"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

27 maio 2012

Deus, o Tentador, a Tentação e o Tentado


Por Natan de Oliveira

"E a ira do Senhor se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá." 2 Samuel 24.1

1. Pergunto às pessoas "boazinhas"... O Deus da imaginação de vocês pode irar-se?

2. Ficou claro ou não que o Deus da Bíblia se ira?

3. Pergunto também a quem possa interessar, Deus incitou a Davi? Será isto mesmo, não estaria errado o texto sagrado?

Agora leia este texto paralelo:

"Então Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a Israel." 1 Crônicas 21.1

Afinal quem foi que incitou Davi a fazer a contagem do povo de Israel? Foi Deus ou foi satanás?

Pois bem, Davi homem "obediente" que era, foi e fez a contagem.

Então...

"E este negócio pareceu mau aos olhos de Deus..." 1 Crônicas 21.7a

E mais tarde por causa da "obediência" de Davi...

"Mandou, pois, o Senhor a peste a Israel; e caíram de Israel setenta mil homens." 1 Crônicas 21.14

Humanistas religiosos torcem o semblante e já refutam tal texto bíblico, pois na concepção deles nunca um Deus justo, santo e bom poderia mandar mantar setenta mil homens via peste por causa do pecado de um só (Davi).

E pior, de forma alguma eles entendem que Davi possa ter sido punido, por uma coisa que o próprio Deus (através do diabo) incitou no seu coração para que fizesse.

Muitos irmãos cristãos diante de versos assim, simplesmente ignoram tais textos bíblicos e afirmo com convicção que é mais fácil achar um homem com 6 dedos num só pé do que achar um púlpito cristão pregando tais textos.

Pregam sim: Você (homem) pode, você consegue, você tem valor, você é importante para Deus, você, você, você.... Homem.

Pregam uma doutrina que exalta o homem em detrimento de exaltar a Deus, por vezes para se defenderem desta acusação, exaltam os dois, Deus e o homem e por isto entendem que a salvação depende de um esforço conjunto entre Deus que proporciona a salvação e o homem que a tornaria efetiva quando a aceita e toma posse dela pelo exercício do seu suposto livre arbítrio.

Pois bem, no caso do título presente, respondemos com coragem sobre o exemplo de Davi:

Deus é Deus.
Ele nem foi o Tentador, nem pode ser confundido com a Tentação, nem com o Tentado.

O Tentador foi satanás, o diabo.

A Tentação foi a situação em que Davi foi colocado, veio do seu coração um forte desejo de contar o povo.

O Tentado foi Davi.

E todas as três coisas Tentador, Tentação e Tentado, todas elas o tempo todo e de forma absoluta e completa, pois Deus é totalmente soberano e nada existe e subsiste sem Ele, todas estas três coisas foram controladas por Deus.

Se Deus te colocasse numa situação semelhante, o que você faria?
Blasfemaria contra Ele e o deixaria?

Vejamos um segundo caso e identifiquemos as mesmas questões:

“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado quando atraído e engodado pela própria concupiscência. Depois havendo a concupiscência concebido, dá a luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.” Tiago 1.13-15

Vejamos as quatro figuras novamente: Deus, o Tentador, a Tentação, e o Tentado.

Neste caso Deus não é o Tentador, uma vez que Ele não nos diz diretamente “peque”.

O Tentador é satanás.

A Tentação por si vem do coração concupiscente (que tem desejo exagerado por prazeres) que pode se manifestar de mil e uma formas.

O Tentado é o pecador.

E como nada pode existir a parte de Deus, também neste caso Deus reina soberanamente sobre o Tentador, sobre a Tentação e sobre o Tentado.

Vejamos agora um caso mais famoso, pois afinal todos os cristãos já aprenderam a oração do Pai Nosso um dia, e pelo menos uma vez na vida já a fizeram:

“Pai nosso, que estás nos céus... E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal...” Mateus 6.9-13

Neste caso Deus também não é o Tentador, mas Ele é quem controla totalmente a tentação, pois o texto mostra claramente que quem induz ou não para a tentação é Ele (Pai nosso que estás nos céus).

Quando Ele por motivos que a Ele pertence, nos induz a tentação, o faz através do Tentador satanás dando-lhe permissão e limites expressos para tal.

No texto é ainda mais constrangedor o fato de que Ele também é o Senhor e controlador do mal, pois quem tem o poder de livrar-nos do mal (ou não) é Ele.

O Tentador portanto é satanás.

A Tentação é o mal que brota de dentro do coração do homem, cuja natureza é propensa para isto e por isto pecador, satanás apenas provoca a situação e o coração do pecador já se alvoroça.

O Tentado (ou não) será aquele que está a fazer a oração do Pai Nosso.

Mais e mais exemplos poderiam ser dados, mas apenas mais um será apresentado para ilustrar plenamente as quatro figuras:

“Então foi conduzido Jesus pelo Espírito Santo ao deserto, para ser tentado pelo diabo... ... E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem pães...” Mateus 4.1-3

Também neste caso as figuras de Deus, do Tentador, da Tentação e do Tentado se apresentam da mesma forma.

Deus continua sendo Deus.
Deus continua sendo soberano e Rei sobre todas as coisas e acontecimentos.

Deus mesmo através da pessoa do Espírito Santo é quem leva e conduz Jesus ao deserto para ser tentado pelo diabo.
Mas ele diretamente não foi o Tentador.

O Tentador foi satanás.

A Tentação brotou neste caso da pergunta do diabo e não do coração maligno de Jesus, pois Jesus não tinha coração maligno, nem natureza pecadora.

O Tentado neste caso era Jesus, o Deus Filho.

Quando eu sou tentado na minha mente a usar o argumento da predestinação absoluta, e da soberania de Deus contra o próprio Deus, eu confesso que eu sofro um pouco.

Todavia, recomendo que creiam na Palavra de Deus que diz que Deus é santo e justo, e de uma maneira que não compreendemos é soberano sobre o mal, controla o Tentador, a Tentação e o Tentado, e mesmo assim de uma forma inexplicável (pelos menos por mim) continua sendo santo, justo e bom.

Você não precisa retroceder e se omitir em relação ao que a Bíblia ensina, não precisa criar argumentos para aliviar a “pressão sobre Deus” quanto ao mal presente no mundo e na história.

Deus não precisa do esforço da tua defesa.
Mantenha-se firme.
Deus é Deus, santo, justo e bom, um dia Ele me explicará como consegue reinar sobre o mal sem deixar de ser santo.

Se o diabo ainda assim te perturbar, faça o que a Palavra de Deus recomenda:

“Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.” Tiago 4.7

23 maio 2012

Piper e o dom de línguas


[John Piper, um dos grandes expoentes atuais do neocalvinismo. 
Créditos: Rachel Ford James (sob Creative Commons)]

Por Vanderson M. da Silva

E não é que o pastor e escritor batista reformado americano John Piper defende a contemporaneidade do dom de línguas? Confira o leitor mesmo aqui.

A posição dele sobre essa questão é compartilhada por outros que, juntamente com Piper, são os expoentes do chamado neocalvinismo, como Paul Walsher e Mark Driscoll (malgrado divergirem entre si sobre outras questões). Discordam, assim, que a Bíblia ensine que certos carismas da Igreja Primitiva hajam cessado no presente, como os dons de línguas e o de profecia — embora seja lícito questionar como este último dom pode se coadunar hoje com o princípio de Sola Scriptura, por exemplo.

Todavia, quero me ocupar aqui com o dom de línguas, manifestando minha discordância quanto à sua continuidade atual e expondo minhas razões para assim pensar. É o que farei a seguir.

