"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

19 abril 2010

Uma oração rumo às trevas


quinta-feira, 15 de abril de 2010




Por Paulo Brasil *


ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. (Hb 11.1).

(Sermão na I.B.R. Renascer - Manaus - 18.04.2010)
Todos argumentam e defendem sua própria fé. Digo, nenhuma certeza terão sobre tal validade, antes que o Senhor a prove e garanta sua autenticidade. E não será por meio de supostas aflições, pois a resposta ousada sobressai como aptidão espiritual. A fé, amados, primeiramente não vive para os sobressaltos da vida, mas sim para engrandecimento do nosso Deus, sendo Ele a fonte única de sua força.

Assim, passemos ao que diz o Senhor. Encontramos nas Escrituras "Amados, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos." (Judas 1:3). A atenção necessária nos leva a verificar que a Escritura emprega a palavra fé com a idéia de arranjos teóricos ou doutrinas. Neste caso, fé é a própria Palavra de Deus. Dizemos então que a fé, neste aspecto, é objetiva. Pois é possível pegá-la, verificá-la, compreendê-la e mesmo obedecê-la. 
De outra feita, quando lemos em Ef 2.8, que a salvação é pela fé, estamos frente a uma fé que não é palpável, perceptível. A fé que olhos não vêem, ouvidos não ouvem. Nenhum dos sentidos naturais do homem pode percebê-la. Assim, neste aspecto, a fé é subjetiva. Sem instrumentos humanos capazes de aferi-la. Você poderá proclamá-la a pleno pulmões. 
Contudo, esta que se afirma possuir não vive separada daquela, a objetiva, a Palavra de nosso Deus. Como gravura em baixo relevo, a visível – A Palavra - imprime a marca da invisível – a fé do crente. Podemos avaliar a fé invisível conhecendo o que Deus fala de Si e de suas promessas. Não suponha haver outro meio. Qualquer outra tentativa de prová-la estará corrompida pelo secularismo evangélico e o preço será caríssimo. Foge dela.
Esta verdade divina, obriga a todos submeterem sua fé, ou o que se entende por fé, ao escrutínio da Palavra e apenas Dela. Não podemos fazê-lo junto aos púlpitos dos encantadores evangélicos, não podemos fazê-lo pela artimanha sonora desse louvor das trevas, pelo balanço contábil das conquistas pessoais; muito menos pelas últimas revelações recebidas por corações ávidos pelos reinos da terra. 
É urgente tal avaliação, não podemos adicionar um segundo sequer ao tempo que nos resta, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Mesmo que seu coração e sua fé zombem daquilo que agora ouve, não se deixe demover, é necessário avaliá-la, não deixe para depois. Veja a multidão de pessoas simples, de poucas letras, que hoje sabem em quem têm crido e estão certas onde será sua morada eterna. 
Não há questões difíceis, complexas, são propostas para nosso entendimento. O Altíssimo, que nos dá a fé, dar-nos-á também a compreensão. Traga sua mente para próximo do Senhor, não a deixe vagar pelos parques da indiferença. 
A palavra do Senhor afirma que a fé dá certeza para esperança completa. Digo completa, pois em Deus a esperança é completa, para todo o sempre, eterna. Deus não daria sua palavra para manter suas criaturas rastejando no pó deste mundo vil, não! Deus, em suas promessas, segurou-nos o rosto, elevou-nos os olhos, fazendo-nos contemplar toda imensidão de sua bondade. Conduziu-nos em Cristo para lugares celestiais. 

Em sua fé estão abertos os braços do Senhor? Seu coração já entoa louvores celestiais? Sabe-se peregrino? Em terra estranha? Já experimentou a paz de Deus?
A fé que vem do Senhor não abre um espaço menor que este: a imensidão da eternidade junto a Triunidade e os santos de todas as eras. 

Logo, a fé, nos une às promessas eternas e nos faz servos da vontade santa de Deus. 

A fé que transpassou o coração do crente sabe que o Altíssimo enviou Seu Filho, único Filho, ao mundo. Sabe que naquela cruz foram, são e serão salvos incontáveis pecadores. 
Esta é a bendita obrigação da fé: crer em Jesus Cristo, o autor da vida e destruidor da morte. Celebremos nosso resgate, pois Ele está mais próximo que no princípio quando cremos. 
Se na sua fé não o faz olhar para os céus e sorrir sabendo que de lá virá o Salvador, ela de nada aproveita. 
Se na sua fé não há qualquer obrigação para com o Senhor, há dolo em seu coração, e sua fé não vem do alto, e para lá não lhe levará. O Espírito do Senhor ainda não o consumiu com o fogo regenerador; e seus pés falseiam rumo ao terrível destino. 

Clame ao Todo-Poderoso - Senhor dos céus, terra e mar - para que o livre de tão infame fé. 
A fé, amados, são cidadelas em torno do palácio do nosso coração e da nossa mente. É a primeira e última ala a nos proteger contra toda maldade do homem anterior - que permanece vivo. Pois, com ela que abatemos os mais vis pensamentos e por meio dela não consumamos aquilo que nos horroriza. 
A sabedoria, os recursos, a saúde, a família, os bens, as obras, tudo não resistirá à determinação do tempo. Apenas a fé definirá onde passaremos nossa eternidade. Se foi construída sobre a Rocha eterna - que é Cristo - as portas eternas da bem-aventurança se abrirão, para unidade definitiva com o Senhor. Mas, comprovada sua falsidade, as chamas eternas, sem direito a qualquer argumentação, serão o prêmio por tão grande rebeldia. 
Sua fé permite que os grilhões da morte perfurem dia e noite o seu coração? Ela nunca o avisou sobre o temor ao Justo? E você prefere caminhar com ela, mesmo assim. Não há celebração a ser feita. 
Pelo contrário, ao sair daqui, no fundo de sua alma, uma oração soará: Minha fé é o caminho para as trevas. 

Ao Senhor honra, gloria e louvor de eternidade a eternidade.

* Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originalmente em Através das Escrituras

12 abril 2010

Soberania Divina e Autocompatibilidade

Por Vincent Cheung


O Deus soberano contradiz a ideia de que o homem exercita o livre-arbítrio no que diz respeito a qualquer assunto, incluindo-se a salvação. A soberania divina e a liberdade humana são mutuamente excludentes. Afirmar uma delas significa negar a outra. Por consequência, a pessoa que insiste em ter aceitado Cristo por causa do livre-arbítrio, e não por causa da escolha soberana de Deus e de sua ação direta na alma, é incapaz de asseverar ao mesmo tempo o Deus soberano. Pelo fato de o único Deus apresentado na Bíblia ser absolutamente soberano, a pessoa que assevera o livre-arbítrio humano é incapaz de sustentar a crença em Deus sem contradição.

