"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

28 março 2010

Deus e o mal em Agostinho

 

Por Roberto Vargas Jr.*

Este artigo tem um duplo objetivo. Primeiro, ele é um resumo do livro A relação entre Deus e o mal segundo Santo Agostinho, de Joel Gracioso[1]. Na realidade, é um resumo da introdução, que em si já é um resumo do livro. Seu conteúdo é fruto da tese de mestrado do autor, e esta versa sobre o livro VII das Confissões. Depois é também uma nota, bem mais pessoal, de acordo com certas conversas alhures, sobre a afirmação de que o mal é a ausência de bem como se o mal não fosse real.

1. O resumo do livro
É interessante como a filosofia de Agostinho segue sua própria experiência. Assim, seria apropriado conhecer um pouco de sua biografia para entender muito do que ele diz. Mesmo aqui, o melhor seria explorar mais sua vida. Mas, de forma a evitar um longo resumo, basta informar que sua jornada inclui as fases materialista (do epicurismo ao maniqueísmo, passando também pela astrologia),  platônica (via Plotino) e, finalmente, cristã.

Filosofar, para Agostinho, é buscar a Felicidade. Ser feliz é conhecer a Verdade. Conhecer a Verdade é conhecer a Deus. Assim, a própria teoria do conhecimento agostiniana segue esta sua jornada autobiográfica, o materialismo correspondendo ao plano da exterioridade (sensibilidade, exterior), o platonismo atingindo a interioridade (inteligibilidade, interior) e o cristianismo transcendendo ao Absoluto pela Revelação (transcendência, superior). Em tudo a Providência é que possibilita que esta jornada chegue a termo. O caminho “é oferecido e direcionado por Deus e não pelo homem”. E é pela iluminação da Revelação que o homem pode transcender ao Absoluto, conhecendo a vida feliz!

Do mesmo modo, Agostinho resume sua vivência intelectual no livro VII das Confissões, percebendo nela o desenvolvimento de seus conceitos metafísicos, o que lhe permite traçar a relação entre Deus e o mal. Nos 8 capítulos iniciais mostra que “os princípios morais, lógicos e metafísicos do materialismo levam a conceber Deus como algo corpóreo e, por conseguinte, o mal como substância e fatalidade”. “Porém, isso não se sustenta de forma razoável aos olhos do hiponense”. É ainda o plano da exterioridade.

É só a partir do nono capítulo, com seu contato com o platonismo, que Agostinho passa a perceber uma metafísica satisfatória. Ainda haverá deficiências, porém, já interpretado com algumas noções cristãs, ele vê neste novo referencial moral, lógico e metafísico uma concepção  de Deus “como o ser, o criador, e o mal por sua vez passa a ser pensado como privação (corrupção, não-ser) e pecado (enquanto causa deficiente)”. Supera-se aqui o plano da exterioridade materialista (inferior), num primeiro momento pela introspecção (interior), mas  já em direção ao Absoluto (superior) pela metafísica platônica. Além disso, apresentando o pecado como perversão da vontade que deseja o inferior ao invés do superior, isso “ajudaria a responder o que é o mal e sua origem, mas não explicaria por que o praticamos nem  como superá-lo”.

Do capítulo 17 ao 21, a iluminação pela Revelação, finalmente, apresenta Deus “como o Verbo encarnado, mediador entre Deus e os homens” e “leva a pensar o mal como pecado, porém enquanto efeito, como penalidade do primeiro pecado, realidade da qual o homem sozinho não consegue se libertar”. Interessante notar aqui que Agostinho repete sua epistemologia em sua metafísica e pensa Deus “como a pátria da bem-aventurança, a beata uita cujo caminho é oferecido por ele mesmo, o Cristo divino em todas as suas dimensões”.

2. O mal como ausência de bem
Há, comumente, uma grande rejeição à noção agostiniana de mal como ausência de bem. Esta rejeição se deve em grande medida a uma má compreensão do que isto signifique. Entende-se a afirmação como se esta significasse que o mal não existisse, como se não fosse real. Na verdade, bom seria definir mais rigorosamente o que se quer dizer com “existir” ou “ser real”. Porém, fiquemos com o sentido dado pelo senso comum. A concepção agostiniana de mal não significa que o mal não seja real, neste sentido.