Pois bem, o Senhor Jesus disse que línguas eram um “sinal” (Mc 16.17). Nas ocorrências em Atos, fica implícito que se tratava de um sinal indicativo da universalidade do Evangelho, destinado não só aos judeus (os primeiros recipientes da mensagem), mas também aos prosélitos (cap. 2), gentios (cap. 10) e mesmo aos joanitas (19.1-7). Portanto, confirmando que absolutamente todos os grupos possíveis eram abarcados pelo cristianismo. Mesmo o remanescente dentre a nação judaica (representado pelos apóstolos) teve dificuldades para aceitar que os gentios foram “enxertados” na oliveira (Romanos 11), mas o sinal das línguas serviu para atestar tal verdade aos judeus fieis (At 11.1-18).

Mas o que fica implícito nesse livro, Paulo deixa explícito em 1 Coríntios 14.21,22. Lemos ali: “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis”. O que o apóstolo queria dizer com isso? Simplesmente, que o dom de línguas (que se manifestava em Corinto) era sinal para o povo judeu (os “infiéis”), e isso para cumprir a profecia de Isaías 28.11,12. Lembremos ainda que, desde o seu estabelecimento na cidade, tal igreja enfrentou forte oposição judaica (cf. At 18: parece mesmo que aquela ficava bem ao lado de uma sinagoga, v. 7; ainda, tal oposição recrudesceu justamente quando Paulo decidiu “partir para os gentios”, vv. 6ss).

A profecia citada por Paulo é um trecho de um capítulo que fala do juízo de Deus sobre Efraim e Judá por causa de sua impenitência. É também em Isaías 28 que temos o bem conhecido versículo: “Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse” (v. 16). Tal pedra é Cristo, rejeitada pelos judeus, em sua maioria, os quais sofreriam o devido castigo pela rebelião ( 1Pe 2.1-10), castigo do qual Jesus trata em seu longo Sermão Profético (Mt 24, 25). O propósito de tal carisma foi cumprido: independentemente da visão escatológica que se adote, nenhuma contempla a volta da necessidade da manifestação das línguas para atestação à nação judaica do caráter universal da religião de Cristo.

Todavia, alguns ainda insistem que tal dom poderia ter por finalidade viabilizar a proclamação do Evangelho para falantes de outros idiomas, e usam o próprio texto de Atos 2.1ss para respaldar tal ideia. Nesse caso, porém, não é crível que os judeus de outras partes do mundo, que ali estavam em peregrinação, e que visitavam a Judeia regularmente, não tivessem um meio comum de comunicação com os seus compatriotas locais, seja aramaico, hebraico ou mesmo grego koiné. Assim, as línguas manifestadas eram cumprimento de profecias do AT e sinal de que o Evangelho era de fato universal — e que abrangia também os odiados gentios, em cujas terras aqueles judeus viviam como estrangeiros, em hostilidade e desconfiança.

Por tudo isso, entendo que, pelo menos quanto ao dom em apreço, não se pode cogitar que ele não tenha cessado para a nossa era.

18 maio 2012

O Meu Racionalismo




Por Gordon H. Clark

Eu não objeto à palavra racionalismo, embora talvez o termo racionalidadepoderia causar menos mau-entendidos. Descartes, Espinosa, e Leibniz produziram uma teoria epistemológica que poderia muito bem ser chamada Racionalismo do século XVII. Para todos eles o conhecimento deve ser baseado na lógica somente. Num sentido Hegel é similar. Para esses homens, como para Platão, a mente humana é essencialmente onisciente, e nem a experiência sensorial, muito menos a revelação sobrenatural podem adicionar informação aos equipamentos da sabedoria inata. Se alguém me acusar de ser um Racionalista neste sentido do século XVII, creio que ele não precisa de nenhuma resposta complementar nessa conjuntura.

Na teologia de séculos mais recentes, o termo racionalismo tomou um significado diferente. Sem qualquer ligação epistemológica, o termo tem sido aplicado àqueles que rejeitam a revelação. Por exemplo, os deístas, que eram empiristas, tinham uma religião supostamente desenvolvida a partir de um estudo da natureza física e humana. A informação verbalmente revelada por Deus era desnecessária e impossível. Como alguns dos meus antigos oponentes podem tentar me associar com essa linha de pensamento é inexplicável, e novamente não é necessário nenhuma resposta complementar nesta altura do campeonato.

Ainda assim, “absolutizando a lei da contradição”, “fazendo a mera razão humana autônoma” e até mesmo que igualo a mente de Deus à minha própria mente são acusações que têm sido feitas. Talvez as Palestras de Wheaton* são uma réplica suficiente a essas acusações. E eu sorrio diante das objeções mais recentes, pois minha mente meramente humana está tão longe de ser autônoma que eu não a concedo nenhuma capacidade inerente, seja qual for.

Contudo, um cristão deve se comprometer ao racionalismo ou racionalidade sob a pena de ser irracional, e ele deve ser lógico, sob a pena de ser ilógico, e também sob a pena de negar que Deus é sabedoria e verdade, e sob a pena de afirmar que Deus é o autor de paradoxo e confusão.

[...]

Que eu sou um “evangélico racionalista e calvinista”, eu não nego. Mas à luz do uso contemporâneo do termo evangélico, utilizado por aqueles que não têm nenhum direito histórico a ele, seria melhor tornar evangélico um adjetivo e deixar o calvinista como substantivo. 

OBS: * Se Deus quiser, as Palestras de Wheaton serão publicadas no primeiro semestre de 2012 pela Editora Monergismo, com o título “Introdução à Filosofia Cristã”.

** O texto original, que compreende as páginas 367 a 373 do livro editado por Ronald Nash, possui o título “Resposta a Roger Nicole”. Este livro é um Festschrift em honra ao Dr. Gordon H. Clark, no qual Clark interage com os seus críticos.

Fonte: Clark and His Critics, p. 367-368, 373.

Tradução: Felipe Sabino – 08/11/2011

Extraído do site Monergismo

Gordon H. Clark
Gordon Haddon Clark (1902–1985) was a philosopher and Calvinist theologian and taught philosophy at the college level for most of his life. He was an expert in pre-Socratic and ancient philosophy and was noted for his rigor in defending Platonic realism against all forms of empiricism, in arguing that all truth is propositional, and in applying the laws of logic. The Trinity Foundation continues to publish his writings and other books as well. 

07 maio 2012

Ganhamos o dia!




Por Tom Alvim

Aqueles que tem me acompanhado neste blog desde o começo, sabem da luta que passamos nos primeiros dias de vida de nosso filho Lucas. Fiz breves relatos do que estava acontecendo, até porque não conseguiria escrever muito pensando na situação gravíssima em que ele se encontrava. Os textos estão aqui: Pedido de oração; O milagre está acontecendo; Deus falando; O temporal está passando;Novas postagens e finalmente - Devolta ao lar!

Foram dias intensos, de lutas intermináveis comigo mesmo e de oração incessante para o Pai. Creio que aprendi um pouco sobre essa excelente ferramenta que ainda não dominamos por completo - a oração! Talvez por preguiça, talvez por falta de fé ou apenas por que ainda achemos que não precisamos tanto dela assim. Mas o nosso Mestre nos ensinou através de seu próprio exemplo a importância de dobramos os joelhos e de nos quebrantarmos diante de Deus em reverência - daquelas quase inexistentes nos dias atuais, daquelas insólitas, ou de entrega total sem pensar em mais nada que possa nos mover do propósito divino de nos ligarmos a ele, para que os seus objetivos sejam concretizados em nossas vidas e o seu nome seja glorificado.

