"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

28 março 2010

Deus e o mal em Agostinho

 

Por Roberto Vargas Jr.*

Este artigo tem um duplo objetivo. Primeiro, ele é um resumo do livro A relação entre Deus e o mal segundo Santo Agostinho, de Joel Gracioso[1]. Na realidade, é um resumo da introdução, que em si já é um resumo do livro. Seu conteúdo é fruto da tese de mestrado do autor, e esta versa sobre o livro VII das Confissões. Depois é também uma nota, bem mais pessoal, de acordo com certas conversas alhures, sobre a afirmação de que o mal é a ausência de bem como se o mal não fosse real.

1. O resumo do livro
É interessante como a filosofia de Agostinho segue sua própria experiência. Assim, seria apropriado conhecer um pouco de sua biografia para entender muito do que ele diz. Mesmo aqui, o melhor seria explorar mais sua vida. Mas, de forma a evitar um longo resumo, basta informar que sua jornada inclui as fases materialista (do epicurismo ao maniqueísmo, passando também pela astrologia),  platônica (via Plotino) e, finalmente, cristã.

Filosofar, para Agostinho, é buscar a Felicidade. Ser feliz é conhecer a Verdade. Conhecer a Verdade é conhecer a Deus. Assim, a própria teoria do conhecimento agostiniana segue esta sua jornada autobiográfica, o materialismo correspondendo ao plano da exterioridade (sensibilidade, exterior), o platonismo atingindo a interioridade (inteligibilidade, interior) e o cristianismo transcendendo ao Absoluto pela Revelação (transcendência, superior). Em tudo a Providência é que possibilita que esta jornada chegue a termo. O caminho “é oferecido e direcionado por Deus e não pelo homem”. E é pela iluminação da Revelação que o homem pode transcender ao Absoluto, conhecendo a vida feliz!

Do mesmo modo, Agostinho resume sua vivência intelectual no livro VII das Confissões, percebendo nela o desenvolvimento de seus conceitos metafísicos, o que lhe permite traçar a relação entre Deus e o mal. Nos 8 capítulos iniciais mostra que “os princípios morais, lógicos e metafísicos do materialismo levam a conceber Deus como algo corpóreo e, por conseguinte, o mal como substância e fatalidade”. “Porém, isso não se sustenta de forma razoável aos olhos do hiponense”. É ainda o plano da exterioridade.

É só a partir do nono capítulo, com seu contato com o platonismo, que Agostinho passa a perceber uma metafísica satisfatória. Ainda haverá deficiências, porém, já interpretado com algumas noções cristãs, ele vê neste novo referencial moral, lógico e metafísico uma concepção  de Deus “como o ser, o criador, e o mal por sua vez passa a ser pensado como privação (corrupção, não-ser) e pecado (enquanto causa deficiente)”. Supera-se aqui o plano da exterioridade materialista (inferior), num primeiro momento pela introspecção (interior), mas  já em direção ao Absoluto (superior) pela metafísica platônica. Além disso, apresentando o pecado como perversão da vontade que deseja o inferior ao invés do superior, isso “ajudaria a responder o que é o mal e sua origem, mas não explicaria por que o praticamos nem  como superá-lo”.

Do capítulo 17 ao 21, a iluminação pela Revelação, finalmente, apresenta Deus “como o Verbo encarnado, mediador entre Deus e os homens” e “leva a pensar o mal como pecado, porém enquanto efeito, como penalidade do primeiro pecado, realidade da qual o homem sozinho não consegue se libertar”. Interessante notar aqui que Agostinho repete sua epistemologia em sua metafísica e pensa Deus “como a pátria da bem-aventurança, a beata uita cujo caminho é oferecido por ele mesmo, o Cristo divino em todas as suas dimensões”.

2. O mal como ausência de bem
Há, comumente, uma grande rejeição à noção agostiniana de mal como ausência de bem. Esta rejeição se deve em grande medida a uma má compreensão do que isto signifique. Entende-se a afirmação como se esta significasse que o mal não existisse, como se não fosse real. Na verdade, bom seria definir mais rigorosamente o que se quer dizer com “existir” ou “ser real”. Porém, fiquemos com o sentido dado pelo senso comum. A concepção agostiniana de mal não significa que o mal não seja real, neste sentido.

