"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

26 fevereiro 2013

Esquisitice Acadêmica


Por Tanja Krämer

Vou contar para você uma coisa que me deixa meio boba. 

Existem muitos blogs, twitters e seja lá que mais freqüentados por gente oriunda das universidades. Muitos na faixa dos 25-35 anos (como a Espectadora). Em vários casos, a pessoa chegou a passar pela pós-graduação. Como estou mais acostumada a ler gente das Humanas, não sei dizer se há muito blogueiro ou twitteiro (ou qualquer outra função cujo nome seja tão horrendo quanto) que seja formado noutra área.

Não são pessoas que caíram de pára-quedas na área de Humanas. Bom, pelo menos o povo que costumo ler parece ter um interesse genuíno pela área. Muitos costumam até mesmo elogiar as faculdades que cursaram.

O que me deixa boba é uma única coisa. Se tantos vêm das universidades, se há aqueles que até elogiam os cursos que fizeram (ou fazem), por que ao escreverem sob diversos assuntos não costumam citar um único acadêmico brasileiro? Por que não costumam citar um único trabalho (livro, artigo)?

Certas vezes consigo perceber cacoetes acadêmicos. Percebo o uso de certos termos, de certos modos de pensar e de certas citações de autores comuns na universidade. A única coisa que não costumo perceber é a bendita presença concreta da produção acadêmica. Claro, estou generalizando. Porém é muito estranho que no meio de tantas menções a tantos autores quase não apareça um único trabalho de um acadêmico brasileiro. A presença desse pobre coitado é quase fantasmagórica, porque na maior parte dos casos está nas entrelinhas.

De meio boba fico quase doida com algo ainda mais esquisito. Uma das poucas pessoas que costumam citar acadêmicos brasileiros (até já escreveu livros sobre eles) se chama Olavo de Carvalho. Que está fora (e de propósito) do meio acadêmico institucional. Sim, um dos poucos que mais citam os nossos professores é aquele que mais reclama deles.

Se eu estiver certa (descontando um ou outro exagero), como explicar que quem esteve (ou está) no meio acadêmico e que gostou (ou gosta) dele quase não mencione nenhum trabalho ali produzido, enquanto aquele que reclama do mesmo meio vive citando vários a todo instante?

01 fevereiro 2013

Sócrates, o filósofo parteiro



Por Jorge Fernandes Isah

Lendo o livro Teeteto, de Platão, em que o filósofo Sócrates desenvolve um diálogo com Teeteto e Teodoro a respeito do que vem a ser o conhecimento, deparei-me com o trecho abaixo que me fez refletir sobre o papel do mestre,  como o de uma parteira, diametralmente oposto ao entendimento do que vem a ser ensino e estudo massificado pela pedagogia moderna e que tem trazido ao âmbito intelectual e acadêmico uma estagnação jamais vista, onde o pensamento, ao invés de criativo é impositivo e subserviente. 

Sócrates trata, em poucas palavras, de como transformar até mesmo tontos em aprendizes de sábios, e alguns em sábios. O conhecimento é mais do que possível, e o filósofo levará o seu pupilo a, mais do que aprender, conhecer e saber como chegar ao conhecimento [entendo que conhecimento não é aprendizado e vice-versa, necessariamente; e o que fazemos há alguns séculos é incentivar a memória e não o discernimento].

Algo importantíssimo é que, Sócrates, está preocupado em fazer com que Teeteto conheça a realidade, a verdade; e, ainda que seminalmente, pois estou no início do livro, ele trata de como conhecê-la. E se fizermos uma relação com este pensamento, chegaremos à conclusão de que somente a realidade é "conhecível" e, portanto, somente ela é verdadeira. O que nos leva a outra conclusão: Deus somente é conhecido porque é real e verdadeiro, e dele procede tudo o que existe e a verdade, como a conhecemos e a Bíblia assevera categoricamente. 

Por hora, é apenas um aperitivo, e indico a leitura, simples mas entranhável nos abismos da alma. 

Sócrates: A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às das parteiras, com a
diferença de eu não partejar mulher, porém homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, em seu trabalho de parto. Porém a grande superioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens está na iminência de conceber é alguma quimera e falsidade ou fruto legítimo e verdadeiro. Neste particular, sou igualzinho às parteiras: estéril em matéria de sabedoria, tendo grande fundo de verdade a censura que muitos me assacam, de só interrogar os outros, sem nunca apresentar opinião pessoal sobre nenhum assunto, por carecer, justamente, de sabedoria. E a razão é a seguinte: a divindade me incita a partejar os outros, porém me impede de conceber. Por isso mesmo, não sou sábio não havendo um só pensamento que eu possa apresentar como tendo sido invenção de minha alma e por ela dado à luz. Porém os que tratam comigo, suposto que alguns, no começo pareçam de todo ignorantes, com a continuação de nossa convivência, quantos a divindade favorece progridem admiravelmente, tanto no seu próprio julgamento como no de estranhos. O que é fora de dúvida é que nunca aprenderam nada comigo; neles mesmos é que descobrem as coisas belas que põem no mundo, servindo, nisso tudo, eu e a divindade como parteira. E a prova é o e seguinte: Muitos desconhecedores desse fato e que tudo atribuem a si próprios, ou por me desprezarem ou por injunções de terceiros, afastam-se de mim cedo demais. O resultado é alguns expelirem antes do tempo, em virtude das más companhias, os germes por mim semeados, e estragarem outros, por falta da alimentação adequada, os que eu ajudara a pôr no mundo, por darem mais importância aos produtos falsos e enganosos do que aos verdadeiros, com o que acabam por parecerem ignorantes aos seus próprios olhos e aos de estranhos. Foi o que aconteceu com Aristides, filho de Lisímaco, e a outros mais. Quando voltam a implorar instantemente minha companhia, com demonstrações de arrependimento, nalguns casos meu demônio familiar me proíbe reatar relações; noutros o permite, voltando estes, então, a progredir como antes. Neste ponto, os que convivem comigo se parecem com as parturientes: sofrem dores lancinantes e andam dia e noite desorientados, num trabalho muito mais penoso do que o delas. Essas dores é que minha arte sabe despertar ou acalmar. É o que se dá com todos. Todavia, Teeteto, os que não me parecem fecundos, quando eu chego à conclusão de que não necessitam de mim, com a maior boa vontade assumo o papel de casamenteiro e, graças a Deus, sempre os tenho aproximado de quem lhes possa ser de mais utilidade. Muitos desses já encaminhei para Pródico, e outros mais para varões sábios e inspirados. Se te expus tudo isso, meu caro Teeteto, com tantas minúcias, foi por suspeitar que algo em tua alma está no ponto de vir à luz, como tu mesmo desconfias. Entrega-te, pois, a mim, como o filho de uma parteira que também é parteiro, e quando eu te formular alguma questão, procura responder a ela do melhor modo possível. E se no exame de alguma coisa que disseres, depois de eu verificar que não se trata de um produto legítimo mas de algum fantasma sem consistência, que logo arrancarei e jogarei fora, não te aborreças como o fazem as mulheres com seu primeiro filho. Alguns, meu caro, a tal extremo se zangaram comigo, que chegaram a morder-me por os haver livrado de um que
outro pensamento extravagante. Não compreendiam que eu só fazia aquilo por bondade. Estão longe de admitir que de jeito nenhum os deuses podem querer mal aos homens e que eu, do meu lado, nada faço por malquerença pois não me É permitido em absoluto pactuar com a mentira nem ocultar a verdade [pg 10-11].

19 janeiro 2013

Mistério, Paradoxo e Contradições aparentes - Parte 1



"QUANDO SE PERDE ATÉ O QUE NÃO SE TEM!"











