"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

29 outubro 2011

A mui piedosa esquerda cristã? - Blog Casal 20 comemorando 1 ano de aniversário!


Queremos iniciar as comemorações do aniversário do nosso blog, publicando alguns artigos escritos por nós e que foram muito importantes na nossa formação, porque foram textos escritos na ebulição de ideias que nos apaixonam.

Para ter acesso ao texto de D. Robison, é só clicar sobre o título do texto dele abaixo. Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política – teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo – desafios a uma fé engajada. Abraços sempre afetuosos. Casal 20.

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"A mui piedosa esquerda cristã", de Dom Robinson Cavalcanti, publicada pela Revista Ultimato (maio - junho/2008) é um texto estranhíssimo já pelo seu título, que me sugerira, inicialmente, uma ironia à dita "esquerda" cristã. Todavia, relendo o texto diversas vezes, constatei que aquele título era aquilo que proclamava mesmo: louvar a esquerda como a própria encarnação do Bem.

A estranheza é exatamente por essa idéia arcaica e preconceituosa de trazer um velho maniqueísmo da luta (de classes?) entre o Bem e o Mal. Assim, aceitando-se que o título versa sobre a tão grande piedade da esquerda cristã, só pode-se concluir sobre a existência do outro lado da força, o lado negro, o lado impiedoso, mau, conformado, que seria uma provável direita cristã. Este maniqueísmo antes de ser arcaico é perigoso. Chocante mesmo é vê-lo estampado num título que recria o imaginário de que ser da esquerda cristã é piedoso e ser da direita cristã, segundo o texto de Dom Robinson, é o contrário. Talvez, por ter sido apenas uma reflexão, Dom Robinson passa por cima de questões importantes para a honestidade dos eventos ali narrados no texto dele.

O texto traz novamente aquela antiga referência ao texto de Atos, que cita a venda dos bens e a partilha dos mesmos na Igreja em Jerusalém, como sendo o ideal perdido da primeira experiência socialista da história. O que se quer que as pessoas creiam é que o Cristianismo, desde seu nascedouro é socialista, entretanto, aprendi que Atos é um livro de narrativa histórica e não de doutrina, por isso quaisquer eventos ali narrados precisam passar pelo crivo das cartas doutrinárias para que possam ser estabelecidos como modelos a serem repetidos na Igreja Cristã. Apenas como exemplo, se fossemos observar o livro de Atos doutrinariamente, teríamos que passar nossos enfermos pelas sombras dos nossos líderes atuais para que fossem curados ou, ainda, sermos adeptos do voto de nazireu, ao qual se submeteu Paulo, após sua conversão, ao menos duas vezes durante o livro. Doutrinariamente, a ordem às igrejas é diversa daquilo que aconteceu em Jerusalém (ver II Ts 3:12 e 13). Mas, além dessa questão doutrinária, também há os fatos históricos que indicam que a experiência que houve na Igreja de Jerusalém não foi repetida pelas demais igrejas e, por isto mesmo, quando a grande fome atingiu o mundo daquela época, as demais igrejas é que precisaram ajudar a Igreja de Jerusalém, que, portanto, fracassara na sua prática "socialista". 

É muito forte o poder da cultura ao nosso redor e que insiste em nos moldar pensamentos, filosofias, sentimentos e práticas, ao ponto de proclamarmos com a boca uma fé, mas agirmos na contramão de nossas palavras. Estou falando da insistente interpretação que muitos fazem do texto de Mateus, capítulo 25, especificadamente o texto sobre o Juízo Final. É um texto tão mal digerido por algumas correntes evangélicas, que, antes de abordá-lo, Dom Robinson reafirma sua pública profissão de fé de que as obras não salvam, para, logo depois, entrar em contradição dizendo que "o critério de julgamento será pelas evidências éticas sociais". Quais? Robison diz "tive sede", "tive fome". A caridade, a obra social, segundo Robinson, será o "critério de julgamento". Pura contradição! Esta exegese romana, mas acompanhada por muitos setores evangélicos, não se sustenta se compreendermos o livro de Mateus como um todo e a seção apocalíptica em que se encontra a narrativa de Jesus em Mateus. O texto é claro (não para a mui piedosa esquerda cristã de Dom Robinson), os pequeninos irmãos do texto são os discípulos de Jesus e não o pobre e necessitado. Jesus está falando que as nações serão julgadas de acordo com a posição que tomarem diante da pregação e testemunho da Igreja Perseguida (esta é que está presa, com sede, com fome e nua). Se há duvida, compare os seguintes textos de Mateus 10.42; 12.48-49; 18.14 e, ainda, veja como Jesus se identifica com sua Igreja diante de Paulo no caminho para Damasco: perseguir a Igreja é perseguir o Cristo. Mas, como disse acima, a cultura do meio em que estamos é poderosa para moldar a nossa interpretação, mesmo que esta seja contraditória com a fé que confessamos. A cultura na qual estamos inseridos é romana e, não à toa, há poucos anos atrás esse mesmo texto de Mateus foi lema da Campanha da Fraternidade, que visava justiça social.

