Por Igor Miguel
A trindade é uma doutrina cujo objetivo é afirmar a unidade de Deus, e que, é inerente a esta unidade certa complexidade relacional. Trindade é uma explicação ao fato de que este Único Deus, apesar de sua unidade, se relaciona de forma complexa, ou seja, apesar dele ser um único Deus, Ele se revelou como Pai, Filho e Espírito Santo. O cristianismo por ser uma religião monoteísta não está disposta discutir a unidade de Deus, pois é um fato, do contrário, o cristianismo seria mais uma religião politeísta ou idólatra. O Credo de Atanásio diz:
"Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. E contudo não são três deuses, mas um só Deus. "
Observe o cuidado de Atanásio, que ao usar o termo "Deus" três vezes associado ao Pai, Filho e Espírito Santo, deixa claro que não está com isso afirmando que existem três deuses, como ele mesmo explicita logo após "contudo não são três deuses, mas um só Deus". Atanásio está defendendo a interpretação cristã de que este único Deus, que sempre percebemos na revelação das Escrituras como Pai, Filho e Espírito, é trino em pessoa, mas não são três divindades distintas e independentes, do contrário, novamente estaríamos comprometendo a fé monoteísta afirmada pelas Escrituras (Dt 6:4).
Infelizmente muitos questionam esta belíssima doutrina enraizada na Bíblia e explicada pela Igreja. Muito deste questionamento é fruto primeiro de uma desconfiança moderna à doutrina e depois por desconhecimento das confissões e formulações clássicas a respeito. Eu mesmo fui vitimado por esta ignorância.
De fato alguém que nega a trindade, se coloca fora do cristianismo e daquele fundamento que agrega todos os cristãos pelo mundo. E como veremos, negar a trindade, é negar a forma como Deus se dirigiu aos homens para salvá-los. A trindade é uma doutrina pastoral, comunitária e prática, diferente do que se pode imaginar, não é uma formulação especulativa ou de pouca importância prática. Ela define, de fato, quem é e quem não é cristão, e como, Deus mesmo, em amor trinitário, criou, amou, redime e consumará todas as coisas para Sua Glória.
Um dos problemas que eu mesmo tive com a trindade, vinha do próprio termo "pessoa". Meu entendimento da doutrina trinitária fora profundamente iluminada quando entendi duas coisas: a teologia paulina da adoção (que será discutida abaixo) e por outro lado, o uso do termo persona pela tradição cristã.
Persona não tem nada haver com o conceito moderno que temos de "pessoa", que está ligado a uma ideia de "indivíduo humano", "individualização" etc. A ideia de personana tradição cristã tem haver com "pessoalidade" ou "atributos relacionais". O termo é de origem teatral e tem a ideia de "personagem" ou "máscara". Em outras palavras, quando a doutrina da trindade afirma que Deus é único e subsiste em três pessoas, está dizendo com isso, que Ele é relacionalmente tri-pessoal. No século XVI, João Calvino, para sanar qualquer confusão, observa que a palavra "pessoa" deveria ser compreendida com o sentido de "subsistência", ou seja, que este único Deus subsiste relacionalmente em forma tríplice, em três pessoas com atributos (papéis/hipóstase) distintos, entretanto, paradoxalmente, unidas quanto a natureza (substância):
- O Pai que ama, envia o Filho;
- O Filho, o amado, e não o Pai, nasce de uma virgem e morre na cruz;
- O Espírito Santo, o amor, é quem consola e guia a Igreja a toda verdade.
Dessa forma, pode-se ver a clara distinção dos papéis.Seria totalmente errado à luz da doutrina trinitária, afirmar por exemplo, que Jesus é o Pai em carne. Pois isto não é bíblico, por isso a doutrina nunca afirma tal coisa. A explicação correta seria que Jesus representa o Pai, pois quem vê o filho vê o Pai, mas Ele (Jesus) não é o Pai em seus atributos pessoais. (Jo 1:18; 14:9) Jesus é Deus, pleno de divindade (Cl 2:9), gerado do Pai (Hb 1:5; 5:5).Quanto a natureza, pleno de divindade, entretanto quanto a seu papel, distinto.