Alguns teólogos percebem esse dilema, e dessa forma escolhem crer em uma contradição. No entanto, isso faz com que pareçam estúpidos, e alguns deles não conseguem tolerar a humilhação. Assim eles inventam uma saída, e dizem que a soberania de Deus é “compatível” com a escolha humana. Às vezes afirmam até que a soberania divina é compatível com a “liberdade” humana no sentido de que o homem não é coagido ao fazer uma escolha, e sim que ele escolhe de acordo com o próprio desejo.*

É claro que o homem faz escolhas, mas o que o leva a escolher? Qual é a metafísica da escolha humana? E qual é a explicação metafísica do seu desejo? Se Deus é totalmente soberano, então ele também decide e causa a escolha e o desejo humanos. E se Deus é quem decide e causa a escolha e o desejo do homem, logo dizer que a soberania divina e escolha humana são compatíveis equivale apenas a afirmar que Deus é compatível consigo mesmo. Mas já sabemos disso, e o homem ainda não é livre.

A escolha humana é irrelevante, pois ela surge debaixo da soberania divina. Dizer que o homem não é coagido implica apenas em declarar que nesse caso Deus não faz um efeito do seu poder se chocar com outro efeito do seu poder, como acontece quando ele faz dois objetos colidirem. Contudo, se não há contradição quando Deus faz dois objetos colidirem, então mesmo a coação não acarreta nenhuma contradição. Isso poderia significar apenas que ele faz uma pessoa desejar uma coisa e escolher outra, enquanto o próprio Deus permanece compatível consigo mesmo. Qual seria o problema com isso?

De fato, a soberania absoluta de Deus e a responsabilidade moral do homem são compatíveis. Talvez seja por isso que os teólogos estejam tão incomodados. No entanto, o homem é moralmente responsável apenas pelo fato de Deus ter decidido fazer com que ele preste contas de seus atos. Isso não possui ligação necessária com a escolha ou a liberdade. Nem mesmo a coação elimina a responsabilidade. O que uma tem que ver com a outra? A responsabilidade moral do homem depende da soberania absoluta de Deus, e de nada mais. Portanto, dizer que o home é responsável, mais uma vez, significa afirmar apenas que Deus é compatível com ele mesmo.

Então permanece a incompatibilidade entre a soberania divina e a liberdade humana. Para que o homem seja livre em qualquer sentido relevante, ele deve ser livre de Deus, e se ele for livre de Deus em qualquer sentido e grau, Deus não é então totalmente soberano. Rejeita-se o Deus da Bíblia.

__________
* Refiro-me à doutrina do compatibilismo. Ela ensina uma forma de liberdade humana e apoia a responsabilidade moral nessa liberdade. Já a refutei ao demonstrar que o tipo de liberdade ensinado por ela é irrelevante ao debate sobre a soberania divina, e que não há relação necessária entre a liberdade e responsabilidade. De fato, a Bíblia nega esse relacionamento. (V. Vincent Cheung, O autor do pecado.)

Alguém afirmou que eu representei essa doutrina de forma equivocada ao declarar que ela assevera um tipo de liberdade humana e que ela lança a responsabilidade moral sobre essa liberdade. Essa pessoa disse que a doutrina apenas declara que a soberania divina é compatível com a escolha humana, e que por isso o homem não é coagido, mas escolhe de acordo com o próprio desejo. E indicou John Frame como representante dessa doutrina — e dessa forma como uma pessoa cuja visão eu representei erroneamente.

Assim, citaremos John Frame. Ele escreveu no livro Free Will and Moral Responsibility: “Um conceito alternativo à liberdade, coerente com a teologia reformada e sustentado por um número de filósofos […] é chamado designado com frequência ‘compatibilismo’, pois com base nele, o livre-arbítrio e o determinismo (o conceito de que todos os acontecimentos na criação são causados) são compatíveis. O compatibilismo afirma de maneira simples que a tomar decisões morais, somos livres para fazer o que quisermos, par seguirmos nossos desejos. [
] A teologia reformada reconhece que todas as pessoas contam com a liberdade na acepção compatibilista. […] Creio que a liberdade compatibilista é o tipo principal de liberdade necessária à responsabilidade moral”. Frame afirma de modo explícito que o compatibilismo ensina uma forma de liberdade, e ela é imprescindível à responsabilidade moral.

A pessoa que me acusou de representar equivocadamente também disse que o compatibilismo não assevera que o homem é livre de Deus, como escrevi. Ele me entendeu mal. Compreendo que o compatibilismo não declara o homem livre de Deus, e por essa razão é irrelevante. Meu ponto é a impossibilidade da existência de qualquer tipo de liberdade que preconize a liberdade de Deus, e qualquer tipo de liberdade que não preconize a liberdade de Deus é irrelevante. O fato de o homem não ser coagido também é irrelevante, pois sendo Deus soberano, é ele quem causa o desejo e a escolha dos seres humanos.

Quanto à minha posição, digo que a soberania divina e liberdade humana são incompatíveis e mutuamente excludentes, e pelo fato de Deus ser soberano, o homem não é livre. Aparentemente, a pessoa que me acusou gostaria de debater sobre este ponto, mas não soube como proceder. E não há como fazê-lo. Talvez a confusão tenha sido alimentada pela recusa em aceitar que sua doutrina acalentada tenha sido apresentada tão facilmente como algo ridículo e irrelevante.


Tradução: Rogério Portella



Fonte: Vincent Cheung

08 abril 2010

Por que também não sou de esquerda

Por Helder Nozina*
 
Nenhum sistema de governo ou de organização sociopolítico e econômico é de Deus. Essa afirmação é praticamente unânime nos meios evangélicos e é usada por muitas pessoas para dizer que não são nem capitalistas nem socialistas. Mas há duas ressalvas que precisam ser feitas.

A primeira é que isso não significa que todos os sistemas sejam igualmente bons aos olhos do Senhor. Há sim sistemas melhores do que outros. O fato de não existir um que seja perfeito não significa que não existam opções boas e ruins.