O ponto é que a afirmação de que o mal é a ausência de bem tem um sentido ontológico. Dizer isso é dizer que o mal é corrupção. Que um ente qualquer é algo aquém de sua essência. Tentemos exemplificar. Tudo que é, é bom enquanto é (isto é, quanto ao ser). O próprio bem é ser (ou o ser é bem simplesmente por ser). Então o homem é bom enquanto ser. E não fosse o pecado (isto é, o mal), ele seria a imago Dei perfeita, um Adão recém-criado ou como Cristo em sua humanidade. Porém, embora a imago Dei permaneça, ela é algo aquém de sua perfeição criada. E a imperfeição, bem real, é um afastamento essencial desta imago Dei em relação ao que ela deveria ser. Metafisicamente (ou ontologicamente), é um afastamento deste ser (deste ente) de seu modo de ser (sua essência). É bom enquanto é. Mas é mau enquanto se afasta do que deveria ser.

Assim é o mal, segundo esta concepção. Ele é bem real e sentimos em tudo seus efeitos. Mas ele não tem uma existência em si mesmo, ontologicamente falando. Estritamente, nenhum ente, exceto Deus, tem existência em si mesmo. Mas o ponto aqui é que o mal, para que o percebamos, depende do ser do ente que se afasta do seu modo de ser, sendo o mal este próprio afastamento e, mais propriamente, um não-ser. O mal não é, e este é o sentido de mal como ausência de bem.

O mal é visto por Agostinho, ontologicamente, como privação e pecado. Neste ponto, pecado significa a corrupção da vontade (queda/depravação). Mas ainda é necessário passar ao mal moral. Este é o pecado como efeito (ou penalidade). A vontade depravada leva o homem a escolher (deixemos as sutilezas quanto ao livre-arbítrio à parte neste momento, mas não esqueçamos da controvérsia entre Agostinho e Pelágio) e a buscar o inferior e não o superior, a criação e não Deus, a injustiça e não a santidade (cf. Rm).
Por fim, vale dizer que esta concepção em nada é antibíblica, isto é, em nada contraria a afirmação do mal conforme a Palavra. Ou ainda, em outros termos, dizer que o mal não existe ontologicamente não significa aquilo que entendemos comumente, isto é, pelo senso comum, como “não existir” ou “não ser real” [2].

SOLI DEO GLORIA!
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[1] GRACIOSO, Joel. A relação entre Deus e o mal segundo Santo Agostinho. São Paulo: Palavra e Prece, 2006.
[2] Como respondido a um amigo: “Sim, no sentido metafísico que Agostinho dá, tendo a aceitar esta afirmação de que o mal é ausência de bem. Porém, eu tendo também a acatar Dooyeweerd aqui, pelo menos em parte, e extrapolando Agostinho, ao falar de essência como ‘significado’”.

Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originalmente aqui 
 

20 março 2010

Senhor ou Escravo?













 
 
 Por Jorge Fernandes Isah
 
O homem não é senhor, nem jamais o será. O homem não é senhor sequer de si mesmo, e jamais o será. O homem só pode ser servo, e isso ele é, e sempre será. Resta saber a quem ele servirá, se a Deus, ou ao Diabo e o pecado.

Se alguém se propuser a dizer que controla a própria vida, bem... ele não é humano, mas o próprio deus. Ele deve fazer parte de algum clã divino que o “possibilita” a gerir a própria existência. Haverá um de nós que pode afirmar tal coisa?

Comecemos pelo nascimento... Alguém escolheu onde nascer? De quais pais nascer? O país, cidade e hospital? Alguém escolheu o próprio nome, sexo, o tipo sanguíneo, a cor dos olhos ou da pele? Qual seria a sua professora no maternal, ou se teria habilidade suficiente para ser um craque em squash? Alguém pode decidir, minimamente, sem ser influenciado pelos amigos, pelo sistema, pela mídia, pela moral? Até mesmo o imoral parte da pressuposição da moral para a sua imoralidade, ainda que não a compreenda, e se rebele contra ela.