Por Jorge Fernandes Isah

Existe um senso quase comum entre os crentes, mesmo entre calvinistas, de que a Bíblia é um livro de paradoxos ou antinomias. O termo mais comum e popularmente usado é o de “mistério”. Mas sendo a Escritura inerrante, infalível e divinamente inspirada há possibilidade de que ela contenha paradoxos?
Primeiro, definamos os termos, segundo o Michaeles:
a)Paradoxo - (cs) sm (gr parádoxos) 1. Opinião contrária à comum. 2. Afirmação, na mesma frase, de um conceito mediante aparentes contradições ou termos incompatíveis.
b)Antinomia - sf (gr antinomía) 1. Contradição entre leis ou princípios. 2Filos Reunião de um par de proposições que simultaneamente parecem contradizer-se e serem provadas, sendo em realidade a contradição apenas aparente ou a prova, no mínimo, de uma das proposições, não concludente. Kant define-a como uma contradição inevitável, em que a razão incorre, ao aplicar as concepções a priori ao transcendente e absoluto: "O mundo teve começo no tempo". "O mundo é eterno" (isto é, sempre existiu). 3. Filos Contradição entre duas leis, quando são aplicadas.
c)Mistério sm (gr mystérion) 1. Arcano ou segredo religioso. 2. Cada uma das verdades da religião cristã, impenetráveis à razão humana e impostas como artigo de fé... 5. Tudo quanto a razão não pode explicar ou compreender; tudo quanto tem causa oculta ou parece inexplicável. 6. Coisa oculta, de que ninguém tem conhecimento. 7. Reserva, segredo. 8. Proposição difícil de compreender; enigma. 9. Ato inexplicável.
Partindo-se da idéia comumente utilizada pela teologia cristã, a Bíblia tem alguns [ou muitos, dependendo do entendimento] paradoxos ou antinomias. Isso quer dizer que o texto nos revela tanto um princípio como outro, que se opõe àquele, ou seja, seriam duas verdades que coexistem conflituosamente dentro de um mesmo conceito de verdade. Apelar para o termo “contradições aparentes” em nada alivia a situação, pois não se sabe onde as contradições são aparentes, além de contradições, naturalmente, serem incoerências em qualquer lugar do mundo, seja aqui ou na Conchinchina.
Por exemplo, quando os calvinistas afirmam que Deus é soberano e o homem é livre em suas escolhas, a fim de se garantir a sua responsabilidade, fica impossível compreender como o Deus soberano, todo-poderoso, que predestinou e determinou todas as coisas, até mesmo as mínimas e mais inexpressivas dentre elas, pode coexistir com o homem livre desse mesmo Deus. 
O sentido de liberdade que se propõe não é outro senão ser livre de Deus. Pois como o homem pode escolher livremente alheio à vontade divina? É o que muitos dizem quando afirmam que Deus é soberano mas a sua soberania para ou é freada quando da decisão humana. Ele determinou e é a causa primeira e última de tudo, mas o homem ainda permanece livre para se decidir, para fazer escolhas livres de Deus, como um livre-agente, sem se compreender adequadamente o que isso representaria. Guardadas as devidas proporções [e todos sabem que analogias são falhas quando se referem a Deus], seria o mesmo que um canário-belga, aprisionado em uma gaiola desde o seu nascimento, declarasse a pleno pulmões que é livre. Mas livre em qual aspecto e condições? Livre do quê e de quem? A qual sentido de liberdade pode apelar?
Senão, vejamos: ele não conhece outro lugar, nem pode sair do seu habitáculo; o máximo que pode é ver o mundo à distância, através das grades, e pode haver alguém que considere o fato dele ter uma visão abrangente do que está a sua volta como liberdade. Nesse sentido, o canário seria livre. Mas se fosse cego, não seria. Se sua mente o levasse a passear pela rua, ou a voar de árvore em árvore,  muitos considerarão que ele seria livre. Mas o fato é que ele pode, quando muito, pular de um poleiro para outro dentro da gaiola; comer, tomar água ou morrer de fome e sede se o dono não providenciar os suprimentos necessários. Dentro da gaiola, o canário é livre para ir e vir, mas o mundo exterior a ela não lhe é permitido. Podemos dizer que ele é um agente-livre, por sempre estar ali e poder mover-se ali? Ele é livre para comer quando quiser, mas não pode escolher o tipo de comida, a menos que lhe sejam dadas opções, que elas sejam colocadas ao seu alcance. Da mesma forma, ele não poderá beber o que quiser, e nem mesmo quando quiser, pois se o dono se esquecer de abastecer-lhe de água e comida, morrerá à míngua. É a esse tipo de liberdade que os compatibilistas se referem quando dizem que o homem é um livre-agente? Mas ele é livre em qual aspecto? O canário é um livre-agente, também? Creio que ambos são livres, mas com uma liberdade que os faz cumprir exatamente aquilo que os seus senhores desejarem ou quiserem que ele faça.
Sei que há objeções, pois o canário, a despeito do controle que o seu dono tem, não pode latir, caçar ratos ou fazer a contabilidade da casa. O dono terá de compreender que ele agirá conforme a sua natureza [e o canário não pode mudar a si mesmo, tornando-se um cão, gato ou contador], mas ainda assim essa natureza encontrar-se-á presa a condições preestabelecidas, e das quais todos os canários participam sem que possam ser identificados como outra espécie, não deixando de ser canários. Eles sempre serão canários, e não podem deixar de sê-los. 
Estando certos de que as Escrituras não metem, sabemos que Deus é aquele que estabeleceu a natureza do canário, dando a ele todas as características peculiares à sua espécie, de tal forma que ele permaneceria canário sem a menor chance de ser outra coisa. Ele pode se encontrar em vários estados e estágios, mas sempre será um canário, mesmo que seja um canário morto. 
Vamos tentar um exemplo ainda mais prático: Deus determinou que no dia tal, na hora tal, eu entrasse em uma certa lanchonete e pedisse um “Beirute”. É fato e infalível que eu naquele exato momento e dia entrasse exatamente naquela lanchonete e pedisse exatamente aquele sanduíche. Deus me colocou ali, de tal forma que eu não poderia estar em outro lugar ou fazendo outra coisa. Então, onde está a minha liberdade de escolha? Os proponentes do “mistério” dizem que Deus estabeleceu isso, mas eu escolhi livremente isso. O fato é que houve uma escolha, entre tantos sanduíches, decidi-me por um, mas como essa escolha poderia ser “livre” se Deus já havia decretado o que eu iria fazer? É como tentar colocar a chave que abrirá certa fechadura em uma outra fechadura que precisar de outra chave para ser aberta.
Placidamente, e acho que com algum peso na consciência, dirão: isso é um mistério, um paradoxo, pois são duas verdades que a Bíblia afirma, mas que não entendemos nem compreendemos e que apenas Deus sabe. Aí é que se encontra a tal “contradição aparente”. Por aparente, querem dizer que ela parece uma contradição, mas na verdade não é. Mas, afinal, é ou não é uma contradição? Como é possível conciliar uma decisão estabelecida por Deus eternamente com uma decisão humana livre? Só se pode chegar a uma conclusão: o homem é livre para escolher aquilo que Deus sabiamente determinou que escolhesse. O homem é livre para fazer o que Deus quer que ele faça.
Um dos mais sérios problemas envolvidos nessa questão da "contradição aparente", a qual é ilógica em si mesmo, ainda que se tente fazê-la racional e inteligivel é que a fé cristã parece baseada em contradições, em afirmações autorefutáveis. Pois se A é A, e B é B, não sendo A igual a B, como compreender que A possa ser A e B ao mesmo tempo? Seria o Cristianismo um conjunto de doutrinas absurdas, que vão além do entendimento humano? E mais, seria Deus um deus de absurdos? E que nos quisesse confundir ao dizer coisas que jamais poderemos compreender? Tudo isso tem de ser levado em consideração quando se procura respaldar uma fé na irracionalidade. 
Por isso, o que mais temos hoje são cristãos alegando "experiências" para confirmarem a sua fé. Desde as mais simples às mais bizarras. O que aconteceu? Em algum momento, o homem abandonou-se à falsa premissa de que a fé não pode ser compreendida, antes tem de ser sentida. Em algum momento, os homens deram mais valor à experiência, ao empirismo, à subjetividade de suas sensações, do que à objetividade do texto bíblico. Em algum momento,  abandonou-se os princípios revelados por Deus, os quais nos dão o entendimento e a compreensão corretas de quem ele é, para entregar-se à uma fé mascarada de piedade mas que, no fundo, não passa de futilidade, do apelo carnal à irracionalidade, a rejeição da verdade. 
Quando cada um pode ter a sua "verdade", ninguém a tem. Quando cada um pode se apropriar de parte dela, transformando-a em algo parecido com ela, mas que não é, ninguém a tem. Quando elementos incompreensíveis são colocados em pé de igualdade com os compreensíveis, e até superando-os, a incompreensividade anula a compreensibilidade. Com isso a mensagem que se está levando é de que tudo pode ser relevante para o conhecimento de Deus e para a prática da fé cristã, sem precisar seguir princípios e normas estabelecidos pelo próprio Deus. Desde que eu "sinta" e o sentimento seja sincero, as coisas mais tolas e ridículas não somente devem ser toleradas, mas disseminadas e seguidas [e o movimento gospel está repleto de esquisitices como que saídas do maior de todos os hospícios]. 
A paixão e um "amor autônomo", que não deve satisfação a ninguém mas apenas a si mesmo, significando que esse amor nada mais é do que o narcisismo, o autoamor que possibilita se fazer tudo sem regras, apenas pelo prazer de fazê-las, tem sido a explicação para que se defenda o disparate e tudo o que é contrário à razão. Quando as pessoas encontram-se nesse estágio, elas estão aquém da realidade bíblica, num mundo de faz-de-contas religioso,  como o das fábulas infantis.  E, nesse caso, a adoração não é a Deus, mas ao ídolo criado pelo próprio homem, que pode ser qualquer deus,  e ele sempre será o próprio homem, ainda que esteja na mente de vários deles ao mesmo tempo; ainda que o objeto de culto seja exterior a ele, mas o culto seja interior, procedendo do coração, e isso contamina o homem [Mt 15.18].
Entendo que o argumento do “mistério” tem um pouco de fé, mas uma fé irracional, e que a Bíblia nos diz não ser a fé bíblica. Na verdade não há na Escritura nenhuma afirmação de que o homem precisa ser livre para ser responsável. A Bíblia não afirma que o homem é dependente de qualquer conceito de liberdade para ser responsável, mas da autoridade divina que o faz responsável. No Éden foi dito: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás [Gn 2.16-17]. E ainda: “A alma que pecar, essa morrerá” [Ez 18.20]. Não há alusão à liberdade, a um tipo de liberdade em que o homem está livre de Deus. O que se lê é tão somente uma ordem que deve ser cumprida, e se não cumprida, ocasionará uma penalidade. O princípio da obediência é a própria autoridade divina, não a liberdade do homem de fazer alguma coisa que seja alheio ou contra os preceitos de Deus. Por isso, o desobediente pagará, porque Deus estabeleceu o castigo e punição. Por isso a Lei é para todos, e ninguém pode alegar que não conhece a Lei para se fazer inocente. O princípio do conhecimento legal existe mesmo em nossos códigos humanos, para que ninguém fique inescusável.
Mas alguém pode dizer: a lei humana é falha nesse princípio, e Deus, sendo justo, não falharia nele. O mais interessante é que normalmente essa afirmação não é proferida por quem desconhece a Lei, mas exatamente de quem a conhece muito bem. E é ele quem quer definir o tipo de “justiça” que Deus deve ter, ao invés de reconhecer a única Justiça que provém de Deus. Senão, por que Paulo afirmaria que todos nascem condenados? “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” [Rm 5.12]. Alguém escolheu nascer? Mas, ao nascer, já está condenado. O próprio Senhor diz ao incrédulo: “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” [Jo 3.18]. O fato é que todos os homens nascem condenados. Ainda que a eleição e salvação foram decretadas na eternidade, do ponto de vista humano, nascemos incrédulos em Cristo. No decorrer da história, Deus chamará, regenerará e justificará aquele que escolheu eternamente, capacitando-o a crer em Jesus como Senhor e Salvador [Rm 8.28-30].
Se entendemos que Deus é o Senhor da história, e de que todos os fatos não escapam à sua vontade; se a história de nações e povos foi estabelecida por ele; por que a minha história pessoal e individual não será? É possível Deus controlar multidões de pessoas, muitos milhões e bilhões delas, sem controlar o indivíduo? Ou Deus controla o indivíduo ou não controla absolutamente nada: “E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?” [Dn 4.35]. Como é possível o Deus que estabelece todas as coisas em seus mínimos e mais inexpressivos detalhes, segundo a sua vontade, coexistir com a “liberdade humana” de, até mesmo, se contrapor a ele?
Sei que calvinistas dirão que esse esquema é arminiano. E de que afirmam a soberania de Deus, de que o homem não pode fazer nada alheio ao decreto eterno, contudo, também afirmam que nas causas secundárias, nas causas circunstanciais, o homem é livre em sua escolha segundo a sua natureza. Se para o pecado, irá escolher pecar; se redimido, pode não pecar ou, em último caso, vir a pecar. Como isso se dá, um homem livre escolher livremente segundo a vontade divina, eles não têm respostas. Alegam a antinomia. De que são duas verdades que correm paralelas. Mas seria isso mesmo? Ou esse não é um esquema nitidamente construído pela mente humana para não reconhecer que Deus é o Criador de todas as coisas, e de que controla todas as coisas? E de que mesmo o mal e o pecado não podem existir sem que Deus os tivesse criado e os sustentasse para a sua glória? Se Deus tem poder sobre os vasos de honra e vasos para a desonra [Rm 9.21], originalmente eles foram criados com propósitos nítidos e definidos, por ninguém menos que o próprio Deus. E de que os vasos para desonra, preparados para a perdição, cumprirão exatamente toda a vontade decretiva de Deus, de viverem ímpia e pecaminosamente, praticando o mal e o pecado livremente, mas numa liberdade somente possível de se cumprir “ipsis litteris” a plena vontade de Deus... O homem, seja quem for, é livre para fazer somente a vontade de Deus.
É claro que estou-me referindo à relação Criador-criatura; entre as criaturas temos uma "aparente liberdade" [esse é um senso de autonomia que acredito originário da própria Queda do homem. Uma ilusão de que é possível ser livre de Deus, e assim, enganá-lo em sua vontade] , e, de fato, escolhemos e nos decidimos por muitas coisas durante a vida, porém, sabendo que mesmo as escolhas mais simples estarão “amarradas” às contingências anteriores [sejam objetivas ou subjetivas] as quais nos levarão a escolher por alguma coisa em detrimento de outra. 
Quando o homem acredita que existe uma compatibilidade entre ele e Deus, de maneira que o homem colabora livremente para que aquilo que o Criador determinou soberana e livremente na eternidade se cumpra, temos um dilema sem respostas. É isso que a maioria dos calvinistas afirmam no final das contas: não há respostas. Acontece que Pedro alertou-nos para estarmos sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que pedir a razão da esperança que há em nós [1Pe 3.15]. Mas como poderemos responder se não temos respostas? Ou se nossas respostas são vazias em si mesmas? Ou se revelam uma fé claudicante e contraditória? Ou, ainda,  se ela se opõe ao que foi revelado pelo próprio Deus? Seria Deus perfeito ao ponto de nos apresentar conceitos imperfeitos e incompletos? Penso que não. Penso que há uma espécie de negligência travestida de piedade e humildade em que as pessoas são conformadas à mentalidade do presente século;  de forma que os apelos existenciais do homem moderno sobrepujam à verdade escrituristica. Sei de muitos que não podem ver, mas sei de muitos mais que não querem ver. Recusam-se terminantemente a encarar a verdade, preferindo o conforto de manterem seus corações e mentes presos à mentira, ao engano. 
Alguém dirá que isso é irrelevante. Desde que se seja eleito. O importante, no final, é a salvação, somente possível por Deus. Isso é verdade, mas usá-la para justificar uma infinidade de erros, em que muitos são usados como pedras de tropeço para seus semelhantes está distante daquilo que é-nos exigido fazer.  
É inadimissível a ideia de que Deus nos preparou "pegadinhas" ou orientou desleixadamente os seus autores. Para o Deus sábio, santo e perfeito, isso é impossível. Mesmo que eu não entenda e compreenda certas questões descritas na Bíblia [e posso não entender muitas coisas por simples  incapacidade intelectual, mas a minha incapacidade intelectual não a tornará em um livro de paradoxos],  jamais poderia apelar para o "mistério".  O que há, em muitos casos, é má-vontade, é não querer a explicação e contentar-se com a não-explicação.  E a Escritura exprime-se inteligivelmente, desenvolve-se em seu escopo de maneira autoexplicável, a fim de que o homem entenda a verdade e afaste-se do engano.  Afirmar a sua contradição aparente [e o que vem a ser isso, logicamente?] significa dizer que não há verdade, pois não existe oposição na verdade, de tal forma que duas proposições que se contrapõem não podem ter a mesma origem, elas se excluem, e uma será verdadeira, enquanto a outra será falsa. Procurar um entendimento de qualquer conceito bíblico com a premissa de que a Bíblia tem contradições, significa dizer que ela é falsa, não é infalível, nem divinamente inspirada. 
Ainda alguém poderá dizer: "Cara, você é arrogante demais! Desprezar séculos e séculos de história em que  homens piedosos humildemente se curvaram ao paradoxo, sabendo que não teriam todas as respostas, é colocar-se numa posição superior e orgulhosa".
Eu diria que o fato, em si mesmo, é irrelevante, pois se homens erraram [e muitos erraram], e outros seguiram os erros daqueles, e gerações posteriores os propagaram, não quer dizer que eu deva negar a verdade pela quantidade de testemunhos que se opõem a ela. O número de pessoas que se identificam com determinada posição não garante a veracidade dessa posição.  Pode, quando muito, dizer que ela é bem aceita, que há muitos defensores. Mas o que resta a essas pessoas é responder o seguinte: como se é possível crer em algo que se contradiz? Você poderia confiar em uma placa de "Perigo! Não  entre!" se houver ao lado dela uma outra dizendo "Benvindo! Entre!"? Como saberá qual placa é a verdadeira? Se afastará ou prosseguirá? Esse é o problema quando os princípios absolutos são negados. E se pensa que se tem algo, quando não se tem nada!