A segunda é que essa afirmação é um "praticamente" porque, na verdade, vários evangélicos agem como se certas bandeiras políticas fossem, de fato, o cumprimento do Reino de Deus na Terra. E quando esses modelos são criticados, a boca dos críticos é amordaçada.

Foi o que muitos esquerdistas fizeram com a articulista Norma Braga, que escreveu o artigo Por que não sou de esquerda, publicado na revista Ultimato. A teologia pode ser livre, desde que você não critique a esquerda. E aí começa, lá e em alhures, um rosário de acusações:

1) Que a autora foi simplista;
2) Que criticar a esquerda significa aceitar tudo o que vem da direita;
3) Que esquerda e direita se equivalem.

Não é possível mesmo responder a tudo em um artigo de revista que deve caber em uma página. O jornalismo não é para profundidades, não há espaço para isso. Blogs também não. Mas há espaço para mostrar algumas razões que explicam por que não sou de esquerda:

1) O direito de propriedade é bíblico
O socialismo marxista defende o fim da propriedade individual, que deve ser coletiva. Até que cheguemos a um comunismo utópico, o Estado deve distribuir os bens entre os cidadãos. Vários cristãos citam a igreja de Jerusalém como um modelo desta utopia:
Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum. (Atos 4:32)
O que parece escapar aos socialistas cristãos é que esse dividir era um ato voluntário e nunca foi uma exigência no Novo Testamento. É o que mostra a condenação de Pedro a Ananias:
Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? (Atos 5:4a)
Na verdade, Jesus não tinha problema algum em ser sustentado pelas ofertas de mulheres que possuíam bens, provavelmente pessoas consideradas ricas na sociedade de seu tempo:
Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens. (Lucas 8:1-3)
Logo, fica claro que não é e nem nunca foi o plano de Deus para este mundo a instituição da propriedade coletiva. Seja no Antigo ou no Novo Testamento, a Bíblia sempre reconheceu o direito de cada pessoa ter os seus bens e não condena a posse de riquezas.

Agora, claro, isso não significa endossar o capitalismo selvagem: a riqueza construída em cima da pobreza de outros. Contudo, o rico tem sim uma oportunidade de santificação (sim, santificação!), se fizer bom uso de seus bens:
Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida. (1 Timóteo 6:17-19)
Não há problema em ser rico! O problema é confiar nas riquezas e não em Deus, é não usar os seus bens para glorificar ao Senhor, servindo o próximo. Quando um rico dá emprego a outros, ele está fazendo isso. Quando ele faz obras de caridade, ele faz isso. Quando ele dá ofertas à Igreja e sustenta missionários (imagine o privilégio de assistir a Jesus!), ele faz isso.

Apenas este argumento seria suficiente para desmontar o projeto da esquerda. Mas há mais.

2) O Estado não é responsável pela sua felicidade
A esquerda confia muito no governo. Espera que ele sustente a todas as pessoas, crie cotas para os mais pobres, dê o Bolsa Família, gás, renda mínima, casa própria e tudo o mais para as pessoas. Pelo menos no Brasil é assim: os mais pobres querem bolsa-família, tem escola pública, querem lotes com casa do Governo, gás, leite...em Cuba é um pouco pior. O Estado decide o quanto de manteiga você pode comprar, o que você pode ler e que opiniões são ou não defensáveis e podem ser pensadas naquele país (não só lá...vide Google vs. China e nuestro amigo Chávez).

Na prática, o ideário de esquerda transporta em maior ou menor grau as responsabilidades dos indivíduos para o Governo. Contudo, o ensino bíblico é o de que, em condições normais (e isso inclui Império Romano e os reinados de Israel no AT), a prosperidade das pessoas depende delas, e não do Estado. Fatores como preguiça, trabalho e retidão contam para alguém enriquecer ou não:
O que trabalha com mão remissa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a enriquecer-se. O que ajunta no verão é filho sábio, mas o que dorme na sega é filho que envergonha. (Provérbios 10:4-5)

O alongar-se da vida está na sua mão direita, na sua esquerda, riquezas e honra. (Provérbios 3:16)

Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado. (Provérbios 6:10-11)
Sim, existem pecados "estruturais" que provocam injustiça social e os profetas estão recheados de denúncias a isso. Não ser de esquerda não significa endossar essas injustiças. Mas significa sim, reconhecer que, em circunstâncias normais, as pessoas empobrecem ou enriquecem, prosperam ou definham por seu próprio mérito.

Vou além: se não existir um regime totalitário, mesmo em condições difíceis, as pessoas prosperam ou não independente dos tais pecados estruturais. José prosperou mesmo sendo um escravo no Egito. Jacó chegou sem nada e saiu rico trabalhando como assalariado de Labão. Neemias era copeiro e virou governador. Jefté era o filho de uma prostituta e virou juiz de Israel. E isso em sociedades onde a mobilidade social era bem mais difícil que nos regimes capitalistas do século XXI.

Repare: a Bíblia não joga sobre o Governo a responsabilidade de dar bem-estar material. O sucesso ou fracasso das pessoas depende muito mais delas mesmas do que do Estado.

3) A igualdade absoluta não existe
A igualdade parece ser o valor supremo da esquerda para a construção de uma sociedade. No entanto, esse ideal é utópico.

Basta mostrar um fato: nem mesmo no céu há igualdade.
Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo. (1 Coríntios 3:14-15)

Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, 
segundo o seu trabalho. (1 Coríntios 3:8)

Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes completo galardão. (2 João 8)
A salvação é pela graça e não envolve mérito. Mas nem todos receberão a mesma coisa. Uns terão galardão completo. Outros, parece que só serão salvos, como que pelo fogo. Cada um receberá de acordo com o seu trabalho.

Se é assim no céu, naquilo que a Bíblia coloca como o Reino de Deus em plenitude...por que esperar uma igualdade tão grande neste mundo? Nem Jesus ensinava isso:
A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua própria capacidade; e, então, partiu. (Mateus 25:15)
Isso não é injustiça. Uma vez dada a salvação, as pessoas devem receber segundo a sua dedicação, capacidade, mérito. E este não é o pensamento da esquerda.

4) O Estado não deve patrulhar o pensamento
Reconheço que restringir ou censurar a liberdade de imprensa, de expressão e de opinião não é uma exclusividade da esquerda. Mas é inegável o fato de que ela recai muito mais neste pecado do que a direita ou o centro.

