de vista por meio de pressão e difamação, não admitindo que pessoas, igrejas e organizações cristãs simplesmente afirmem ser a conduta homossexual um pecado.

Para detalhar melhor sua postura bíblica — que se fundamenta no amor, não no separatismo, e prega o respeito a todos —, cristãos que partilham da mesma visão sobre o homossexualismo se uniram para elaborar o manifesto “Universidade Mackenzie: Em Defesa da Liberdade de Expressão Religiosa”. O texto foi reproduzido em cerca de oito mil sites cristãos e conservadores, recebendo mais de 36mil citações na internet. Traduzido para idiomas como alemão, espanhol, francês, holandês e inglês, foi postado em sites de diversos países estrangeiros, como Estados Unidos, França, Alemanha e Portugal. Centenas de manifestações de solidariedade à postura do Mackenzie foram veiculadas em diversos meios, inclusive no conhecido blog de Reinaldo Azevedo (articulista da revista Veja), um dos comentaristas políticos mais lidos e respeitados do país. Respondendo às acusações de “homofobia” com argumentos sólidos e bíblicos, os cristãos creem que sua postura contribuiu para que a manifestação de repúdio ao documento da IPB tenha recebido tão pouca adesão do público.

Nós, cristãos, estamos alegres e gratos por todo o apoio recebido e pelas orações do povo de Deus em favor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e de seu Chanceler, o Rev. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Instamos o povo de Deus a que se una também em súplicas e intercessões para que o Deus todo-poderoso derrame seu Espírito Santo sobre a igreja evangélica neste país. Necessitamos com urgência de um avivamento, de forma que o Cristo crucificado seja exaltado, os crentes sejam santificados, a Escritura Sagrada seja pregada com liberdade, pecadores se convertam e nosso país seja transformado, para a glória do Deus trino da graça.


Este pronunciamento é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro. 
Para ampla divulgação.

19 novembro 2010

MANIFESTO EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA








A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadas anti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 [LINKhttp://www.ipb.org.br/noticias/noticia_inteligente.php3?id=808] e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro. 
Para ampla divulgação.

12 novembro 2010

Por que apodrece o mundo?










Por Ednaldo Cordeiro *

Se levantarmos os olhos e contemplarmos o mundo, e fizermos juízo do que estamos vendo, podemos dizer que o mundo vai de mal a pior. Mas porque isto acontece? Estou convencido que em parte isto se deve ao fato da igreja ter saído do mundo de uma maneira que não lhe foi ordenada. Tenho estudado alguns ramos escatológicos, em especial o pós-milenismo, e fui convencido que a igreja de forma geral está no caminho errado. Em suma o mundo tem ido de mal a pior, porque a igreja deixou de ser sal, e quando o sal perde o sabor, disse Jesus, não serve para mais nada senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Temos o dever de mediante a ação soberana do Espírito mudar isto.

Desde o século XIX, tem crescido no seio da igreja uma escatologia escapista, onde crescimento do Reino de Cristo, tem sido reduzido a apenas conversão de almas, onde o arrebatamento antes da Grande Tribulação é a grande esperança dos crentes, de forma que influenciar o mundo ao nosso redor tem sido colocado de lado. Como escreve Rushdoony citando J. Vernon McGee "você não pode polir o cobre de um navio que está afundando" (RUSHDOONY, R.J. O Plano de Deus para a Vitória: O significado do Pós-milenismo. Brasilia: Monergismo. 2008, p.25), e é isso que a igreja, de forma geral, tem pregado nos últimos 200 anos.

Geração após geração tem-se esperado por um arrebatamento que tarda em chegar, e quero dizer que acredito em arrebatamento, porém também quero dizer que a igreja se perdeu quanto ao significado deste acontecimento. Quantos crentes de geração anteriores exclamaram "somos a geração do arrebatamento!", e agora estão com seus corpos debaixo da terra aguardando a ressurreição? E estes mesmos crentes por não exercerem influência suficiente no mundo, por não cumprirem adequadamente seu papel de ser sal e luz, deixaram um mundo pior para sua descendência.

Mas algo interessante aconteceu neste último pleito, de forma geral a igreja brasileira mostrou sua força no 1º turno da eleição, infelizmente a divisão proporcionada pelo afastamento da Palavra de Deus da parte de alguns líderes, e pela cabeça oca de muitos liderados, não tivemos muita opção no 2º turno, alías não tivemos muita opção em nenhum dos turnos, mas deu para ver que é possível mudar a direção do nosso país se a igreja quiser.

Somos, segundo estatísticas, aproximadamente 30 milhões, e isto infelizmente não faz nenhuma diferença, é bom lembrar que menos de 120 pessoas, no século I, em menos de 40 anos "alvoroçaram o mundo". Ganhar almas é apenas uma parte do plano de Deus, a igreja foi comissionada a proclamar o senhorio de Cristo em todas as áreas, devemos promover o Reino a todo custo, devemos fazer a diferença, já mostramos que podemos.

Concluindo, a igreja não deve viver como se Cristo voltasse amanhã para tirá-la de um navio que afunda, mas deve viver como se Cristo estivesse, e Ele está!, ao seu lado neste momento, proclamando o completo senhorio dEle. Seja sal! Seja luz!
Nota: * Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originalmente em Divinitatis Doctor

28 outubro 2010

E a rebimboca da parafuseta?