[Continua na próxima semana]

Nota: Texto publicado originalmente no Kálamos. Caso se interesse em ler os comentários, vá até lá!

02 janeiro 2013

O PODER DO DIABO ESTÁ SUJEITO À AUTORIDADE DE DEUS




Por João Calvino


Quanto, porém, diz respeito à discórdia e luta que dissemos existir de Satanás
com Deus, entretanto assim importa admitir que isto permanece estabelecido: que aquele nada pode fazer, a não ser que Deus o queira e consinta. Ora, lemos na história de Jó que aquele se apresenta diante de Deus para receber ordens, nem mesmo ousa aventurar-se a encetar alguma ação maligna, a não ser que a permissão seja impetradada [Jó 1.6; 2.1]. Assim também, quando Acabe tem de ser enganado, o Diabo toma a si a incumbência de ser um espírito de mentira na boca de todos os profetas, e o executa, comissionado pelo Senhor [1Rs 22.20]. Por esta razão, também se diz provir do Senhor o espírito mau que atormentava a Saul, porque, por meio dele, como por um látego, eram punidos os pecados do ímpio rei [1Sm 16.14; 18.10]. E, em outro lugar [Sl 78.49], está escrito que as pragas foram por Deus infligidas aos egípcios através de anjos maus. Em conformidade com esses exemplos particulares, Paulo atesta, generalizadamente [2Ts 2.9, 11], que o endurecimento dos incrédulos é obra de Deus, embora antes fosse dito ser ele operação de Satanás. Portanto, é vidente que Satanás está debaixo do poder de Deus e é de tal modo regido por seu arbítrio que se vê compelido a render-lhe obediência.

