"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

30 outubro 2009

NEM UM NEM OUTRO... É POSSÍVEL?





Por Jorge Fernandes Isah



Há um grupo de teólogos e discípulos que se diz nem arminiano nem calvinista, e se considera fora do escopo de qualquer dessas linhas teológicas. Levando-se em conta que, ou se glorifica a Deus crendo na Sua plena e total soberania (o que não pode ser uma soberania compartilhada), ou no homem e sua suposta liberdade, mesmo que seja de forma parcial; não há outra definição: ou se é calvinista ou arminiano, não existe outra classificação, apenas variações do mesmo princípio, ou como popularmente se diz, variações do mesmo tema.
O “novo” teólogo sequer estudou minimante os dois sistemas, e diz discordar mais pelo que não leu do que pelo efetivamente leu a respeito. Ainda assim, está convicto de não pertencer nem a um nem a outro grupo. Mas qual a base para afirmação tão inconsistente? A incoerência é uma delas. A soberba, outra. A vaidade exclusivista complementa o quadro, aliada à fraude. Porque assumir-se arminiano ou calvinista apenas o tornará mais um entre tantos, ao passo que afastar-se de ambos o colocará em uma posição aparentemente destacada, pelo menos aos olhos dos incautos e ignorantes. Alardear os erros alheios é mais fácil de se encobrir os próprios erros, e essa é a cortina de retalhos que utilizam para dissimular o próprio dolo.
O calvinismo está calcado em 5 pontos1:
1) Total Depravação;
2) Eleição Incondicional;
3) Expiação Limitada;
4) Graça Irresistível;
5) Perseverança dos Santos.
Se há discordância em apenas um dos pontos não se é calvinista, é-se arminiano (acho que foi McGregor Wright em seu “A Soberania Banida”2 que disse: o calvinista de 04 pontos é um arminiano inconsistente).
O que pode acontecer é do “arminiano inconsistente” não assumir a pecha de arminiano. Agindo assim, ele não abdicará do seu “exclusivismo”, e poderá atirar pedras no telhado alheio, tanto de um como do outro, sem se ver comprometido. Estará livre para criticar a tudo e todos sem qualquer base bíblica, coerente e lógica, pois seus fundamentos são exclusivamente pecaminosos (interesses a serviço do pecado).
É cômodo jogar com as pessoas, com as idéias, e manter-se distante num estado de expectação acintosa, tal qual o pirotécnico ateia faísca à lona e vê o "circo pegar fogo". Como se fosse um deus, colocar-se acima do bem e do mal, impondo regras e normas que ele mesmo recusa, enquanto observa seus subalternos debaterem-se esterilmente.
A principal forma de se conseguir isso é acusar de erro, indistintamente, toda e qualquer pessoa ou grupo que não pactue 100% com seus ideais (os quais nem ele mesmo sabe quais são, e por definição, o que há é apenas a rejeição aos conceitos alheios), e rechaçá-los totalmente. A obediência cega é o seu alicerce (ainda que fincada na areia), depois a edifica com paus, palha e feno, os quais são: forjar fatos, distorcer conceitos, subverter a verdade. Cabe-nos a defesa da fé, e refutar qualquer posição arrogantemente tola e descabida; e distinguir os fundamentos bíblicos dos espiritual e humanamente falhos.
Uma coisa é ser ignorante, desconhecer a doutrina cristã, outra é a desonestidade em que alguns se colocam como sábios mas são loucos, enredados pelo próprio desejo de serem admirados e venerados pelos homens por suas posições e atitudes pretensamente livres de qualquer influência (por si só, uma máxima arminiana). Eles enganam e iludem para manterem-se intocados, e suas idéias rotas e desvairadas permanecerem de pé, mesmo que não passem de um cadáver preso à parede por longos rebites.
Ao desprezar todos os sistemas, crêem descobrir a “roda”, quando o que fazem é repetir o erro de muitos teólogos que viveram séculos antes dele. Mas o pior é manter presos à ignorância uma legião de “súditos” devotados e cegos. Por isso, não querem se aprofundar na questão, nem entendê-la, basta deixar tudo do jeito que está, porque assim é mais fácil controlar e manter domesticado o rebanho de ovelhas perdidas.
Então, não nos iludamos com a pretensa sabedoria desses homens, pois eles são obscuros e querem manter nas trevas o maior número possível de pessoas. Para elas, infelizmente, manter-se-ão cativas mesmo na morte... eterna.