Sei que muitos cristãos, reformados inclusive, gostariam de um Estado teocrático, confessional, onde as leis de Deus fossem as leis da nação. Dar as pessoas a liberdade de pensarem e opinarem o que quiserem, mesmo que sejam pecados aberrantes, como o aborto, parece mais satânico do que santo.

Contudo, a esperança da vinda completa do Reino de Deus não é para este mundo. Como bem diz a Bíblia, aguardamos uma pátria diferente:
Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se na verdade, se lembrassem daquela onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade. (Hebreus 11:13-16)
A sociedade ideal não será alcançada aqui. E todo regime político ou econômico deve levar em consideração que vivemos em um mundo caído de pessoas imperfeitas que jamais se curvarão espontaneamente a Cristo. E não tem jeito: trigo e joio devem crescer lado a lado até o fim. Não há como separar aqui.

Talvez por isso Jesus e os apóstolos jamais pediram ao Império Romano que o Estado apoiasse a Igreja. Nem condenaram os romanos por permitirem a idolatria. Na verdade, o que parece transparecer em Atos é que o desejo dos cristãos era o de pregarem livremente a Palavra. Quando Paulo apela ao direito romano (e Atos mostra favoravelmente Paulo usando a sua cidadania), o que ele busca (e de certa forma consegue) é a liberdade de pregar, enquanto os judeus querem calá-lo.

Considerando que os judeus queriam uma uniformidade judaica e que os pagãos queriam uma uniformidade pagã (por isso odiavam judeus e cristãos), os cristãos deveriam ser os primeiros a defender a liberdade de ação, de opinião, de pensamento, de expressão. O Império Romano não é o baluarte da democracia, mas deu uma liberdade aos seus cidadãos maior que a de impérios anteriores, tanto que tornou possível que Paulo usasse o Estado para preservar o pescoço e continuar pregando.

Quando o Império Romano perseguiu os cristãos ou mesmo matou a Jesus, apenas se desviou do alvo, feriu as suas próprias regras, corrompeu o que havia de belo em seu governo. Mas nada disso não muda o fato de que, quando Roma se aproximou da liberdade, o cristianismo encontrou defesa, apesar de ser uma minoria.

No totalitarismo isso não é possível. E não há comunismo sem ele, porque você só consegue produzir a igualdade de modo artificial: calando os descontentes, os diferentes, preservando a unidade às custas do indivíduo.

E, se os cristãos percebessem melhor o que Jesus e os apóstolos ensinaram sobre o Estado e conhecessem melhor a própria história, jamais aceitariam o totalitarismo. E como ele é indispensável à esquerda (como provam Chávez, os chineses, os norte-coreanos e, em certa medida, o PT), eu não entendo como os cristãos podem ser de esquerda.

Encerro aqui o meu texto. Não é exaustivo, não trata de tudo, talvez nem seja muito profundo. Mas creio que é suficiente.

*Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originalmente no blog 5 Calvinistas

05 abril 2010

A cruz de Jesus e a nossa

Por Folton Nogueira *

Embora não saibamos ao certo se a cruz que o Senhor Jesus carregou já estava montada ou era apenas a trave horizontal, temos certeza de que era pesada.
Jesus era carpinteiro e, apesar de usar boa parte das ferramentas de um carpinteiro de hoje, não contava com as mesmas facilidades. Se muito, encontrava um madeireiro. Porém, é mais provável que tivesse de derrubar e trazer a árvore.

Embora até pudesse confeccionar móveis o carpinteiro de então trabalhava mais com a construção de casas. Era quem escolhia as vigas de sustentação da cobertura, que geralmente era feita de barro sobre uma estrutura muito parecida com a que hoje usamos para o estuque. Assentava as vergas e os umbrais das portas e das janelas.

A palavra carpinteiro aparece no Evangelho de Mateus, referindo-se a profissão de seu pai José e no Evangelho de Marcos referindo-se a sua própria profissão. Em ambos traduz a palavra grega tekton, de onde vem nossa palavra arquiteto. Ou seja: Construtor. E isso se coaduna bem com sua declaração “vou preparar-vos lugar”.

O Verbo de Deus, sem cuja participação nada foi feito, ao tomar nossa natureza, toma também a profissão de construtor. E, voltando à casa do Pai, deixa-nos sua promessa de continuar construindo. Agora, a nossa casa.
Não devemos imaginar-lhe com o porte quase feminino retratado na maioria dos filmes. Ele era tão musculoso quanto os trabalhadores braçais de então. Isaías falando dele disse que ele era: “homem de dores e que sabe o que é padecer”.

Homem forte e acostumado a esforços, entretanto não conseguiu carregar a cruz que lhe foi posta aos ombros. Pelo menos não conseguia carregá-la com a velocidade que os soldados romanos impunham e foi ajudado por Simão Cireneu. Por que?

Desde a noite anterior ele estava sofrendo de muitas maneiras. Primeiro a falta de amigos que não conseguiam permanecer acordados. Depois as traições: o beijo de Judas, a negação de Pedro e a sublevação daqueles que deveriam zelar pela religião: seus levitas, armados de varas e porretes, o prenderam e espancaram. Seus sacerdotes e os demais membros do Sinédrio montaram um julgamento fraudado. Condenaram-no e o entregaram nas mãos de ímpios. 

E o que dizer da tortura e das zombarias? 

Mesmo que fosse apenas a parte horizontal da cruz, era pesada. Tão pesada que ele, acostumado a trabalhar com vigas, vergas, traves e aduelas, precisou da ajuda de Simão.

Não podemos esquecer também que junto com aquele pedaço de madeira, que pesava sobre as costas do Senhor, pesava também os nossos pecados. E este peso Simão, mesmo que fosse muito forte, não conseguiria agüentar. Simão levou a parte leve da cruz.

Apesar de não ser como a que Simão ajudou a carregar nem ter o mesmo propósito da que somente Jesus carregou, cada um de nós recebeu também uma cruz. Elas não salvarão ninguém, nem a nós mesmos. Mas nos manterão crucificados para o mundo e vivos para Deus. 

Elas atestam quem é o nosso Senhor: “os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (Gálatas 5.24)

Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor, e disponível originariamente em Folton

28 março 2010

Deus e o mal em Agostinho

 

Por Roberto Vargas Jr.*

Este artigo tem um duplo objetivo. Primeiro, ele é um resumo do livro A relação entre Deus e o mal segundo Santo Agostinho, de Joel Gracioso[1]. Na realidade, é um resumo da introdução, que em si já é um resumo do livro. Seu conteúdo é fruto da tese de mestrado do autor, e esta versa sobre o livro VII das Confissões. Depois é também uma nota, bem mais pessoal, de acordo com certas conversas alhures, sobre a afirmação de que o mal é a ausência de bem como se o mal não fosse real.