por Vincent Cheung
Suponha que eu deseje que você faça algum trabalho duro para mim. Você pergunta: “Qual é o pagamento?”. E eu respondo: “Verdadeiro pagamento consiste de amigos, felicidade e uma vida longa. Ademais, o trabalho envolve um monte de levantamento de peso, de forma que será um bom exercício e contribuirá para uma vida longa”. Você está convencido? Ou pensa que estou evitando sua pergunta? Minha resposta pode ter algum valor em outro contexto, mas não é relevante para a sua preocupação. Antes, estou impondo outro significado sobre um termo chave, e estou me dirigindo a esse significado. Você pensaria que sou estúpido ou desonesto.
Quando você pergunta sobre o pagamento, você está se referindo ao dinheiro, à quantia de dólares americanos que irei transferir da minha conta para a sua. Sua preocupação não tem nada a ver com verdadeiras riquezas ou o significado profundo da vida. O significado do termo está estabelecido em sua pergunta, e mesmo que o dicionário liste várias outras definições, somente uma importa neste contexto, e essa é aquela que você está usando. Ora, minha resposta parece ridícula: “Verdadeiros dólares americanos consiste de amigos, felicidade e uma vida longa”. Isso é obviamente irrelevante. A resposta verdadeira é: “Não, eu não vou te pagar”.
Quando a mesma palavra é usada com dois significados diferentes, uma ou ambas as palavras podem ser substituídas, quer por palavras diferentes, ou com expressões que representem os significados que se pretende passar com essas palavras. Podemos reproduzir o diálogo dessa forma: “Qual é a quantia dedólares americanos que você me dará?” “Eu lhe darei $0. Contudo, você receberá um tipo diferente derecompensa que consiste de amigos, felicidade e uma vida longa”. Em outras palavras, quando X é usado de duas formas, é sempre possível declarar a questão em termos de Y e Z. Se X é mais apropriadamente associado com um dos dois significados num determinado contexto, então a questão pode ser declarada em termos de X e Y, ou Y e X. Isso é muito mais claro, mas preciso admitir o fato que te darei $0, embora tente te convencer a trabalhar para mim ao oferecer-lhe outro tipo de motivação. Isso torna a minha posição mais honesta.
Agora considere algo que lemos na Teologia Sistemática de Louis Berkhof. Escreve ele: “Dizem que a doutrina da perseverança é incoerente com a liberdade humana. Mas esta objeção parte da falsa pressuposição de que a verdadeira liberdade consiste na liberdade da indiferença, ou no poder de fazer escolha contrária em questões morais e espirituais. Contudo, isto é errôneo. A verdadeira liberdade consiste exatamente na autodeterminação rumo à santidade. O homem nunca é mais livre do que quando se move conscientemente em direção a Deus. E o cristão está com essa liberdade pela graça de Deus”.
Fonte: Monergismo