Pois bem, hoje levamos o nosso "Luquinha" para mais uma consulta médica. O doutor iria fazer uma avaliação de todo esse período em que estivemos ministrando uma medicação chamada amiodaronadiariamente, duas vezes por dia, para controlar os batimentos cardíacos do Lucas. Ficamos olhando para o médico fazendo os cálculos e a sua avaliação, enquanto o nosso pequeno guerreiro estava alheio a tudo o que se passava ali. Para ele era apenas um lugar chato, com coisas chatas, não havia nada de interessante para ele brincar, a não ser um pequeno coraçãozinho de plástico que o instigava com suas cores e formas peculiares, alvo de suas ágeis mãozinhas, contidas somente pelo papai e pela mamãe. 

Depois de alguns minutos intermináveis veio a excelente notícia de que poderíamos suspender o medicamento na parte da manhã, e no aniversário do lucas que cai no dia 5 de junho poderemos suspendê-la por completo, e retornarmos para mais uma consulta apenas em agosto deste ano. 

O médico disse que "pelo andar da carruagem" nem precisaremos fazer o procedimento chamado ablação por radiofrequência, porque tudo estava colaborando para isso.

Ganhamos o dia, o ano, a vida! Em Cristo não ganhamos esta vida, mais o que é infinitamente mais importante, ganhamos a vida eterna nele, por ele e através dele!

Abro um parêntesis aqui: Não creio que Deus ame o meu filho mais do que outras pessoas que ainda não foram curadas, ou que nunca o serão. Creio apenas que Deus tem a sua forma de agir e muitas das vezes não iremos compreendê-la nesta vida. Se Deus o tivesse levado, agradeceríamos a ele pelos dias em que havia permitido termos tido o Lucas conosco, alegrando nossa casa com sua presença infantil e doce. Mas aprouve ao Criador deixá-lo sob os nossos cuidados por mais alguns anos, para que nós possamos cumprir o nosso papel de pais na difícil tarefa de ensina-lo no caminho em que deve andar, e desta forma crescermos juntos, como filhos de Deus que o amam e o temem.

Que Deus seja engrandecido por mais este milagre em nossa família. A ele toda honra e toda a glória para sempre. soli Deo gloria!

Imagem: Stock.xchng

27 abril 2012

Que será dos que nunca ouviram? Uma breve confissão


Por Leonardo Bruno Galdino


Esse é um assunto que sempre me incomodou bastante, a saber, o destino eterno daqueles que nunca ouviram falar de Cristo. Deixando de lado se os tais ainda existem hoje (particularmente, penso que haja) e outras questões parecidas, bem como as várias perspectivas sobre o assunto, vou logo resumir a minha posição: todos os eleitos, fatalmente, ouvirão acerca de Cristo por meio da pregação da Sua Palavra. Nem todos os que ouvem são eleitos, obviamente, mas todos os eleitos ouvirão. Ainda que digamos que cabe somente a Deus julgar tais pessoas, não somos autorizados, pelas Escrituras, a pensar que poderá ser salvo quem nunca ouviu de acerca de Cristo, uma vez que "a fé vem pelo ouvir" (Rm 10.17), sendo esta mesma fé um dom de Deus exclusivamente para os Seus eleitos (cf. Tt 1.1). Estes, por sua vez, vem a Cristo pela pregação (cf. 2 Ts 2.13, 14).

Há de se questionar em que consiste essa "pregação". De pronto, rejeito a perspectiva segundo a qual a revelação geral (criação, cultura, moralidade, etc.) é suficiente para a salvação, pois, se assim fosse, a fé em Cristo seria necessária apenas para alguns (sinceramente, não creio na revelação geral nem como meio salvífico extraordinário). Nesse quesito, penso em Cornélio, centurião romano sobre o qual se diz ter sido "piedoso e temente a Deus" (At 10.2), mas que precisou ouvir explicitamente acerca de Cristo por intermédio do apóstolo Pedro para ser salvo (ver todo o capítulo 10 de Atos). Rejeito, também, a noção segundo a qual a pregação pode ser entendida como o exemplo de vida dos cristãos ("conversão pelo exemplo", tão propagada pelos pietistas e místicos medievais), pois nossas vidas não podem ser melhores do que a pregação viva da Palavra de Deus.

Há, ainda, um equívoco a ser corrigido, e este tem a ver com a relação entre Decreto e Providência. Novamente citando o caso de Cornélio (somente para não citar todos os eleitos), não podemos dizer que ele já era salvo antes de ouvir a Palavra. Pelo decreto, sim, ele já constava entre os eleitos, mas não pela Providência, haja visto não ter chegado ainda o tempo da concretização do decreto. E o que é a Providência, senão os meios que Deus usa para alcançar aquilo que Ele decretou? Nesse caso, Cornélio precisou, na História, ouvir a Palavra, sendo regenerado pelo Espírito para que pudesse, então, crer e ser salvo.

Assim sendo, creio ser a pregação o meio providencial responsável por infundir fé no coração do eleito. Só a pregação? Bem, como já falei acima, se há exceções elas não são especificadas pelas Escrituras, pelo que me reservo ao direito de me ater apenas àquilo que nos é afirmado pela Revelação como regra, em vez de especular sobre a exceção. E me valho, aqui, do pertinente comentário de Calvino a Romanos 10.14 (..."e como ouvirão, se não há quem pregue?"). Ele diz que "o que Paulo está descrevendo aqui é somente a palavra pregada, pois este e o modo normal que o Senhor designou para comunicar sua Palavra. E se se argumenta, à luz desse fato, que Deus não pode dar-se a conhecer entre os homens só por meio da pregação, então negaremos que isto era o que o apóstolo pretendia transmitir. Ele estava transferindo somente a ordinária dispensação divina, e não pretendia escrever uma lei à sua graça" (ênfase minha). E me é muito claro, ainda na Escritura, que Deus sempre envia Seus arautos para os lugares em que há eleitos Seus para serem alcançados (cf. At 18.10; 13.48; Jonas e os ninivitas, etc.). Novamente citando o reformador francês (agora em seu comentário a Romanos 10.15 - "e como pregarão se não forem enviados"), "quando alguma nação é agraciada com a pregação do evangelho, tal fato é uma garantia do amor divino".

Por último, não penso que este seja o típico assunto que deva ser relegado apressadamente ao "mistério", como se as provas bíblicas acerca dele fossem insuficientes ou inexistentes. O máximo que posso dizer quanto aos que nunca ouviram é que cada um será julgado de acordo com a resposta que deu à luz que teve, mas não para uma possível absolvição. Para o quê, então? Bem, embora eu tenda a crer aqui em possíveis níveis de sofrimento no inferno (cf. passagens como Mt 11.22, 24; Lc 12.47, 48; 20.17), prefiro não arriscar ir além daquilo sobre o que a Escritura não lança senão faíscas.

Soli Deo Gloria!



Nota: A foto desta postagem não consta na publicação original

22 abril 2012

Ayres Britto, Maquiavel e a mentalidade revolucionária

Por Fábio Ribas



Assisti estupefato à entrevista do nosso atual presidente do STF, Ayres Britto, no Jornal da Globo nesta semana. Minha perplexidade foi constatar, diante dos meus olhos, tudo aquilo que homens como Julio Severo e Olavo de Carvalho já nos têm alertado há mais de uma década.

O discurso de Ayres encarna perfeitamente o anti-cristo de Maquiavel, o Estado que se opõe a tudo aquilo que se chama Deus. A mentalidade revolucionária com todas as suas mais mesquinhas características estão ali presentes nas palavras ditas pelo Ministro. A conclusão infeliz é que nada mais há para esperarmos de um STF que há décadas tem sido montado para a defesa de uma visão revolucionária e maquiavélica e que, agora, será coroado pelo Príncipe que faltava para que o caminho seja finalmente desobstruído de todos os seus inimigos.