1- Para maior explicação dos pontos, ler texto em http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/joao_calvino_5pontos_silverio.htm
2- O comentário ao livro A Soberania Banida pode ser lido em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/05/soberania-banida.html e AQUI
3- O fato de considerar o arminianismo heresia não implica na perdição de todos. Creio que há arminianos sinceros, mas errados doutrinariamente. Até porque a salvação é inteiramente de Deus, e Ele escolhe quem será salvo ou não.

Texto publicado originalmente no blog Kálamos.


23 outubro 2009

Algumas Coisas que os Não-calvinistas Deveriam Saber sobre o Calvinismo


Por Colin Maxwell*

Esta é uma tentativa de corrigir alguns dos mal-entendidos sobre o Calvinismo. Isto não pretende ser uma defesa doutrinária detalhada das Doutrinas da Graça.

1) Calvinismo e Hiper-calvinismo são pólos opostos. Os termos não devem ser usados como sinônimos. Um hiper-calvinista não é apenas um calvinista zeloso. Ambos consideram o outro como calvinistas “mistos”. Ninguém chama a si mesmo de hiper-calvinista.
2) Sim, os calvinistas se dividem em várias facções. Mas existem muitas escolas doutrinárias, e.g. Dispensacionalismo, Governo da Igreja, Adoração… nós cantamos somente Salmos ou usamos hinos? Quais hinos? Nós usamos música? Qual música? Com que conjunto de textos nós baseamos nossa tradução da Bíblia? É o Textus Receptus que é importante ou a (KJV) AV ? Ou ambos? Etc.
3) O termo livre-arbítrio precisa ser definido para evitar confusão. Calvinistas poderão afirmá-lo ou negá-lo, dependendo do que eles acham que você quis dizer… Isto algumas vezes leva a acusações de contradição. Consulte as Confissões Calvinistas padrão, e.g. a Confissão de Fé de Westminster, capítulo 9, para uma definição de termos.
4) O termo livre agência não é automaticamente o mesmo que livre-arbítrio quando usado por um calvinista. Ele é o termo calvinista preferido para livre-arbítrio. Preferido de forma a evitar a confusão tratada no ponto acima.
5) Calvinistas acreditam na responsabilidade do homem, mas negam sua capacidade de arrepender-se e crer no Evangelho. Os dois termos não são sinônimos. Calvinistas crêem que a incapacidade do homem de arrepender-se e crer é causada por seu próprio pecado, e a sua incapacidade não anula a sua responsabilidade.
6) Calvinistas não acreditam que os homens são fantoches, bonecos de madeira ou robôs, mas seres responsáveis e tratados assim por Deus, mesmo quando decaídos.
7) Calvinistas não são fatalistas. Calvinistas acreditam que Deus ordenou o fim e também os meios para este fim. Portanto, eles crêem no evangelismo como o meio que Deus usa para cumprir sua intenção de salvar os eleitos. Não é verdadeiro dizer que os calvinistas acreditam que Deus salva homens sem o Evangelho. Calvinistas acreditam em oração.
8) Calvinistas acreditam que é obrigação dos homens arrependerem-se e crerem no Evangelho. Esta é um de nossas disputas com alguns hiper-calvinistas.
9) Calvinistas acreditam que o Evangelho deve (para citar Calvino) ser pregado indiscriminadamente aos eleitos e réprobos (Comentário de Isaías 54:13), visto que não sabemos quem são eles, mas somente Deus.
10) Calvinistas não limitam o valor ou mérito ou dignidade do sangue de Cristo. Eles limitam a intenção do sangue para salvar qualquer um além dos eleitos. Nós estamos satisfeitos o bastante (como estava João Calvino) com a afirmação de que o sangue de Cristo é suficiente para o mundo inteiro, mas eficiente somente para os eleitos.
11) Calvinistas não pregam apenas os Cinco Ponttos e nada mais. Pelo menos não mais que Dispensacionalistas que pregam apenas sobre profecias ou Pentecostais que só pregam sobre os dons do Espírito, etc.
12) Calvinistas não lêem os Cinco Pontos em todos os textos da Escritura. Muitos dos maiores comentários bíblicos, amados e valorizados por todos os cristãos (e.g, Mattew Henry) foram escritos por calvinistas.
13) Calvinistas acreditam que os homens podem resistir ao Espírito Santo. Eles acreditam que mesmo os eleitos podem resistir ao Espírito Santo, e o fazem… mas somente até o momento em que o Espírito regenera seus corações de forma que não resistam mais a Ele. Os não-eleitos efetivamente resistem a ele por toda a vida.
14) Calvinistas não acreditam que todos os homens são levados se debatendo e gritando irresistivelmente a Cristo. Nós acreditamos na graça irresistível. A vontade não é ignorada na salvação. Nenhum homem vem a Cristo involuntariamente, ou se lamenta por ter sido trazido.