26 outubro 2010

A falsificação do bem

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Por Jorge Fernandes Isah

    Não tenho por hábito escrever sobre política; nem quero tê-lo. Não que haja algum problema, que o tema seja proibido ou irrelevante. Não é isso. É que não me considero capacitado para tal tarefa, a despeito de ter aprendido muito nos últimos anos sobre o assunto. Acontece que há uma defasagem grande, e que não sei se serei capaz de sincronizá-la com o tempo, interesses e aptidão, e com a ignorância que ainda persiste. Porém, não tenho dúvidas de que um dos males do século passado, e que se espalha perigosamente no presente século, é o marxismo. Eu mesmo me descobri marxista apenas após ser confrontado pelo pensamento de alguns irmãos; e devo um especial agradecimento à Norma Braga, ao André Venâncio, aos irmãos de O Tempora, O Mores e ao Edson Camargo, entre outros. A sociedade, de uma forma geral, sem saber, assim como eu não sabia, defende o que não conhece e vive o que considera extinto, com o agravante de realizar um culto necrófilo, e se comunicar com os mortos. 
    Pois bem, assim como o nazismo, sua alma gêmea, o marxismo, escancara o ideário comum e a prova de que pertencem ao mesmo gênero ideológico. Como uma religião suprema, ele se vê como o absoluto, o arbitrário e todo-poderoso "deus", numa tentativa frustrada de substituir o Deus Vivo e bíblico. De alguma forma, se define como o salvador do homem, no sentido de que o homem se perdeu na história, e de que está capacitado a recriá-lo ao seu modo. Coloca-se como único habilitado a construir o homem ideal, restabelecer o homem primevo a partir da recriação da vontade sob a base ideológica estabelecida no cientificismo, mais notoriamente o darwinismo, partindo-se de um sentido evolutivo e purificador gnosticista. 
    Mais do que se pensa, há uma ligação intrínseca entre marxismo e nazismo, de tal forma que Hitler capturou muitos dos métodos de Lénin e Stalin aplicando-os em sua política genocida. Redefiniram a moral, dando-lhe uma roupagem que a distinguisse da velha moral bíblica; mas sempre a partir desta, como parasitas alimentando-se dela, produzindo, porém, um produto corrompido capaz de destruir a velha ordem e reestabelecer uma ordem nova. Para isso são necessários todos os meios para se reconstruir o regime e o homem novos, mesmo com a desculpa de se destruir uma pseudo-raça ou pseudo-classe. Eles se tornam irrelevantes, sejam quais forem, pois o objetivo, o que importa, é o fim a ser atingido. Os atos ruins e imorais que se pratica e comete são transformados em bons numa insidiosa e progressiva inversão de valores, redefinindo o senso comum de moral. O significado é claro: a destruição de uma pseudo-raça poluída, impura [nazismo], ou pseudo-classe contaminada pelo capitalismo [comunismo]. E criar um ídolo a partir do homem, mas que estará sobre o mesmo homem, como um pacificador a cultivar a trégua a partir de uma guerra interminável.
    Mas se há algo que os marxistas fizeram com maestria foi jogar para debaixo do tapete todos os seus crimes e táticas hediondas, apelando para uma falsa moralidade que justificasse os meios utilizados tanto para se chegar ao poder como para mantê-lo. O nazismo foi e é execrado publicamente como a mais odiosa manifestação totalitária, e o comunismo é esquecido em seus crimes igualmente odiosos e totalitários. Por que? 
    Enquanto ao nazismo se deu a valorização real de suas atividades, revelando-o em seu caráter mais cruel, sanguinário e injusto, ao comunismo se deu um caráter minimizador e reducionista; mas mais do que isso. No decorrer da história, seus crimes, o apelo à crueldade e injustiça máximas, foram tomados como modos legítimos de se "salvar" o homem, a partir da intervenção "milagrosa" do estado totalitário. E isso se deveu à distorção da moral, à corrupção do bem, que tornou possível as mentes contempladoras e cúmplices adotarem um discurso messiânico a partir da rebelião e sublevação da ordem moral. Aplica-se a "pedagogia da mentira", a qual, quando dita muitas vezes, acaba por se tornar em verdade. No comunismo, essas questões impoem-se mais sutilmente, em princípio, ao ponto em que partidos e movimentos marxistas não se apercebem da intoxicação absoluta da consciência moral pelo domínio ideológico completo. Está-se impossibilitado de discernir a corrupção que se processou, e passa-se uma vida inteira sem perceber isso. A prova maior é a de que não existem partidos nazistas no mundo [não com essa terminologia], enquanto não somente há partidos marxistas como governos comunistas espalhados planeta afora. E como isso é possível, diante de todos os crimes, barbárie e destruição nos lugares onde o comunismo se estabeleceu?
    O comunismo é dissimulado e muito mais perverso e perigoso do que o nazismo [ainda que o nazismo seja perigoso e perverso também], exatamente pelo seu caráter doutrinário "sutil", ao valer-se e servir-se do espírito de justiça e bondade para difundir e perpetrar o mal. Cada experiência recomeça na inocência, como se não se estivesse a praticar atos imorais, criminosos, espúrios e destrutivos. É essa subversão que o torna tão maligno, ao sugerir que o homem continuará sendo bom mesmo praticando efetivamente o mal, tudo para se alcançar um bem comum, destruindo-se o inimigo [e esse inimigo pode ser praticamente tudo, desde que se possa defini-lo como colaborador da classe capitalista; e, por isso, essa e outras definições estão sempre em reconstrução, ganhando novos ares e contornos ao bel-prazer do discurso marxista de perverter a verdade transformando-a em a mentira]. Enquanto o nazismo pede, diretamente, que o homem atue conscientemente como um criminoso. Não lhe é sugerido nada mais além disso. Que ele destrua o inimigo, ao qual ele de antemão já sabe quem é.
      A reeducação comunista, na verdade, faz o homem acreditar que o mal é bom, escondida atrás da moral comum, travestindo-se dela, com o intento de pervertê-la, transtornando a realidade e a moral; almejando sobreviver em um nível "superior" de imoralidade.
      Essas ideologias, em seus cernes, estão sempre a construir o homem, tornando-o em besta, fazendo-o crer ser um anjo. Por isso não há possibilidades de arrependimento no comunismo, especificamente, pois não há do que se arrepender [em contrapartida, o âmago do Cristianismo é exatamente o arrependimento]. A mente está condicionada e domesticada a tratar dos assuntos sempre pelo crivo da nova moral marxista [ou imoralidade], e, para tanto, não existem contigências que possam julgar e condenar os fins quando obtidos. Eles estão sempre justificando os seus erros com a idéia de que é para o bem de todos, quando, nem todos, ou melhor, a maioria é privada desse bem, seja com suas vidas, consciência, fé, e para isso, o indivíduo não somente tem de ser adestrado mas recriado, para que o coletivo se purifique. É engraçado como uma ideologia que oprime de todas as formas o indivíduo possa apelar para o senso de liberdade ao fazê-lo. E o pior ainda é que muitos acreditam que isso é possível.
     A busca incessante dos fins, sempre "justificáveis", nunca levará o homem a obtê-los, mas a uma guerra persistente e interminável de, delirantemente, querer atingi-lo. Mesmo com todas as evidências contrárias, revelando exatamente o oposto do que o discurso dialético apregoa, o marxista sempre estará disposto a tornar o doce em amargo e o amargo em doce, o bem em mal e o mal em bem. E o novo homem apenas é uma deformação ainda maior da velha e naturalmente corrompida humanidade, fruto da Queda, no Éden.
     Outro ponto que me chama a atenção é a questão da memória, a qual já falei. Mas a capacidade de se lembrar das atrocidades nazistas não tem o mesmo lugar e intensidade quando se trata de lembrar das atrocidades marxistas. Parece que àqueles o perdão é impossível mesmo diante do arrependimento, enquanto a estes tudo é permitido, e não se é requerido o arrependimento e, portanto, o perdão é compulsório e subliminar. O mundo parece estar sempre disposto a execrar o nazismo [no que está certo], mas, incoerentemente, é contemplativo e contemporizador com os "feitos" marxistas, sendo capaz de até mesmo louvá-los.
     O mais impressionante é que o marxismo tem suas origens no cristianismo [uma espécie de anti-cristianismo], o qual, servindo às mentiras de seu "mestre", o diabo, incorporou à retórica elementos nitidamente cristãos, tais como a solidariedade, a piedade, o amor ao próximo, a justiça, etc, para abandoná-los tão logo assumi-se o poder; o que acentua o caráter incoerente e contraditório de cristãos que também são marxistas. Na verdade eles estão prontos e de prontidão para defenderem a ideologia, e nem tanto para defender a doutrina bíblica; e em sua incoerência, esquecem-se dos milhões de cristãos mortos, presos e marginalizados pelos regimes comunistas em toda a história e ainda hoje, simplesmente porque é intolerável ao estado que se creia e adore o Deus ao invés do ídolo, o próprio estado, que deseja se apossar do trono que não lhe pertence nem pertencerá.
     É por isso que em matéria de Cristianismo os chamados cristãos-marxistas não entendem nada do Evangelho, desconhecendo o seu real significado e objetivo que é não tornar o homem perfeito na terra, nem criar o homem ideal, mas que os cristãos sejam exatamente aquilo para o que foram chamados: imitadores de Cristo. Em qual mundo é possível se defender uma ideologia que, em sua história, massacrou e ainda massacra milhões de irmãos? Apenas por amarem o Senhor de suas vidas? Apenas por professarem a fé indestrutível? Apenas por não se sujeitarem a "rezar" na cartilha esquerdista? E não adorarem o deus-estado? E não crerem num falso-salvador? Somente neste mundo caído, e miserável, e cego, e nu, no qual vivemos; em que vale mais dizer o que se quer ser, como uma possibilidade ainda que irreal, do que viver o que se diz ser.
     Não acredito na redenção do homem pelo homem ou por qualquer sistema ideológico. O homem somente será redimido pelo Evangelho de Cristo, pela regeneração que o Espírito Santo operará nele através da Palavra. E o que muitos cristãos esperam é que o estado faça esse trabalho, e o homem seja perfeito dentro de um quadro de impiedade e imoralidade, como se a natureza pecaminosa fosse capaz de produzir algum fruto além do pecado. E esperam glorificar a Deus com isso, com seus trapos de imundície, com uma justiça pessoal, a partir de suas obras, e não com a justiça perfeita e santa de Cristo.
    Não acredito no paraíso na Terra, porém, o que os marxistas almejam é recriar um novo Éden, um céu bizarro onde a injustiça, o anti-ético e o imoral prevaleçam sobre toda a justiça, a ética e moral. Então, eles se utilizam da liberdade, da democracia, das instituições legitimamente estabelecidas para, quando chegarem ao poder, abolir exatamente a liberdade, implantar a tirania e a ditadura, e destruir as mesmas instituições pelas quais foi-lhes possível o acesso ao poder. E os cristãos, aqueles que foram regenerados por Cristo, são os primeiros da lista. E nem é preciso esperar para ver; basta uma rápida pesquisada na história e nos noticiários que nos chegam através de grupos missionários como o "A Voz dos Martires" e "Portas Abertas" para se descobrir que os crentes são tratados como inimigos pelo estado totalitário. E inimigos, devem ser destruídos. 
     Mas graças a Deus que o nosso reino não é daqui; contudo, no reino de justiça do Senhor, aqueles que consentiram com o mal serão responsabilizados, mesmo pelo mal que não fizeram, mas por não combatê-lo; e outros, ainda mais, por se aliarem a ele.