O ponto é que a afirmação de que o mal é a ausência de bem tem um sentido ontológico. Dizer isso é dizer que o mal é corrupção. Que um ente qualquer é algo aquém de sua essência. Tentemos exemplificar. Tudo que é, é bom enquanto é (isto é, quanto ao ser). O próprio bem é ser (ou o ser é bem simplesmente por ser). Então o homem é bom enquanto ser. E não fosse o pecado (isto é, o mal), ele seria a imago Dei perfeita, um Adão recém-criado ou como Cristo em sua humanidade. Porém, embora a imago Dei permaneça, ela é algo aquém de sua perfeição criada. E a imperfeição, bem real, é um afastamento essencial desta imago Dei em relação ao que ela deveria ser. Metafisicamente (ou ontologicamente), é um afastamento deste ser (deste ente) de seu modo de ser (sua essência). É bom enquanto é. Mas é mau enquanto se afasta do que deveria ser.

Assim é o mal, segundo esta concepção. Ele é bem real e sentimos em tudo seus efeitos. Mas ele não tem uma existência em si mesmo, ontologicamente falando. Estritamente, nenhum ente, exceto Deus, tem existência em si mesmo. Mas o ponto aqui é que o mal, para que o percebamos, depende do ser do ente que se afasta do seu modo de ser, sendo o mal este próprio afastamento e, mais propriamente, um não-ser. O mal não é, e este é o sentido de mal como ausência de bem.

O mal é visto por Agostinho, ontologicamente, como privação e pecado. Neste ponto, pecado significa a corrupção da vontade (queda/depravação). Mas ainda é necessário passar ao mal moral. Este é o pecado como efeito (ou penalidade). A vontade depravada leva o homem a escolher (deixemos as sutilezas quanto ao livre-arbítrio à parte neste momento, mas não esqueçamos da controvérsia entre Agostinho e Pelágio) e a buscar o inferior e não o superior, a criação e não Deus, a injustiça e não a santidade (cf. Rm).
Por fim, vale dizer que esta concepção em nada é antibíblica, isto é, em nada contraria a afirmação do mal conforme a Palavra. Ou ainda, em outros termos, dizer que o mal não existe ontologicamente não significa aquilo que entendemos comumente, isto é, pelo senso comum, como “não existir” ou “não ser real” [2].

SOLI DEO GLORIA!
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[1] GRACIOSO, Joel. A relação entre Deus e o mal segundo Santo Agostinho. São Paulo: Palavra e Prece, 2006.
[2] Como respondido a um amigo: “Sim, no sentido metafísico que Agostinho dá, tendo a aceitar esta afirmação de que o mal é ausência de bem. Porém, eu tendo também a acatar Dooyeweerd aqui, pelo menos em parte, e extrapolando Agostinho, ao falar de essência como ‘significado’”.

Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originalmente aqui 
 

20 março 2010

Senhor ou Escravo?













 
 
 Por Jorge Fernandes Isah
 
O homem não é senhor, nem jamais o será. O homem não é senhor sequer de si mesmo, e jamais o será. O homem só pode ser servo, e isso ele é, e sempre será. Resta saber a quem ele servirá, se a Deus, ou ao Diabo e o pecado.

Se alguém se propuser a dizer que controla a própria vida, bem... ele não é humano, mas o próprio deus. Ele deve fazer parte de algum clã divino que o “possibilita” a gerir a própria existência. Haverá um de nós que pode afirmar tal coisa?

Comecemos pelo nascimento... Alguém escolheu onde nascer? De quais pais nascer? O país, cidade e hospital? Alguém escolheu o próprio nome, sexo, o tipo sanguíneo, a cor dos olhos ou da pele? Qual seria a sua professora no maternal, ou se teria habilidade suficiente para ser um craque em squash? Alguém pode decidir, minimamente, sem ser influenciado pelos amigos, pelo sistema, pela mídia, pela moral? Até mesmo o imoral parte da pressuposição da moral para a sua imoralidade, ainda que não a compreenda, e se rebele contra ela.

É possível comprar-se um creme dental sem que haja qualquer influência em nossa decisão? Seja ela econômica, estética, odontológica? Ou mesmo que pudesse ser aleatória, o que não é (talvez pela proximidade do tubo; ou por estar na prateleira de baixo ao meu alcance; ou porque o repositor esqueceu-se e deixou apenas uma marca em estoque... Visto que a minha altura, a da prateleira, e a incompetência do estoquista não são casuais mas causais), ainda assim haveria uma motivação, uma influência para se colocar o creme dental no carrinho de compras, seja qual for. Pois a própria decisão de comprar o dentifrício já é desencadeada por alguma persuasão, por forças que sequer conhecemos ou entendemos.