15) Calvinistas não acreditam que existam almas lá fora que querem ser salvas, mas não podem ser salvas porque não são eleitas.
16) Calvinistas, sem ter acesso ao Livro da Vida do Cordeiro, vêem todo homem como potencialmente eleito e pregam o evangelho a ele.
17) Calvinistas acreditam na eleição incondicional mas eles não acreditam na salvação incondicional. A não ser que o homem nasça de novo, ele não entrará no Reino dos céus (João 3:3). A não ser que ele se arrependa, ele perecerá (Lucas 13:3). A não ser que seja convertido, etc… todas estas são condições da salvação.
18) Calvinistas acreditam que a regeneração precede a fé em Cristo. Nós não confundimos o termo regeneração com justificação ou salvação. O Espírito de Deus regenera o pecador eleito capacitando-o a abandonar seu pecado e voluntariamente abraçar a Cristo e então ser justificado pela fé e salvo pela eternidade. Regeneração, portanto, não é sinônimo de justificação ou salvação assim como convicação de pecado não é sinônimo de conversão a Cristo.
19) Perseverança dos santos não significa que os calvinistas crêem que eles podem levar sua querida vida sem qualquer referência a observar o poder de Deus. Isto simplesmente significa que nós cremos que os cristãos provarão ser vencedores, de acordo com 1 João 5:4-5, etc…
20) Alguns calvinistas usam a frase redenção particular em oposição à expiação limitada porque eles podem ver como a posição da redenção geral também limita a expiação, embora de uma forma diferente, isto é, ela não realiza a tudo que se pretende.
21) Calvinistas não acreditam que João Calvino era infalível… não mais que Metodistas acreditam que João Wesley foi infalível ou Dispensacionalistas dão a Schofield ou John Darby a palavra final.
22) Embora os calvinistas creiam que a graça salvadora e o arrependimento são dons de Deus, dados somente a seus eleitos, eles não crêem que Deus exercita a fé por eles ou arrepende-se por eles. O pecador eleito, capacitado pelo poder de Deus, realmente se arrepende e crê por si mesmo.
23) Embora possa não haver um meio-termo real entre a posição calvinista e aquela dos não-calvinistas, ainda assim muitos calvinistas acreditam que os dois lados realmente pregam o Evangelho. Apesar de nossas diferenças em muitos dos detalhes, um homem que prega que Cristo morreu pelos ímpios e que a obra foi suficiente para salvar aquele que se arrepende e crê está realmente pregando o Evangelho. Nós nos regozijamos na pregação do Evangelho de John Wesley tanto quanto na de George Whitefield, apesar de (naturalmente) considerarmos Whitefield um teólogo melhor.
24) Não há nenhuma contradição ou paradoxo entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Em nenhum lugar a Escritura diz que o homem é responsável porque ele é livre, ou seja, a afirmação de que a responsabilidade pressupõe a liberdade é uma falácia. Pelo contrário, a Escritura ensina que o homem é responsável porque Deus, que é soberano, o considerada assim. Além do mais, Paulo, em Romanos 1, afirma que é o conhecimento inato do homem que o torna responsável pelos seus atos, e não a sua suposta liberdade. Isso está de acordo com o que Jesus diz em João 9:41: “Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado”.
25) Embora os calvinistas creiam que até mesmo atos pecaminosos são ordenados por Deus (Efésios 1:11/Provérbios 16:4), isso não faz de Deus o autor do pecado. Concordamos com o Dr. Clark, que ao escrever seu livro sobre o problema do mal, disse: “Deus não é o autor deste livro, como os arminianos seriam os primeiros a admitir; mas ele é a causa última dele, como a Bíblia ensina. Todavia, eu sou o autor. Autoridade, portanto, é um tipo de causa, mas há outros tipos. O autor de um livro é a sua causa imediata; Deus é a sua causa última… Deus não comete mais pecado do que ele está escrevendo essas palavras”.
Então, aqui está. Eu não espero que esta lista realmente convença alguém da verdade da posição calvinista. Isto não intenta ser uma defesa doutrinária do Calvinismo. Eu dei poucas referências porque queria manter curto e de fácil acesso. As confissões calvinistas padrão (isto é, a Confissão de Fé de Westminster, etc.) devem ser consultadas para afirmações definitivas. O Dictionary of Theological Terms (Rev. Alan Cairus) é uma ferramenta inestimável. Espero que esclareça mais que alguns poucos mal-entendidos. É desanimador ao extremo ver uma caricatura de sua fé ridicularizada. Talvez alguém do outro lado da batalha (não-calvinistas) possa esforçar-se e esclarecer alguns mal-entendidos que os calvinistas porventura tenham.