Nota: 1-Escrevi o texto a partir de meus comentários ao livro "A infelicidade do século" de Alan Besançon, os quais podem ser lidos AQUI. Motivado, também, por uma conversa com um querido irmão que votará na Dilma e que é marxista [ainda que ele não se reconheça como tal]. Em nossa conversa, ele disse que a política acabava se reduzindo à escolha entre Serra e Dilma, e que devíamos discutir mais ampliadamente. Por isso decidi expor, ainda que desordenadamente e sem a capacidade necessária, o por quê, no fim-das-contas, temos responsabilidade no que pensamos e dizemos, mas sobretudo no que fazemos. E como fazemos. Ou como deixamos de fazer. 
2-Outro ponto que sempre me chama a atenção quando vou discutir política com crentes é que o Cristianismo pode e deve estar presente em todas as áreas da vida, mas nunca na política. Dizem que a Bíblia não trata de política, logo o crente está proibido de exercê-la em qualquer nível. Mas o Senhor nos ordenou a ser luz em todos os lugares, e não está reservado um lugar intocável para as trevas, no caso, a política. Elas devem ser dissipadas, jamais preservadas; de outra forma, como a verdade alcançará a mentira a fim de destruí-la? 

20 outubro 2010

Quae Scripturae? Divinitus inspirata est!

Por Esli Soares *
1 - Introdução ao Texto
          Para os cristãos, todas as argumentações são – ou deveriam ser – feitas apoiadas em um princípio: Existe um único Deus, Senhor, Criador e Mantenedor de tudo e de todos (At 17;28) que se dá a conhecer, se revelando e revelando a sua vontade (Hb 1;1 a 3). Essa revelação é a Bíblia, e é através dela (Jo 1;1 e 14) que hoje Ele comunica sua boa, perfeita e agradável vontade.

          A Bíblia não é um apanhado folclórico do oriente proximal, nem um amontoado de histórias fantásticas de cunho moralista, ou mesmo apenas um registro histórico de acontecimentos reais. Ela é a Palavra de Deus para o povo de Deus (Lc 8;21). Nela estão todas as respostas, orientações e mandamentos claros para a vida dos filhos de Deus (Mt 4;4). Se Deus é verdadeiro, e a Bíblia é a sua Palavra, nada deve ser mais importante que conhecer profundamente esse texto sagrado (Mc 12;24). Ou seja, a única pretensão de um verdadeiro servo de Deus é conhecer essa Revelação, meditar nela e obedecê-la (Dt 6;6 a 25), isso é verdadeiramente viver a fé, isso é realmente crer!

          Como crer é também pensar, deve ser – e é – possível explicar[1] a fé Bíblica[2], mas para tanto é preciso abordar questões relacionadas ao próprio texto disponível atualmente[3]. Ou seja, antes  de abordar as doutrinas, instruções, exemplos, avisos e recomendações da Bíblia, o foco deve ser a própria Bíblia: sua formação, seu caráter e singularidade, a certeza da preservação, a vida de seus ‘autores’, o contexto sócio-cultural em que foi escrita, os leitores originais e etc. afinal, ela é o pressuposto inegociável: Sola Scripturae.

2 - O Texto Revelador
          Em 2 Tm 3;16 a 17, o apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo, afirma: “Toda escritura é... útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para educar na justiça”, ou seja a Bíblia serve para dar a capacidade de se tornar maduro na fé, afinal é a Bíblia que conta as coisas de Deus, ler a Bíblia é a garantia de conhecer todas as coisas que Deus tem para falar (Dt 4;1 – Pr 1;7 – Jo 7;16 – Rm 15,4). A Bíblia também e útil para a repreensão, ela serve para advertir sobre o que é certo ou errado. (1 Co 5 e 6 – Ef 5; 3 a 14 – Gl 5;19 a 21 – Ap 2;20). Da mesma forma, ela é útil para a correção, mesmo que alguém esteja vivendo de alguma forma errada, a Bíblia pode ajudar a mudar do caminho errado para o certo (1 Jo 1;5 a 2,1 – Tg 1;5). Por fim, mas não menos importante, as Sagradas Escrituras educam na justiça – fortalecendo e preparando o cristão a viver de acordo com a santidade de Deus (1Pe 1;13 a 16). E, mais, tudo isso com propósito de habilitar o eleito para viver já aqui, nessa presente era, a vida de Deus (Rm 13;11 a 14), além de comunicar a certeza do futuro em glória (Ap 21;1 a 7).