Antes de seguir adiante, preciso esclarecer uma diferença que é fundamental para a maioria dos leitores deste texto: profeta e revolucionário. Assumo aqui a diferença proposta pelo filósofo Olavo de Carvalho no seu ótimo livro “Maquiavel ou A confusão Demoníaca”. Profeta é aquele que vaticina o futuro revelado por Deus, enquanto o revolucionário o força, planeja o futuro e busca o seu advento por meio da influência intelectual exercida sobre um governante e sobre os candidatos a governantes. O revolucionário quer mudar a História e definí-la pela força do seu discurso. Mas o discurso é apenas o anzol com o qual se fisga o futuro, pretendendo-se instaurá-lo no presente, porque a instauração da revolução se dá pela força militar e pela imposição de leis que deflagrem essa Nova Era. E é aqui que vemos as palavras de Ayres se encaixarem perfeitamente não só com Maquiavel, mas com Gramsci e Hegel também. Do outro lado, o profeta é tão somente boca de Deus e não um usurpador do lugar de Deus pela força do Estado.

Sigo a linha de que o profeta e o revolucionário, histórica, biblica e filosoficamente, não são apenas contrários mas, principalmente, são inimigos um do outro. E, portanto, Ayres encarna a mentalidade revolucionária contra a qual os profetas são convocados por Deus a fazerem oposição. Ainda para esclarecer melhor, ofereço a definição de mentalidade revolucionária proposta pelo filósofo Olavo de Carvalho: “projeto de mudança social profunda a ser realizado mediante a concentração de poder numa elite revolucionária”. E seja o Nazismo, seja o Comunismo, seja a Nova Ordem que vem se implantando nos EUA, no Brasil e por vários outros países do mundo, esta mentalidade revolucionária é o que torna comum todos estes movimentos (que são mais do que movimentos, são uma mentalidade, uma cosmovisão).

O profeta, ao contrário do revolucionário, poderá ouvir de Deus: “Você falará, mas eles não se converterão”. E mesmo assim o profeta deve obedecer ao chamado feito por Deus. Já o revolucionário jamais dobrará a sua vontade pessoal, nem sua ânsia pela reengenharia social - esta sua cobiça por impôr o Reino de Deus pela força e pela espada - para se submeter ao controle de Deus. O anseio do revolucionário está para Barrabás, assim como o do profeta está para Jesus. O revolucionário destituirá todos os poderes vigentes, legítimos ou não, para impôr sobre o presente a sua certeza de futuro. O profeta, consciente de seu legado histórico, convencido de que há um lastro, uma tradição, uma presença histórica e interventora de Deus, ele se definirá na oposição ao revolucionário: o profeta sempre será um conservador, porque tem plena consciência de que vaticina as palavras do Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Porque, nas palavras do filósofo Olavo de Carvalho, o "conservador é aquele que legitima suas ações em função da autoridade do passado". E todo profeta sabe que o nosso Deus permanece sendo o Deus de nossos pais. E o revolucionário, neste contexto, é exatamente aquele que não honra o seu e a sua mãe.

Então, quando Ayres diz que “O Supremo se tornou uma casa de fazer destino” e que a opinião pública, as controvérsias surgidas na imprensa sobre o papel do STF, não incomodam aos juizes, aos magistrados, é de se assustar tamanha independência de um poder que, numa democracia, tão conscientemente se desconecta do povo ao qual deveria servir e com o qual deveria se importar. 

A tragédia maquiavélica se instaura ainda mais quando Ayres diz, ao ser perguntado sobre o casamento gay e a questão dos aborto eugênico, para que serve o STF:“Para arejar costumes, mudar paradigmas, inaugurar eras de pensamento, de sentimento coletivo, e nós somos submissos à Constituição” (grifo nosso). Ayres, com estas palavras, revela-se arauto da mentalidade revolucionária. Mas faz parte do embuste do revolucionário transvestir-se de profeta para enganar a muitos, por isso muitos entre os cristãos confundem os dois papéis e o revolucionário aproveita-se dessa confusão demoníaca. Sobre essa confusão tramada pelos revolucionários, que acabam assumindo um papel de anti-profeta, Olavo diz: “...investir-se da autoridade profética para lutar contra a Providência e tentar inverter o curso divino da História não é uma “moralidade”. Não é nem mesmo perversão política. É a rebelião metafísica, o pecado contra o Espírito Santo” (p. 46).

Assim, para que não haja dúvida da cosmovisão que molda a cabeça de Ayres, ele consegue ligar alhos com bugalhos, quando o repórter lhe pergunta o que pensa sobre a Ministra Eliana Calmon e suas duras palavras contra “os bandidos de toga”. Ayres diz: “Mas, no fundo, o que ela quer é o judiciário na vanguarda da renovação dos costumes”. A não ser que Ayres esteja afirmando que os costumes do judiciário são esses mesmos, isto é, os costumes são a bandidagem de toga e isso precisa ser renovado, na verdade, mais uma vez, ele faz um salto para nos indicar qual caminho ele seguirá à frente do STF: a revolução dos costumes. E como Ayres fará isso? Em determinado momento da entrevista, ele saca do bolso do paletó sua mont blanc e diz que ele tem apenas uma caneta e não uma varinha de condão. Mas sabemos que Ayres tem mais, muito mais do que apenas uma caneta em suas mãos. Há um STF montado para seguir adiante com a agenda revolucionária anti-cristã (e nem vou desenvolver o tema do sério risco que corre o mensalão de prescrever sem julgamento), há um Congresso fraco e débil em sua oposição ao Governo e uma “Presidenta” que corrobora com a agenda mundial do pós-cristianismo.

O caminho no Brasil e no mundo está aberto e a Mentalidade Revolucionária já faz parte da nossa cultura, mas ainda pouquíssimos acordaram para o que está acontecendo. Infelizmente, a Igreja se perde em discussões alienantes e que, na verdade, só corroboram com a mentalidade revolucionária. Um bom exemplo disso foi o artigo Deus é de Esquerda ou de Direita? Um texto de Hermes C. Fernandes e que menospreza os fatos da história, esconde escândalos terríveis muito mais satânicos e diabólicos do que qualquer mazela financiada pela chamada Direita e coloca, sorrateiramente, o comunismo como se fosse apenas o outro lado de uma moeda, uma simples outra opção. Todavia, essa manipulação absurda dos fatos também faz parte da mentalidade revolucionária. “O filósofo precisa falar da verdade com a qual ele mesmo se relaciona. Verdades que ele conhece e não um jogo de intelectualidade absurda. O filósofo deve voltar a apelar ao seu testemunho solitário e confessar da sua relação com a verdade. Precisamos voltar ao conhecimento sincero para podermos confrontar a rede de mentiras”, diz Olavo de Carvalho. É preciso discernir as mentiras e a manipulação dos fatos. Os fatos são os mesmos e eles estão à frente dos nossos olhos, mas nossos interesses pessoais, nossas ideologias, nossas cosmovisões podem manipular, distorcer e até mesmo usar os mesmos fatos ora a favor de um argumento, ora contra o mesmo argumento.

Enfim, o Príncipe já está assentado em seu trono e seus consultores e conselheiros lhe assediam diabolicamente para que ele arrogue para si não somente a autoridade de Deus, mas ele deve fazê-lo “com plena consciência de que esse Deus é inimigo dos cristãos e da humanidade em geral. Em bom português: ele deve fazer da imitação do diabo a nova forma da imitação de Deus, ao mesmo tempo que, posando ante as multidões como um novo Deus, as leve a crer que estão cultuando a Deus quando se prosternam ante o Príncipe-diabo” (p. 88).


Nota: O livro "Maquiavel, ou a confusão demoníaca", do professor e filósofo Olavo de Carvalho, pode ser adquirido na Livraria do Seminário de Filosofia, entre outros títulos.