* 1- Texto gentilmente cedido pelo irmão Marcos Sampaio, tutor do blog "Fé Reformada", onde poder-se-á ler a postagem original.
2- A foto acima não faz parte do texto original.

16 outubro 2009

F1 e a Soberania de Deus*









Por Jorge Fernandes

O último GP Brasil de Formula 1, trouxe-me a seguinte reflexão:
Diante do final surpreendente da corrida, culminando com Lewis campeão e Felipe quase, como se deu a ação de Deus?

Relembrando: Para o inglês ter o título, era necessário que terminasse em 5º lugar, independente da posição ocupada pelo brasileiro, 2º colocado no Mundial (não se pode esquecer do tempo instável em SP. Durante a prova houve momentos de chuva, o que modificou o desempenho de pilotos e carros). Faltando três voltas para o final, Lewis estava com a taça na mão quando o alemão Sebastian Vettel ultrapassou-o. Hamilton foi deslocado para o sexto lugar, e o Mundial passava às mãos do brasileiro, que ocupou a liderança durante toda a prova. Esta combinação dava:

Massa em 1º lugar;
Hamilton em 6º lugar;
Campeão: Felipe Massa

Quando tudo parecia resolvido, a pouco mais de 500 metros do fim da prova, Vettel e Hamilton ultrapassaram o alemão Timo Glock que ocupava o 4º lugar. Numa reviravolta inesperada, o inglês voltou a ocupar o 5º posto e, após a bandeirada, tornou-se o mais jovem campeão mundial, aos 23 anos e 9 meses. Aconteceu a combinação necessária:

Massa em 1º lugar;
Hamilton em 5º lugar;
Campeão: Lewis Hamilton.

Como fica a soberania de Deus numa prova em que o resultado foi alterado duas vezes, em questão de minutos?

Pode-se analisar o fato de algumas formas:
a) Deus não está nem aí para F1. O que definiu o campeonato foi o trabalho das equipes e dos pilotos.
b) Deus deu a vitória ao inglês.
c) Deus fez Massa perder.
d) A sorte ou acaso foi quem determinou o vencedor.

A Bíblia é clara em afirmar que Deus é soberano. Que tudo está sob o Seu controle, e nada pode escapar-lhE das mãos (Sl 10.14, 24.1, 115.3, 148.5; Rm 13.1; 1Co 10.26): “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” (Jó 42.2).
Você pode perguntar: o que tem Deus a ver com a F1?

Como soberano, Deus não pode ter controle apenas sobre algumas coisas, como as chuvas, secas, o nascer da erva, o trazer a neve e a geada (Sl 147.8-18), mas sobre tudo, absolutamente tudo: “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (Mt 10.29-30). Portanto, todo o universo está sob o constante olhar do Senhor, e o Seu reino domina sobre tudo (Sl 103.19).

Por que a Fórmula 1 (por mais insignificante que seja) seria deixada ao “acaso” por Ele?

Primeiro, porque não existe acaso. Esse é o típico jargão usado por aquele que não quer honrar a Deus, pelo contrário, quer desprezá-lO ou ignorá-lO. O tolo, que não O conhece, esconde-se neste tipo de artifício mental para revelar o que existe em seu coração: completa e total descrença, total e completa rebeldia a Deus.

Segundo, Deus zela por Sua glória, e jamais permitirá que ela seja transferida a quem quer que seja (Is 48.11), ainda que à inexeqüível e improvável sorte: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei” (Is 42.8). Paulo disse de Deus: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm 11.36). Então, não há porque o Senhor negligenciar uma simples disputa numa curva no GP Brasil. Mesmo que jamais houvesse uma corrida em Interlagos, o autódromo seria alvo da soberania de Deus. Ele está ali com um propósito: glorificá-lO!

Mas como Deus pode ser glorificado por uma pista asfaltada?... Voltemos à corrida.