          Tangenciando toda essa aplicação prática, moral, ética – e, por que não cívica? – não destituída de espiritualidade e transcendentalismo, o valor do Vox Dei reside no impressionante fato do Eterno (Emissor) se revelar especialmente[4] através dela (Canal), e não por ter sido ditada ou mecanicamente escrita por Ele, ou porque 100% das passagens tenha sido registradas por pessoas especialmente separadas (santas e preparadas) para esse fim, ou ainda porque tais arautos sabiam que estavam produzindo (ou reproduzindo) manualmente (i.é. transcrevendo) o texto sagrado, e nem mesmo porque os manuscritos originais – as laudas divinas – estão magicamente preservados[5].

          Isso fica claro nas palavras do apóstolo Paulo. Para ele o valor pragmático – útil, descrito anteriormente – abstraído das passagens bíblicas[6], tem seu valor no fato desses conselhos serem inspirados por Deus. Ou seja, Deus é o Autor dessas palavras, Ele é o Editor do texto sagrado, assim o texto é REVELADO aos homens por Deus – ou ainda – o texto é revelador de Deus aos homens. E isso precede em importância qualquer característica associável a Bíblia. Até a santidade atribuída a Bíblia vem do Editor (DEUS) e não dos autores (escritores humanos), nem mesmo do material em si (falando com objeto religioso).

          Essa revelação primeiro foi dada, e posteriormente retransmitida, de forma oral (Hb1;1)  –  o  que  é  assombrosamente impressionante, haja  vista  que  Deus  não só  dotou  o  humano  (receptor)  da  singular capacidade  de  compreendê-lO,  como também  de  transmitir  (emissor)  esse  conhecimento  a outros (receptor).  É dessa transmissão oral (canal) que Ele gerou a transmissão escrita – sendo outra característica surpreende da ação divina em ser cognoscível e compreensível através de rabiscos, tinta e papel: signos criados por homens; ação tão magnífica quanto abrir o mar vermelho, ou seja, a rigor, a Revelação, o fato (continuo) de Deus, o Criador, se revelar (agora) nas páginas da Bíblia, é sobrenatural.

3 - O Texto Autoritário
          Deus ao colocar no cânon, o Início (Gênesis), revela-se como o poderoso Deus que escolhe, institui e preserva um povo para si, o povo de Israel[7]. No relato da própria criação, Deus estabelece, do nada, tudo o que há (Gn 1;1). Toda a criação, todas as coisas que existem, existiram ou existirão, foram planejadas e projetadas por Deus ali naquele instante[8] chamado eternidade. Todas as implicações, conseqüências, desdobramentos, foram antevistos, perscrutados, analisados, compreendido e solucionados.  Deus, antes do start do κoσμου, conheceu, predestinou, providenciou e uniu em Si mesmo, todas as coisas, acontecimentos e possibilidades, começo, meio e fim (cap. III, A Bíblia e o Futuro, Antony Hoekma, Cap. I, cânones de Dort, I Co 2;7).

          Esse Deus passa a por ordem no caos (Gn 1, Sl 74) em proporções universais. O Grande Criador revelado nos dois primeiros capítulos de Gênesis, demonstra sua organização e controle soberano, atuante e não meramente potencial. Ele criou o homem (Adão) segundo a sua imagem e semelhança e o colocou no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo, orientando-o sobre como deveria proceder ali (Gn 2, 4 a 25) expondo as conseqüências de violar essas condições.
          
          Assim temos o estabelecimento de um pacto, entre o IAHWE e Adão; entre Deus e o homem. Nessa relação contratual é descrita as cláusulas do pacto (obediência e vida; desobediência e morte) e suas observações na vida. É exatamente a cláusula desse contrato que trata das punições (desobediência e morte) que obriga o ser humano a uma vida distante de Deus, longe do paraíso, expulso da presença divina, ou seja, o Pacto vigora!

4 - O Texto Coerente

          Ao considerar o bojo do N.T. de acordo com uma eclesiologia posmoderna, poderia-se afirmar uma descontinuidade desse texto (isso é, V.T. despresado frente ao N.T.), e disso validar as mais diversas heresias
[9]. Por outro lado, uma super valorização do V.T em detrimento ao N.T. nos levará a validar outro amontoado de heresias[10][11].


          Entretanto as revelações do N.T. sobre o pacto no V.T. numa visão equilibrada apontarão não só para a manutenção proposital do Pacto da (e na) Velha Aliança – como comenta o Rev. Ronald Hanko no artigo  "O Pacto e a Lei", o qual transcrevo abaixo – mas também a clara progressão no entendimento desse Pacto.

– Segue o artigo que originalmente pode ser visto aqui:
 A característica singular do pacto com Israel foi, sem dúvida, a entrega da lei no Monte Sinai. Qual é a relação entre a lei e o pacto? Fundamental para um entendimento dessa relação é Gálatas 3:17-21. Essa passagem mostra, primeiro, que o pacto com Abraão, quatrocentos anos antes da entrega da lei, é o pacto que foi “confirmado em Cristo,” isto é, o pacto eterno de Deus; e, segundo, que a entrega da lei não poderia anular o pacto (v. 17). De fato, a lei não é nem mesmo contra o pacto (v. 21).
 Êxodo 24:7 vai mais adiante e chama a lei de “o livro do pacto,” o livro no qual Deus fez conhecido seu pacto com o seu povo. Se o pacto ao qual ela pertencia é o pacto que foi confirmado em Cristo — o mesmo pacto ao qual pertencemos — então a lei ainda é o livro do pacto, embora muita coisa tenha sido adicionada ao livro desde então. De acordo com Gálatas 3:19, essa lei escrita foi adicionada ao pacto por causa das transgressões, até que Cristo viesse. Isso significa que a lei, ao revelar o pecado, mostra a nossa necessidade de Cristo. Ela foi o “aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” (v. 24) nele. Romanos 10:4 diz a mesma coisa. A passagem não diz que Cristo é o fim da lei no sentido dele abolir a lei, mas que ele é o fim da lei por ser seu objetivo e propósito. A lei foi dada com Cristo como o seu objetivo, e ela realiza seu propósito quando, ao revelar o pecado, mostra ao verdadeiro Israel sua necessidade de Cristo e da justificação pela fé nele.
 Que a lei continua a ter essa função Paulo mostra claramente em Romanos 7:7: “Eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei.” Gálatas 3 também prova isso quando diz que a lei não era o aio apenas dos judeus, mas nosso também (vv. 23-24). Não temos dificuldade, portanto, em dizer que a lei era e é parte do pacto. Ela era certamente parte do pacto no Antigo Testamento, como Gálatas 3:19 nos lembra. Que isso ainda pertence ao pacto é claro a partir do fato que a mesma lei continua a ser para nós um aio (tutor) que conduz a Cristo. O que mudou foi a nossa relação para com a lei como povo do pacto, mas isso é um assunto totalmente diferente do assunto de Gálatas 4:1-7. Isso não é o mesmo que negar que existiam “rudimentos do mundo” amarrados à lei e elementos que eram puramente cerimoniais (Cl. 2:20-23). Esses cessaram, mas mesmo no Antigo Testamento eram parte do pacto de Deus por apontar para Cristo e funcionar como um “aio” para trazer Israel a Cristo. O ponto é que existe apenas um pacto, um pacto que não está em conflito com a lei, um pacto de graça em Cristo ao qual todos os verdadeiros israelitas pertencem. A lei de Deus não era, não é, e nunca será contra (paralela[12]) o pacto de Deus.

