Por Alexandre Borges
“Knock-out game” é um perigoso passatempo
que está se espalhando rapidamente entre jovens das periferias
americanas e que consiste em chegar de surpresa numa pessoa que caminha
na rua e dar um soco tão forte que ela desmaie, caia apagada no chão. Em
pelo menos três estados americanos, há registro de mortes causadas pelo
tal jogo.
A polícia diz que até agora os agressores
são em geral negros e as vítimas, brancas. Muitos dos alvos são judeus,
o que levanta questões adicionais sobre a história de antissemitismo
disseminado em comunidades negras nos EUA por ativistas como Louis
Farrakhan há décadas. Judeus ortodoxos já estão sendo aconselhados a
tomar precauções extras de segurança. Alguns jovens chamam o jogo de
“Caçada ao Urso Polar” porque as vítimas preferenciais são brancas.
Há quem relacione o “knock-out game” ao
produto de entretenimento mais lucrativo da história, o recém-lançado
videogame Grand Theft Auto V, já que esse tipo de agressão é comum no jogo,
mas é claro que é muito mais do que isso e reduzir a discussão ao GTA é
fugir da raiz do problema. O “knock-out game” é um problema que, se
você ignora, pode um dia se transformar literalmente num soco na cara.
A imprensa, para não variar, chama seus
“especialistas” para culpar tudo que possa ser relacionado com
distribuição de renda ou com uma demonstração de “macheza”, como se
fosse natural aos homens sair agredindo qualquer pessoa aleatoriamente
nas ruas. A covardia dos ataques, como a que atingiu uma mulher de 78
anos outro dia, é tudo menos demonstração de coragem ou força, é
exatamente o contrário.
O que chama atenção também, neste caso, é
o silêncio dos ativistas de sempre e do presidente Barack Obama, tão
ávidos para enxergar racismo na morte de Trayvon Martin,
tese desmontada pela justiça, mas que não se mostraram interessados até
agora pelo “knock-out game” e suas vítimas. O silêncio deve durar até
que haja uma morte do lado dos agressores, já que, evidentemente, um dia
algum americano branco usará uma arma legal para se defender e a
esquerda americana terá um novo Trayvon Martin para faturar
politicamente em cima.
Outra característica do “knock-out game” é
que os jovens não roubam depois que as vítimas caem no chão apagadas,
eles apenas saem rindo, saltitando e comemorando cada ataque – o que
também desmonta a tese de que estão perturbados, fora do juízo perfeito
pela “opressão” da sociedade racista, quando para eles é claramente um
jogo.
Há um fenômeno social muito mais sério e
grave acontecendo e que, com raras exceções, não é dada a devida
atenção: o número de homens adultos que estão fora da força de trabalho,
muitos morando com os pais, e que simplesmente desistiram de buscar
emprego ou entrar no mercado. Alguns vivem de bicos, outros dormem de
dia e passam a noite jogando videogames, outros fazem serviços
temporários apenas para juntar dinheiro extra para as drogas e algum
lazer, mas há um grave e perverso componente no comportamento desses
homens que não formam famílias, não criam filhos, não buscam realização
profissional, nada além de prazer e diversão que o cheque da assistência
social do estado ao menos em parte garante todo mês.
Nos EUA, segundo dados do próprio
governo, 92 milhões de adultos, um em cada três, não estão trabalhando
ou desistiram de procurar emprego. É o nível percentual de adultos
trabalhando mais baixo desde 1978, quando outro radical de esquerda,
Jimmy Carter, ocupava a Casa Branca. O número de empregos criados no
país atualmente não é suficiente nem para dar conta do crescimento
populacional, quanto mais incorporar desempregados ao mercado de
trabalho. O número de americanos recebendo algum tipo de assistência do
governo recentemente rompeu a barreira de 100 milhões.
Sem querer entrar numa discussão
estereotipada ou superficial sobre o papel dos homens no século XXI, é
preciso refletir sobre o que o jornalista econômico Charles Payne
quis dizer com a idéia de que “o welfare state está criando o eunuco
moderno, castrado na alma por ter perdido seu papel como formador de
família, de tomador de riscos e de líder”. Esses jovens que batem em
avós distraídas nas ruas e depois saem rindo não tem qualquer idéia do
que até bem pouco tempo se entendia por ser um homem.
O welfare state dispensa a necessidade da
família tradicional por motivações puramente ideológicas e está usando
dinheiro público para isso. Onde se tinha historicamente dois adultos
somando esforços para conseguir pagar o orçamento doméstico e educar os
filhos, agora entra o estado substituindo um deles. Para quem acha que
isso é consequência de crises recentes e não causa, quando o movimento
progressista chegou ao poder nos EUA, há mais de um século, o presidente
Woodrow Wilson já dizia que cada cidadão deveria “se casar” com o
estado.
Ano passado, o caso de Angel Adams, 38
anos, moradora de Tampa, na Flórida, mãe de 15 crianças de três pais
diferentes, ficou famoso nos EUA quando seus filhos foram encontrados em
condições insalubres e ela, ao ser entrevistada, disse “alguém tem que
ser responsável pelas minhas crianças”. Ela recebeu do governo casa
mobiliada, eletrodomésticos, além de comida e da ajuda dos vizinhos e,
mesmo assim, seus filhos continuam mal cuidados enquanto ela acha que é
tudo culpa dos outros, incluindo do governo, menos dela. Em 2013, nasceu
o décimo sexto filho de Angel Adams, chamada por alguns analistas de
“welfare mom”, já que ela simboliza de maneira dramática a idéia de que
você não é responsável nem pelos filhos que coloca no mundo.