1. O resumo do livro
É interessante como a filosofia de Agostinho segue sua própria experiência. Assim, seria apropriado conhecer um pouco de sua biografia para entender muito do que ele diz. Mesmo aqui, o melhor seria explorar mais sua vida. Mas, de forma a evitar um longo resumo, basta informar que sua jornada inclui as fases materialista (do epicurismo ao maniqueísmo, passando também pela astrologia),  platônica (via Plotino) e, finalmente, cristã.

Filosofar, para Agostinho, é buscar a Felicidade. Ser feliz é conhecer a Verdade. Conhecer a Verdade é conhecer a Deus. Assim, a própria teoria do conhecimento agostiniana segue esta sua jornada autobiográfica, o materialismo correspondendo ao plano da exterioridade (sensibilidade, exterior), o platonismo atingindo a interioridade (inteligibilidade, interior) e o cristianismo transcendendo ao Absoluto pela Revelação (transcendência, superior). Em tudo a Providência é que possibilita que esta jornada chegue a termo. O caminho “é oferecido e direcionado por Deus e não pelo homem”. E é pela iluminação da Revelação que o homem pode transcender ao Absoluto, conhecendo a vida feliz!

Do mesmo modo, Agostinho resume sua vivência intelectual no livro VII das Confissões, percebendo nela o desenvolvimento de seus conceitos metafísicos, o que lhe permite traçar a relação entre Deus e o mal. Nos 8 capítulos iniciais mostra que “os princípios morais, lógicos e metafísicos do materialismo levam a conceber Deus como algo corpóreo e, por conseguinte, o mal como substância e fatalidade”. “Porém, isso não se sustenta de forma razoável aos olhos do hiponense”. É ainda o plano da exterioridade.

É só a partir do nono capítulo, com seu contato com o platonismo, que Agostinho passa a perceber uma metafísica satisfatória. Ainda haverá deficiências, porém, já interpretado com algumas noções cristãs, ele vê neste novo referencial moral, lógico e metafísico uma concepção  de Deus “como o ser, o criador, e o mal por sua vez passa a ser pensado como privação (corrupção, não-ser) e pecado (enquanto causa deficiente)”. Supera-se aqui o plano da exterioridade materialista (inferior), num primeiro momento pela introspecção (interior), mas  já em direção ao Absoluto (superior) pela metafísica platônica. Além disso, apresentando o pecado como perversão da vontade que deseja o inferior ao invés do superior, isso “ajudaria a responder o que é o mal e sua origem, mas não explicaria por que o praticamos nem  como superá-lo”.

Do capítulo 17 ao 21, a iluminação pela Revelação, finalmente, apresenta Deus “como o Verbo encarnado, mediador entre Deus e os homens” e “leva a pensar o mal como pecado, porém enquanto efeito, como penalidade do primeiro pecado, realidade da qual o homem sozinho não consegue se libertar”. Interessante notar aqui que Agostinho repete sua epistemologia em sua metafísica e pensa Deus “como a pátria da bem-aventurança, a beata uita cujo caminho é oferecido por ele mesmo, o Cristo divino em todas as suas dimensões”.

2. O mal como ausência de bem
Há, comumente, uma grande rejeição à noção agostiniana de mal como ausência de bem. Esta rejeição se deve em grande medida a uma má compreensão do que isto signifique. Entende-se a afirmação como se esta significasse que o mal não existisse, como se não fosse real. Na verdade, bom seria definir mais rigorosamente o que se quer dizer com “existir” ou “ser real”. Porém, fiquemos com o sentido dado pelo senso comum. A concepção agostiniana de mal não significa que o mal não seja real, neste sentido.

O ponto é que a afirmação de que o mal é a ausência de bem tem um sentido ontológico. Dizer isso é dizer que o mal é corrupção. Que um ente qualquer é algo aquém de sua essência. Tentemos exemplificar. Tudo que é, é bom enquanto é (isto é, quanto ao ser). O próprio bem é ser (ou o ser é bem simplesmente por ser). Então o homem é bom enquanto ser. E não fosse o pecado (isto é, o mal), ele seria a imago Dei perfeita, um Adão recém-criado ou como Cristo em sua humanidade. Porém, embora a imago Dei permaneça, ela é algo aquém de sua perfeição criada. E a imperfeição, bem real, é um afastamento essencial desta imago Dei em relação ao que ela deveria ser. Metafisicamente (ou ontologicamente), é um afastamento deste ser (deste ente) de seu modo de ser (sua essência). É bom enquanto é. Mas é mau enquanto se afasta do que deveria ser.

Assim é o mal, segundo esta concepção. Ele é bem real e sentimos em tudo seus efeitos. Mas ele não tem uma existência em si mesmo, ontologicamente falando. Estritamente, nenhum ente, exceto Deus, tem existência em si mesmo. Mas o ponto aqui é que o mal, para que o percebamos, depende do ser do ente que se afasta do seu modo de ser, sendo o mal este próprio afastamento e, mais propriamente, um não-ser. O mal não é, e este é o sentido de mal como ausência de bem.

O mal é visto por Agostinho, ontologicamente, como privação e pecado. Neste ponto, pecado significa a corrupção da vontade (queda/depravação). Mas ainda é necessário passar ao mal moral. Este é o pecado como efeito (ou penalidade). A vontade depravada leva o homem a escolher (deixemos as sutilezas quanto ao livre-arbítrio à parte neste momento, mas não esqueçamos da controvérsia entre Agostinho e Pelágio) e a buscar o inferior e não o superior, a criação e não Deus, a injustiça e não a santidade (cf. Rm).
Por fim, vale dizer que esta concepção em nada é antibíblica, isto é, em nada contraria a afirmação do mal conforme a Palavra. Ou ainda, em outros termos, dizer que o mal não existe ontologicamente não significa aquilo que entendemos comumente, isto é, pelo senso comum, como “não existir” ou “não ser real” [2].