Conseqüentemente, quando dizemos que Satanás resiste a Deus e que as obras
daquele são contrárias às obras deste, estamos afirmando, a um tempo, que esta incompatibilidade e este conflito dependem da permissão de Deus. Não estou falando agora em relação à vontade de Satanás, nem tampouco em referência a seu intento, mas apenas com respeito a sua maneira de atuar. Ora, uma vez que o Diabo é ímpio por natureza, está mui longe de ser propenso a obedecer à vontade divina; ao contrário, ele se inclina à contumácia e à rebelião.

Portanto, isto tem Satanás por si mesmo e por sua própria malignidade: ele se
opõe a Deus com vil paixão e deliberado intento. Em virtude dessa depravação, é ele incitado à tentativa dessas coisas que julga serem especialmente contrárias a Deus. Como, porém, este o mantém amarrado e tolhido pelo freio de seu poder, ele leva a bom termo apenas aquelas coisas que lhe foram divinamente concedidas, e assim, queira ou não, obedece a seu Criador, porquanto é compelido a prestar-lhe serviço aonde quer que o mesmo o impelir.

FONTE: Institutas da Religião Cristã, Vol. I, pg. 168/169

19 dezembro 2012

A perda dos valores faz o homem procurar a quem não se pode achar - Pequena reflexão sobre Ana Karenina, de Tolstói


Por Jorge Fernandes Isah

Em Ana Karenina, Tolstói aborda uma boa gama de problemas e dilemas que afligem a humanidade desde  o Éden. Temas como amor, traição, fidelidade, honradez, malícia, hipocrisia, ingenuidade, fé, etc, são ingredientes presentes no palco em que se desenrola a história.

Ele delineia minuciosamente os seus personagens, de maneira que os conhecemos profundamente. 

Muitas discussões iniciadas no sex XIX perduram até os nossos dias, mas, em especial, chamou-me a atenção a reflexão que o autor faz acerca da queda ou declínio intelectual e moral da sua época, o emburrecimento daqueles que deveriam defender e perpetuar a alta cultura, e o flagrante desprezo aos princípios judaico-cristãos na sociedade. De forma que entre os aristocratas e letrados é-se possível notar o que seria "regra" hoje: o desprezo ao conhecimento e à moral, e a exaltação dos instintos ao nível do irracional. 

Ana é um bom exemplo disso: viveu e morreu pelos seus prazeres e sensações, muitos equivocados, muitos exaltando-lhe o egoísmo e o narcisismo, muitos falsos e irreais, que culminaram numa segunda realidade, existindo apenas em sua mente. Mesmo sendo rejeitada pela sociedade, de maneira geral, seus pecados eram amenizados ou esquecidos por conta da sua beleza e sensualidade, onde os homens adoravam-na enquanto as mulheres desprezavam e invejavam-na. Pouquíssimos são os exemplos morais, num mundo infestado pela imoralidade, mas até mesmo esses reconheciam sua condição miserável e indigna, como a amante do irmão de Levine. A própria Ana reconhecia a desgraça em que se lançara, mas a ideia de uma felicidade amorosa e verdadeira e duradoura com Vroski era como uma espécie de recompensa a todo o mal que ela havia produzido [como se pudesse redimir-se a si mesma através da transgressão]. Temos as figuras dos ídolos, aqueles pelos quais se manifestam o desejo humano de deificação, seja o amor proibido ou qualquer forma de rebelião ao natural; pois, como criaturas imperfeitas e necessitadas poderiam gerar relações perfeitas e suficientes?

Interessante notar que o senso moral está presente, é reconhecido mas não aceito, como se acatá-lo significasse algum tipo de escravidão, e a sua rejeição consciente a liberdade. Ao contrário dos nossos dias, onde a moral, ética e os valores nobres do homem são desprezados por não serem reconhecidos como tais [o relativismo torna impossível qualquer verdade absoluta, entregando-se à irrealidade e contradição da "verdade relativa"; como uma roleta russa, em que o tambor está cheio de balas], lá, ao tempo de Tolstoi, o homem se entregava ao erro pela impossibilidade de não vivê-lo, ainda que reconhecido como tal, como erro, suas consciências fustigavam-nos, em uma montanha-russa de angústia e prazer. 

Esta é uma condição natural do homem, entre o bem e o mal e a escolha entre eles; ao passo que, atualmente, a ideia do mal está-se misturando de tal forma à do bem que o mal se faz bem e o bem mal, para a desgraça completa da humanidade. Aqueles que apontam esse estado de coisas como uma evolução social, o homem se desprendendo das amarras que o subjugaram pôr séculos, esquece-se de olhar para baixo e vislumbrar o abismo que está lançado. As amarras impediam-no de destruir-se, mas optou pela ruína. 

Recentemente, li uma crítica ao livro em que o autor dizia que a obra de Tolstói era uma denúncia ao conservadorismo e hipocrisia da Russia Czarista, e ao moralismo da época. Penso que é exatamente o contrário. Tolstói expõe, exatamente, o oposto, a decadência moral e cultural do período, em que o racionalismo e todas as suas consequências danosas ao homem, já revelavam um estado de degradação que atingia não somente as alcovas mas os gabinetes governamentais, eleitorais, e praticamente contaminava todas as demais relações. O homem provava do próprio veneno, sem saber que a morte seria uma consequência natural, sem acreditar-se moribundo. 

Tolstói é conservador, e dá à sua obra um caráter nitidamente existencial [ainda que o termo não tivesse, ao seu tempo, o conceito de hoje] e metafísico no desfecho final, indicando que o homem deveria fugir do comodismo e da lineariedade mental e espiritual à qual estava exposto e se sujeitava. Interessante que as implicações metafísicas têm respostas diretamente tiradas da realidade, num claro exemplo de lucidez e saúde espiritual [pode-se dizer até mesmo maturidade], como atestam as reflexões finais de Levine. 

O livro é um achado, e sua leitura pode surpreender, não como estamos acostumados a ser surpreendidos com o espanto e o susto gratuitos e muitas vezes bárbaro, mas levando-nos a meditar sobre questões cruciais ao ser humano: a vida e a morte, por exemplo. 

Leitura mais do que recomendada.

01 dezembro 2012

Quem os salvará de si mesmos?




Por Jorge Fernandes Isah


A partir do texto do jornalista Reinado Azevedo, publicado no blog "Impresões sem pressões", do amigo Tom Alvim, transcrevo a seguir o meu comentário por lá [que não sei se foi publicado], com as devidas correções feitas, o que, infelizmente, não pude realizar a tempo de enviá-lo ao amigo, por pura presunção de que não poderia errar em um trecho tão rudimentar. Mas o que não parecia possível aconteceu, de diversas maneiras, para o meu 
aprendizado, espero.

Bem, vamos ao meu comentário, então; mas não deixem de ler o texto do Reinaldo.


Quem os salvará de si mesmos?

O que o governo brasileiro faz, com a conivência e endosso da maior parte da sociedade, é justamente a guerra de classes, de raças, e o que mais puder gerar conflitos. O que eles querem é o caos, a desordem moral e intelectual, para implementarem o ajuste final da revolução: o totalitarismo em que negros e brancos, homos e heteros, empregados e patrões serão nada além de um cisquinho numa praia. Todos os "movimentos" libertários e igualitários que eles fomentam, a partir da ignorância e cegueira geral, subsistirão enquanto for-lhes necessário. A ditadura marxista tratará de, imediatamente, extirpá-los tão logo o golpe final aconteça. Surto? Teórico da conspiração? Basta ler um pouco da história e ver o que Lénin, Stálin, Mao, Castro e outros fizeram com os seus aliados e com as "minorias" instantes após chegarem ao poder.

Sociólogos, antropólogos, psicólogos e filósofos marxistas construíram um ambiente belicoso por décadas, insuflando a consciência popular da injustiça a que foram submetidos operários, negros, índios, mulheres, etc, e a necessidade de reparação por algo que não sofreram, numa busca incessante pela desordem mental e social, tornando-nos mais e mais suscetíveis ao controle e domínio de uma casta que se autodenominou “iluminada”, em que eles e nós, no final-das-contas, estaremos como cegos em tiroteio.

Qual de nós pode ser culpado pelo que aconteceu há 100, 200, 300 anos? Mas somos responsáveis, hoje, por permitir que a nossa consciência seja corroída pelo embuste, pela falácia, pelo cinismo e impudência de que é possível reparar o irreparável condenando o incondenável. E tudo começa quando não se percebe a responsabilidade que se tem, inclusive de se fazer a verdadeira justiça, enquanto se luta por algo imaginário, que nem mesmo pode ser chamado de "segunda realidade", mas é uma irrealidade, pior que o mais doentio delírio. Ao se buscar uma justiça para o passado [que raios vêm a ser isto?], continuamos injustamente não fazendo a justiça hoje, nem no futuro.

