"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

25 outubro 2012

Qual é o seu nome?

 Por Igor Miguel
"Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Não é por vossa causa que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes." (Ez 36:22).


Nome: resumo ou narrativa?
Em termo bíblicos, o "nome" não é apenas uma palavra que serve para identificar uma pessoa ou um objeto. Ele é "substantivado", há "substância" associado ao nome. Também não é substância em sentido químico, mas biográfico. Como assim? Explico.

Lembro-me da trilogia "Senhor dos Anéis" de J.R. Tolkien, em particular quando o personagem Barbárvore (Treebeard), um
ent, pergunta a um dos "hobbits" como ele nomeava "aquilo", enquanto apontava para uma colina. A resposta do hobbit: "colina!". Barbárvore, surpreendido, replica: "- mas este é um nome muito curto para uma coisa que está tanto tempo ali!". Esta é uma das frases que mais me impressionaram na trilogia. Na língua dos "ents", as palavras não são "compactas", os nomes não são um atalho fonético que agrega sentidos atribuídos a uma pessoa ou coisa. Ao contrário, na língua dos ents os nomes são histórias, narrativas e biografias. Curiosamente, vi uma associação entre o sentido bíblico de "nome" com a forma como os ents nomeiam as coisas no mito de Tolkien.

A Bíblia nos mostra diversos personagens cujos nomes apontavam para uma história mesmo antes de sua conclusão. Poderíamos citar alguns exemplos, como: Abraão, cujo nome significa em hebraico "Pai de Povos", uma referência a sua biografia como patriarca da fé, cuja promessa, abençoaria as famílias da Terra (Gn 12 e 22). O nome de Jacó, que foi mudado para Israel, que significa "lutastes com Deus", faz referência ao encontro de Jacó com o Anjo do Senhor. Da mesma forma, Davi é o "amado"; Josué significa "o Senhor que Salva"; Adão vem de uma raiz hebraica que significa "terra", "solo" ou "avermelhado", uma referência ao fato do homem ter sido feito do pó da terra.

Mantendo a tendência do Antigo Testamento, Noé (hb. נח - noâch), cujo nome significa "consolo" ou "conforto", o recebeu como por uma profecia, como está escrito: "pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou." (Gn 5:29). Este mesmo Noé, no evento de seu filho Cam tê-lo visto nu, profere ditos oraculares sobre seus descendentes, em específico sobre Canaã (filho de Cam), Jafé e Sem (Gn 9:18-27). Ao filho, cujo nome era "Sem", ele diz: "Bendito seja o Senhor Deus de Sem." (Gn 9:26). O interessante é que "Sem" em hebraico "Shem" [שם] significa literalmente "Nome". Não é acidente que de "Sem" vieram os "semitas", agrupamento étnico donde descende os hebreus (descendentes de Héber) e o próprio Abraão (ver genealogia de Gn 11).


A descendência do "nome"
A ideia é que Deus escolheu os israelitas, ligados a descendência de Sem, para testemunhar seu "nome" entre as nações. Mais para frente, na narrativa bíblica, Moisés (cujo nome significa tirado das águas - não só do Nilo, mas também do Mar Vermelho) em um encontro com o SENHOR no Monte Horebe, ante a sarça que ardia e não se consumia, realiza o seguinte diálogo:

Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros. Disse Deus ainda mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração. (Ex 3:13-15)

Observe que Moisés pergunta o "nome" de Deus. A resposta é surpreendente, pois Deus não se identifica com um nome "fechado", como o nome dos ídolos do Egito. As divindades pagãs possuíam nomes que especificavam sua "atuação" mítica. Deuses da fertilidade, da guerra, colheita, sabedoria ou saúde, possuíam nomes associados às suas respectivas "áreas de atuação". O Deus que se revela a Moisés, por sua vez, se identifica primeiro como o "Eu Sou o que Sou" e depois como "Deus de Abraão, Isaque e Jacó".

A expressão "Eu sou o que Sou" [hb. ehiê asher ehiê - אהיה אשר אהיה], adotada na versão Almeida Revista e Atualizada, encontra-se no original hebraico estruturada pelo verbo "ser" ou "tornar" usado no perfeito, na voz ativa do grau simples (QAL). Isto significa que este verbo poderia ser traduzido no futuro (uma ação não concluída ou em processo de conclusão), assim, a expressão poderia ficar como: "Eu serei o que serei" ou "Me tornarei o que me tornarei", como bem traduziu Lutero em sua Bíblia para o alemão "
Ich werde sein". A ideia é esta mesmo: Deus se "revelaria" e se "tornaria" ao longo do tempo, ou seja, uma revelação progressiva de seu "nome", um Deus que se revela na história e nas relações.