Vejamos, por exemplo, como o Deus Único se mobiliza em toda sua pessoalidade para salvar os homens:
Infelizmente muitos questionam esta belíssima doutrina enraizada na Bíblia e explicada pela Igreja. Muito deste questionamento é fruto primeiro de uma desconfiança moderna à doutrina e depois por desconhecimento das confissões e formulações clássicas a respeito. Eu mesmo fui vitimado por esta ignorância.
De fato alguém que nega a trindade, se coloca fora do cristianismo e daquele fundamento que agrega todos os cristãos pelo mundo. E como veremos, negar a trindade, é negar a forma como Deus se dirigiu aos homens para salvá-los. A trindade é uma doutrina pastoral, comunitária e prática, diferente do que se pode imaginar, não é uma formulação especulativa ou de pouca importância prática. Ela define, de fato, quem é e quem não é cristão, e como, Deus mesmo, em amor trinitário, criou, amou, redime e consumará todas as coisas para Sua Glória.
Um dos problemas que eu mesmo tive com a trindade, vinha do próprio termo "pessoa". Meu entendimento da doutrina trinitária fora profundamente iluminada quando entendi duas coisas: a teologia paulina da adoção (que será discutida abaixo) e por outro lado, o uso do termo persona pela tradição cristã.
Persona não tem nada haver com o conceito moderno que temos de "pessoa", que está ligado a uma ideia de "indivíduo humano", "individualização" etc. A ideia de personana tradição cristã tem haver com "pessoalidade" ou "atributos relacionais". O termo é de origem teatral e tem a ideia de "personagem" ou "máscara". Em outras palavras, quando a doutrina da trindade afirma que Deus é único e subsiste em três pessoas, está dizendo com isso, que Ele é relacionalmente tri-pessoal. No século XVI, João Calvino, para sanar qualquer confusão, observa que a palavra "pessoa" deveria ser compreendida com o sentido de "subsistência", ou seja, que este único Deus subsiste relacionalmente em forma tríplice, em três pessoas com atributos (papéis/hipóstase) distintos, entretanto, paradoxalmente, unidas quanto a natureza (substância):
[...] designo como pessoa uma subsistência na essência de Deus que, enquanto relacionada com as outras, se distingue por uma propriedade incomunicável. Pelo termo subsistência queremos que se entenda algo mais que essência. Pois se o Verbo fosse simplesmente Deus, contudo não tivesse algo próprio, João teria dito erroneamente que ele estivera sempre com Deus [Jo 1.1].Quando acrescenta imediatamente em seguida que também o próprio Verbo era Deus, ele nos volve para a essência única. Mas, uma vez que não podia estar com Deus sem subsistir no Pai, daqui emerge essa subsistência que, embora fosse unida à essência por um vínculo indivisível, não se pode separar dela, possui, no entanto, característica especial em virtude da qual se distingue dela. (Institutas, Vol. I, Cap. XIII, parágrafo 6).A palavra subsistência ou pessoa deve ser compreendida assim: quanto à natureza,unidade, quando aos diversos papéis-pessoais deste único Deus, diversidade(complexidade). Quando olhamos para o único Deus, em sua diversidade relacional, vemos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo, distinguem-se completamente quanto a seus atributos. Um exemplo das características que distinguem as três pessoas de Deus são:
- O Pai que ama, envia o Filho;
- O Filho, o amado, e não o Pai, nasce de uma virgem e morre na cruz;
- O Espírito Santo, o amor, é quem consola e guia a Igreja a toda verdade.
Dessa forma, pode-se ver a clara distinção dos papéis.Seria totalmente errado à luz da doutrina trinitária, afirmar por exemplo, que Jesus é o Pai em carne. Pois isto não é bíblico, por isso a doutrina nunca afirma tal coisa. A explicação correta seria que Jesus representa o Pai, pois quem vê o filho vê o Pai, mas Ele (Jesus) não é o Pai em seus atributos pessoais. (Jo 1:18; 14:9) Jesus é Deus, pleno de divindade (Cl 2:9), gerado do Pai (Hb 1:5; 5:5).Quanto a natureza, pleno de divindade, entretanto quanto a seu papel, distinto.