14 abril 2012

Lógica do abortismo



Por Olavo de Carvalho

O aborto só é uma questão moral porque ninguém conseguiu jamais provar, com certeza absoluta, que um feto é mera extensão do corpo da mãe ou um ser humano de pleno direito. A existência mesma da discussão interminável mostra que os argumentos de parte a parte soam inconvincentes a quem os ouve, se não também a quem os emite. Existe aí portanto uma dúvida legítima, que nenhuma resposta tem podido aplacar. Transposta ao plano das decisões práticas, essa dúvida transforma-se na escolha entre proibir ou autorizar um ato que tem cinqüenta por cento de chances de ser uma inocente operação cirúrgica como qualquer outra, ou de ser, em vez disso, um homicídio premeditado. Nessas condições, a única opção moralmente justificada é, com toda a evidência, abster-se de praticá-lo. À luz da razão, nenhum ser humano pode arrogar-se o direito de cometer livremente um ato que ele próprio não sabe dizer, com segurança, se é ou não um homicídio. Mais ainda: entre a prudência que evita correr o risco desse homicídio e a afoiteza que se apressa em cometê-lo em nome de tais ou quais benefícios sociais hipotéticos, o ônus da prova cabe, decerto, aos defensores da segunda alternativa. Jamais tendo havido um abortista capaz de provar com razões cabais a inumanidade dos fetos, seus adversários têm todo o direito, e até o dever indeclinável, de exigir que ele se abstenha de praticar uma ação cuja inocência é matéria de incerteza até para ele próprio.

Se esse argumento é evidente por si mesmo, é também manifesto que a quase totalidade dos abortistas opinantes hoje em dia não logra perceber o seu alcance, pela simples razão de que a opção pelo aborto supõe a incapacidade – ou, em certos casos, a má vontade criminosa – de apreender a noção de "espécie". Espécie é um conjunto de traços comuns, inatos e inseparáveis, cuja presença enquadra um indivíduo, de uma vez para sempre, numa natureza que ele compartilha com outros tantos indivíduos. Pertencem à mesma espécie, eternamente, até mesmo os seus membros ainda não nascidos, inclusive os não gerados, que quando gerados e nascidos vierem a portar os mesmos traços comuns. Não é difícil compreender que os gatos do século XXIII, quando nascerem, serão gatos e não tomates.

A opção pelo abortismo exige, como condição prévia, a incapacidade ou recusa de apreender essa noção. Para o abortista, a condição de "ser humano" não é uma qualidade inata definidora dos membros da espécie, mas uma convenção que os já nascidos podem, a seu talante, aplicar ou deixar de aplicar aos que ainda não nasceram. Quem decide se o feto em gestação pertence ou não à humanidade é um consenso social, não a natureza das coisas.

O grau de confusão mental necessário para acreditar nessa idéia não é pequeno. Tanto que raramente os abortistas alegam de maneira clara e explícita essa premissa fundante dos seus argumentos. Em geral mantêm-na oculta, entre névoas (até para si próprios), porque pressentem que enunciá-la em voz alta seria desmascará-la, no ato, como presunção antropológica sem qualquer fundamento possível e, aliás, de aplicação catastrófica: se a condição de ser humano é uma convenção social, nada impede que uma convenção posterior a revogue, negando a humanidade de retardados mentais, de aleijados, de homossexuais, de negros, de judeus, de ciganos ou de quem quer que, segundo os caprichos do momento, pareça inconveniente.

Com toda a clareza que se poderia exigir, a opção pelo abortismo repousa no apelo irracional à inexistente autoridade de conferir ou negar, a quem bem se entenda, o estatuto de ser humano, de bicho, de coisa ou de pedaço de coisa.

Não espanta que pessoas capazes de tamanho barbarismo mental sejam também imunes a outras imposições da consciência moral comum, como por exemplo o dever que um político tem de prestar contas dos compromissos assumidos por ele ou por seu partido. É com insensibilidade moral verdadeiramente sociopática que o sr. Lula da Silva e sua querida Dona Dilma, após terem subscrito o programa de um partido que ama e venera o aborto ao ponto de expulsar quem se oponha a essa idéia, saem ostentando inocência de qualquer cumplicidade com a proposta abortista.

Seria tolice esperar coerência moral de indivíduos que não respeitam nem mesmo o compromisso de reconhecer que as demais pessoas humanas pertencem à mesma espécie deles por natureza e não por uma generosa – e altamente revogável – concessão da sua parte.

Também não é de espantar que, na ânsia de impor sua vontade de poder, mintam como demônios. Vejam os números de mulheres supostamente vítimas anuais do aborto ilegal, que eles alegam para enaltecer as virtudes sociais imaginárias do aborto legalizado. Eram milhões, baixaram para milhares, depois viraram algumas centenas. Agora parece que fecharam negócio em 180, quando o próprio SUS já admitiu que não passam de oito ou nove. É claro: se você não apreende ou não respeita nem mesmo a distinção entre espécies, como não seria também indiferente à exatidão das quantidades? Uma deformidade mental traz a outra embutida.

Aristóteles aconselhava evitar o debate com adversários incapazes de reconhecer ou de obedecer as regras elementares da busca da verdade. Se algum abortista desejasse a verdade, teria de reconhecer que é incapaz de provar a inumanidade dos fetos e admitir que, no fundo, eles serem humanos ou não é coisa que não interfere, no mais mínimo que seja, na sua decisão de matá-los. Mas confessar isso seria exibir um crachá de sociopata. E sociopatas, por definição e fatalidade intrínseca, vivem de parecer que não o são.


Nota: 1) Publicado no Jornal Diário do Comércio, em 14 de Outubro de 2010;
2) A foto acima não faz parte da publicação original.

09 abril 2012

O arrependimento, na visão Calvinista


Por Ricardo Castro
Sicut scriptum est...

Arrepender-se é chorar os pecados cometidos; e não cometer outros após chorar.

Arrepender-se é gemer pelos males praticados; e não cometer outros, que o farão gemer.

Arrepender-se é uma triste vingança pela qual o pecador castiga em si mesmo o que ele gostaria de não ter cometido.

Arrepender-se é uma dor de coração e um amargor de alma pelas maldades que a pessoa cometeu ou nas quais consentiu.

Arrepender-se é lançar mão de um remédio que extingue o pecado, um dom vindo do céu, um poder admirável, uma graça que sobrepuja a força das leis.

As frases acima são um belo exemplo de declarações de quem nunca, jamais, soube o que é fé (conforme as Escrituras), e, muito menos sabe o que é o verdadeiro arrependimento – o arrependimento segundo os ensinamentos escriturístico (segundo as Sagradas Escrituras).

Pela pregação do evangelho o pecador é apresentado à graça e a remissão dos pecados e, ele, sendo libertado da miserável servidão do pecado e da morte, é transferido para o reino de Deus. Ao receber a graça do evangelho pela fé, não há como ele (o pecador) não voltar atrás em sua vida extraviada, tomar o caminho reto e se dedicar com todo seu empenho a refletir no verdadeiro arrependimento. Assim, o arrependimento é parte integrante da sua fé e, também, gerado por esta.

O arrependimento não precede à fé, mas, sim, procede dela. Não obstante, não há, com essa afirmação, a intenção de dizer que haja algum intervalo de tempo no qual ele, o arrependimento, deixe de ser gerado, mas, sim, que o homem não pode aplicar-se retamente ao arrependimento se não reconhecer que pertence a Deus. Calvino afirma que “ninguém pode concluir que pertence a Deus, a não ser que primeiro tenha reconhecido a sua graça”. Isso, segundo ele, joga por terra a ação comum de exigir do candidato ao batismo alguns dias de arrependimento antes de ser recebido à comunhão da graça do evangelho. Ora, bem sabemos que o cristão deve continuar a prática do exercício do arrependimento, e, este exercício se inicia quando ele, o pecador, recebe de Deus a fé.