Se levarmos esse exemplo para todas as decisões na vida, veremos que elas jamais deixam de sofrer uma influência externa, que se acomoda internamente, formando o que se chama de vontade, escolha, desejo; que, contudo, não é livre e independente.

É fácil perceber o desgoverno de nós em nós mesmos, e que muitos fatores levam-nos à optar pelo azul ao invés do vermelho, a ser advogado ao invés de lenhador, a ouvir Bach e não o MC bolinha. Temos, assim, debilitada a noção de liberdade que julgamos ter, e da qual não queremos abrir mão, ainda que ela seja intangível e se afaste cada vez mais de nós na medida em que a entendemos. E pode nos fazer servos de um ou de outro senhor, mas jamais nos fará senhores, nem das situações, nem das escolhas, nem de nossas vidas.

Basta olhar o nosso guarda-roupas ou a nossa discoteca para percebermos o quanto a nossa "vontade" é servil, subjugada, escravizada. Não há autonomia, e crer nela é o mesmo que dar um placebo a um tetraplégico, e esperar encontrá-lo no próximo domingo pulando na arquibancada do Mineirão. O homem vive de sonhos, e o maior sonho é fazer-se dono de si mesmo e da sua vontade. O que nos faz voltar à pergunta inicial: de quem sou servo? Visto que não há como ser senhor, pelo menos devo saber a quem me submeto.

Jesus Cristo, em Mt 6.24, diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom" (uma entre tantas divindades criada pela mente corrompida do homem). E questionado pelos fariseus, afirmou: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44); e ainda: aquele que me ama, fará a minha vontade. Portanto, a Bíblia confirma que temos um senhorio. Se de Cristo, a viver eternamente no Seu reino de glória; sem Cristo, a morrer eternamente para Deus, e para sempre ser castigado e lançado no inferno, onde o fogo não se extingue jamais.

Muitos dirão que Deus não existe. Apenas e tão somente o "poderoso acaso"; o qual aleatoriamente escolhe a morte para uns, a vida para outros, a miséria para um terceiro e a opulência para um quarto. O destino tornou-se o "deus" de milhares de homens durante a história da humanidade, e ele exerce uma força dominadora tão grande nas pessoas, que elas o ergueram ao pedestal de onisciência e soberania, como se nele houvesse inteligência, juízo, sabedoria, ou na pior das hipóteses, um poder caótico, desordenado; mas, ainda assim, capaz o suficiente para estabelecer diretrizes à vida.

Portanto os ateus não podem esquivar-se a refletir: “somos peões nas mãos de um enxadrista, mesmo que ele não conheça e entenda o ‘jogo’”. O que os faz servos do seu deus, mesmo que seja um deus estúpido, estouvado e inconsequente, que bata a cabeça em paredes, volte e bata novamente, ignorando o que seja parede e o que seja cabeça.

A Bíblia afirma que Satanás é o pai da mentira, que ele veio para roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ele gosta de confundir, de fazer as pessoas parecerem originais em sua soberba e vaidade. No fundo, como um rebelde ensandecido, pai do caos, e um mentor diligente, ele explora esse sentimento arraigado no homem caído, visando convencê-lo da inexistência de Deus e dele próprio, pois ao negar-se, ele nega o pecado, a queda e o Altíssimo. É uma tática surrada, de um velhaco, mas que surte efeito em mentes arrogantes e incautas, em corações endurecidos e rebeldes.

Elas buscam independência e autonomia utópicas, levando-as a abominarem toda e qualquer referência ao único e verdadeiro Senhor (O Deus bíblico), a fim de viverem uma pseudoliberdade, de deter uma pretensa autoridade, insana, vã; tornando-os em insurgentes, aptos a viverem absolutamente na dissolução e pecaminosidade, em nome de um aparente prazer e superioridade.

Mas você, prontamente, gritará uma outra opção: "EU SIRVO A MIM MESMO! NÃO QUERO SABER DE DEUS! SOU DONO DO MEU NARIZ, E FAÇO O QUE QUERO, QUANDO QUERO!”. Pergunto-lhe: como fazê-lo se não é senhor? E se a sua vontade está presa, sujeita ao pecado? No máximo, o que fizer será sob ordens, no domínio do seu superior, sob o comando e a serviço de outrem. Jesus diz: "em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34).