SOLI DEO GLORIA!
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[1] GRACIOSO, Joel. A relação entre Deus e o mal segundo Santo Agostinho. São Paulo: Palavra e Prece, 2006.
[2] Como respondido a um amigo: “Sim, no sentido metafísico que Agostinho dá, tendo a aceitar esta afirmação de que o mal é ausência de bem. Porém, eu tendo também a acatar Dooyeweerd aqui, pelo menos em parte, e extrapolando Agostinho, ao falar de essência como ‘significado’”.

Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originalmente aqui 
 

20 março 2010

Senhor ou Escravo?













 
 
 Por Jorge Fernandes Isah
 
O homem não é senhor, nem jamais o será. O homem não é senhor sequer de si mesmo, e jamais o será. O homem só pode ser servo, e isso ele é, e sempre será. Resta saber a quem ele servirá, se a Deus, ou ao Diabo e o pecado.

Se alguém se propuser a dizer que controla a própria vida, bem... ele não é humano, mas o próprio deus. Ele deve fazer parte de algum clã divino que o “possibilita” a gerir a própria existência. Haverá um de nós que pode afirmar tal coisa?

Comecemos pelo nascimento... Alguém escolheu onde nascer? De quais pais nascer? O país, cidade e hospital? Alguém escolheu o próprio nome, sexo, o tipo sanguíneo, a cor dos olhos ou da pele? Qual seria a sua professora no maternal, ou se teria habilidade suficiente para ser um craque em squash? Alguém pode decidir, minimamente, sem ser influenciado pelos amigos, pelo sistema, pela mídia, pela moral? Até mesmo o imoral parte da pressuposição da moral para a sua imoralidade, ainda que não a compreenda, e se rebele contra ela.

É possível comprar-se um creme dental sem que haja qualquer influência em nossa decisão? Seja ela econômica, estética, odontológica? Ou mesmo que pudesse ser aleatória, o que não é (talvez pela proximidade do tubo; ou por estar na prateleira de baixo ao meu alcance; ou porque o repositor esqueceu-se e deixou apenas uma marca em estoque... Visto que a minha altura, a da prateleira, e a incompetência do estoquista não são casuais mas causais), ainda assim haveria uma motivação, uma influência para se colocar o creme dental no carrinho de compras, seja qual for. Pois a própria decisão de comprar o dentifrício já é desencadeada por alguma persuasão, por forças que sequer conhecemos ou entendemos.

Se levarmos esse exemplo para todas as decisões na vida, veremos que elas jamais deixam de sofrer uma influência externa, que se acomoda internamente, formando o que se chama de vontade, escolha, desejo; que, contudo, não é livre e independente.

É fácil perceber o desgoverno de nós em nós mesmos, e que muitos fatores levam-nos à optar pelo azul ao invés do vermelho, a ser advogado ao invés de lenhador, a ouvir Bach e não o MC bolinha. Temos, assim, debilitada a noção de liberdade que julgamos ter, e da qual não queremos abrir mão, ainda que ela seja intangível e se afaste cada vez mais de nós na medida em que a entendemos. E pode nos fazer servos de um ou de outro senhor, mas jamais nos fará senhores, nem das situações, nem das escolhas, nem de nossas vidas.

Basta olhar o nosso guarda-roupas ou a nossa discoteca para percebermos o quanto a nossa "vontade" é servil, subjugada, escravizada. Não há autonomia, e crer nela é o mesmo que dar um placebo a um tetraplégico, e esperar encontrá-lo no próximo domingo pulando na arquibancada do Mineirão. O homem vive de sonhos, e o maior sonho é fazer-se dono de si mesmo e da sua vontade. O que nos faz voltar à pergunta inicial: de quem sou servo? Visto que não há como ser senhor, pelo menos devo saber a quem me submeto.

Jesus Cristo, em Mt 6.24, diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom" (uma entre tantas divindades criada pela mente corrompida do homem). E questionado pelos fariseus, afirmou: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44); e ainda: aquele que me ama, fará a minha vontade. Portanto, a Bíblia confirma que temos um senhorio. Se de Cristo, a viver eternamente no Seu reino de glória; sem Cristo, a morrer eternamente para Deus, e para sempre ser castigado e lançado no inferno, onde o fogo não se extingue jamais.

Muitos dirão que Deus não existe. Apenas e tão somente o "poderoso acaso"; o qual aleatoriamente escolhe a morte para uns, a vida para outros, a miséria para um terceiro e a opulência para um quarto. O destino tornou-se o "deus" de milhares de homens durante a história da humanidade, e ele exerce uma força dominadora tão grande nas pessoas, que elas o ergueram ao pedestal de onisciência e soberania, como se nele houvesse inteligência, juízo, sabedoria, ou na pior das hipóteses, um poder caótico, desordenado; mas, ainda assim, capaz o suficiente para estabelecer diretrizes à vida.

Portanto os ateus não podem esquivar-se a refletir: “somos peões nas mãos de um enxadrista, mesmo que ele não conheça e entenda o ‘jogo’”. O que os faz servos do seu deus, mesmo que seja um deus estúpido, estouvado e inconsequente, que bata a cabeça em paredes, volte e bata novamente, ignorando o que seja parede e o que seja cabeça.

A Bíblia afirma que Satanás é o pai da mentira, que ele veio para roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ele gosta de confundir, de fazer as pessoas parecerem originais em sua soberba e vaidade. No fundo, como um rebelde ensandecido, pai do caos, e um mentor diligente, ele explora esse sentimento arraigado no homem caído, visando convencê-lo da inexistência de Deus e dele próprio, pois ao negar-se, ele nega o pecado, a queda e o Altíssimo. É uma tática surrada, de um velhaco, mas que surte efeito em mentes arrogantes e incautas, em corações endurecidos e rebeldes.

Elas buscam independência e autonomia utópicas, levando-as a abominarem toda e qualquer referência ao único e verdadeiro Senhor (O Deus bíblico), a fim de viverem uma pseudoliberdade, de deter uma pretensa autoridade, insana, vã; tornando-os em insurgentes, aptos a viverem absolutamente na dissolução e pecaminosidade, em nome de um aparente prazer e superioridade.

Mas você, prontamente, gritará uma outra opção: "EU SIRVO A MIM MESMO! NÃO QUERO SABER DE DEUS! SOU DONO DO MEU NARIZ, E FAÇO O QUE QUERO, QUANDO QUERO!”. Pergunto-lhe: como fazê-lo se não é senhor? E se a sua vontade está presa, sujeita ao pecado? No máximo, o que fizer será sob ordens, no domínio do seu superior, sob o comando e a serviço de outrem. Jesus diz: "em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34).

