"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

18 março 2011

Os Seminários, por quem nunca os frequentou

By Vanderson M. da Silva

Biblioteca do Seminário Teológico Batista do Sul dos EUA
Seminário Teológico Batista do Sul dos EUA. Créditos: Alex Leung (sob Creative Commons).

Desde mais ou menos a época da minha conversão venho me dedicando ao estudo da teologia, e por isso foi natural que durante algum tempo passasse a considerar a possibilidade de um dia vir a cursar um bom seminário. No meu raciocínio, isso me proporcionaria maior desenvolvimento e profundidade como estudante da Bíblia e ainda capacitação para a obra do Senhor. Passaram-se os anos, e hoje esse sonho é coisa que eu não acalento mais.
Em parte isso ocorre por entender que um curso desses me tomaria um tempo além do desejável, exigindo-me até o afastamento de certos trabalhos que exerço na obra do Senhor, para a glória de Seu nome. Porém, em parte isso tem a ver também com minhas decepções para com a realidade atual de grande parte daquelas instituições, cujo corpo docente, em larga medida é cada vez mais avesso a reter firme “a fiel palavra, que é conforme a doutrina” (Tito 1.9), desviando a si e a seus alunos para ensinos heterodoxos e antibíblicos, “não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1 Timóteo 1.7) — com as honrosas exceções de sempre, claro. Aliás, há alguns anos, um jovem pastor reformado confessou, em tom de desabafo, que o celebrado seminário no qual cursou foi o lugar onde ele mais viu a Bíblia ser desonrada… Triste, muito triste.
Para analisar e comentar esses e outros problemas dos seminários há gente muito mais abalizada que eu, tanto por ser “de dentro” deles quanto por sua muito maior qualificação intelectual, acadêmica e teológica. Caso do Rev. Augustus Nicodemus que, em seu blog, escreveu dois belos textos sobre tal assunto (clique aqui e aqui), grandemente enriquecidos pelos debates nas respectivas seções de comentários.
Todavia, neste meu artigo, proponho-me a dar aqui uma modesta contribuição para a discussão. Um olhar de alguém de fora que também tem refletido sobre a questão e que ousa levantar alguns questionamentos:
1. O modelo de formação de futuros obreiros está mesmo em consonância com a Bíblia? Anos atrás o site Monergismo publicou um polêmico texto de Vincent Cheung, “Igreja e Seminário”, que pode ser acessado aqui. O teólogo sino-americano é contundente: argumenta que seminário só é necessário porque as igrejas são falhas em seu papel de preparar obreiros para o ministério. Segundo ele observa, “o modelo de treinamento de Cristo (e.g. Jesus e os Doze) e os apóstolos (e.g. Paulo e Timóteo) [mutatis mutandis, eu incluiria também o modelo vetotestamentário: Moisés e Josué, Elias e Eliseu, Jeremias e Baruque -- autor] deveria ser mais do que suficiente, e que ele é aparentemente insuficiente somente porque as igrejas não o têm adotado realmente. Os presbíteros da Igreja deveriam ser capazes de treinar seus próprios parceiros e sucessores, ao invés de ter que enviar seu próprio povo para seminários, onde serão ensinados por pessoas que ninguém na igreja jamais conhece ou ouviu sobre ele”. A tese é controversa, e penso que esse ideal defendido por Cheung é quase impraticável em períodos de decadência espiritual como o nosso. Realmente, de minhas leituras sobre Calvino e sua escola em Genebra percebo que havia então uma proximidade muito maior entre essa e a igreja ali do que consigo ver hoje entre os modernos seminários e as igrejas. Porém, naqueles tempos vivia-se uma Reforma religiosa que foi um mais poderosos reavivamentos da história.
Sim, eu sei que há preocupação das instituições teológicas em dar a seus estudantes uma formação mais prática e menos teórica, buscando maior proximidade com as igrejas, futuro campo de ação daqueles. Contudo, o que me parece é que tal relação seminário/igreja vem fazendo com que o seminarista mais pareça um estagiário de igreja do que um obreiro em treinamento — pior ainda, um estagiário à brasileira, encarado muito mais como mão-de-obra auxiliar do que como alguém em fase de aprendizado e, por isso, carente de maior cuidado e atenção para com a sua formação. Há até pastor que faz coincidir seu período de férias com o do seminarista, aproveitando para botar esse à frente da comunidade e viajar com a família…
Por outro lado, à luz do lemos em 2 Timóteo 2.15 — “procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” — parece que o indispensável que se requer de um ministro é grande conhecimento do Livro Santo. Isso pode incluir, é verdade, saber na área das línguas originais e o básico de Arqueologia e Geografia Bíblicas. Claro, desejável é que ele vá além disso. Mas, repito, é desejável, não indispensável.

Um comentário:

Helveciop disse...

Muito importante esse debate,

vale lembrar que ser instruído em toda a ciência do Egito como Moisés ou como Saulo aos pés de Gamalieu, quando e quanto possível é importante. Porém mais importante o que se fará com isso na obra e segundo a vontade de Deus. O seminário não converte, dá apenas informação e oportunidade de treinamento (?!), não santifica, não dá poder, mais limita que aponta caminhos seguros e fáceis na obra de Deus. Mas boas igrejas devem constituir bons seminários e os seminários ruins são resultado de igrejas ruins, cujos ministros são mais incrédulos do que crentes, sem dúvida.

Um grande abraço irmão.

E...um abraço ao irmão Jorge por mais esse espaço.