Não há meio termo, não há como conciliar e condescender. Rejeitar a Cristo e ao Evangelho é desprezar a Deus, é permanecer morto espiritualmente, e escravo da vontade do outro "senhor", o qual tem os dias contados, e um lugar de tormento reservado para ele e suas legiões de demônios.

A liberdade encontra-se exclusivamente em Jesus Cristo, o único capaz de quebrar os grilhões que nos mantêm aprisionados; pois Ele, em seu muito amor com que ama os seus servos, nos transporta do reino de dor, aflição, mentira e conceitos farsescos, para o reino de amor, verdade, paz e plenitude da Sua glória.

Como Paulo afirma (quando do retorno glorioso do Filho de Deus, como Rei dos reis, e Juiz do universo): “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai"(Flp 2.10-11).

Então, naquele dia, os homens que negaram a Deus e se mantiveram em insubordinação, Satanás e os anjos caídos (que na sua loucura pretenderam ser iguais ao Altíssimo), e aquele que crê, seja lá em que deus for, terá de se curvar, de quebrar a sua cerviz, porque estará diante do Senhor eterno e supremo; e a Sua glória o constrangerá de tal forma que somente haverá lamento e choro por causa de toda a insanidade e tolice do homem.

Ao afastar-se definitiva e eternamente de Deus, e vislumbrar a Sua glória das densas trevas (se possível for), trará apenas a desolação e a lembrança de uma vida inútil na terra... e a constatação de uma vivência aterrorizante, flageladora... por toda a eternidade. E onde estará o seu senhor? Aquele que o levou a se confrontar com a justiça de Deus, induziu-o ao erro de se considerar inocente, quando, ao praticar o crime de desprezar o Todo-Poderoso tornou-se condenado?... Estará ao seu lado, em indescritível tormento...

Concluo com a descrição libertadora de George Matherson:
"Faz-me um cativo Senhor e livre então serei;
Obriga-me à entrega a espada e serei um conquistador;
Nos alarmes da vida me afundo. Quando estou só;
Aprisiona-me em teus braços; e forte minha mão será" 
 
Cristo, o Deus misericordioso e gracioso, sujeite-o ao Seu senhorio, para o seu próprio e eterno bem. 
 

13 março 2010

O Único Sacrifício










Por Jorge Fernandes Isah

 Ao me converter, Deus colocou em meu coração o desejo de ler a Bíblia integralmente, começando por Gênesis, claro! Ao caminhar por suas páginas, descobri a soberania, a graça, o amor de Deus para com os homens, o que não O impediu de julgar povos, tribos e indivíduos rebeldes a Si. Contudo, ao atingir o livro de Levítico entristeci-me por todos aqueles sacrifícios (fruto da minha ignorância e imaturidade espirituais), e o que muitos julgam fazer parte do "mar de sangue" do Antigo Testamento (igualmente fruto da ignorância e cegueira espiritual alheias). Foi difícil lê-lo e entender o porquê de tudo aquilo, ainda que Deus já tivesse colocado no meu coração que aquelas páginas eram fruto da Sua sabedoria, e como tal, eu deveria crer na sua urgência.

Em Levítico, vemos a providência de Deus para o Seu povo, a misericórdia com que Ele nos deu o escape, ainda que para isso o Seu Filho Amado tivesse de padecer em nosso lugar, para não sermos condenados à perdição eterna. E esta é a maior prova do Seu amor.

Hoje, passados três anos, estou novamente lendo o terceiro livro da Bíblia, e maravilhando-me. Ao invés de provar a "crueldade", vejo a manifestação da graça e misericórdia de Deus. Em suas páginas, a descrição detalhada dos sacrifícios de animais a fim de que sacerdotes, indivíduos e o povo de Israel expiassem os pecados, levá-nos até a crucificação do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade Santa. O ritual de purificação era um prenúncio, um sinal, a indicar o que ocorreria quando o eterno Filho de Deus encarnasse, se fazendo homem igual a nós e, na cruz do Calvário, nos substituisse pagando os nossos pecados e reconciliando-nos com Deus [2Co 5.18-21]. O sangue dos animais ali derramado significava o sangue imaculado do Senhor que se verteria por nós. Aqueles animais, primogênitos e perfeitos em sua natureza (macho, sem manchas ou defeitos) anunciavam o Cristo, o unigênito Filho de Deus, perfeito e sem pecado [Hb 7.26], que por Seu muito amor, fez-se iniquidade para que os Seus eleitos fossem salvos.