A leitura, mesmo simples, da carta aos Hebreus esclarecerá muito das ligações entre as cerimônias e rituais do V.T. na perspectivas neotestamentária. Ou seja, há uma continuação e uma complementação da antiga revelação do Pacto sem, entretanto, apresentar um rumo que não estivesse previsto nele. O correto é afirmar que tudo da revelação de Deus se encerra com o N.T. (cap. I, CFW). As revelações escriturísticas da era cristã são de fato e de direito o cumprimento do V.T. Assim não só o Pacto, estabelecido com Adão, é mantido, como, também, tem-se claramente a consumação do mesmo, ficando patente a potência e a extensão desse Pacto[13] (Rm 16:25,26, Ef 1;9,14, e 3;3,6).

          – Para ficar num exemplo "simples" de como os aspectos da Lei de Deus[14] devem ser revisto sob o prisma de Cristo [15]. Paulo afirma que a participação na sinagoga ou numa festa como a do Pentecoste (At 20;16), na da mais era do que uma atitude de se fazer “tudo para com todos” (I Co 9;19). Para ele as festas e cerimônias tinham perdido seu valor espiritual por causa do superior oficio de Cristo, mas não eram necessariamente proibidas. Já para a igreja gentílica, até o sábado era uma parte inseparável do jugo ritualístico judaico (Gl 5;1, Cl 2;14). Por isso os primeiros irmãos consideraram “dias, meses, estações e anos” (Gl 4;10) como sendo elementos não essenciais à adoração a Deus. E por se entenderam livres em Cristo dos princípios elementares (Gl 4;9), não observavam o calendário religioso judaico.

          Essa concepção é originada dos próprios ensinos e práticas de Jesus, que é o único “descanso” autêntico atodos os cansados e sobrecarregados, bastando-lhes que aceitassem o seu jugo (Mt 11;28-30). Assim o domingo não deve ser considerado como sendo o Sabbath (dos judeus),  apenas como um atraso de vinte quatro horas – sob pena de incorrer no mesmo erro dos judaizantes[16] – antes porém, deve-se considerá-lo como “o novo sábado”, numa expectativa da vitória definitiva de Cristo, da qual sua ressurreição, que aconteceu no primeiro dia da semana, é um prenúncio, prenúncio do Último Dia que é verdadeiramente o descanso prometido por Deus. 
         Na progressão histórica desse pensamento, em meados do segundo século, Justino, o Mártir, tinha identificado o viver cristão com o sábado perpétuo que consiste de abster-se do pecado e não do trabalho. lrineu encarava o sábado como um símbolo do futuro reino de Deus, no qual aqueles que serviram a Deus “num estado de descanso, participariam da mesa de Deus”. Tertuliano declarou: “Nós não temos nada a ver com as festividades judaicas”. Orígenes disse do cristão perfeito: “Todos os seus dias são do Senhor e ele está sempre observando o dia do Senhor”.
   
5 - O Texto Atual
         A exatidão e validade desse texto têm sido demonstradas pela precisão com que descrevem todas as coisas, principalmente em se tratando do coração do homem. Inúmeras profecias foram cumpridas e tantas outras caminham inexoráveis. Entretanto a Bíblia, não é só descritiva. Ela não conta apenas os grandes feitos divinos na história de Israel (A.T.), ou os relatos da passagem de um homem bom nas terras palestinas há cerca de 2000 anos (N.T.). Ela também não foi escrita apenas como um documento do poder público – códigos civil, penal, religioso e etc. (A.T.) e nem é só o diário da igreja primitiva (N.T.).  A Bíblia é o Texto Revelado Autoritário para o séc. XXI. Sendo a Palavra de Deus (imutável), no A.T. e o N.T, também contém a Palavra (imutável) de Deus para hoje, para nós, para nossa realidade e nível de entendimento e cultura. 
         
         A Escritura é a Revelação (afirmação) divina multidimencional (1Pe 4;10). Em todas as passagens há sobreposição de informações. O Canon é como um caleidoscópio[17], a cada movimento e mudança de perspectiva, uma face diferente da Única Verdade se revela. E embora ela não esteja presa em padrões antigos (como se o pensamento de outrora fosse o que dá base para o que é bíblico, e não o contrário – em si tratando da coisa boa e santa, ou seja, o padrão era a Bíblia = Palavra de Deus) ela não precisa ser revista e nem completada e nem precisa ser “politicamente correta” ou censurada – me refiro a cristandade como agente censurador – “afinal esse livro é machista e violento, nossas crianças não precisão aprender isso”.

        Ora se o que de Deus se pode conhecer (Sl 19), naturalmente demonstra o juízo e a condenação indistintamente a todos os homens (Rm 1;20), e a Revelação especial é ainda mais terrível quanto ao anúncio distintivo da reprovação do homem (Rm 3;10) diante do padrão elevado de Deus (Lv 11;44). Outras afirmações bíblicas são igualmente válidas para a nossa sociedade global, principalmente no campo moral e ético.