As chances de Lewis ser campeão eram maiores do que as de Massa. Isto é probabilidade matemática. Eram de 5 x 1 a favor do inglês. Alguns dirão que as chances de Massa eram maiores, pois havia vinte carros na prova e Lewis poderia terminar do 6º ao 20º lugar, o que daria a vitória a Felipe se terminasse em 1º, 2º ou 3º lugares, dependendo da colocação do inglês. Hamilton poderia sofrer um acidente (a torcida do Galvão Bueno e seus colegas chegaram à morbidez, ou seria sordidez?), ser desclassificado, ter uma “pane seca”, ou outro incidente que o fizesse abandonar a disputa. Mas, diante da capacidade de Lewis e da Mclaren durante a temporada, era pouco provável que isso acontecesse. Por isso, chega-se à conclusão de que as chances de vitória de Hamilton eram maiores do que as do Felipe; ele dependia apenas de si mesmo e do seu equipamento. Mas havia a chuva, o calor, as trocas de pneus, os reabastecimentos, e toda a parafernália que controlava o carro, que poderia falhar. Além do quê, Lewis poderia sofrer um mal-estar, uma tonteira, vertigem, queda de pressão, afetando o seu desempenho. Se verificarmos, cuidadosamente, são muitas as variantes que interferem no resultado. E pode o “acaso” cuidar de todas ao mesmo tempo? E, aleatoriamente, provocar um resultado que não desejou? Pode a sorte desejar, ou não desejar? Se cremos que pode, fazemo-la o nosso deus!... Porém, diz o Senhor: “Eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Is 46.9-10).

A maioria dirá que o campeonato foi decidido pelo talento, esforço e capacidade do inglês. É verdade. Ele é hábil e treinado para dirigir um F1 como somente os melhores pilotos podem fazê-lo. Este é um talento que Deus lhe deu, a fim de se cumprir a Sua eterna vontade. Provavelmente, se eu treinar a vida inteira e for colocado no cockpit da Ferrari ou Mclaren não dará em nada. Apenas prejuízos para a equipe, para mim mesmo, para os outros pilotos... e o público, que veria um “roda-dura” imbatível (desculpem o trocadilho infame).

Então, é claro que Lewis fez por merecer a vitória. Mas Massa também não mereceria? Ambos não são grandes pilotos, estão em equipes de ponta, cercados da melhor tecnologia e patrocínios disponíveis? Por que a F1 não terminou empatada?... Porque não foi esta a vontade de Deus (Dn 4.35). Ele quis que houvesse um campeão: o inglês Lewis Hamilton. Por quê? Apenas posso responder que essa foi a Sua santa vontade, e que ela aconteceu como Ele havia decretado eternamente (mesmo os vários critérios de desempate presentes no regulamento da competição estão ali segundo o propósito divino). E ao cumprir-se, Ele foi glorificado. Alguém pode dizer: “bem, quem lhe garante que não foi o diabo que deu a vitória ao inglês?”. Eu lhe digo que, ainda assim, a soberania de Deus permanece intocável, pois Satanás é um servo dEle, e não é livre para fazer o que quiser, mas tem a sua vontade subordinada ao Senhor (Jó 1.12; 2.6). Assim como todas as criaturas do universo, justas ou não, puras ou não, servem aos propósitos de Deus. Mesmo que o diabo tenha dado a vitória a Lewis, não o fez sem que a vontade do Senhor estivesse manifesta. Não uma mera constatação, como o pai que após anos tentando fazer do filho um craque de futebol percebe enfim que ele não passa de um perna-de-pau. Algo completamente alheio à sua vontade; que apesar do esforço, do investimento em tempo e dinheiro, vê cair por terra os seus intentos. Deus não é um expectador que se surpreende com o final do filme. Como roteirista e diretor é Ele quem determina como será o final. E nada, nem ninguém, seja eu, você, ou o próprio diabo, poderá frustrá-lO.

Ao lembrar-me das vitórias do Airton Sena (quando eu era um descrente), não me aflige mais a antipatia que nutria por ele. Sei que cada pole-position, cada volta rápida, cada pódio e campeonato foram traçados e planejados meticulosamente por Deus, e cumpridos ao seu tempo. Resta-me apenas render-me à Sua soberania, sabendo que “o caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; é um escudo para todos os que nele confiam” (Sl 18.30).

Na F1, seja com a vitória do Massa, Lewis, Kubrica, Alonso ou outro piloto, Deus está no controle, tudo foi criado por Ele, Seus propósitos cumprem-se e cumprir-se-ão infalivelmente, e nada foge-lhE ou contraria a vontade. Seja na alegria de uns ou na tristeza de outros, sabeis “que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele” (Dt 4.35).

*Nota: Escrevi este texto há quase um ano, quando da decisão do título mundial de 2008. Como estamos próximos de um novo "Gran Prix Brasil de F1", decidi republicá-lo.