É possível comprar-se um creme dental sem que haja qualquer influência em nossa decisão? Seja ela econômica, estética, odontológica? Ou mesmo que pudesse ser aleatória, o que não é (talvez pela proximidade do tubo; ou por estar na prateleira de baixo ao meu alcance; ou porque o repositor esqueceu-se e deixou apenas uma marca em estoque... Visto que a minha altura, a da prateleira, e a incompetência do estoquista não são casuais mas causais), ainda assim haveria uma motivação, uma influência para se colocar o creme dental no carrinho de compras, seja qual for. Pois a própria decisão de comprar o dentifrício já é desencadeada por alguma persuasão, por forças que sequer conhecemos ou entendemos.

Se levarmos esse exemplo para todas as decisões na vida, veremos que elas jamais deixam de sofrer uma influência externa, que se acomoda internamente, formando o que se chama de vontade, escolha, desejo; que, contudo, não é livre e independente.

É fácil perceber o desgoverno de nós em nós mesmos, e que muitos fatores levam-nos à optar pelo azul ao invés do vermelho, a ser advogado ao invés de lenhador, a ouvir Bach e não o MC bolinha. Temos, assim, debilitada a noção de liberdade que julgamos ter, e da qual não queremos abrir mão, ainda que ela seja intangível e se afaste cada vez mais de nós na medida em que a entendemos. E pode nos fazer servos de um ou de outro senhor, mas jamais nos fará senhores, nem das situações, nem das escolhas, nem de nossas vidas.

Basta olhar o nosso guarda-roupas ou a nossa discoteca para percebermos o quanto a nossa "vontade" é servil, subjugada, escravizada. Não há autonomia, e crer nela é o mesmo que dar um placebo a um tetraplégico, e esperar encontrá-lo no próximo domingo pulando na arquibancada do Mineirão. O homem vive de sonhos, e o maior sonho é fazer-se dono de si mesmo e da sua vontade. O que nos faz voltar à pergunta inicial: de quem sou servo? Visto que não há como ser senhor, pelo menos devo saber a quem me submeto.

Jesus Cristo, em Mt 6.24, diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom" (uma entre tantas divindades criada pela mente corrompida do homem). E questionado pelos fariseus, afirmou: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44); e ainda: aquele que me ama, fará a minha vontade. Portanto, a Bíblia confirma que temos um senhorio. Se de Cristo, a viver eternamente no Seu reino de glória; sem Cristo, a morrer eternamente para Deus, e para sempre ser castigado e lançado no inferno, onde o fogo não se extingue jamais.

Muitos dirão que Deus não existe. Apenas e tão somente o "poderoso acaso"; o qual aleatoriamente escolhe a morte para uns, a vida para outros, a miséria para um terceiro e a opulência para um quarto. O destino tornou-se o "deus" de milhares de homens durante a história da humanidade, e ele exerce uma força dominadora tão grande nas pessoas, que elas o ergueram ao pedestal de onisciência e soberania, como se nele houvesse inteligência, juízo, sabedoria, ou na pior das hipóteses, um poder caótico, desordenado; mas, ainda assim, capaz o suficiente para estabelecer diretrizes à vida.

Portanto os ateus não podem esquivar-se a refletir: “somos peões nas mãos de um enxadrista, mesmo que ele não conheça e entenda o ‘jogo’”. O que os faz servos do seu deus, mesmo que seja um deus estúpido, estouvado e inconsequente, que bata a cabeça em paredes, volte e bata novamente, ignorando o que seja parede e o que seja cabeça.

A Bíblia afirma que Satanás é o pai da mentira, que ele veio para roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ele gosta de confundir, de fazer as pessoas parecerem originais em sua soberba e vaidade. No fundo, como um rebelde ensandecido, pai do caos, e um mentor diligente, ele explora esse sentimento arraigado no homem caído, visando convencê-lo da inexistência de Deus e dele próprio, pois ao negar-se, ele nega o pecado, a queda e o Altíssimo. É uma tática surrada, de um velhaco, mas que surte efeito em mentes arrogantes e incautas, em corações endurecidos e rebeldes.