          É importante relembrar que não foi a Igreja e os 
concílios ecumênicos que deram autoridade a Sagrada Escritura –  o que poderia dar base para uma nova contextualização bíblica sobre o auspício de que ela é fruto da Igreja Medieval – antes esses reconheceram a autoridade de tais escritos e se apoiaram no testemunho tanto interno quanto externo da autoria dos mesmos para reconhecer para si (e sobre si), a Bíblia como única regra de fé e prática – proposta recuperada pelos reformadores dos séc. XVI. Assim verdades como todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm3;23) ou não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer (Rm 3;10 a 12), são especialmente atuais.
         
6 - O Texto Apresentado
          A Lei de Deus vigora! O Pacto é para todos e sua validade é para o séc.XXI.  Jesus esclarece como deve ser a aplicação atual dessa lei e como esse pacto deveria ser encarado: Quando perguntado sobre qual era o maior mandamento, ele, afirma que a grande lei que os homens devem seguir é amar a Deus de todo o coração. Esse amor a Deus deve ser entendido como a acepção verdadeira da adoração exigida e – claro – possibilitada por Deus (Ex 20;6). Cristo afirma que essa é a Lei de Deus, o mandamento máximo divino, a razão pela qual os seres humanos existem, o propósito da criação. Amar a Deus é o objetivo que o Criador estabeleceu para o ser humano, é um decreto imutável do Senhor (item V, cap. III CFW, livro I, cap. I, IRC).

          O termo traduzido por amar é
 ἀγαπήσεις que foi utilizado na LXX para traduzir o verbo Ahavtá[18] do hebraico (cerca de 200 ocorrências). Esse termo em hebraico foi usado para descrever o sentimento de Abraão pelo seu filho Isaque (Gn 22;2), o amor de Jacó por Raquel, pelo qual trabalhou sete anos (Gn 29;18), e a amizade profunda de Jonatas e Davi (I Sm 20;17). O verbo traz a idéia do amor incondicional, altruísmo. A maior lei de Deus manda que o homem ame mais a Deus do que a si mesmo, que considere o Senhor mais importante e digno de atenção e reverência, o principal, o primeiro, a quem todas as coisas devem ser oferecidas primeiramente, em detrimento de si mesmo, a despeito inclusive de faltar para si.

          Entretanto Jesus acrescenta que esse mandamento se traduz, também, numa atitude de amor para com o próximo. Ele cita Lv 19;18, afirmando que amar ao próximo como a si mesmo é o segundo  grande mandamento, semelhante (aquilo que se parece ou é próximo de...) ao primeiro. Os mesmos termos (V.T. em hebraico e no N.T.) são usados no segundo mandamento de Jesus. A segunda maior lei de Deus é tratar o outro como a si, da mesma maneira que alguém si ama deve amar ao outro, buscar o bem do próximo com o mesmo cuidado e determinação dispensados na busca do bem para si mesmo. A idéia não é “
meu direito acaba aonde começa o do outro”, forma passiva, mas “meu dever é o direito do outro”, forma ativa. E mais, essa lei tem uma importância maior. Amar (ἀγαπῶν) ao próximo é mais importante que todos os outros mandamentos, ficando diretamente abaixo de amar (ἀγαπῶν) a Deus. Não se pode – não aqui – entender essa passagem de forma simplista. Jesus não está simplesmente resumindo os 10 mandamentos em 2, como sugerida pela explicação clássica – boa e correta, porém curta – de que “amar a Deus...” é o resumo dos 4 primeiros mandamentos e “amar ao próximo...” dos 6 seguintes.

          Cristo afirma que estes dois mandamentos são os que dão base a tudo que a Lei (Torah) regulamenta, e por causa deles os Profetas trouxeram julgamento e condenação às nações (Is 1;2). O amor (ἀγαπῶν) a Deus é o principio da obediência (Jo 14;23). Entretanto, para Cristo, amar (ἀγαπῶν) ao próximo é tão diretamente entrelaçado com amar (ἀγαπῶν) a Deus que ele vê a necessidade de responder ao questionamento com afirmações sobre um segundo mandamento semelhante ao primeiro.

7 - O Texto Aplicado
Foi assim que a igreja compreendeu o Texto Revelador Autoritário Atual, mas do que especular sobre os detalhes técnicos dessas passagens, a Igreja simplesmente passou a viver com essa verdade, impondo-se o Amor e a Graça ante a frieza da aplicação legalista da Lei.

O entendimento dessa realidade está espalhado nas cartas paulinas, bem como nas cartas gerais. João coloca essa relação de amar ao próximo como sinal do amor a Deus (I Jo 2;10, 3;10, 4;7,8,20,21), Tiago afirma que uma fé em Deus sem obras é morta. Para eles amar a Deus implicava diretamente em amar aos semelhantes. Paulo passa a mostrar o mais excelente dos dons, o amor (ἀγάπην), e é evidente que esse amor, poeticamente apresentado, não é para com Deus. O amor ali apresentado é como deve ser a expressão do nosso amor (ἀγάπην) para com o próximo. O amor com que Deus nos amou é o padrão para amarmos uns aos outros. O apóstolo ainda acrescenta que todos os atos feitos sem amor (ἀγάπην) são inválidos. Ele não afirma que os atos foram ruins, ou que deveriam ser evitados. Ele afirma que um culto ou  mesmo a religiosidade destituída de amor (ἀγάπην) não tem valor nenhum por que está destituída da essência de Deus. Se os atos mais profundos de devoção não contemplarem, em amor, ao próximo, serão como um barulho, um som destituído de sentido e de beleza, que rapidamente torna-se insuportável (Ap 3;16).

O post "11 de Setembro? Eu, você e mundo!", serve de mais explanação desse ponto.

