"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

02 janeiro 2013

O PODER DO DIABO ESTÁ SUJEITO À AUTORIDADE DE DEUS




Por João Calvino


Quanto, porém, diz respeito à discórdia e luta que dissemos existir de Satanás
com Deus, entretanto assim importa admitir que isto permanece estabelecido: que aquele nada pode fazer, a não ser que Deus o queira e consinta. Ora, lemos na história de Jó que aquele se apresenta diante de Deus para receber ordens, nem mesmo ousa aventurar-se a encetar alguma ação maligna, a não ser que a permissão seja impetradada [Jó 1.6; 2.1]. Assim também, quando Acabe tem de ser enganado, o Diabo toma a si a incumbência de ser um espírito de mentira na boca de todos os profetas, e o executa, comissionado pelo Senhor [1Rs 22.20]. Por esta razão, também se diz provir do Senhor o espírito mau que atormentava a Saul, porque, por meio dele, como por um látego, eram punidos os pecados do ímpio rei [1Sm 16.14; 18.10]. E, em outro lugar [Sl 78.49], está escrito que as pragas foram por Deus infligidas aos egípcios através de anjos maus. Em conformidade com esses exemplos particulares, Paulo atesta, generalizadamente [2Ts 2.9, 11], que o endurecimento dos incrédulos é obra de Deus, embora antes fosse dito ser ele operação de Satanás. Portanto, é vidente que Satanás está debaixo do poder de Deus e é de tal modo regido por seu arbítrio que se vê compelido a render-lhe obediência.

Conseqüentemente, quando dizemos que Satanás resiste a Deus e que as obras
daquele são contrárias às obras deste, estamos afirmando, a um tempo, que esta incompatibilidade e este conflito dependem da permissão de Deus. Não estou falando agora em relação à vontade de Satanás, nem tampouco em referência a seu intento, mas apenas com respeito a sua maneira de atuar. Ora, uma vez que o Diabo é ímpio por natureza, está mui longe de ser propenso a obedecer à vontade divina; ao contrário, ele se inclina à contumácia e à rebelião.

Portanto, isto tem Satanás por si mesmo e por sua própria malignidade: ele se
opõe a Deus com vil paixão e deliberado intento. Em virtude dessa depravação, é ele incitado à tentativa dessas coisas que julga serem especialmente contrárias a Deus. Como, porém, este o mantém amarrado e tolhido pelo freio de seu poder, ele leva a bom termo apenas aquelas coisas que lhe foram divinamente concedidas, e assim, queira ou não, obedece a seu Criador, porquanto é compelido a prestar-lhe serviço aonde quer que o mesmo o impelir.

FONTE: Institutas da Religião Cristã, Vol. I, pg. 168/169

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