O texto de Dom Robison desenvolve uma lógica de atirar pedra no próprio telhado (ou melhor, no telhado do que o autor identifica como sendo a impiedosa direita cristã). Começando pela Igreja de Jerusalém e os Pais da Igreja, em seguida ele desenvolve a idéia que a Reforma Protestante foi responsável indireta pelo capitalismo e seus excessos, que foram criticados pelo movimento dos Niveladores, socialista e comunistas, etc. Dom Robinson conclui o parágrafo citando a ladainha desses movimentos que entenderam que a propriedade privada era um mal em si mesmo. Assim, Lutero e Calvino participaram da construção desse mal, para Dom Robison. Se não foi esta a idéia, então o parágrafo está mal escrito. Contudo, o sistema do pensamento está ali: a igreja começou bem em Jerusalém e depois com os Pais da Igreja, até que vieram Lutero e Calvino que possibilitaram com suas doutrinas o avanço do capitalismo sobre o sistema feudal (mesmo que de maneira indireta e irrefletida), mas que houve movimentos que criticaram esse mesmo capitalismo e o direito à propriedade privada apoiados pela Reforma Protestante. Ora, deveria ser evidente para os cristãos que os Pais da Igreja defenderam a justiça social, não porque havia um "pensamento de esquerda" (como afirma Dom Robison), mas simplesmente porque pregavam o Evangelho do Reino de Deus. O que Dom Robison também não diz é que ao lado das ações veterotestamentárias de justiça social (Ano Sabático, Ano do Jubileu, etc), há também a defesa da propriedade particular (ver capítulo 22 de Êxodo). Se a propriedade privada fosse um mal em si mesmo, não haveria a proibição no Decálogo de se cobiçar a casa e as demais propriedades do outro.

Há no texto de Dom Robinson uma confusão do significado das palavras socialismo e esquerda. Esquerda seria um termo que surgiria no período pós-revolução francesa, mesmo que com um sentido totalmente diverso do que se entende hoje. Mas, durante todo texto, Dom Robinson remonta a presença do pensamento de esquerda desde muito antes desse mesmo surgimento. Contradição? Piora quando ele insiste em intercambiar os termos socialismo e esquerda. E piora ainda mais quando ele alega que essa esquerda cristã está presente tanto no catolicismo quanto no meio evangélico de séculos atrás, colocando num mesmo parágrafo o padre Lammenais, a Rerum Novarum e os socialistas cristãos como se todos esses fossem representantes legítimos dessa esquerda cristã da qual ele trata. Ora, o Padre Lammenais teve suas teses atacadas duas vezes pelo Papa Gregório XVI, que as chamou de heréticas. A Rerum Novarum NÃO é uma mudança de direção nos rumos da Igreja Católica Romana como a construção do parágrafo dá a entender. A Rerum Novarum é uma carta encíclica do papa Leão XIII de 15 de maio de 1891 exatamente para condenar, veja bem, condenar as propostas socialistas que contaminavam as relações entre patrão e empregado e, ainda, traz num dos seus parágrafos a defesa do direito à propriedade privada. Enfim, não dá para colocar a Rerum Novarum no texto de Dom Robinson que louva exatamente aquilo que a carta papal atacara. 