O resumo da obra: ou observações importantes sobre esse artigo.

a - O primeiro ponto explica a relação que o cristão deve ter com o estudo da Bíblia, ou seja, "Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja corretamente a palavra da verdade"(2Tm2;15); basicamente o segundo ponto é "Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo" (Hb 1;1);  o terceiro ponto é "Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra"(Mt 5;18); o quarto concorda com  o fato que " Deus não é Deus de desordem, mas de paz. Como em todas as congregações dos santos," (1Co 14;33). O quinto pode ser resumido em "...todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus..." (Rm3;23); O sexto em "Tomai sobre vós o meu jugo e de mim porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. " (Mt 11;29); O sétimo basea-se em "Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos." (Ef 2;10).

b - Essas 7 observações sobre a Bíblia, não são definitivas ou exaustivas, são apenas 7 proposições minimamente necessárias para um melhor entendimento acerca da Palavra de Deus.

c - Devem ser acrescentadas a esse post as seguintes características da Bíblia: Iluminação; Exatidão; Unidade; Inerrância; Infabilida.

d - A preservação é um das características mais importantes da Bíblia e será tratada num artigo seguinte.

e - A bibliografia foi omitida por algumas razões: muitas partes desse meu texto compartilham de outros textos meus, assim multiplicando-se as referências; o artigo não terminou, pelo menos mais duas partes devem se seguir a este post – mas não se animem, vão demorar! E mais em breve postarei um artigo com a bibliografia do blog e nele serão postos todas as referencias indiretas que sempre uso.


[1]  É importante frisar que explicar a fé através dos resultados obtido nas análises da Sagrada Escritura, não é uma ação movida (em mim) por um interesse de deixar presunções religiosas e suas afirmações eventualmente flácidas e se apoiar nas “certeza” cientificas. O zelo e a honestidade para com a Verdade Relatada, se desdobra em uma demonstração da racionalidade e lógica da (minha) Fé Cristã (1 Pe 3;15): Credo ut intelligam.
  Ciência e Fé, ou fé na ciência e fé na religião são presunções ou pressuposições, com diferentes axiomas, mas igualmente válidas, uma vez que não são, necessariamente, contraditórias. Ambas se sustentam pela confiança depositada em alguma autoridade. No caso na Ciência a autoridade é dada pelo empirismo, na religião a autoridade vem de um ente superior.

[2] Isso é, fé na mensagem da Bíblia e nas verdades dela abstraídas: fé nas histórias, nos conceitos e nos valores nela contidos. É claro que essa fé, valida as eventuais informações histórico-geográfica, psicológicas, antropológicas, filosóficas, cientificas e etc., mas a Bíblia não é prioritariamente um livro técnico, por isso temos que tomar cuidado para não fazer “afirmações bíblicas” em cima de coisas que a Bíblia – necessariamente – não diz.

[3] Tanto a questão das traduções, como a questão ainda mais fundamental da critica textual.

[4] Deus ao criar todas as coisas deixou claramente muito de si nelas, por isso na natureza se distingue algumas de Suas características (Rm 1;17), ao ponto que todos, naturalmente, podem reconhecer a existência de um Criador (ou, no minimo, o fato criativo). A própria natureza chama para si essa qualidade ou missão, e ao observá-la é possível, facilmente, perceber que uma mente inteligente, uma personalidade muito poderosa, atuou na formação de todas as coisas, conferindo-lhe a beleza, funcionalidade, distinção, criatividade, dentre outras coisas. O próprio caráter distintivo do ser humano, frente ao de outros animais, é, também prova disso. Mesmo a mente de uma criança que  já é dotada da habilidade em questionar  suas origens, juntamente com o próprio fenômeno antropológico da religião, provam incontestavelmente que o universo (tudo o que há, inclusive nós mesmos) gritam “existe um Deus”. Embora ninguém possa alegar que nunca viu uma indicação da existência de Deus, essas características divinas expostas na natureza, não são suficientes para ninguém saber qual a vontade de Deus e principalmente ter o conhecimento sobre a Salvação proposta por esse Deus. 

[5] A preservação do texto sagrado será abordada posteriormente. 

[6] No texto citado acima 2Tm 3;16, “Escritura” se refere ao que hoje chamamos de A.T.

[7] Para não abrir – eventualmente – espaço para um entendimento equivocado acerca desse povo, sugiro a leitura do artigo Israelense, Israelita, Judeus e Povo de Deus.

[8] Esse instante que chamo eternidade precede a fundação do mundo. Seria o conselho da criação juntamente com o conselho da redenção que acontecem antes da criação descrita em Gênesis 1. 

[9] Em ordem crescente de desvio do certo (ortodoxia) temos: o pentecostalismo, arminianismo, 
dispensacionalismo, gnosticismo cristão, a salvação universal, o liberalismo teológico e o Teísmo Aberto.

[10] Em grau muito menor (me refiro a comprometimento de alguns erros em relação a uma vida espiritualmente positiva) que a idéia contrária (ver nota 9) e com uma variação difícil de precisar no que tange ao deslocamento do certo (ortodoxia) temos (sem criterização de importância e grau de equívoco): legalismo, pentecostalismo (usos e costumes), sabatismo, adventismo, bem como os judaizantes, teonomistas, teocratas, recostrucionistas cristãos, neo-puritanos e etc.

[11] Em uma classe distinta entra a ICAR e a repetição alegórica semanal do trabalho sacerdotal (missa).

[12] Complemento entre parêntese acrescido por mim.

[13] Que é, na verdade, o plano da salvação planejado na eternidade antes da fundação do mundo.

[14] Lembre-se que a guarda do sábado é o 4º mandamento.

[15] Para sintetizar a idéia leia "O Sermão do Monte (Mt  5)", Cristo não anula ou suspende nada da Lei, ele expõe o âmago dela, para exemplificar, leia Jo 8;1 a 11 e Lc  7; 11 a 15. 
[16] A ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana (hoje chamado de domingo) não deslocou o sabbath para o dia seguinte, ocorrem diversos fatores ‘aleatórios’ - inclusive - a freqüência de alguns do “Caminho” nas sinagogas. Outro fator foi a perseguição pelos judeus e, posteriormente, pelos romanos a esse culto ‘herege’. A celebração cristã aos domingos é um fato histórico e não um mandamento.
[17] É um erro pensar que esse dispositivo mostra novas coisas, na verdade o que acontece é um interação entre a luz externa e os objetos dentro do aparelho. Não há introdução de novas peças, o que ocorre é apenas uma observação diferente causada por direfentes reflexos. Para mim uma perfeita alegoria dos processos de iluminação dadas pelo E.S. ao fiel que corajosamente se entrega a leitura da Bíblia.    

[18] Transliteração de  אהבת

* Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originariamente em "A Cruz, On Line"