Ao escolher o animal conforme Lv 1.2-3, o ofertante colocava a mão sobre a cabeça do animal, numa simbologia a qual o animal "recebia" os pecados dele, e então, era sacrificado, e os sacerdotes aspergiam o sangue da vítima em redor do altar para expiação dos pecados. Parece cruel e injusto um inocente, ainda que seja um animal, ser morto para que os pecados do homem fossem purgados... Mas não foi o que aconteceu com o Senhor? Sendo Deus, eterno, puro, santo e justo, Cristo fez-se como nós, e escolheu padecer na cruz para que tivéssemos a vida eterna [Fl 2.6-8]. Não é injusto?... Não! Pois assim aprouve a Deus fazer [Is 53.10]. Era necessário que a nossa iniquidade, os nossos pecados, a desobediência e a afronta a Ele fossem pagas. E como não fomos capazes de cumpri-la, Ele decidiu fazê-lo por nós [Jo 10.17]. Há algo mais maravilhoso? Saber que mesmo imerecidamente, ainda que sejamos iníquos, que não possuamos nada com o qual Deus se alegre, merecendo a condenação eterna no fogo do inferno, somos feitos justos por Ele, justificados eternamente pelo sangue derramado do Cordeiro no Calvário! Que Deus maravilhoso! Que grande libertação! Glória eterna ao Senhor!

As religiões pagãs sacrificam seus filhos. Milhões de bêbes foram mortos e ainda são em favor dos seus deuses; esposas foram sacrificadas juntamente com seus maridos mortos; virgens foram ofertadas para aplacar suas "iras"; velhos, doentes e aleijados encontraram a morte para afugentar os "maus espíritos" e as consequências de tudo o que eles representavam... Em meio as densas trevas que satanás impos a esses povos, eles continuaram e continuam sob a ira de Deus, e se tornaram apenas em assassinos frios e cruéis; pois a ignorância que os conservou não servirá de desculpa para os seus crimes diante do Tribunal de Cristo. 

Mas Deus não escolheu sacrifícios e sacrificados para Si [Hb 10.8]. Ele mesmo se fez sacrifício por nós, imolando-se a Si mesmo em favor dos Seus escolhidos. Ele não quis nada de nós, antes nos deu tudo. Não exigiu nada, e nem esperou que fóssemos capazes de atender a alguma exigência, pelo contrário, "E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" [Rm 8.30] ; capacitando-nos pelo Espírito Santo a crer, sermos fiéis, e instrumentos para a realização da Sua boa obra no mundo. Nem quis nossos corpos autoflagelados, nem autopenitentes, nem que "pagássemos promessas" a fim de agradá-lO, nem o cumprimento de qualquer ritual, nem peregrinações e romarias, nada, absolutamente nada! Porque? Simplesmente por que não há algo que possamos fazer que Cristo não fez. Nem há nada que agrade mais ao Pai que Cristo não tenha feito. Se Ele, o Filho Amado, cumpriu todas as exigências da justiça divina, como melhorar o que já é perfeito? Se pensamos em fazê-lo, desmerecemos a obra consumada do Senhor Jesus, e queremos nos fazer iguais a Ele, e estamos condenados, porque jamais alcançaremos a salvação por mérito próprio. Antes, devemos nos rejubilar pelo que o Senhor fez em nosso favor, quando éramos inimigos de Deus [Ef 2.5;Cl 1.21]. Os sacrifícios não são mais necessários [Hb 7.27], pois o próprio Deus se encarregou de fazê-lo em nosso lugar [Ef 5.2]. Cristo nos substituiu, pagando a dívida que tínhamos para com Deus e a Sua justiça. Somos livres, e estamos livres unicamente pela Sua graça e amor.