Não há meio termo, não há como conciliar e condescender. Rejeitar a Cristo e ao Evangelho é desprezar a Deus, é permanecer morto espiritualmente, e escravo da vontade do outro "senhor", o qual tem os dias contados, e um lugar de tormento reservado para ele e suas legiões de demônios.

A liberdade encontra-se exclusivamente em Jesus Cristo, o único capaz de quebrar os grilhões que nos mantêm aprisionados; pois Ele, em seu muito amor com que ama os seus servos, nos transporta do reino de dor, aflição, mentira e conceitos farsescos, para o reino de amor, verdade, paz e plenitude da Sua glória.

Como Paulo afirma (quando do retorno glorioso do Filho de Deus, como Rei dos reis, e Juiz do universo): “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai"(Flp 2.10-11).

Então, naquele dia, os homens que negaram a Deus e se mantiveram em insubordinação, Satanás e os anjos caídos (que na sua loucura pretenderam ser iguais ao Altíssimo), e aquele que crê, seja lá em que deus for, terá de se curvar, de quebrar a sua cerviz, porque estará diante do Senhor eterno e supremo; e a Sua glória o constrangerá de tal forma que somente haverá lamento e choro por causa de toda a insanidade e tolice do homem.

Ao afastar-se definitiva e eternamente de Deus, e vislumbrar a Sua glória das densas trevas (se possível for), trará apenas a desolação e a lembrança de uma vida inútil na terra... e a constatação de uma vivência aterrorizante, flageladora... por toda a eternidade. E onde estará o seu senhor? Aquele que o levou a se confrontar com a justiça de Deus, induziu-o ao erro de se considerar inocente, quando, ao praticar o crime de desprezar o Todo-Poderoso tornou-se condenado?... Estará ao seu lado, em indescritível tormento...

Concluo com a descrição libertadora de George Matherson:
"Faz-me um cativo Senhor e livre então serei;
Obriga-me à entrega a espada e serei um conquistador;
Nos alarmes da vida me afundo. Quando estou só;
Aprisiona-me em teus braços; e forte minha mão será" 
 
Cristo, o Deus misericordioso e gracioso, sujeite-o ao Seu senhorio, para o seu próprio e eterno bem. 
 

13 março 2010

O Único Sacrifício










Por Jorge Fernandes Isah

 Ao me converter, Deus colocou em meu coração o desejo de ler a Bíblia integralmente, começando por Gênesis, claro! Ao caminhar por suas páginas, descobri a soberania, a graça, o amor de Deus para com os homens, o que não O impediu de julgar povos, tribos e indivíduos rebeldes a Si. Contudo, ao atingir o livro de Levítico entristeci-me por todos aqueles sacrifícios (fruto da minha ignorância e imaturidade espirituais), e o que muitos julgam fazer parte do "mar de sangue" do Antigo Testamento (igualmente fruto da ignorância e cegueira espiritual alheias). Foi difícil lê-lo e entender o porquê de tudo aquilo, ainda que Deus já tivesse colocado no meu coração que aquelas páginas eram fruto da Sua sabedoria, e como tal, eu deveria crer na sua urgência.

Em Levítico, vemos a providência de Deus para o Seu povo, a misericórdia com que Ele nos deu o escape, ainda que para isso o Seu Filho Amado tivesse de padecer em nosso lugar, para não sermos condenados à perdição eterna. E esta é a maior prova do Seu amor.

Hoje, passados três anos, estou novamente lendo o terceiro livro da Bíblia, e maravilhando-me. Ao invés de provar a "crueldade", vejo a manifestação da graça e misericórdia de Deus. Em suas páginas, a descrição detalhada dos sacrifícios de animais a fim de que sacerdotes, indivíduos e o povo de Israel expiassem os pecados, levá-nos até a crucificação do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade Santa. O ritual de purificação era um prenúncio, um sinal, a indicar o que ocorreria quando o eterno Filho de Deus encarnasse, se fazendo homem igual a nós e, na cruz do Calvário, nos substituisse pagando os nossos pecados e reconciliando-nos com Deus [2Co 5.18-21]. O sangue dos animais ali derramado significava o sangue imaculado do Senhor que se verteria por nós. Aqueles animais, primogênitos e perfeitos em sua natureza (macho, sem manchas ou defeitos) anunciavam o Cristo, o unigênito Filho de Deus, perfeito e sem pecado [Hb 7.26], que por Seu muito amor, fez-se iniquidade para que os Seus eleitos fossem salvos.

Ao escolher o animal conforme Lv 1.2-3, o ofertante colocava a mão sobre a cabeça do animal, numa simbologia a qual o animal "recebia" os pecados dele, e então, era sacrificado, e os sacerdotes aspergiam o sangue da vítima em redor do altar para expiação dos pecados. Parece cruel e injusto um inocente, ainda que seja um animal, ser morto para que os pecados do homem fossem purgados... Mas não foi o que aconteceu com o Senhor? Sendo Deus, eterno, puro, santo e justo, Cristo fez-se como nós, e escolheu padecer na cruz para que tivéssemos a vida eterna [Fl 2.6-8]. Não é injusto?... Não! Pois assim aprouve a Deus fazer [Is 53.10]. Era necessário que a nossa iniquidade, os nossos pecados, a desobediência e a afronta a Ele fossem pagas. E como não fomos capazes de cumpri-la, Ele decidiu fazê-lo por nós [Jo 10.17]. Há algo mais maravilhoso? Saber que mesmo imerecidamente, ainda que sejamos iníquos, que não possuamos nada com o qual Deus se alegre, merecendo a condenação eterna no fogo do inferno, somos feitos justos por Ele, justificados eternamente pelo sangue derramado do Cordeiro no Calvário! Que Deus maravilhoso! Que grande libertação! Glória eterna ao Senhor!

As religiões pagãs sacrificam seus filhos. Milhões de bêbes foram mortos e ainda são em favor dos seus deuses; esposas foram sacrificadas juntamente com seus maridos mortos; virgens foram ofertadas para aplacar suas "iras"; velhos, doentes e aleijados encontraram a morte para afugentar os "maus espíritos" e as consequências de tudo o que eles representavam... Em meio as densas trevas que satanás impos a esses povos, eles continuaram e continuam sob a ira de Deus, e se tornaram apenas em assassinos frios e cruéis; pois a ignorância que os conservou não servirá de desculpa para os seus crimes diante do Tribunal de Cristo. 