A legislação atual faz, cada vez mais, acentuar todo esse quadro de injustiça, ao ponto em que, como nos filmes da série Mad Max, os homens lutarão, cada um por si, como nenhum bárbaro jamais poderia imaginar-se como tal [alguém duvida de que isso aconteça? Basta ver os acontecimentos em S.P, p. ex., para se perceber que os bárbaros estão no controle; graças ao sucateamento premeditado da força policial, e mais do que isto, de todo o sistema legal e judicial, o que significa dizer que a sociedade está em frangalhos e não se percebe em ruínas, enquanto arrota caviar comendo bolor].

Então, quando todos os instrumentos de equilíbrio social estiverem extintos, a força do Estado se fará presente, para implementar a sua "ordem", e aí é que a porca torcerá o rabo... Pode durar décadas e séculos, mas o homem está construindo para si mesmo uma fornalha em que ele é o combustível [se lembrarmos, p. ex., que na Rússia czarista foram necessários pouco mais de 50 anos para a revolução bolchevique, e de que na Alemanha o Nazismo alcançou o poder em pouco mais de duas décadas, os nossos prognósticos podem significar  alguns anos talvez].

Eu não sei mais o que pensar... Tem momentos em que, se não fosse a paz que Cristo nos dá, e a esperança no porvir, abandonar tudo seria uma ótima solução para a aflição deste mundo. Mas temos um trabalho a fazer... Então, façamo-lo. E denunciar o cativeiro da mente do homem atual a tudo que de pior se produziu pelo próprio homem, faz parte desse trabalho.

Que o bom Deus tenha misericórdia de nós!

30 novembro 2012

Pode o cristão se casar com uma incrédula?
















Por Jorge Fernandes Isah

Alguém pode pensar que este é um assunto morto. Tanto quanto o defunto mais velho enterrado no cemitério da sua cidade. Porém, isso me parece muito mais uma atitude para se afastar do assunto, rejeitá-lo ou negligenciá-lo, do que propriamente conhecê-lo à luz da Escritura.

Há muitos que consideram normal o casamento misto. Afinal, o marido crente abençoa a mulher não-crente, e vice-versa. Mas esquecem-se de que o contexto para esta afirmação não se encontra antes do casamento, quando um(a) crente poderia casar com uma(um) incrédula(o) e assim obter de mais tempo e empenho para convertê-la(o). Paulo nos diz que isso acontece quando dois incrédulos se casam, e no decorrer do casamento, um deles se converte a Cristo. Como o casamento é indissolúvel, não há porque o recém-convertido se separar da outra parte, a menos que esta não queira viver com ele.

Não há garantias de que um crente, casando-se com uma incrédulo, poderá levá-la a Cristo. Ora, como Paulo disse: "Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?" [1Co 7.16]. A salvação é divina, e somente Deus poderá salvar ou não; mas o crente é chamado à obediência; e a Escritura é clara em fazer separação entre o fiel e o infiel. Portanto, considero essa posição [e há pastores, líderes e muitos de nós que a defendem] como um conselho temerário, senão, vejamos:

1) Como crentes, desaprovamos a desobediência a Deus;
2) Segundo os defensores do casamento misto, a desobediência tem um elemento que justifica a rebeldia, ou seja, o altruísmo de se levar o futuro cônjuge a Cristo, valendo-se da piedade por sua alma. Mas isso nada mais é que enganar-se, achando que o erro pode se converter em acerto pelo simples desejo do nosso coração de que assim ele seja.
3) Levando-nos à conclusão de que o crente, mesmo em rebeldia, deve buscar por uma bênção por seus próprios meios e esforços, à parte do preceito divino de que lhe devemos, sobretudo, obediência.

A coisa toda fica pior quando se utiliza do exemplo de Salomão, o qual se entregou aos casamentos mistos, para ratificar esse pecado. É evidente que a Bíblia nos revela os erros de Salomão não para serem seguidos, mas exatamente como um preventivo para que não incorramos neles; ao nos mostrar os efeitos danosos que sobrevieram ao povo de Israel [a idolatria, p. ex.], mas para o próprio Salomão, que também se tornou idólatra, e queimou incenso para outros "deuses", e teve o seu reino dividido, ainda que Deus o poupasse desse desgosto, por amor ao seu pai Davi; mas assegurando-lhe de que sob o reinado do seu filho Roboão, Israel se esfacelaria.

O argumento do casamento misto, nada mais é do que o desejo do desobediente de convencer-se a si mesmo de que existem motivos nobres e piedosos para se aventurar a uma empreitada que significará rebelião e pecado. É isso mesmo! Quem age deliberadamente assim não comente nada além do que pecado! E o pecado é o desprezo ao próprio Deus.

Muitos também alegam que Deus pode abençoar o crente na desobediência. É possível? Sim, claro! O que, contudo, não absolve o crente em sua desobediência, ao rejeitar o princípio tão claramente exposto na Escritura, a separação que Deus estabeleceu para o seu povo. Fato é que o desobediente será disciplinado por isso, caso seja realmente um filho de Deus. Do contrário, a ira do Senhor estará sobre ele, para todo o sempre.

Então, pode-se perguntar: o que o(a) crente deve fazer caso tenha se casado com uma(um) incrédula(o), e reconhece que pecou? Meu conselho é: arrependa-se! E dê o melhor testemunho cristão para que o(a) cônjuge também se arrependa de seus pecados, reconheça Cristo como Senhor e Salvador pessoal, e assim, formem um lar santo, em que a obediência aos preceitos divinos traga frutos de glória para o bom Deus.

Nota: Texto originalmente publicado no "Cotidiano Cristão", blog que tenho o prazer e a honra de dividir com o irmão Filipe Machado

16 novembro 2012

Sete razões não-bíblicas para ser calvinista


Quem disse que o facebook não nos pode surpreender com alguma boa novidade? Chegou a mim uma sugestão de texto que me foi como uma lufada de ar fresco. Tanto o ritmo quanto o próprio conteúdo se me apresentaram como uma leitura leve e agradável assim como cheia daquela profundidade que não precisa ser exposta para se fazer presente.
O texto sofreu poucas modificações. Como ele foi publicado em partes, tirei as referências às “próximas postagens”. Assim como eliminei uma referencia a comentários. De resto, está tal qual publicado em Voz do deserto, de Tiago Oliveira Cavaco.
AS SETE RAZÕES NÃO-BÍBLICAS QUE ME LEVARAM AO CALVINISMO
Ainda não trago grande bem ao mundo quando me envolvo em algumas discussões. Não porque essas discussões assentem sobre assuntos pouco importantes mas porque tenho um infeliz talento de ser capaz de pregar a higiene numa luta de lama. Os últimos anos têm sido por isso de aprender a ficar calado não porque ache que as palavras são desnecessárias. Estou cada vez mais certo da importância das palavras. Falta-me é o discernimento de usá-las na medida certa para que a fé brilhe acima do facto de ser minha. Não sei se todos compreenderão o dilema mas envolve boa parte da minha existência. No fundo, calar mais para falar melhor.

Posto isto não tenho como não fazer uma perninha no assunto do calvinismo. Desde que SDB se tornou uma Igreja autónoma e eu fui consagrado Pastor tenho tentado uma maneira mais crescida de debate teológico. Uma das maneiras mais crescidas de debate teológico que tenho assumido e encorajado aos membros da minha igreja é simples: abandonar quase todos os debates teológicos nos quais temos andando envolvidos, eu e os membros da minha igreja. Por ridículo que pareça, uma das jóias da Coroa da Igreja Baptista de S. Domingos de Benfica é a relativa tranquilidade dos seus membros em discussões nas redes sociais. E ainda podemos melhorar muito, muito mais. Mas de um modo geral o pessoal de SDB procura pudor onde os outros arrancam pujança. Por que razão? Porque, e simplificando muito, quando o debate teológico não nos custa pessoalmente é porque não tem um valor real na nossa alma. Conheço o dispositivo porque ainda me é fácil praticá-lo: saímos para amolgar as cabeças dos outros com o nosso coração duro. É tão difícil discordar em amor que acabamos por tentar fazê-lo só mesmo quando não existe alternativa. E com isto não estou a dizer que um cristão só pode meter-se em discussões onde tenha de discordar em amor. Há discussões onde a discórdia tem de ser até violenta porque não existem irmãos no horizonte. Aí, de qualquer modo, deve vigorar ainda a educação, a elegância e a elevação. Nem que seja para arrasar o adversário que está errado.

Falava-vos de calvinismo. A palavra calvinismo dá-me muito trabalho porque sou calvinista. Mais adiante já vos falarei melhor acerca das questões semânticas mas para o efeito imediato devo dizer que é o facto de ser calvinista que me leva a não dar grande valor ao termo. Um dos refrões que mais repito na minha Igreja é que, com a chegada de pentecostais e carismáticos à congregação, Deus não me chamou para fazer baptistas de pentecostais nem para transformar arminianos em calvinistas. O meu desejo é pura e simplesmente pregar o Evangelho que depende cem por cento de Jesus Cristo. Acontece que no último mês, e muito por conta de uma frase magistral do Dr. Shedd que citei, o assunto voltou a bater à minha porta de uma maneira que acho irresponsável não atender. Qual o meu compromisso então nesta hora? Dar-vos um breve roteiro pessoal que conte do caminho que me fez chegar ao calvinismo. Mas ao fazê-lo devo procurar um método amistoso. Como aqueles jogos de futebol na escola secundária em que uma equipa era tão mais forte que a outra que lhe dava avanço. O jogo começava com cinco a zero a favor dos mais fracos. Lembram-se? Neste caso, e perdoarão o que pode parecer arrogância mas é apenas misericórdia, vou explicar sete razões não-bíblicas que me levaram ao calvinismo. Porque se fosse falar de razões bíblicas receio que os meus opositores nunca mais se levantassem do chão. Embora qualquer calvinista reconheça a existência de uma minoria de textos difíceis todos os outros em que preto no branco a Palavra explica que é Deus quem toma a iniciativa de escolher os Seus filhos são tão esmagadores que me sentiria a bater em mortos. Tendo clarificado isto, avanço. E sem notificar um único versículo.