Publicado originalmente no blog Kálamos

11 outubro 2009

Dagg Estava Certo?








Por Gregory A.Wills [2]


Há cento e cinqüenta anos, John Dagg sugeriu que “quando a disciplina deixa uma igreja, Cristo sai da igreja com ela”. Naquela época, os Batistas, bem como a maioria dos evangélicos, praticavam uma disciplina eclesiástica abrangente. Ao longo dos cinqüenta anos seguintes, a maioria dos evangélicos abandonou essa prática. Hoje em dia, durante pelo menos três gerações consecutivas, as igrejas evangélicas do ocidente têm negligenciado a disciplina; apesar de, durante esse período, o Senhor tenha abençoado muitas dessas igrejas espiritual e materialmente. Então, será Dagg estava certo?

Achamos que DAGG deveria estar certo, mas...

Não há dúvidas de que pensamos que Dagg deveria estar certo. Negligenciar a disciplina na igreja é desobedecer a Jesus Cristo. Em Mateus 18:15-17, o Senhor ordena que as igrejas exerçam a disciplina, assim como em muitas outras passagens do Novo Testamento. No entanto, o fato de que Cristo ainda não abandonou nossas igrejas evangélicas é evidente, apesar de nossas igrejas terem abandonado a disciplina. Esse fato nos lembra que não existe uma simples correlação entre a desobediência de uma igreja, por um lado, e a ruína espiritual e o abandono por parte de Cristo, por outro. Nosso Senhor julga nossa desobediência no tempo e na medida de sua sabedoria.

Um fator que pode ter adiado o julgamento de Deus é que nossas igrejas têm sido fiéis em algumas áreas importantes do trabalho evangélico. Mas, na verdade, nossa ambição por propagar o evangelho tem sido um obstáculo na questão da obediência a Cristo no que diz respeito à disciplina. Muitos pastores e membros de igrejas temem que disciplinar os membros em desobediência resulta mais em prejuízos do que em benefícios para o avanço do evangelho. Isso levará "boas" famílias à vergonha e à ira, tornando-nos objeto de escárnio e aversão entre os incrédulos, que vêem a disciplina como algo incivilizado e contrário ao senso comum e à compaixão. Nossas igrejas negligenciam a disciplina por temer que essa prática prejudique a causa de Cristo.

Entretanto, mesmo que seja por motivações virtuosas, a desobediência continua sendo desobediência, e teremos de prestar contas por isso. O fato de o Senhor ter demonstrado misericórdia e paciência para com as igrejas desobedientes não é uma desculpa para sua desobediência. Estamos abusando da misericórdia do Senhor e deixando de temer o seu julgamento.

No entanto, negligenciar a disciplina eclesiástica põe em risco outros aspectos fundamentais da igreja. A perda da disciplina na igreja enfraquece os seus próprios alicerces.

ENFRAQUECENDO OS ALICERCES DA IGREJA

As igrejas que falham em praticar a disciplina enfraquecem sua característica regeneradora. Ao omitir a disciplina, elas toleram um comportamento pecaminoso na membresia e tornam-se um lugar confortável para as pessoas não regeneradas.

As igrejas que falham na prática da disciplina também enfraquecem a santidade da Igreja, visto que enfraquecem os crentes em sua luta contra o pecado. Jesus providenciou a disciplina como um remédio de seu evangelho contra o pecado, sem o qual a nossa santificação será mais lenta. A aplicação da disciplina eclesiástica às doenças do pecado fortalecerá os cristãos em sua batalha contra Satanás, o mundo e a carne, ao longo de suas vidas.

As igrejas que falham em praticar a disciplina favorecem o enfraquecimento de sua espiritualidade, de seu zelo e de sua devoção ao Salvador. A disciplina ensina a igreja a obedecer ao Senhor nas áreas que são mais ofensivas, desagradáveis e contrárias aos pensamentos tolerantes da cultura. Ao exercitar a disciplina, comprometemo-nos a andar no caminho espiritual de Cristo, mesmo quando a razão, a compaixão e a civilidade parecem argumentar que não devemos obedecer. Dessa forma, os cristãos aprendem a confiar na sabedoria de Cristo em vez de confiarem na sabedoria do mundo. Aprendem a obedecer a Cristo, independentemente das conseqüências desconfortáveis.

Negligenciar a disciplina é um treinamento para não tomarmos a nossa cruz; não temermos a Deus; não sofrermos voluntariamente por amor a Cristo e não nos opormos ao mundo. E uma vez que as igrejas estejam bem treinadas pela negligência na prática da disciplina, perderão o seu compromisso com o próprio evangelho.