Só há verdadeiro arrependimento naquele que crê na Boa Nova – no Evangelho. Há, no entanto, duas espécies de arrependimento: o “Arrependimento Legal” e o “Arrependimento Evangélico”. O “Arrependimento Legal”, segundo Calvino, é aquele pelo qual o pecador, angustiado pelo duro castigo imposto ao seu pecado, e como que partido ou quebrantado pelo terror da ira de Deus, permanece preso a essa perturbação, sem poder se desentravar. Já o “Arrependimento Evangélico”, também segundo Calvino, é aquele pelo qual o pecador, estando lamentavelmente ensimesmado e aflito, não obstante levanta-se e eleva-se, abraçando a Jesus Cristo como o remédio para a sua chaga, o consolo para o terro que o bate, o bom porto par o abrigar em sua miséria (não nos esquecendo de que Deus é o originador da fé que conduz o pecador ao arrependimento).

As Escrituras bem descrevem o arrependimento de Caim, Saul e Judas como arrependimento legal: após conhecerem a gravidade do seu pecado eles temeram a ira de Deus, mas, só pensando na vingança e no juízo de Deus, deixaram-se dominar por este pensamento. Da mesma forma as Escrituras bem descrevem o arrependimento daqueles que, depois de feridos pelo aguilhão do pecado, firmados, porém, na confiança da misericórdia de Deus, voltaram-se a ele: Ezequias, Davi, Pedro, Paulo e, muitos outros. Estes, após chorarem amargamente, não perderam a esperança.

Fé e arrependimento não devem ser confundidos – são distintos, mas, unidos. Não é possível separá-los, mas, é possível distingui-los. Segundo Calvino, o verdadeiro arrependimento não subsiste sem a fé. Assim, embora entretecidos por um laço que não se pode desfazer, melhor será uni-los que confundi-los. O arrependimento abrange a conversão completa, da qual a fé uma das partes componentes.

“A palavra hebraica para significar arrependimento quer dizer conversão; a dos gregos significa mudança de conselho ou propósito e de vontade e, de fato, a realidade não corresponde mal a esses vocábulos. Sim, pois, em suma, arrependimento significa que nos retiramos de nós mesmos e nos convertemos a Deus, e, tendo abandonado a nossa primeira forma de pensar e de querer, assumimos uma nova. Por isso, em minha opinião, podemos defini-los apropriadamente desta maneira.” – Calvino

Devemos saber, e bem saber, que o arrependimento é uma verdadeira conversão da nossa vida - conversão essa para servir a Deus e também para seguir o caminho por ele indicado. Assim, o arrependimento procede de um legítimo temor de Deus, não fingido, e consiste na mortificação da nossa carne e do nosso velho homem, e na vivificação do Espirito. Como conversão de vida entendemos uma mudança, não somente nas obras externas, mas também na alma, de modo que, tendo sido despojado da sua velha natureza, o pecador arrependido passe a produzir frutos dignos da sua renovação. Quanto ao proceder de um legítimo temor de Deus, entendemos que, antes de ser induzido ao arrependimento, é necessário que a consciência seja, primeiro, tocada pelo juízo de Deus. E, quanto à mortificação da carne e a vivificação do Espírito, entendemos que o pecador deve renunciar a si mesmo e abandonar a sua natureza e, que, para isso, é necessária a ação do Espírito de Deus, transformando as almas pecadoras em sua santidade, dirigindo-as de tal modo a novos pensamentos e afetos que se pode dizer que não são as mesmas de antes.

“O arrependimento é uma regeneração espiritual cujo objetivo é que a imagem de Deus, obscurecida e quase apagada em nós, pela transgressão de Adão, seja restaurada.” - Calvino

Sicut scriptum est...
Bibliografia utilizadas na construção deste artigo:
- As Institutas, volume 2 (João Calvino – Editora Cultura Cristã)
(Há, no artigo acima, várias compilações da obra acima, não havendo indicação por aspas ou referências, a todas elas. Minha intenção é incitar o leitor a pesquisar nessa obra e, assim lê-la.)

- Referências bíblicas): Mt 3.2,3; Is 40.3; Gn 4.8-16; 1Sm 15; Mt 27. 3-5; 2Rs 20.1-11; Is 37; Jn 3; 2Sm 24.10,25; 12.13; At 2.37; Lc 22.62, At 20.21; 10.42; Ez 18; Jr 4.1; Is 58; Jr 44; At 17.30,31; 2Co 7.9,10; Sl 34.14; Is 1.16,17; Rm 8.5-8.

31 março 2012

O primeiro culto protestante das Américas


Essa história meus livros dos tempos de escola não contaram; talvez por desinteresse, talvez por ignorância... Mas o episódio ficou registrado pela historiografia dos povos que interagiram com o desenvolvimento da história da nação brasileira. Pela importância documental, pela coragem de vir tão longe pregar o Evangelho, pelo testemunho de fé, por tudo que representa e pode representar para a fé protestante no Brasil, desejo, sinceramente, que este episódio nunca mais seja esquecido.

Como essa história começou
O primeiro Culto protestante das Américas foi celebrado, muito provavelmente, no Brasil. Justo no país que ficou historicamente tão marcado pela influência de uma colonização católica-romana-jesuita.

Em tempos remotos, poucas décadas após o controverso descobrimento destas terras conhecidas como Brasil, houve uma tentativa de se estabelecer uma pequena colônia francesa no Rio de Janeiro. Naquela época tanto os portugueses quanto os franceses constantemente visitavam a costa[1] estabelecendo contato com os “selvagens” locais para negociar, principalmente, a extração do pau-brasil.

Esse projeto colonizador, também conhecido como a França Antártica, teve suas peculiaridades. O jovem aventureiro e vice-almirante francês Nicolas Durand de Villegaignon (1510 -1571), com o apoio do próprio rei da França Henrique II, aceitou o desafio de estabelecer uma colônia no Brasil chegando ao Rio de Janeiro em 1555. O nível moral e religioso da recém-estabelecida colônia era preocupante; Villegaignon decidiu “importar” franceses de boa índole para influenciar os que por aqui já haviam chegado.

Villegaignon escreve uma carta[2] a um antigo conhecido, o reformador João Calvino, que envia 14 huguenotes (nome dado aos protestantes calvinistas na França) que chegam ao Brasil no dia 7 de março de 1557. No grupo destaca-se a presença de 2 pastores e a do o jovem Jean de Léry (na época com 22 anos) estudante de Teologia, que atuou como sapateiro na Colônia. Após o regresso dramático para a França Léry escreve a obra Histoire d’un voyage faict en la terre du Brésil publicado na Europa em 1578, que se tornou um livro de “viagens e aventuras de grande sucesso” no Velho Continente, rapidamente traduzido para o latim, alemão e holandês. No Brasil com o título Viagem à terra do Brasil, foi publicado em 1980 pela EdUSP. Esta é a principal obra que nos traz o relato dos protestantes (calvinistas) que perderam a vida em defesa da fé bíblica no Brasil Colonial. Nesta obra também estão registrados dois cantos tupis, que os historiadores consideram o documento escrito mais antigo da música ameríndia.

Calvinistas no Brasil Colonial parte I: O primeiro culto protestante
Apesar de o termo “missionário” ainda não estar em voga no vocabulário evangélico do século XVI, talvez este tenha sido o primeiro movimento missionário em direção ao Novo Mundo. Motivados pela promessa de “fundar um puro serviço a Deus” esses homens estavam dispostos a cruzar o Oceano, convictos de que sua finalidade era “anunciar o Evangelho na América”[3].