Se você, como eu no passado, não compreendia os sacrifícios de animais em Levítico, saiba que os pagãos o achariam simples em demasia para os seus padrões de impiedade, e saiba que isso é fruto da corrupção da alma; e de que somente através da obediência, da subserviência e da entrega total de nossas vidas ao Senhor, encontraremos finalmente a paz, reconciliando-nos com o Princípe da Paz [Is 9.6], Rei dos reis e Senhor dos senhores [1Tm 6.15]. Pois não é necessário mais nenhum sacrifício, porque Cristo é o único holocausto que satisfez a Deus [Hb 10.12]... agora há somente o gozo de saber que Ele jamais se lembrará dos meus pecados e iniquidades... e desfrutar da Sua glória e salvação eternas.

06 março 2010

Bíblico ou Antibíblico?
















Por Jorge Fernandes Isah


Explorei em vários textos os argumentos bíblicos acerca do amor de Deus. Pode-se lê-los Aqui, Aqui, Aqui e Aqui, dentre outros. Mas muitos não se convenceram da não existência do amor genérico, nem de que os réprobos estão eternamente privados do amor divino. [1]
Para os que consideram indistintamente o amor de Deus por suas criaturas, pergunto-lhes:
1) Deus amou ou ainda ama satanás e os anjos caídos?
2) Se, em algum momento, Deus os amou, sendo um dos seus atributos a imutabilidade, como explicar que Ele agora os odeia? E, porque não lhes deu a chance de arrependimento ao invés de lançá-los, inexoravelmente, no lago de fogo? [2]
3) Ou será que, desde o princípio, os odiou assim como odiou a Esaú antes mesmo dele fazer o mal?

Podemos refletir da seguinte forma:
1) Se Deus amou ao diabo antes [quando ainda era um querubim de luz], e agora o odeia, tanto que criou o Inferno para ele e seus demônios, onde serão atormentados por toda a eternidade [há de se entender que Deus será Aquele que executará o castigo prometido a eles e aos pecadores inconversos], podemos afirmar seguramente que Deus é mutável. Contudo, esse ensino é antibíblico, e, em momento algum, é validado pelas Escrituras.
2) Ao passo que, se Deus, desde antes da fundação do mundo, criou satanás com o nítido propósito de ser o que ele é, a Sua ira já estava sobre ele [muito antes dele existir], então, podemos afirmar seguramente que Deus é imutável, conforme todo o ensinamento bíblico assevera.

O que nos leva às conclusões:
1) Crer na possibilidade de Deus mudar a Sua disposição mental, de ontem amar e hoje odiar ou vice-versa, implicará na descrença da Escritura ou, no mínimo, a deficiência em sua leitura. Quem assim considera a Deus está em oposição à Sua palavra [ainda que transparecendo certa piedade], e a sua atitude é antibíblica.
2) O que crê na imutabilidade divina tem a sua consciência norteada pelas Escrituras, portanto, ela é bíblica.
3) Todo aquele que apelar ao amor fora das Escrituras, o faz antibiblicamente.
4) O que se conformar ao ensino escriturístico do amor, o faz biblicamente.
5) Quem descartar o ódio divino como uma manifestação da Sua justiça e providência, age antibiblicamente.
6) Quem o aceitar como a manifestação da justiça e providência divinas, age biblicamente.

Resta-nos uma última pergunta:
Quem você é?
Um cristão bíblico?
Ou suas premissas são antibiblicas, calcadas no humanismo?

Notas: [1] Uma boa discussão sobre o assunto foi travada no Tempora Mores, postado pelo presbítero Solano Portela.
[2] Vejam bem, em momento algum, questiono ou questionei qualquer decisão de Deus. Compreendo a Sua soberania [o que implica na independência e liberdade completa em Suas decisões] como algo mais que legítimo, algo fundamental e indispensável à ordem do universo, como reflexo da Sua autoridade e poder sobre tudo e todos sem distinção, quer se aceite ou não. Chego a dizer que se Ele, em Seu poder, me destinasse ao fogo eterno, ainda assim eu aceitaria a decisão como fruto da Sua sabedoria, santidade, justiça, perfeição, e amor para com os eleitos.
Portanto, essas perguntas são voltadas exatamente para aqueles que, a despeito de certa reverência e piedade, vivem a questionar exatamente aquilo que Deus revelou e nos deu a conhecer na sua palavra. Aceito as Escrituras assim como Ele a revelou, como palavra santa, inspirada, infalível, inerrante; pelo convencimento e entendimento dados pelo Espírito Santo, os quais, ainda que não me aprazem como pecador, reconheço e amo-a como a fiel mensagem divina aos Seus filhos e herdeiros em Cristo.