Quando uma igreja abandona a disciplina, abandona CRISTO

É por essa razão que Dagg afirmou que quando a disciplina deixa uma igreja, Cristo sai da igreja com ela. No entanto, talvez seja mais apropriado dizer que quando uma igreja abandona a disciplina, abandona a Cristo. As igrejas não têm a intenção de abandonar a Cristo e não podem fazê-lo completamente. Mas, ao negligenciarem a disciplina, começam a criar uma barreira entre elas e Jesus.

Além disso, o princípio que as levou a abandonar a disciplina funciona como um fermento, agindo de forma abrangente para enfraquecer o compromisso da igreja com Cristo, bem como sua capacidade para tomar a sua cruz e segui-lo. Ela ficará cada vez mais conformada ao mundo. E o abandono da igreja, por parte de Cristo, será apenas uma questão de tempo.

No Novo Testamento, o Senhor julgou as igrejas que toleraram ofensas contra a lei de Deus. A igreja de Corinto observava a Ceia do Senhor de um modo pecaminoso, tolerando imoralidade, divisões, parcialidade e desrespeito entre membros. Por essa razão, Deus visitou alguns deles com doenças e outros, com a morte (1 Co 11:30). Tanto o texto em grego como o contexto sugerem que o fracasso deles não se devia tanto a uma falha em reconhecer a presença de Cristo ou em "discernir o corpo", mas à uma falha na disciplina; em “julgar o corpo” (1 Co 11:29 ). De qualquer forma, há uma conexão direta entre o fato da igreja de Corinto tolerar o comportamento pecaminoso e o julgamento de Deus sobre ela.

Jesus repreendeu as igrejas que desobedeceram sua ordem de exercer, com fidelidade, a disciplina eclesiástica. Ele advertiu as igrejas de Pérgamo e Tiatira por negligenciarem a disciplina na igreja (Ap 2:14-15, 20). A igreja de Pérgamo tolerava aqueles que sustentavam a "doutrina de Balaão" e outros que apoiavam a "doutrina dos nicolaítas". A igreja de Tiatira tolerava uma falsa profetisa. Jesus ordenou-lhes o arrependimento, que só poderia ser cumprido por meio da disciplina eclesiástica. Não sabemos até que ponto essas igrejas se arrependeram de sua falha na questão da disciplina. No entanto, sabemos que, no final, Jesus as julgou, abandonando-as.

SE NOS RECUSARMOS A NOS ARREPENDER...

Se nossas igrejas se recusam a se arrependerem por tolerarem o pecado não arrependido entre os membros, podemos esperar julgamento. Portanto, não abusemos da misericórdia do Senhor. Consideremos bem o que a repreensão do Senhor, feita à igreja de Sardes, em Apocalipse 3:1-3 tem a dizer às nossas igrejas:

Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti.

Naquela hora, descobriremos que Dagg estava certo.

www.editorafiel.com.br
www.9marks.org

Traduzido por: Waléria Coicev

Copyright:

© 9Marks & © Editora FIEL 2009.

Traduzido do original em inglês:Was
Dagg Right?
Com a permissão do ministério 9Marks
.

Nota: [1] A foto é do pr. John Leadley Dagg. Ele nasceu em Middleburgb, município de Loundoun, Virgínia, nos Estados Unidos da América, em 13 de fevereiro de 1794. Foi o primeiro filho do casal Robert Dagg e Sarh (Davis) Leadley. Pastor evangélico batista, téologo, filantropo e conspícuo educador, John Dagg é "um dos mais eruditos teólogos batistas do Sul". Ele faleceu em Hayneville, Alabama, em 11 de junho de 1884.

Leia na íntegra o texto escrito pelo pr. Gilson Santos em Biografias

[2] Gregory A. Wills é coordenador e professor da matéria “História da Igreja”, no Seminário Teológico Batista do Sul, em Louisville, Kentucky. Também é autor dos livros Southern Baptist Theological Seminary, 1859-2009. New York: Oxford Unversity Press Inc., 2009 e Democratic Religion. New York: Oxford Unversity Press Inc., 1997.

03 outubro 2009

Acerca dos Evangelhos Sem Cristo e da Graça







Por Isaías Medeiros [1]

O Cristianismo vive dias difíceis. De um lado, há uma corrente mais voltada ao místico, ao emocional, que se sustenta à base de sinais, sentimentos, mantras, confissão positiva, rituais pagãos, que prega a pobreza e a resignação do homem como pecados ou maldições, e a sua ascenção política ou financeira como objetivos primários e evidências da presença de Deus em sua vida.