Outras contradições do texto de Dom Robison surgem ao citar a frase de Laski, pois se Laski está certo, o texto de Dom Robinson perde completamente a razão de ter sido escrito, porque, até hoje, as experiências socialistas sempre foram antidemocráticas (ver Stalin, Fidel, Coréia do Norte e China, que juntos mataram mais de 150 milhões de pessoas que não concordavam com seus socialismos).

Difícil aceitar que a esquerda cristã seja formada pelos inconformados com as desigualdades não-naturais, conforme está citado no texto de Dom Robinson. Não posso me conformar com isto! Mais uma vez um maniqueísmo anticristão, que julga as pessoas pelos grupos que participam e não pelos argumentos racionais que elas defendem. Ora, dizer que a esquerda são os inconformados e a direita os conformados é preconceito no melhor sentido da palavra. Porque não posso me conformar com a aliança de uma mui piedosa esquerda cristã com o materialismo e o ateísmo em nome da justiça social e do bem comum. Ainda nesse contexto, qual é a solidariedade que a esquerda ofereceu em Cuba, na antiga União Soviética, na China, na Coréia do Norte? Estas esquerdas foram apoiadas por cristãos piedosos, que sacrificaram a Verdade em troca da Paz. Paz? Nem isso a esquerda imaginada por Dom Robison pode nos oferecer. 

O texto termina falando que a esquerda cristã é essa gente "piedosa e ortodoxa", uma miríade de novos nascidos. Mas não posso me conformar com isto também! Não vejo piedade nem ortodoxia, quando as pessoas são rotuladas e julgadas por não fazerem parte do mui piedoso grupo da esquerda cristã e seu pensamento único. Não vejo piedade nem ortodoxia em pensadores como Leonardo Boff e Rubem Alves que não acreditam na Ressurreição literal de Jesus Cristo e nem no seu sacrifício vicário e, ainda assim, se intitulam esquerda cristã; não vejo piedade e ortodoxia num governo brasileiro que teve o apoio da esquerda cristã para chegar ao poder e hoje luta para aprovar leis contra a família e o Evangelho. Não há piedade e ortodoxia numa esquerda cristã que apoiou um governo que agora quer amordaçar a boca de seus pregadores, enquanto essa mesma esquerda cristã não se empenha para denunciá-lo da mesma forma como outrora se empenhou com tanta veemência para colocá-lo no poder. 

Gostaria de encerrar esta reflexão retornando ao título deste meu texto. Adjetivos são palavras que modificam o substantivo, mas que também o diminuem. Uma casa pode ser maravilhosa, bela e sonhada da maneira que pudermos em nossa imaginação. Mas a casa amarela pode ser a mesma casa, mas já diminuída de todas as suas possibilidades. Já não pode ser tudo o que poderia para todos, porque o adjetivo limita. É hora de retirarmos quaisquer cascas de sobre o evangelho, pois seu primeiro anúncio se deu logo após a Queda narrada no terceiro capítulo de Gênesis, muito antes de quaisquer querelas de direita e esquerda. Criar adjetivos como "social", "integral", "holístico" só enfraquecem a novidade das boas novas. Pois o evangelho é supra-ideológico, a igreja é que muitas vezes se faz "intra" e "sub" ideológica (e tem pagado um alto preço por isso em todos esses séculos). É preciso que retiremos os adjetivos e retornemos com os genitivos dos textos do grego: o Evangelho do Reino de Deus. Este evangelho que poderá transformar a sociedade em todas as suas instâncias (política, econômica, social, moral, espiritual), não porque seja de direita ou de esquerda, mas porque está sobre e fora destas bandeirolas e, exatamente por isto, como faziam os profetas de antigamente, um Evangelho que está livre para proclamar o bem onde quer que este esteja e denunciar o mal de onde quer que ele venha.

Casal 20

23 outubro 2011

Trocar de denominação, o que é isso?


Por Luiz Fernando Ramos de Souza

não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia”. Hb. 10:25.