O "nome" assume o sentido de "narrativa" ou "revelação", uma história. Mas, ainda há um detalhe: por que Deus adicionou o sentido de seu nome como "Deus de Abraão, Isaque e Jacó" afirmando que este é "seu nome eternamente"? Ora, se Deus é portador de uma "história" e de um nome que se revela no tempo e nas relações, logo, Ele é um Deus que é conhecido na biografia das pessoas com quem se relaciona. A biografia de seus servos, torna-se a biografia dele mesmo, afinal Ele é um Deus se revela relacionalmente. Talvez, foi neste sentido, que o filósofo e matemático Blaise Pascal (1623-1662) tenha dito: "Deus é o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, não o Deus dos filósofos".

Acho que já temos material suficiente para entender que o "nome" é muito mais do que "identificação fonética". O "nome" em termos bíblicos faz referência a uma "história". No caso, de Deus, uma referência à história de sua relação com seus servos ao longo das gerações. Quando é dito no livro do profeta Ezequiel que os israelitas profanavam o "nome de Deus" entre as nações, o que está envolvido é a profanação de um "história", da "revelação" de Deus em relação a seu povo. Por isso, a Bíblia é um livro que trata a respeito do Deus que se revela. A Bíblia é a exposição pública de Deus, o que ela chama de "glória".


O Nome que Está Sobre Todo Nome

Agora, façamos uma conexão com a revelação de Cristo, e vejamos algo interessante:

Deus quando firmara uma aliança com o Rei Davi, prometera a ele um descendente cujo trono nunca teria fim e que este descendente edificaria para Deus uma casa para seu nome (II Sm 7:13). Este texto é digno de uma leitura messiânica, no sentido que se refere ao Messias, e não ao descendente imediato de Davi, Salomão. Salomão não teve um trono "eterno". Logo, a promessa se refere a um descendente de Davi, cujo trono seria eterno, e que faria uma casa para o "nome" de Deus, bem no sentido que já exploramos até aqui.

Nós cristãos entendemos que Jesus é o descendente de Davi, que cumpriu todas as expectativas bíblicas e proféticas a respeito de sua messianidade. Jesus, certa vez, fez menção enigmática a respeito de seu corpo como um Templo:

Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. (Jo 2:19-21)

Jesus é o Templo onde o "nome" ou a "história" de Deus se torna mais evidente: "As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito." (Jo 10:25). Agora, veja que interessante o que encontramos em um certo dito de João:

"Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou." (Jo 1:18)

A palavra utilizada no original, que foi traduzida aí por "revelou", é verbo no passado (aoristo) eksêgêsato [εξηγησατο] que poderia ser perfeitamente traduzido como "expôs", "relatou" ou "narrou" como utilizado em Lc 24:35. O sentido deste texto é que Jesus "conta" ou "narra" Deus o Pai para os homens.


Trindade: o nome de Deus se revela
Então, qual é o nome de Deus na Nova Aliança? Como Ele se revelou? Como podemos "narrá-lo?". Se fossemos ents, que nome daríamos a este Deus, sem sermos sintéticos de mais? Onde encontramos seu nome? A resposta deveria ser: no batismo. Como preservado em Mateus: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo." (Mt 28:19).

A grandeza de nosso batismo, não está em um fonema. A questão não é se chamamos Deus de Jeová, Javé, Yavé, Elohim ou Yeshua. A questão é: qual é a história de nosso Deus? Nosso Deus é uma história, a história da salvação. A salvação é um drama de amor em que Deus se volta para homens pecadores. E, para salvá-los, envolveu toda sua pessoa (Pai, Filho e Espírito Santo), desde a fundação do mundo, passando pelos patriarcas, os reis de Israel, os profetas, e agora, ele fala conosco pelo Filho, como foi dito:

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4).


Últimas palavras

Baseado em tudo que foi dito, fica claro o motivo de cristãos prezarem tanto pelo nome de Jesus. Afinal, foi na história de Jesus, como registrada nos quatro evangelhos, que Deus foi revelado (narrado). A glória de Deus se concentra na história/vida/nome de Jesus. Por isto, foi dito:

Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. 12 E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. (At 4:11-12)

Não é em vão, que por ocasião de uma das viagens de Paulo à cidade de Éfeso (At 19), exorcistas profissionais, como os filhos do sumo sacerdote Ceva, tentaram esconjurar demônios 'em nome de Cristo, a quem Paulo pregava', e os demônios gracejaram afirmando conhecerem "Paulo" e "Cristo", mas os tais exorcistas lhes eram desconhecidos, o que foi seguido pela agressão do endemoniado àqueles. Os demônios conhecem Cristo, Paulo e todos os eleitos do Senhor, por causa de uma história: a história de Cristo, e a história de todos que estão ligados a Ele. Estar fora de Cristo é viver em anonimato, é não ter uma biografia.