1. Kierkegaard.
Foi a leitura do filósofo dinamarquês que em muito me inclinou para o calvinismo. Reconheço que o embalo foi nesse sentido mais existencialista que da ordem da Teologia Sistemática. Ora, Kierkegaard fala muito de Lutero e nem por isso de Calvino. Mas é Kierkegaard que escreve nos seu diários uma coisa tão simples quanto óbvia: “a ideia de um livre-arbítrio abstracto é uma fantasia. O conceito de pecado mantém qualquer pessoa cativa de todas as maneiras.” Ou seja e numa paráfrase pessoal, se todos os homens são pecadores, como a Bíblia ensina, a liberdade só pode ser uma brincadeira de mau gosto.

2. Os calvinistas são vistos como bad boys e são os bad boys que ficam com a miúda.
Lembro-me da primeira vez que inquiri um amigo um pouco mais velho do que eu e que na altura me influenciava quando me apercebi que era calvinista: como é possível que sejas calvinista? A pergunta foi feita em jeito de acusação de um crime mas o que eu não esperava é que uma vida de crime pudesse ser tão atraente. Os calvinistas ao transgredirem os muros do livre-arbítrio quebram a suprema propriedade privada do mundo moderno: a crença de que o homem tem na sua liberdade o bem maior. Mais que bons teólogos os calvinistas são bons bandidos.

3. O livre-arbítrio é racionalmente ruim, raso e rarefeito.
A acusação típica é a que o calvinismo é absurdo, como se propusesse um jogo em que os dados estão viciados. Logo deposita-se na escolha toda a razoabilidade do cristianismo: cada homem decide o seu destino. Além do que já mencionei no ponto 1, o livre-arbítrio é racionalmente ruim porque como pode a criatura de um Criador ditar as regras pelas quais se quer comportar? O livre-arbítrio é racionalmente raso porque quer fazer de um oceano profundo um lava-pés daqueles que estão na entrada das piscinas municipais. O pragmatismo arminiano, a maneira como explica a salvação em poucos passos burocráticos, torna a santidade chata e espalma a teologia (e daí o degrau para o ponto 2, em que os calvinistas aparecem aos olhos dos outros como ovelhas negras - um dos segredos mais bem guardados é que os calvinistas identificam-se efectivamente mais com um pecador talentoso que com um beato automático). O livre-arbítrio é racionalmente rarefeito porque rouba o oxigénio. A pessoa vive oprimida com a reinvenção permanente da sua liberdade. Sem ar ninguém pensa bem. A inspiração, que permite a existência dos poetas, é criminalizada pelos advogados da escolha, maus a conviver com a subjectividade dos mais marginais. Pessoalmente só conheço em Portugal um poeta arminiano (um grande abraço para o João Tomaz Parreira). Já cada calvinista, identificado com os abismos do pecado e com as alturas da graça, tem dentro de si uma montanha de heterónimos.

4. As melhores histórias de amor são de rendição e não de escolha
Sob a possibilidade de arruinar esta verdade com um mau exemplo, devo indicar um dos primeiros momentos que ma mostrou na televisão da minha infância: Modelo e Detective. Basicamente “Modelo e Detective” era uma série que, no meio de assinalável impenitência e alguma libertinagem, exibia um romance entre dois sócios detectives que se detestam na mesma medida que se amam. A relação estava longe de ser biblicamente sustentável mas serve para o efeito deste argumento. O diálogo mais comum entre Bruce Willis e Cybill Shepard era blam! Por cada porta que batia a criança que assistia aos episódios tinha o seu entendimento de amor dilatado para a ciência do estrondo. E apercebia-se que um importante apêndice deveria ser acrescentado à moral dos romances aprendidos na infância: com frequência os amantes mais sinceros parecem quererem matar-se um ao outro. Romeu e Julieta de Shakespeare já tinham feito da morte voluntária uma conquista amorosa mas a tentativa de homicídio é outro negócio. Desde que fui exposto a essa compreensão ganhei a consciência que a luz que iluminasse a minha noiva na primeira vez que a visse podia ser crepuscular (e assim acabou por acontecer quando as minhas inaugurais interacções com a Ana Rute tiveram mais de guerra que de galanteio). Tudo isto para dizer que os calvinistas percebem bem que esta mesma lógica se aplica ao romance entre Deus e os seus filhos.

Os maiores amantes de Deus foram antes e sem excepção pessoas que o odiaram. O Criador não tem namoradinhos que o escolheram. Não é o seu estilo. As pessoas que amam Deus contam o enredo explicando que se tratou de um rapto de onde saiu um síndrome de Estocolmo (a estima inesperada que nasce do raptado pelo raptor). O amor cristão é um amante que encurrala o outro, não um encontro paliativo de sinergias. Não se escolhe o Senhor como se escolhe um par de sapatos. As pessoas que falam sobre a sua fé em jeito de opção por Deus além teologicamente equivocadas têm um péssimo critério para histórias de amor.

5. João Calvino não inventou o Calvinismo
O melhor a explicar isto é Spurgeon. Quando diz que o calvinismo é uma alcunha para o Evangelho, para a mensagem central expressa nas doutrinas da Graça. Alcunha não é nome mas para alguns efeitos práticos pode servir. É óbvio que Jesus não veio deixar uma mensagem calvinista. O maior JC é ele e não o João Calvino. O próprio João Calvino revolver-se-á no túmulo ao saber que fizeram do seu apelido um resumo do sistema intelectual sobre o qual assentam as verdades nucleares do cristianismo. Por isso nenhum bom calvinista lutará pelo calvinismo. Mas pelas ideias que levam a alcunha de calvinismo. Porque nessas ideias está um sumário de palavras humanas acerca do do valor infinito e extra-linguístico que tem a história de Cristo. João Calvino não inventou o calvinismo. O calvinismo é uma alcunha recente para a fé cristã, essa dos apóstolos, dos padres da igreja, de Atanásio, Agostinho, de Niceia e Constantinopla, dos nominalistas, dos reformadores, dos puritanos, dos evangélicos, e de todos os santos e de todos os pecadores regenerados. Uma ironia irresistível é que até os cristãos que estão convencidos que destestam o calvinismo serão, nesse sentido, salvos pela verdade que ele alcunha. No fim o que dirão os calvinistas? Viva o calvinismo? Céus. Não. Os rótulos têm graça mas Cristo tem a Graça. [1]

6. As pessoas que odeiam o calvinismo não têm sentido de humor (e de arquitectura)

Não gostaria de colocar a tónica na negativa quando vos falo das razões que me levaram ao calvinismo. Até porque o verbo atrair é fundamental para os calvinistas e a sua acepção é completamente positiva. No entanto, e como em tantas coisas na vida, há caminhos que se percorrem principalmente porque os outros nos desagradaram. E devo confessar que também escolhi o calvinismo porque as outras opções me pareceram piores. Ora, ao usar o verbo escolher sei que me podem acusar de contradição depois de tanta pancada dada no livre-arbítrio. E se o fizerem apenas confirmam a tese deste ponto: na incapacidade de acolherem paradoxos, coisas que parecem mas não são contraditórias, os não-calvinistas mais que revelarem pouca nuance revelam falta de sentido de humor.

Pode ser um cliché preguiçoso mas também acho que o humor é sinal de inteligência. Não afirmo que o humor é sinal de discernimento (o mundo está cheio de pessoas bem-dispostamente erradas) mas que os que têm discernimento têm também algum humor. Creio que o sentido de humor passa por uma capacidade de jogar com a proporção das coisas, sugerindo novas combinações a partir de comparar medidas diferentes. Humor é tanto recreio quanto medição. Para não tornar isto demasiado abstracto: rio-me com o que me faz parecer novo o que não o é (e para o efeito do argumento: nada é puramente novo num mundo que não foi criado pelas criaturas que o habitam). As coisas mais engraçadas são para mim inaugurações de antiguidades e provocam um efeito de surpresa que vai além da sua utilidade. Isto faz-me perceber a ligação directa entre beleza e verdade e estar mais sensível a alegrar-me com tudo aquilo que subsiste por ser bonito, independentemente de o compreendermos e o sabermos aplicar na hora. Por que se riem os homens de coisas que não lhes enchem o estômago? Porque a sobrevivência é também uma questão de alegria. É a verdade a ser saboreada antes de ser entendida.