Acolhidos com receptivas palavras de Villegaignon, os calvinistas chegaram ao Brasil numa quarta-feira, dia 10 de março de 1557, e neste mesmo dia realizam um culto descrito por Léry como em conformidade com ritual das igrejas reformadas da França[4]. Na ocasião cataram o Salmo 5, e o pastor Pedro Richier, integrante do recém-chegado grupo, realizou a pregação com base no Salmo 27 “Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida”. Não sabiam eles que haviam acabado de realizar “o primeiro culto protestante da história do Brasil e do Novo Mundo”.[5]

Calvinistas no Brasil Colonial parte II: A primeira celebração protestante da Ceia do Senhor
Conforme nos informa Jean de Léry, o almirante Villegaignon não apenas consentiu que se realizassem orações públicas todas as noites após os trabalhos de edificação do Forte, mas também ordenou que os pastores pregassem duas vezes aos domingos, que os sacramentos fossem administrados de acordo com a pura Palavra de Deus, e que, se necessário fosse, se aplicasse a disciplina eclesiástica. Por isso, no dia 21 de março de 1557, pela primeira vez foi celebrada a Santa Ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo (nos moldes da igreja protestante), em território brasileiro.

Calvinistas no Brasil Colonial parte III: Um testemunho que entrou pra história “A Confissão de Fé de Guanabara”
Para justificar a condenação dos calvinistas por heresia, Villegaignon os forçou a responderem um questionário. Aprisionados, de posse de uma bíblia, e em algumas poucas horas, elaboram um documento que entrou pra história como uma das mais antigas e emocionantes confissões de fé cristã.

O documento “A Confissão de Fé de Guanabara” foi escrito em Latim com tinta feita de pau-brasil e é composto de 17 artigos enfaticamente iniciados, em grande parte, com a expressão “Cremos...”. Tais artigos podem ser divididos nos seguintes temas: (1-4) Trindade e a pessoa de Cristo; (5-9) Ceia e Batismo; (10) o livre-arbítrio; (11, 12) a autoridade dos ministros para perdoar pecados e impor as mãos; (13-15) casamento, divórcio e castidade; (16, 17) intercessão dos santos e oração pelos mortos.[6]

Alguns pequenos detalhes nos chamam a atenção na elaboração deste documento: 1) Jean Du Bourdel, que foi o redator, apesar do conhecimento do latim, não possuía uma formação formal em teologia; era leigo. 2) O pouco tempo que tiveram para produzir o texto (aproximadamente 12 horas). 3) Pouco recursso disponível – uma bíblia –, e a situação totalmente adversa: a prisão, a pouca luminosidade e a pressão de saber que aquele documento representaria – talvez – a própria sentença de morte. 4) A familiaridade com os Pais da Igreja; são citados Agostinho, Tertuliano, Ambrósio e Cipriano. 5) A solidez teológica do documento que se harmoniza com as principais confissões da fé bíblico-reformada.

Calvinistas no Brasil Colonial parte IV: Os primeiros mártires protestantes da história do Brasil
O almirante Villegaignon logo foi visto como um fingido, que inicialmente demonstrava piedade e disposição para acolher com ternura paternal os calvinistas, mas logo submeteu os visitantes a um cotidiano de trabalhos forçados e condições de difícil sobrevivência. E, repentinamente, todo o fervor pela fé reformada se converteu em perseguição religiosa com radicais discordâncias, principalmente, acerca do sacramento da Santa Ceia; o almirante passou a, enfaticamente, advogar em favor dos dogmas do catolicismo romano, exigindo uma retratação dos calvinistas.

Para o almirante, Cristo estava fisicamente presente na Ceia, era necessário adicionar água no vinho da Ceia, e sal na água do batismo. Calvino e seus seguidores foram declarados hereges.

Para tentar escapar da crescente perseguição os protestantes franceses fugiram do Forte e tomaram uma embarcação rumo a França. A superlotação do modesto navio quase provoca um naufrágio ainda na costa do Rio de Janeiro, e, temerosos, 5 huguenotes (Pierre Bourdon, Jean Du Bourdel, Matthieu Verneuil, André la Fon e Jacques Le Balleur) resolvem não seguir viagem. Encontrados por Villegaignon, são aprisionados para serem executados como hereges, mas antes lhes foi exigido declarar sua fé por escrito.

Na obra Los Mártires de Guanabara. Barcelona: CLIE, 1979de John Gillies, encontramos uma das descrições mais emocionantes do martírio destes irmãos em Cristo:
A situação, após a retirada dos encarcerados da prisão, se tornou mais tensa; não sabiam para onde estavam sendo dirigidos, contudo tinham certeza de não estarem em caminho da casa do almirante, pois passaram reto ante a porta frontal e seguiam caminhando sobre as rochas rumo ao cume nordeste da ilha.
Estavam todos cientes de que haviam arriscado suas próprias vidas ao terem escrito aquela confissão, mas pensavam que o máximo que poderia ter acontecido era terem sido lançados ao cárcere por algumas semanas, e, no piro dos casos, o exílio; o que era destino comum àqueles que estivessem em desacordo com o almirante.

A ordem de ficarem em silêncio não foi plenamente obedecida, ao invés disso, Bourdel começou a cantar, uma paráfrase do salmo 100. Logo em seguida o almirante Villegaignon questionou Jean Du Bourdel se ainda permanecia firme em suas idéias, este, porém, parecia mais firme que nunca e exortava-os a que permanecêssemos firmes e inabaláveis e a que reconhecessem que no Senhor todo labor não seria em vão.
A uma ordem alguns grandes sacos foram colocados à disposição dos algozes, sacos estes que o próprio La Fon havia costurado. Bourdel foi, de cima para baixo, ensacado e amarrado à cintura, conduzido até a ponta do rochedo, e, com um forte empurrão, arremessado ao mar; caiu em água. O golpe do corpo na água foi possível de ser ouvido de cima do cume, onde estavam os outro que certamente teriam o mesmo destino.

Deste pequeno grupo que resolveu não seguir viagem três (Pierre Bourdon, Jean Du Bourdel e Matthieu Verneuil) foram executados sob as ordens do tirano almirante. 

Escrito por Rev. Adenauer Lima
Postado por Adilson Marcos

Notas:
[1] É sabido que os franceses se faziam presentes na costa brasileira desde 1504; de forma dispersa e desorganizada contrabandeavam principalmente madeira (Vd. RODRIGUES, José H. História da História do Brasil: 1ª parte: Historiografia Colonial. 2ª Ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, p. 38). Tais incursões geraram dois grandes frutos: 1) O estabelecimento de Forte Frances no Rio de Janeiro por volta de 1555; 2) A fundação da cidade de São Luís do Maranhão em 1612. Em ambos os casos a presença francesa foi rechaçada pelos colonizadores portugueses.
[2] Para informes documentais mais precisos, consultar o artigo do Dr. Francisco L. Schalkwijk, O Brasil na Correspondência de Calvino in:Fides Reformata, IX, n° 01, 2004.
[3] LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil in: Coleção Reconquista do Brasil, (Belo Horizonte: Itatiaia & Edusp, 1980). p. 56.
[4] LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil in: Coleção Reconquista do Brasil, (Belo Horizonte: Itatiaia & Edusp, 1980). p. 86.
[5] Alderi Souza de Matos no texto de apresentação da obra A tragédia de Guanabara de Jean Crespin, p. 11.
[6] Cf. Alderi Souza de Matos no texto de apresentação da obra A tragédia de Guanabara de Jean Crespin, publicado pela Editora Cultura Cristã em 2007. Nesta obra é possível encontra o texto integral da “Confissão de Fé de Guanabara”.

24 março 2012

Aterrorizante



Por Natan de Oliveira

A vida de Pedro foi passando, correndo e fugindo rapidamente.
Alguns dias foram interessantes, outros chatos e efêmeros.

A única sensação que ficou cada vez marcada na mente de Pedro é que parece que as coisas foram rápidas demais.