Mas Deus não escolheu sacrifícios e sacrificados para Si [Hb 10.8]. Ele mesmo se fez sacrifício por nós, imolando-se a Si mesmo em favor dos Seus escolhidos. Ele não quis nada de nós, antes nos deu tudo. Não exigiu nada, e nem esperou que fóssemos capazes de atender a alguma exigência, pelo contrário, "E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" [Rm 8.30] ; capacitando-nos pelo Espírito Santo a crer, sermos fiéis, e instrumentos para a realização da Sua boa obra no mundo. Nem quis nossos corpos autoflagelados, nem autopenitentes, nem que "pagássemos promessas" a fim de agradá-lO, nem o cumprimento de qualquer ritual, nem peregrinações e romarias, nada, absolutamente nada! Porque? Simplesmente por que não há algo que possamos fazer que Cristo não fez. Nem há nada que agrade mais ao Pai que Cristo não tenha feito. Se Ele, o Filho Amado, cumpriu todas as exigências da justiça divina, como melhorar o que já é perfeito? Se pensamos em fazê-lo, desmerecemos a obra consumada do Senhor Jesus, e queremos nos fazer iguais a Ele, e estamos condenados, porque jamais alcançaremos a salvação por mérito próprio. Antes, devemos nos rejubilar pelo que o Senhor fez em nosso favor, quando éramos inimigos de Deus [Ef 2.5;Cl 1.21]. Os sacrifícios não são mais necessários [Hb 7.27], pois o próprio Deus se encarregou de fazê-lo em nosso lugar [Ef 5.2]. Cristo nos substituiu, pagando a dívida que tínhamos para com Deus e a Sua justiça. Somos livres, e estamos livres unicamente pela Sua graça e amor.

Se você, como eu no passado, não compreendia os sacrifícios de animais em Levítico, saiba que os pagãos o achariam simples em demasia para os seus padrões de impiedade, e saiba que isso é fruto da corrupção da alma; e de que somente através da obediência, da subserviência e da entrega total de nossas vidas ao Senhor, encontraremos finalmente a paz, reconciliando-nos com o Princípe da Paz [Is 9.6], Rei dos reis e Senhor dos senhores [1Tm 6.15]. Pois não é necessário mais nenhum sacrifício, porque Cristo é o único holocausto que satisfez a Deus [Hb 10.12]... agora há somente o gozo de saber que Ele jamais se lembrará dos meus pecados e iniquidades... e desfrutar da Sua glória e salvação eternas.

06 março 2010

Bíblico ou Antibíblico?
















Por Jorge Fernandes Isah


Explorei em vários textos os argumentos bíblicos acerca do amor de Deus. Pode-se lê-los Aqui, Aqui, Aqui e Aqui, dentre outros. Mas muitos não se convenceram da não existência do amor genérico, nem de que os réprobos estão eternamente privados do amor divino. [1]
Para os que consideram indistintamente o amor de Deus por suas criaturas, pergunto-lhes:
1) Deus amou ou ainda ama satanás e os anjos caídos?
2) Se, em algum momento, Deus os amou, sendo um dos seus atributos a imutabilidade, como explicar que Ele agora os odeia? E, porque não lhes deu a chance de arrependimento ao invés de lançá-los, inexoravelmente, no lago de fogo? [2]
3) Ou será que, desde o princípio, os odiou assim como odiou a Esaú antes mesmo dele fazer o mal?

Podemos refletir da seguinte forma:
1) Se Deus amou ao diabo antes [quando ainda era um querubim de luz], e agora o odeia, tanto que criou o Inferno para ele e seus demônios, onde serão atormentados por toda a eternidade [há de se entender que Deus será Aquele que executará o castigo prometido a eles e aos pecadores inconversos], podemos afirmar seguramente que Deus é mutável. Contudo, esse ensino é antibíblico, e, em momento algum, é validado pelas Escrituras.
2) Ao passo que, se Deus, desde antes da fundação do mundo, criou satanás com o nítido propósito de ser o que ele é, a Sua ira já estava sobre ele [muito antes dele existir], então, podemos afirmar seguramente que Deus é imutável, conforme todo o ensinamento bíblico assevera.

O que nos leva às conclusões:
1) Crer na possibilidade de Deus mudar a Sua disposição mental, de ontem amar e hoje odiar ou vice-versa, implicará na descrença da Escritura ou, no mínimo, a deficiência em sua leitura. Quem assim considera a Deus está em oposição à Sua palavra [ainda que transparecendo certa piedade], e a sua atitude é antibíblica.
2) O que crê na imutabilidade divina tem a sua consciência norteada pelas Escrituras, portanto, ela é bíblica.
3) Todo aquele que apelar ao amor fora das Escrituras, o faz antibiblicamente.
4) O que se conformar ao ensino escriturístico do amor, o faz biblicamente.
5) Quem descartar o ódio divino como uma manifestação da Sua justiça e providência, age antibiblicamente.
6) Quem o aceitar como a manifestação da justiça e providência divinas, age biblicamente.

Resta-nos uma última pergunta:
Quem você é?
Um cristão bíblico?
Ou suas premissas são antibiblicas, calcadas no humanismo?

Notas: [1] Uma boa discussão sobre o assunto foi travada no Tempora Mores, postado pelo presbítero Solano Portela.
[2] Vejam bem, em momento algum, questiono ou questionei qualquer decisão de Deus. Compreendo a Sua soberania [o que implica na independência e liberdade completa em Suas decisões] como algo mais que legítimo, algo fundamental e indispensável à ordem do universo, como reflexo da Sua autoridade e poder sobre tudo e todos sem distinção, quer se aceite ou não. Chego a dizer que se Ele, em Seu poder, me destinasse ao fogo eterno, ainda assim eu aceitaria a decisão como fruto da Sua sabedoria, santidade, justiça, perfeição, e amor para com os eleitos.
Portanto, essas perguntas são voltadas exatamente para aqueles que, a despeito de certa reverência e piedade, vivem a questionar exatamente aquilo que Deus revelou e nos deu a conhecer na sua palavra. Aceito as Escrituras assim como Ele a revelou, como palavra santa, inspirada, infalível, inerrante; pelo convencimento e entendimento dados pelo Espírito Santo, os quais, ainda que não me aprazem como pecador, reconheço e amo-a como a fiel mensagem divina aos Seus filhos e herdeiros em Cristo.