É aqui que entram os não-calvinistas e a sua falta de sentido de humor. A minha tese é: o pragmatismo intenso do que crê que tudo só se resolve a partir da sua intervenção individual sobre o universo externo perturba todos os momentos que não trazem explicação (logo a acusação simplista de Deus não poder existir por causa do incompreensível sofrimento da humanidade, ou, existindo, não poder ser bom). A pessoa inquieta-se (e equivoca-se) e fica menos disposta a olhar à sua volta para tudo o que existe além da urgência da resposta que procura (não aceitar a existência do sofrimento é um recuo a só sabermos viver com o que sabemos explicar - uma triste ironia sobretudo para os cristãos que supostamente acreditam que Deus reconcilia o mundo consigo através do sofrimento voluntário do Seu filho). Logo tem menos atenção para ver. Quanto menos vê, menos aprecia e quanto menos aprecia menos compara. Quanto menos compara mais material de alegria perde, alegria essa de jogar com combinações frescas de medidas conhecidas. Resumindo muito: o não-calvinista preocupado em resolver o mundo a partir da sua liberdade ri demasiado pouco. Rir pouco é grave porque ajuda-o a reduzir o cosmos à sua ansiedade. Reduzir o cosmos à nossa ansiedade é uma distorção violenta da realidade porque uma coisa é uma pessoa e outra coisa é o cosmos. Rir é por isso discernimento (o contrário do provérbio português que diz “muito riso pouco sizo” e que alimenta a condenação que os vizinhos culturalmente católicos estendem às pessoas que saem das igrejas evangélicas sem o ar pesado da religião). Não saber rir é não saber avaliar. E fechar os olhos ao que não tem explicação imediata. Um mundo sem mistério é uma mentira grosseira porque o homem é pequeno demais para a grandeza da Criação. Os calvinistas estão mais abertos ao mistério do mundo que é Deus ter nas suas mãos a história de tudo. Riem mais porque reconhecem as larguras e os comprimentos e jogam com eles através das regras do Criador. Não é ao calhas que investem em arquitectura (ainda que possivelmente simples). Os não-calvinistas são péssimos em arquitectura (numa escala geométrica como comparar a vontade do homem com a vontade de Deus?) e por isso os primeiros a meter neóns e powerpoints pirosos (vocês já viram que este é-me um assunto caro) nas suas casas de oração. Onde a beleza e a verdade se submetem à ditadura da escolha qualquer pedaço de lata vale por termos sido nós os primeiros a ver nele o brilho do sol, uma metáfora possível da nossa obsessão com a novidade. A lógica da liberdade está a matar o deslumbramento com o que é belo e verdadeiro. E a fazer-nos rir menos. Os calvinistas não estão nessa.

7. A oração não é uma declaração de independência
Claro que a liberdade não é uma coisa má. Tanto não é que a Bíblia descreve-a como um efeito da presença de Cristo. Um efeito e não uma causa. A ênfase das Escrituras é que somos livres por causa de Cristo e não que somos cristãos porque somos livres. Isto é absolutamente claro nas páginas da Palavra e os seus autores humanos não precisaram de o escrever na defensiva, a uma cultura que idolatra a liberdade como o bem maior. É também por causa disto que nas Escrituras a vontade de Deus dança com a vontade do homem num movimento tão gracioso quanto veloz na ausência de territórios definidos. A simplificação (polémica mas que curiosamente nenhum dos meus irmãos arminianos me apontou durante a semana) é esta: quando as coisas correm bem a responsabilidade é de Deus, quando as coisas correm mal a responsabilidade é do homem. Se alguém que implicar com o Evangelho (e consequentemente com o calvinismo) é por aqui que tem de começar. Não foi ao calhas que os primeiros cristãos tiveram de ganhar uma noção da identidade de Deus (os primeiros quatro séculos a discutir a Trindade) e imediatamente a seguir uma noção da identidade do homem (sobretudo o quarto século a discutir e a concluir sobre antropologia e o pecado original). O que os arminianos devem recordar (e os católicos) é que o pelagianismo continua a ser herético para todos os cristãos. Não existe ponta de participação do homem na sua própria salvação.

Não sendo a liberdade uma coisa má também não precisa de ser a coisa acima de todas as outras. Continuo convicto que as coisas que nos são mais queridas são geralmente vistas como exercendo um domínio, pelo menos emocional, sobre nós que não olhamos como negativo. As nossas paixões são mais frequentemente descritas como tendo nos conquistado que nos persuadido. E com Deus não é diferente. Basta olharmos a maneira como louvamos e oramos. Nenhum cristão canta: “obrigado Senhor porque naquele dia escolhi-te”. Nenhum cristão ora: “Pai nosso que estás no céu, santificado seja o meu nome, venha a Ti o meu reino, seja feita a minha vontade assim na terra como no céu.” A oração, um fenómeno estranhíssimo que a Palavra nos mostra como um pedido de Deus para nós lhe pedirmos coisas, só ganha sentido com um coração mais aberto que a lógica pragmática da nossa autonomia. Se a liberdade é a chave de leitura da existência do cosmos por que razão Deus não se limita a fazer aquilo que deve ser feito sem depender que nós lhe peçamos? Talvez porque o que esteja em causa seja uma representação bela e verdadeira em que os filhos de Deus obedecem a uma vontade maior que a deles próprios. Oramos também porque quando nos submetemos à vontade de Deus somos transformados de uma maneira que a nossa liberdade não nos permite. A oração enche o coração daquele que acarinha a dependência e não tanto, parece-me, do que acarinha a autonomia. Pelo menos sei que enquanto mantive a posição arminiana da minha infância e juventude a oração nunca fez grande sentido.

Sei que prometi razões não-bíblicas e esta última resvalou para o terreno. Ainda assim não citei um único versículo. Estas sete razões não querem convencer porque o terreno onde os cristãos devem ser convencidos é a Bíblia e não a experiência individual. Muitos amigos e irmãos mostraram-se durante esta semana absolutamente invulneráveis às minhas razões e eu saúdo a liberdade deles de assim se sentirem. Claro que não posso saudar o modo como descartam a predestinação e outras coisas que a Bíblia dizendo sim, põem a dizer não (e permitam-me uma observação que desejo que seja mais fraterna que crítica: enquanto a comunidade evangélica, e a pentecostal em particular, permanecer ouvindo pregações temáticas e não-expositivas é óbvio que pode adiar por décadas os textos que não lhes agradam e seleccionar criteriosamente na Bíblia os excertos que lhes confirmam o dogma apócrifo do livre-arbítrio - the point is: leiam a Bíblia sem medos, caramba!).

Posto isto e como ponto final, uma grande simplificação: os hiper-calvinistas são a pior escória que já habitou o Planeta. Prefiro mil arminianos a um hiper-calvinista. O hiper-calvinismo é obsceno quando recusa a evangelização, uma tarefa que na Palavra é óbvia, não-opcional e urgente. O hiper-calvinismo é intelectualmente patético (o facto de Deus predestinar é diferente de nós Lhe conhecermos a predestinação), espiritualmente morto (os hiper-calvinistas não precisam de procurar Deus porque acham que Deus é que Se achou quando escolheu os eleitos), e blasfemo (o hiper-calvinista dá por si a achar que Deus lhe deve a salvação, fazendo desgraça da graça). Não chamem teologia ao hiper-calvinismo porque o hiper-calvinismo não passa de um zombie. Um tiro na cabeça e fica tudo resolvido.
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[1] (...) Ouço dizer que não precisamos de rótulos e que os rótulos estragam as verdades. Permitam-me discordar. Qualquer pessoa que use a linguagem aceita usar rótulos porque as palavras apropriam-se à realidade mas não a esgotam. Nesse sentido, todas as palavras são rótulos. Enquanto não comunicarmos telepática e espiritualmente vamos ter de usar rótulos. Há uma discriminação negativa de alguns termos que são apelidados de rótulos sempre que as pessoas não se agradam deles. E então o calvinismo leva nas orelhas porque é um rótulo. Dizem essas pessoas que preferem dizer que são apenas cristãs, seguidores de Cristo e outras expressões que em breve serão tão chatas como as que agora rejeitam convictamente (ou que já são). Na minha opinião esta atitude demonstra pouca humildade linguística e, em último grau, falta de sentido de humor. Os calvinistas usam rótulos porque usam a linguagem. E enquanto usam rótulos divertem-se (manifestamente mais que os seus opositores, sempre ansiosos para chegarem às línguas dos anjos). (...)

FONTE: ROBERTO VARGAS JR

25 outubro 2012

Qual é o seu nome?

 Por Igor Miguel
"Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Não é por vossa causa que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes." (Ez 36:22).


Nome: resumo ou narrativa?
Em termo bíblicos, o "nome" não é apenas uma palavra que serve para identificar uma pessoa ou um objeto. Ele é "substantivado", há "substância" associado ao nome. Também não é substância em sentido químico, mas biográfico. Como assim? Explico.

Lembro-me da trilogia "Senhor dos Anéis" de J.R. Tolkien, em particular quando o personagem Barbárvore (Treebeard), um
ent, pergunta a um dos "hobbits" como ele nomeava "aquilo", enquanto apontava para uma colina. A resposta do hobbit: "colina!". Barbárvore, surpreendido, replica: "- mas este é um nome muito curto para uma coisa que está tanto tempo ali!". Esta é uma das frases que mais me impressionaram na trilogia. Na língua dos "ents", as palavras não são "compactas", os nomes não são um atalho fonético que agrega sentidos atribuídos a uma pessoa ou coisa. Ao contrário, na língua dos ents os nomes são histórias, narrativas e biografias. Curiosamente, vi uma associação entre o sentido bíblico de "nome" com a forma como os ents nomeiam as coisas no mito de Tolkien.

