By Vanderson M. da Silva
Desde mais ou menos a época da minha conversão venho me dedicando ao estudo da teologia, e por isso foi natural que durante algum tempo passasse a considerar a possibilidade de um dia vir a cursar um bom seminário. No meu raciocínio, isso me proporcionaria maior desenvolvimento e profundidade como estudante da Bíblia e ainda capacitação para a obra do Senhor. Passaram-se os anos, e hoje esse sonho é coisa que eu não acalento mais.
Em parte isso ocorre por entender que um curso desses me tomaria um tempo além do desejável, exigindo-me até o afastamento de certos trabalhos que exerço na obra do Senhor, para a glória de Seu nome. Porém, em parte isso tem a ver também com minhas decepções para com a realidade atual de grande parte daquelas instituições, cujo corpo docente, em larga medida é cada vez mais avesso a reter firme “a fiel palavra, que é conforme a doutrina” (Tito 1.9), desviando a si e a seus alunos para ensinos heterodoxos e antibíblicos, “não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1 Timóteo 1.7) — com as honrosas exceções de sempre, claro. Aliás, há alguns anos, um jovem pastor reformado confessou, em tom de desabafo, que o celebrado seminário no qual cursou foi o lugar onde ele mais viu a Bíblia ser desonrada… Triste, muito triste.
Para analisar e comentar esses e outros problemas dos seminários há gente muito mais abalizada que eu, tanto por ser “de dentro” deles quanto por sua muito maior qualificação intelectual, acadêmica e teológica. Caso do Rev. Augustus Nicodemus que, em seu blog, escreveu dois belos textos sobre tal assunto (clique aqui e aqui), grandemente enriquecidos pelos debates nas respectivas seções de comentários.
Todavia, neste meu artigo, proponho-me a dar aqui uma modesta contribuição para a discussão. Um olhar de alguém de fora que também tem refletido sobre a questão e que ousa levantar alguns questionamentos:
1. O modelo de formação de futuros obreiros está mesmo em consonância com a Bíblia? Anos atrás o site Monergismo publicou um polêmico texto de Vincent Cheung, “Igreja e Seminário”, que pode ser acessado aqui. O teólogo sino-americano é contundente: argumenta que seminário só é necessário porque as igrejas são falhas em seu papel de preparar obreiros para o ministério. Segundo ele observa, “o modelo de treinamento de Cristo (e.g. Jesus e os Doze) e os apóstolos (e.g. Paulo e Timóteo) [mutatis mutandis, eu incluiria também o modelo vetotestamentário: Moisés e Josué, Elias e Eliseu, Jeremias e Baruque -- autor] deveria ser mais do que suficiente, e que ele é aparentemente insuficiente somente porque as igrejas não o têm adotado realmente. Os presbíteros da Igreja deveriam ser capazes de treinar seus próprios parceiros e sucessores, ao invés de ter que enviar seu próprio povo para seminários, onde serão ensinados por pessoas que ninguém na igreja jamais conhece ou ouviu sobre ele”. A tese é controversa, e penso que esse ideal defendido por Cheung é quase impraticável em períodos de decadência espiritual como o nosso. Realmente, de minhas leituras sobre Calvino e sua escola em Genebra percebo que havia então uma proximidade muito maior entre essa e a igreja ali do que consigo ver hoje entre os modernos seminários e as igrejas. Porém, naqueles tempos vivia-se uma Reforma religiosa que foi um mais poderosos reavivamentos da história.
Sim, eu sei que há preocupação das instituições teológicas em dar a seus estudantes uma formação mais prática e menos teórica, buscando maior proximidade com as igrejas, futuro campo de ação daqueles. Contudo, o que me parece é que tal relação seminário/igreja vem fazendo com que o seminarista mais pareça um estagiário de igreja do que um obreiro em treinamento — pior ainda, um estagiário à brasileira, encarado muito mais como mão-de-obra auxiliar do que como alguém em fase de aprendizado e, por isso, carente de maior cuidado e atenção para com a sua formação. Há até pastor que faz coincidir seu período de férias com o do seminarista, aproveitando para botar esse à frente da comunidade e viajar com a família…
Por outro lado, à luz do lemos em 2 Timóteo 2.15 — “procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” — parece que o indispensável que se requer de um ministro é grande conhecimento do Livro Santo. Isso pode incluir, é verdade, saber na área das línguas originais e o básico de Arqueologia e Geografia Bíblicas. Claro, desejável é que ele vá além disso. Mas, repito, é desejável, não indispensável.
Um comentário:
Muito importante esse debate,
vale lembrar que ser instruído em toda a ciência do Egito como Moisés ou como Saulo aos pés de Gamalieu, quando e quanto possível é importante. Porém mais importante o que se fará com isso na obra e segundo a vontade de Deus. O seminário não converte, dá apenas informação e oportunidade de treinamento (?!), não santifica, não dá poder, mais limita que aponta caminhos seguros e fáceis na obra de Deus. Mas boas igrejas devem constituir bons seminários e os seminários ruins são resultado de igrejas ruins, cujos ministros são mais incrédulos do que crentes, sem dúvida.
Um grande abraço irmão.
E...um abraço ao irmão Jorge por mais esse espaço.
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