Enquanto Angel Adams tem novos filhos, o
campeonato brasileiro de futebol foi vencido esse ano, com folga e por
antecipação, pelo Cruzeiro Esporte Clube de Belo Horizonte. Um detalhe
que passou despercebido por parte da imprensa: o Cruzeiro é o time com
mais jogadores casados que disputou o título. Durante o ano, nenhuma
orgia registrada, nenhum hotel quebrado, nenhum flagra com “modelo e
manequim” fazendo barraco em casa noturna. Coincidência?
Para Payne, é preciso analisar as
consequências de se ter milhões de adultos saudáveis, pagos pelo governo
para não trabalhar e não cuidar de eventuais filhos nascidos em
relações fortuitas, que passam o dia sentados na porta de casa ou
parados nas esquinas esperando o tempo passar. Um dado perturbador que
Payne também cita: há cinquenta anos, o problema de saúde que liderava
as aposentadorias por invalidez nos EUA era “doença cardíaca” e hoje é
“dor nas costas”. Payne afirma que hoje basta um jovem saudável e forte
dizer ao governo que está com dor nas costas para passar a viver de
mesada de programas assistenciais do governo.
O Brasil também conhece o fenômeno, ao
qual deu o nome de geração “nem nem” (nem trabalha, nem estuda). Nos
últimos dez anos, o número de brasileiros de 17 a 22 anos que nem
estudam e nem trabalham passou de 23,9% para 26,6% segundo o IBGE. E o
que eles fazem o dia inteiro para preencher o tempo é um problema social
que o welfare state só agrava.
Na Suécia, uma espécie de paraíso
ficcional criado pela esquerda, os estupros saíram do controle. O
país-símbolo do welfare state e do politicamente correto, segundo alguns
levantamentos, está se tornando a capital mundial dos estupros,
rivalizando em números apenas com a África do Sul. Se considerarmos o
IDH do país e os programas assistenciais mais perdulários que se tem
notícia, a comparação levanta questões morais e sociológicas que
evidentemente não interessa à esquerda discutir. Na Suécia, até
pré-adolescentes são vítimas comuns de estupros de jovens cada vez mais
acomodados com os gordos cheques governamentais e sem qualquer motivação
para buscar um emprego formal.
Os números de estupros registrados na
Suécia continuam crescendo e um terço deles têm como vítimas mulheres
abaixo dos 15 anos de idade (por favor não me venham a conversa de que
há um excesso de registros feitos por ex-namoradas enciumadas, como
alguns especularam quando esses números apareceram, as discussões
metodológicas não mudam o fato de que os números são altíssimos e com
viés de alta).
Recentemente, a imprensa mundial fez
festa com o fato de que a Suécia estaria fechando presídios por falta de
presos, mas o que os jornais não parecem interessados em mostrar é que
prender menos não significa menos crimes, especialmente num país
mergulhado numa espiral psicótica de teorias sociais esquerdistas em que
o crime não pode mais ser chamado de crime. Agora você entende porque
quando uma vítima nutre afeição e passa a defender o agressor chamamos
de “Síndrome de Estocolmo”, numa referência direta a um sequestro
ocorrido na capital sueca em 1973.
É importante que se entenda que nem todo
país com alto índice de desemprego é vítima de “knockout games” ou
estupros em série. É preciso também que o trabalho seja demonizado, é
necessário que se crie via universidades, cultura pop e imprensa a idéia
marxista de que a atividade remunerada na economia de mercado é algo
perverso, opressor, que a inserção na força de trabalho é uma espécie de
escravidão dos dias de hoje. É preciso também um ambiente hedonista e
niilista que leve à busca desenfreada do prazer inconsequente, de
preferência subsidiado pelo governo, o que para quem está numa idade de
hormônios à flor da pele é um convite quase irresistível.
Em “Vai Trabalhar, Vagabundo”, Chico
Buarque resume a idéia da esquerda sobre o trabalho numa sociedade de
livre mercado: “Prepara o teu documento / Carimba o teu coração / Não
perde nem um momento / Perde a razão / Pode esquecer a mulata / Pode
esquecer o bilhar / Pode apertar a gravata / Vai te enforcar / Vai te
entregar / Vai te estragar / Vai trabalhar.” O trabalho é, na visão de
um ícone da esquerda brasileira, uma derrota para o sistema e a morte do
prazer. Em 2013, o filme “Vai Trabalhar, Vagabundo”, com Hugo Carvana
no papel principal, faz quarenta anos e hoje somos liderados na
política, na cultura e das universidades, por pessoas que foram educadas
na juventude com essas idéias. O resultado está aí.
Há poucas semanas, Glenn Beck disse que a
ansiedade que se vê nos jovens hoje é porque exigimos pouco deles, eles
não são desafiados, não são testados, estamos sempre mimando,
negligenciando e perdoando a nova geração. Beck disse “dê um pé na bunda
do seu filho” e a imprensa tirou a frase do contexto de propósito para
criar uma narrativa de que ele estava incitando a violência infantil,
com a desonestidade intelectual de sempre. Qualquer pessoa que conheça o
pronunciamento original de Beck sabe perfeitamente o que ele quis dizer.
Em resumo: jovem que trabalha ou que quer
trabalhar, que pensa em formar uma família, que sonha em vencer
profissionalmente, não soca idosas por trás apenas para preencher o
tempo livre e remunerado pelo governo. Como disse Ronald Reagan, o
melhor programa social que existe é o trabalho.