A Bíblia nos mostra diversos personagens cujos nomes apontavam para uma história mesmo antes de sua conclusão. Poderíamos citar alguns exemplos, como: Abraão, cujo nome significa em hebraico "Pai de Povos", uma referência a sua biografia como patriarca da fé, cuja promessa, abençoaria as famílias da Terra (Gn 12 e 22). O nome de Jacó, que foi mudado para Israel, que significa "lutastes com Deus", faz referência ao encontro de Jacó com o Anjo do Senhor. Da mesma forma, Davi é o "amado"; Josué significa "o Senhor que Salva"; Adão vem de uma raiz hebraica que significa "terra", "solo" ou "avermelhado", uma referência ao fato do homem ter sido feito do pó da terra.

Mantendo a tendência do Antigo Testamento, Noé (hb. נח - noâch), cujo nome significa "consolo" ou "conforto", o recebeu como por uma profecia, como está escrito: "pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou." (Gn 5:29). Este mesmo Noé, no evento de seu filho Cam tê-lo visto nu, profere ditos oraculares sobre seus descendentes, em específico sobre Canaã (filho de Cam), Jafé e Sem (Gn 9:18-27). Ao filho, cujo nome era "Sem", ele diz: "Bendito seja o Senhor Deus de Sem." (Gn 9:26). O interessante é que "Sem" em hebraico "Shem" [שם] significa literalmente "Nome". Não é acidente que de "Sem" vieram os "semitas", agrupamento étnico donde descende os hebreus (descendentes de Héber) e o próprio Abraão (ver genealogia de Gn 11).


A descendência do "nome"
A ideia é que Deus escolheu os israelitas, ligados a descendência de Sem, para testemunhar seu "nome" entre as nações. Mais para frente, na narrativa bíblica, Moisés (cujo nome significa tirado das águas - não só do Nilo, mas também do Mar Vermelho) em um encontro com o SENHOR no Monte Horebe, ante a sarça que ardia e não se consumia, realiza o seguinte diálogo:

Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros. Disse Deus ainda mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração. (Ex 3:13-15)

Observe que Moisés pergunta o "nome" de Deus. A resposta é surpreendente, pois Deus não se identifica com um nome "fechado", como o nome dos ídolos do Egito. As divindades pagãs possuíam nomes que especificavam sua "atuação" mítica. Deuses da fertilidade, da guerra, colheita, sabedoria ou saúde, possuíam nomes associados às suas respectivas "áreas de atuação". O Deus que se revela a Moisés, por sua vez, se identifica primeiro como o "Eu Sou o que Sou" e depois como "Deus de Abraão, Isaque e Jacó".

A expressão "Eu sou o que Sou" [hb. ehiê asher ehiê - אהיה אשר אהיה], adotada na versão Almeida Revista e Atualizada, encontra-se no original hebraico estruturada pelo verbo "ser" ou "tornar" usado no perfeito, na voz ativa do grau simples (QAL). Isto significa que este verbo poderia ser traduzido no futuro (uma ação não concluída ou em processo de conclusão), assim, a expressão poderia ficar como: "Eu serei o que serei" ou "Me tornarei o que me tornarei", como bem traduziu Lutero em sua Bíblia para o alemão "
Ich werde sein". A ideia é esta mesmo: Deus se "revelaria" e se "tornaria" ao longo do tempo, ou seja, uma revelação progressiva de seu "nome", um Deus que se revela na história e nas relações.

O "nome" assume o sentido de "narrativa" ou "revelação", uma história. Mas, ainda há um detalhe: por que Deus adicionou o sentido de seu nome como "Deus de Abraão, Isaque e Jacó" afirmando que este é "seu nome eternamente"? Ora, se Deus é portador de uma "história" e de um nome que se revela no tempo e nas relações, logo, Ele é um Deus que é conhecido na biografia das pessoas com quem se relaciona. A biografia de seus servos, torna-se a biografia dele mesmo, afinal Ele é um Deus se revela relacionalmente. Talvez, foi neste sentido, que o filósofo e matemático Blaise Pascal (1623-1662) tenha dito: "Deus é o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, não o Deus dos filósofos".

Acho que já temos material suficiente para entender que o "nome" é muito mais do que "identificação fonética". O "nome" em termos bíblicos faz referência a uma "história". No caso, de Deus, uma referência à história de sua relação com seus servos ao longo das gerações. Quando é dito no livro do profeta Ezequiel que os israelitas profanavam o "nome de Deus" entre as nações, o que está envolvido é a profanação de um "história", da "revelação" de Deus em relação a seu povo. Por isso, a Bíblia é um livro que trata a respeito do Deus que se revela. A Bíblia é a exposição pública de Deus, o que ela chama de "glória".


O Nome que Está Sobre Todo Nome

Agora, façamos uma conexão com a revelação de Cristo, e vejamos algo interessante:

Deus quando firmara uma aliança com o Rei Davi, prometera a ele um descendente cujo trono nunca teria fim e que este descendente edificaria para Deus uma casa para seu nome (II Sm 7:13). Este texto é digno de uma leitura messiânica, no sentido que se refere ao Messias, e não ao descendente imediato de Davi, Salomão. Salomão não teve um trono "eterno". Logo, a promessa se refere a um descendente de Davi, cujo trono seria eterno, e que faria uma casa para o "nome" de Deus, bem no sentido que já exploramos até aqui.

Nós cristãos entendemos que Jesus é o descendente de Davi, que cumpriu todas as expectativas bíblicas e proféticas a respeito de sua messianidade. Jesus, certa vez, fez menção enigmática a respeito de seu corpo como um Templo:

Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. (Jo 2:19-21)

Jesus é o Templo onde o "nome" ou a "história" de Deus se torna mais evidente: "As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito." (Jo 10:25). Agora, veja que interessante o que encontramos em um certo dito de João:

"Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou." (Jo 1:18)

A palavra utilizada no original, que foi traduzida aí por "revelou", é verbo no passado (aoristo) eksêgêsato [εξηγησατο] que poderia ser perfeitamente traduzido como "expôs", "relatou" ou "narrou" como utilizado em Lc 24:35. O sentido deste texto é que Jesus "conta" ou "narra" Deus o Pai para os homens.


Trindade: o nome de Deus se revela
Então, qual é o nome de Deus na Nova Aliança? Como Ele se revelou? Como podemos "narrá-lo?". Se fossemos ents, que nome daríamos a este Deus, sem sermos sintéticos de mais? Onde encontramos seu nome? A resposta deveria ser: no batismo. Como preservado em Mateus: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo." (Mt 28:19).

A grandeza de nosso batismo, não está em um fonema. A questão não é se chamamos Deus de Jeová, Javé, Yavé, Elohim ou Yeshua. A questão é: qual é a história de nosso Deus? Nosso Deus é uma história, a história da salvação. A salvação é um drama de amor em que Deus se volta para homens pecadores. E, para salvá-los, envolveu toda sua pessoa (Pai, Filho e Espírito Santo), desde a fundação do mundo, passando pelos patriarcas, os reis de Israel, os profetas, e agora, ele fala conosco pelo Filho, como foi dito:

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4).


Últimas palavras

Baseado em tudo que foi dito, fica claro o motivo de cristãos prezarem tanto pelo nome de Jesus. Afinal, foi na história de Jesus, como registrada nos quatro evangelhos, que Deus foi revelado (narrado). A glória de Deus se concentra na história/vida/nome de Jesus. Por isto, foi dito:

Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. 12 E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. (At 4:11-12)

Não é em vão, que por ocasião de uma das viagens de Paulo à cidade de Éfeso (At 19), exorcistas profissionais, como os filhos do sumo sacerdote Ceva, tentaram esconjurar demônios 'em nome de Cristo, a quem Paulo pregava', e os demônios gracejaram afirmando conhecerem "Paulo" e "Cristo", mas os tais exorcistas lhes eram desconhecidos, o que foi seguido pela agressão do endemoniado àqueles. Os demônios conhecem Cristo, Paulo e todos os eleitos do Senhor, por causa de uma história: a história de Cristo, e a história de todos que estão ligados a Ele. Estar fora de Cristo é viver em anonimato, é não ter uma biografia.

Todo Antigo Testamento narra a história dos atos salvadores de Deus. O clímax e cumprimento de tudo aquilo que a Bíblia Hebraica narra é Jesus Cristo. O Verbo se faz carne e se torna em "texto", uma "
narrativa", uma história sobremodo exaltada, o nome que está sobre todo nome. Fomos salvos por Jesus, por uma história, um conto de salvação, um drama trinitário. Os demônios tremiam e proezas eram feitas neste nome, não por um poder mágico, mas por causa de uma história com início e fim, com Alfa e Ômega, história que culmina na cruz e alcança sua plenitude na redenção de todas as coisas. O nome é a história, nosso nome se constitui no nome de Cristo.


"Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe." (Ap 2:17)


FONTE: PENSAR...