Uma das características da pós-modernidade é o desvinculamento total do homem. Este não finca mais raízes em lugar algum. Seus compromissos são consigo mesmo e seu bem estar. Essa tendência é uma marca dos nossos dias. O mundo, com essa tendência, entrou no arraial dos cristãos. Vemos um grande movimento migratório entre os cristãos. Quero salientar que isso é mundanismo. O cristão que seguir essa tendência está comprometendo sua lealdade a Cristo e Sua Obra. Muitos acham natural sairem de uma igreja e migrar para outra e de denominação diferente, mas não é. Creio que um dos motivos seja a insatisfação consigo mesmo. Daí a tendência em transferir para a igreja local essa insatisfação, achando assim um culpado para suas crises existências. Ao invés de buscarem um conserto com Deus e Sua Palavra, trocam de igreja achando que assim terãoá resolvido seus problemas de insatisfação. A tentativa de recomeçar em outro lugar traz consigo a sensação de novidade e parece gerar uma nova disposição em relação à causa de Deus. Só que esses sentimentos camuflam a realidade que está viva e latente no seu interior. Não é trocando de igreja várias vezes na vida que encontraremos aquilo que buscamos, mas permanecendo e revitalizando nosso pacto com o Senhor Jesus.

A troca só se justifica quando encontro pecado em minha congregação local, mesmo assim deveria lutar em oração para que Deus mudasse. Quando existe uma liderança intransigente a mudança é menos prejudicial ou quando mudo de endereço indo para outra cidade. Mas mudar de igreja sem um motivo sério e dentro da Palavra constitui-se em perda de vida. Há pouco tempo, conversando com uma ovelha de outra igreja, ouvi que este irmão sairia de sua igreja local porque sua esposa havia conhecido um grupo de senhoras de outra denominação e queira ir para lá. Indagado sobre o que deveria ser feito disse: irmão, vou citar Heb. 10:25. Então acrescentei: você está há mais de 10 anos em sua igreja e vai para outra denominação? Você abrirá mão de tudo o que aprendeu ao longo desses anos? É como se você dissesse que foi enganado, defraudado e que mentiram para você ao longo desses anos. Além do mais, disse, você dará um péssimo exemplo de liderança em sua casa. Sua mulher vai entender que pode manipular você quando quiser, e para isso basta pressioná-lo. Seus filhos saberão quem realmente é o chefe e o sacerdote da família. Você terá que se conformar com novas doutrinas e abandonar aquelas que você aprendeu e que já tem como verdadeiras. Que contradição! Sem falar que isso é contrário à vontade de Deus. Você poderá incorrer em pecado, pois, não está se preocupando com a vontade de Deus, mas somente com suas necessidades. Muitos mudam de igreja alegando que seus filhos não se adaptaram e para não perder os filhos precisam trocar de igreja. Fico me perguntando se agem assim com a escola secular ou quando compram uma casa nova em outro bairro? Essa peregrinação no meio evangélico somente traz prejuízo para todos. Ninguém consegue se firmar em congregação alguma, laços são desfeitos abruptamente e fica evidente que doutrina não importa para tais pessoas conquanto que elas tenham seus desejos atendidos. Pouco tempo atrás apresentou-se em nossa igreja uma família que vinha de uma igreja Presbiteriana. Pariticparam de uns 04 cultos e demonstraram desejo de se membrar na igreja. Perguntei-lhe de qual denominação vinham. Então lhes disse: Há 04 quarteirões de nossa igreja existe uma igreja Presbiteriana. Sugiro-lhe que frequente lá por um mês. Se não se adaptarem voltem e trataremos do assunto membresia. Voltaram para agradecer a indicação. Tinham se dado muito bem lá na outra igreja. Se houvesse de minha parte um desejo ardente por membros a qualquer custo, talvez tivesse impingido um fardo pesado sobre aquela família, pois, implicaria em trocar de denominação e assumir doutrinas que eles não conviviam.

Precisamos ser fortes diante dessas ondas de mundanismo. Precisamos repensar nosso compromisso com Deus, que se expressa na igreja local. Deus tem colocado pessoas em locais específicos com um propósito.

Antes de trocar de igreja/denominação tenha convicção que é vontade de Deus. Assim haverá glória para Seu Nome.

Soli Deo Gloria