Parece que ontem mesmo Pedro tinha 18 anos, num “segundo” se viu aos 30, os 40 chegaram com igual rapidez, nunca imaginou que chegaria aos 70, e mesmo assim os 70 chegaram tão rápido quanto os 40.

A sensação de eternidade que estava no coração de Pedro começa a tremer nas bases.

Então um dia Pedro acordou, meio desanimado, meio depressivo.
E com a cabeça ainda no travesseiro, coloca na balança sua vida e constata que não foi digno e honrado em nada AOS OLHOS DE DEUS.

Seu nome em duas gerações estará completamente esquecido da memória dos vivos, sobreviverá talvez apenas em livros.

Nem mesmo uma alma sequer dos que viverem em 200 anos no futuro estará disposta a limpar ou tirar o mato que se acumulará na sua sepultura.

Se é que terá uma sepultura, se é que os seus ossos não serão varridos para um canto qualquer e o seu espaço dado a outro corpo de um outro ser insignificante como ele Pedro foi.

Uma profunda decepção se apodera de Pedro.
Faltou amar...
Faltou conversar...
Faltou humor...
Faltou tanta coisa...
Mas principalmente faltou considerar seriamente a possibilidade de se encontrar com Deus um dia e prestar contas da sua vida fútil.

O sucesso tão sonhado não chegou para Pedro e quando pareceu que tinha chego, foi ilusório e passageiro...

A riqueza tão buscada não veio nem pelo trabalho nem pela sorte, e Pedro imagina que se tivesse vindo, apenas o ocuparia ainda mais com coisas sem importância e na satisfação de deleites insaciáveis e egoístas.

Tudo parece ter dado errado.

E numa certa manhã o médico lhe diz claramente que não viverá muito mais tempo.
Tem câncer e está em estado terminal.
A Pedro só serão dados cuidados paliativos e remédios para a dor.

Estes remédios irão aliviar-lhe de alguma dor, mas trarão o efeito colateral de ir parando os seus órgãos aos poucos.
Logo, logo nem consciência terá, e até mesmo nas suas reflexões incoerente será.

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O cenário acima é hipotético...
Pedro é um personagem imaginário.
Mas nem tanto...

E então...? Diante de uma situação semelhante a essa, que farias?
O que Deus tem para nos dizer num cenário semelhante?

Deus nos diz claramente "PREPARA-TE PARA TE ENCONTRARES COM TEU DEUS" Amós 4.12

Saiba que não irás caminhando até Deus, mas serás levado e se necessário arrastado contra a tua vontade diante Dele te apresentarás.

Diante Dele estarás totalmente “nú”.
Nada escapará aos olhos de Deus.
Os livros serão abertos, e todos os malditos e indizíveis pecados que fizestes serão lidos diante de Deus.

Nenhum só pensamento oculto será esquecido, nenhum só segredo oculto será deixado no rodapé da leitura da tua biografia que estará completamente escrita e pormenorizada sendo lida na presença do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, o juiz perfeito, santo, imaculado.

O mais ridículo, o mais nojento pecado, a mais estúpida ação, todas e todas serão listadas e mesmo aquelas que tu não mais te lembravas, estarão cristalinas sendo apresentadas diante de ti e de Deus.

Os livros da tua vida, abertos e lidos, nada ocultarão.

Depois do que for lido nos livros, terás absoluta certeza que não haverá como escapar das mãos Daquele que tem poder de tanto matar o corpo quanto de lançar a tua alma no inferno.

Então Deus Filho, Jesus Cristo, Ressurreto, Santo, Justo, Imaculadamente e Ofuscantemente Branco abrirá sua boca e te perguntará?

- Que fizeste de Mim, de Jesus, chamado o Cristo?

Tentarás falar, mas a voz não sairá.
Os livros responderão.

E lá surgirão todas as vezes que adiastes responder ao chamado do Senhor.

Lá serão lidas todas as vezes que usastes o nome de Deus em vão.

Lá serão lidas todas as vezes que diminuístes a glória e divindade de Jesus nomeando-o como meramente mais um profeta.

Todos os dias em que dormistes sem ter orado ao Criador serão contados e proclamados, dias em que dedicastes tempo para um amontoado de coisas sem importância e no qual não sobrou nenhum tempo para orar, pois estavas muito ocupado durante o dia, e depois muito cansado para orar antes de dormir.

Lá serão lidas as horas e horas que gastastes em jogos de computador inúteis, onde na tua juventude dedicavas horas e horas do dia para explodir cabeças de supostos bandidos e soldados virtuais, destes jogos sanguinários que não tem outra função que não seja ocupar-te plenamente para te conservar para o inferno, numa vida medíocre sem Deus, sem Jesus.

Lá serão lidas as horas e horas que você passou meditando em pornografia e coisas indizíveis, que nem mesmo você teria coragem de que filmes dos teus pensamentos fossem mostrados para algumas pessoas próximas de ti, que dirá então que estes filmes sejam passados diante de ti e de Deus.

Não terás a menor coragem de fitar os olhos no Senhor, depois que os livros desvendarem e desnudarem a podridão da tua mente.

Tentarás desviar o olhar, mas como que com as pálpebras fixas por grampos, não poderás piscar e os olhos de Deus te observarão o tempo todo, e tu ficarás mudo, sem defesa, nú, perdido, implacavelmente perdido.

Saibas de uma grande verdade: Em todo e qualquer minuto da tua vida você está na presença de Deus.

Ele te observa nos mínimos detalhes.

Tua vida demonstra desprezo pelo Senhor?
Ignoras levianamente que Ele te observa o tempo todo?

Desprezo pelo Senhor, indiferença pelo seu chamado, negligência para com o Evangelho, incredulidade para com a Sua morte, ressurreição e poder.

Então novamente Deus Filho, Jesus Cristo, Ressurreto, Santo, Justo, Imaculadamente e Ofuscantemente Branco novamente abrirá sua boca e te sentenciará!

- Aparta-te de mim, praticante de iniquidades. Vá para onde o fogo nunca se apaga e o terror mental, psicológico, real e latente, nunca se desvanece.

Contra a tua vontade então, serás jogado no lago de fogo, e tua companhia será o diabo e seus anjos.

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Se você não crê que isto ocorrerá com muitos e muitos, nem sei por que você se dá ao trabalho de ler um texto assim até o seu final.

Mas se o texto faz algum sentido para você...

Por menor que seja o sentido que faça, ouça novamente o que agora escrevo em maiúsculo:

Enquanto há tempo, Deus nos diz claramente "PREPARA-TE PARA TE ENCONTRARES COM TEU DEUS". Amós 4.12

Viva de tal forma que quando os livros forem abertos, quando a tua biografia for lida, não tenhas que te envergonhar diante de Deus.

Viva de tal forma que o sangue de Jesus seja encontrado diante da tua fronte, e páginas e páginas da tua biografia estejam lacradas e ilegíveis com o lacre do "Mar do Esquecimento" da mente de Deus.

Assim não serás envergonhado e confrontado com as nojentas coisas que tu fizestes, pois elas terão sido todas ocultadas pela tinta do Sangue do Cordeiro Imaculado que na cruz pagou o preço do resgate da tua alma.

Poderás estão ouvir do Senhor:

- Venha bendito e amado, tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, estive preso e me visitaste, não desprezaste o Meu nome, o Meu chamado atendeste, uma vida de santificação crescente viveste, vem... Entra na alegria do teu Senhor e participa eternamente da Minha companhia em desfrutar de novos céus e nova terra.

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria.

Não tornes o dia do teu julgamento em um dia aterrorizante para ti.

Ainda há tempo para converteres o teu desprezo e a tua indiferença pelo Senhor em uma vida de gratidão e crescente santificação.

“Prepara-te para te encontrares com o Teu Deus”. Amós 4.12