Vejamos, por exemplo, como o Deus Único se mobiliza em toda sua pessoalidade para salvar os homens:
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da suaglória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória. (Ef 1:1-14).
O termo "glória"* funciona neste texto como um marcador de que como o único Deus em trindade se move para salvar os homens. No texto o PAI elege, o FILHO redimee o ESPÍRITO SANTO sela. Aí se vê claramente a atuação trinitária de Deus, para salvar os homens.
A questão é que se há alguma coisa neste movimento que não seja DIVINO, se o Pai, o Filho e o Espírito Santo não forem plenamente divinos e pessoas integrantes de um único Deus, não é Deus quem está salvando. Mas, aprouve a Deus, dirigir toda sua complexidade e pessoalidade, para eleger, redimir e selar aqueles que transformou em filhos.
Diferente do que muita gente pensa, a trindade não é uma formulação doutrinária especulativa, ou um jogo de palavras teológicas que só os "iluminados" podem entender. A doutrina trinitária é construída a partir das Escrituras e é uma doutrina com implicações práticas muito sérias. Esta foi a defesa de Agostinho de Hipona, ao postular que a trindade significa que Deus em sua totalidade relacional e em sua complexidade, se dirige aos homens, ou seja, que as distinções entre as subsistências divinas (Pai, Filho e Espírito Santo), são narrativas do amor divino em si dirigidos aos eleitos.
No batismo de Jesus, fica claro, que o Pai dirige seu amor ao Filho, por isso diz que ele é o Filho amado em que Ele tem prazer (Mt 3:17). Está claro que do Pai procede o amor ao Filho, e também está claro que o Filho é objeto de todo amor do Pai. Entretanto, nenhum homem pode ser objeto do amor do Pai, ou ser acolhido em sua família trinitária, sem se revestir de Cristo. Por isso, Paulo é categórico: "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes." (Gl 3:26-27).
O revestimento de Cristo que o eleito recebe, coloca-o em condição ressurreta e o mais importante, em condição de filho de Deus. Isto significa que o Pai quando olha para o eleito, o vê como seu Filho (Jesus), e por isso, derrama sobre Ele seu amor. O eleito integra-se à família trinitária. Entretanto, a concretização deste amor, dá-se no Espírito Santo, por onde o Pai comunica seu amor, por isso, o Espírito Santo aparece no batismo de Jesus em forma de pompa, como sinal, do amor do Pai pelo Filho. Igualmente, o sinal do amor do Pai por seus filhos (os eleitos) dá-se pelo Espírito Santo, que é o mesmo Espírito que estava em Jesus Cristo:
"E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, {Aba; no original, Pai} Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus." (Gl 4:6-7). "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o Espírito de Adoção, baseados no qual clamamos: Aba, {Aba; no original, Pai} Pai." (Rm 8:15).Ninguém pode chamar Deus de Pai sem adoção. Ninguém, pode chamá-lo de Aba, sem que o movimento redentor de Pai, Filho e Espírito Santo, tenham-no envolvido, acolhendo-o na família divina. Por isso, negar a doutrina trinitária, negar a trindade, é ignorar a doutrina que afirma que Deus é amor. Este amor se esclarece, justamente porque em Deus há uma relação de amor entre O Pai (que ama), o Filho (o Amado - Ef 1) e o Espírito Santo (o meio do amor):
"...porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado." (Rm 5:5)
As implicações da trindade sobre a vida comunitária e o amor na Igreja são cruciais. A falta de clareza e da própria vivência de um Deus que age de forma completa para amar seu Filho e por isso estende este amor aos santos, atinge profundamente nossa forma de compreender e de se relacionar com os irmãos em nossa comunidade. O termo "irmão" começa a fazer muito sentido à luz da trindade.
"Deus é comunidade" (Agostinho)
Continua...______________________
* Devo esta observação a Guilherme de Carvalho durante um sermão de domingo, devo a ele a compreensão da teologia paulina da adoção.
* Devo esta observação a Guilherme de Carvalho durante um sermão de domingo, devo a ele a compreensão da teologia paulina da adoção.
FONTE: Texto cedido pelo autor e disponível originalmente em "Pensar..."
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