Todo Antigo Testamento narra a história dos atos salvadores de Deus. O clímax e cumprimento de tudo aquilo que a Bíblia Hebraica narra é Jesus Cristo. O Verbo se faz carne e se torna em "texto", uma "
narrativa", uma história sobremodo exaltada, o nome que está sobre todo nome. Fomos salvos por Jesus, por uma história, um conto de salvação, um drama trinitário. Os demônios tremiam e proezas eram feitas neste nome, não por um poder mágico, mas por causa de uma história com início e fim, com Alfa e Ômega, história que culmina na cruz e alcança sua plenitude na redenção de todas as coisas. O nome é a história, nosso nome se constitui no nome de Cristo.


"Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe." (Ap 2:17)


FONTE: PENSAR... 

20 outubro 2012

Sobre Gigantes e anões teológicos

 
Por Natan de Oliveira
 
Sobre graça comum, eletiva, e dupla-predestinação.

Diferente do ultra-mega-power-pedagogo Jorge, eu creio na Graça Comum.



Deus é salvador de todos os homens pois está escrito que é, veja:

"Porque para isto trabalhamos e somos injuriados, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis" [1Tm 4.10].

Você e eu e muitos ímpios são salvos pela Graça comum de serem tão malignos quanto Hitler foi.

Igualmente, como o Jorge, eu creio na Graça Eletiva, e o verso é o mesmo acima, além de dezenas de outros.

Também creio na dupla predestinação.

Sobre anões e gigantes...

Se o Spurgeon é gigante e o Vincent é anão, então eu e o ultra-mega-power-pedagogo Jorge somos a mosca do... digamos... do cavalo do bandido...

Não existe nada disto.

Apesar de o Spurgeon ter aparência de grande e vistosa “chave de fenda”, ele não tem utilidade nenhuma para o ajuste dos parafusos de uma clarineta.

Da mesma forma se o Vincet tem aparência de pequenina “chave de fenda”, ele não tem nenhuma utilidade para ajuste dos parafusos de um torno convencional.

Todavia nem o torno pode produzir os maravilhosos sons da clarineta bem ajustada, como também a clarineta não pode produzir as peças mecânicas que um torno pode dar vida.

Aos olhos dos homens podem ter tamanhos diferentes, mas aos olhos de Deus são meras ferramentas com aplicações distintas.

Quando eu entendi esta lição, eu descansei e desisti de ser um novo Moody, ou de querer ser um novo Clark... Eu sou eu, e estou no lugar exato, com os filhos certos, casado com a mulher exata dos sonhos de Deus, tendo os dias exatos que ele planejou para mim na eternidade.

Cheio de significados e emoções estou vivendo no presente aquilo que Deus preparou para mim.

Não sou anão, não sou gigante, sou instrumento nas mãos de Deus.

Spurgeon foi importante para Deus realizar obras em muitas pessoas.

Vincent foi importante para Deus me fazer nascer de novo (eu nasci de novo ouvindo um sermão baseado num escrito de Vincent Cheung).

Minha filha e meu filho, espero, conhecerão a Deus através do meu trabalho, que nem Spurgeon nem mesmo Vincent poderão fazer como eu posso e faço diariamente.

“Louvado” seja Deus por causa do Vincent, por Spurgeon, pelo Jorge, pela minha existência.

Em outras palavras:
“Seja cada vez maior a FAMA de Deus” por causa do Vincent, por Spurgeon, pelo Jorge, pela minha existência.

Nem gigantes, nem anões, seja somente famoso (louvado) o nosso Deus criador.


Nota: 1- Este é o fragmento de um comentário do Natan de Oliveira à uma postagem no Kálamos. Concordo que perante Deus todos somos meros instrumentos para a sua glória, sem, contudo, desconhecer que há homens com chamados especiais, e de que eu mesmo tenho um chamado especial divino para fazer algo que ninguém pode fazer além de mim. Por isso, decidi reproduzi-lo aqui, para a nossa meditação.
 
2- Spurgeon, no texto, refere-se ao pregador batista Charles Spurgeon; enquanto Vincent refere-se ao pregador sino-americano Vincent Cheung.