De outro, encontra-se uma ala mais intelectualizada da Igreja, formada por teólogos, filósofos, cientistas sociais, escritores, políticos etc. Estes, tomados em seu conjunto (evidentemente, há excessões), defendem uma vivência mais racional da religião, menos disposta a tolerar o que chamam de “legalismo” e pregam subliminarmente que a finalidade do Evangelho é a felicidade do homem na terra – sem prejuízo de uma vida eterna futura –, e que os ordenamentos bíblicos servem apenas como um referencial, portanto, moldáveis a cada situação específica.

Fazendo o comparativo entre estes dois recortes da Igreja (que, seguramente, não são os únicos possíveis), temos a impressão de estarmos diante de “dois povos distintos”, com características completamente diferentes entre si. Entretanto, existe uma semelhança brutal entre eles: Cristo NÂO está no centro. Ambos são humanistas ou antropocêntricos.

Cada qual à sua maneira, os dois põem o homem no centro do mundo, como o tomador-mor de decisões (“eu decreto…”; “eu determino…”) e para e pelo qual todas as coisas devem se ajustar para a sua felicidade, para a sua satisfação pessoal (humana, e não espiritual).

Um movimento crê que o homem na realidade é um deus, com poderes iguais aos de Jesus Cristo, mas que precisa aprender a desenvolvê-los e utilizá-los para conseguir tudo o que deseja. O outro, prega um evangelho relativista, recoberto por uma falsa aparência de piedade, cujo objetivo é o de apenas ajustar a Bíblia as práticas que entendam serem seus “direitos humanos”. Dessa forma, a Palavra de Deus perde a sua inerrância, e o seu cumprimento, conseqüentemente já não depende mais da sua autoridade intrínseca, mas do julgamento humano de “quando ela está certa ou não”. Paulo já havia dito que chegariam dias em que a sã doutrina não seria mais suportada, e que se multiplicariam os “especialistas” para justificar toda e qualquer heresia ou perversão que se desejasse praticar (2 Timóteo 4:3-4). Em outras palavras, o homem assume uma autoridade superior a da Bíblia. A mente humana, e não a mente de Cristo no homem é quem passa a tomar as decisões.

Por estes motivos é que temos hoje “evangelhos” para todos os gostos (com mais ou com menos emoção), todos os bolsos (nem é preciso comentar), e todos os credos (ecumenismo/relativismo religioso). O Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo tem sido diluído em meio a preferências e opiniões pessoais, interesses particulares diversos aos do Cristianismo e ideologias contrárias à fé, como o humanismo e o comunismo.

A Graça de Deus é multiforme. Isto quer dizer que ela se apresenta de variadas maneiras para diferentes pessoas e circunstâncias. Porém, em todas os casos a figura central é a de Cristo. É por meio d’Ele que a Graça existe, e ela existe para conduzir o homem a Deus. Significa dizer que não há nenhum “manual de instruções” que possamos seguir para automaticamente sermos salvos, pois a nossa salvação provém do sacrifício não merecido de Jesus por nós na cruz. Todavia, a Graça não anula as recomendações bíblicas dadas ao homem pelo Espírito Santo. Um homem não pode salvar a si mesmo pelas obras que pratique, embora possua o livre-arbítrio[2] para aceitar a Jesus e por meio do Seu sacrifício ser salvo. Por esta mesma prerrogativa, porém, ele pode escolher o mal e perder sozinho a sua alma. A Graça subentende que as obras do homem não podem salvá-lo, e não que estas obras não possam condená-lo…

Precisamos voltar à simplicidade do Evangelho pregado pelo Homem que nasceu numa manjedoura; que não recebeu glória dos homens (João 5:41); que a Bíblia diz que chorou (João 11:35) e que suou sangue (Lucas 22:44), mas não que se alegrou carnalmente, e sim no Espírito Santo (Lucas 10:21). Necessitamos parar de ler o que a Bíblia não diz e voltarmos a colocar a Cristo no centro das nossas vidas.

FONTE: O CRISTÃO REVOLTADO!

Nota: [1] A foto não consta da postagem original. A reprodução foi gentilmente autorizada pelo autor, cujo texto original pode ser lido AQUI.

[2] Em todo o texto, apenas não concordei com a citação quanto ao "livre-arbítrio". Contudo, ela é irrelevante ao objetivo do texto. Apenas faço a ressalva porque, ainda que irrelevante, ela apresenta um conceito com o qual não concordo teologicamente.