Elas buscam independência e autonomia utópicas, levando-as a abominarem toda e qualquer referência ao único e verdadeiro Senhor (O Deus bíblico), a fim de viverem uma pseudoliberdade, de deter uma pretensa autoridade, insana, vã; tornando-os em insurgentes, aptos a viverem absolutamente na dissolução e pecaminosidade, em nome de um aparente prazer e superioridade.

Mas você, prontamente, gritará uma outra opção: "EU SIRVO A MIM MESMO! NÃO QUERO SABER DE DEUS! SOU DONO DO MEU NARIZ, E FAÇO O QUE QUERO, QUANDO QUERO!”. Pergunto-lhe: como fazê-lo se não é senhor? E se a sua vontade está presa, sujeita ao pecado? No máximo, o que fizer será sob ordens, no domínio do seu superior, sob o comando e a serviço de outrem. Jesus diz: "em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34).

Não há meio termo, não há como conciliar e condescender. Rejeitar a Cristo e ao Evangelho é desprezar a Deus, é permanecer morto espiritualmente, e escravo da vontade do outro "senhor", o qual tem os dias contados, e um lugar de tormento reservado para ele e suas legiões de demônios.

A liberdade encontra-se exclusivamente em Jesus Cristo, o único capaz de quebrar os grilhões que nos mantêm aprisionados; pois Ele, em seu muito amor com que ama os seus servos, nos transporta do reino de dor, aflição, mentira e conceitos farsescos, para o reino de amor, verdade, paz e plenitude da Sua glória.

Como Paulo afirma (quando do retorno glorioso do Filho de Deus, como Rei dos reis, e Juiz do universo): “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai"(Flp 2.10-11).

Então, naquele dia, os homens que negaram a Deus e se mantiveram em insubordinação, Satanás e os anjos caídos (que na sua loucura pretenderam ser iguais ao Altíssimo), e aquele que crê, seja lá em que deus for, terá de se curvar, de quebrar a sua cerviz, porque estará diante do Senhor eterno e supremo; e a Sua glória o constrangerá de tal forma que somente haverá lamento e choro por causa de toda a insanidade e tolice do homem.

Ao afastar-se definitiva e eternamente de Deus, e vislumbrar a Sua glória das densas trevas (se possível for), trará apenas a desolação e a lembrança de uma vida inútil na terra... e a constatação de uma vivência aterrorizante, flageladora... por toda a eternidade. E onde estará o seu senhor? Aquele que o levou a se confrontar com a justiça de Deus, induziu-o ao erro de se considerar inocente, quando, ao praticar o crime de desprezar o Todo-Poderoso tornou-se condenado?... Estará ao seu lado, em indescritível tormento...

Concluo com a descrição libertadora de George Matherson:
"Faz-me um cativo Senhor e livre então serei;
Obriga-me à entrega a espada e serei um conquistador;
Nos alarmes da vida me afundo. Quando estou só;
Aprisiona-me em teus braços; e forte minha mão será" 
 
Cristo, o Deus misericordioso e gracioso, sujeite-o ao Seu senhorio, para o seu próprio e eterno bem. 
 

13 março 2010

O Único Sacrifício










Por Jorge Fernandes Isah

 Ao me converter, Deus colocou em meu coração o desejo de ler a Bíblia integralmente, começando por Gênesis, claro! Ao caminhar por suas páginas, descobri a soberania, a graça, o amor de Deus para com os homens, o que não O impediu de julgar povos, tribos e indivíduos rebeldes a Si. Contudo, ao atingir o livro de Levítico entristeci-me por todos aqueles sacrifícios (fruto da minha ignorância e imaturidade espirituais), e o que muitos julgam fazer parte do "mar de sangue" do Antigo Testamento (igualmente fruto da ignorância e cegueira espiritual alheias). Foi difícil lê-lo e entender o porquê de tudo aquilo, ainda que Deus já tivesse colocado no meu coração que aquelas páginas eram fruto da Sua sabedoria, e como tal, eu deveria crer na sua urgência.

Em Levítico, vemos a providência de Deus para o Seu povo, a misericórdia com que Ele nos deu o escape, ainda que para isso o Seu Filho Amado tivesse de padecer em nosso lugar, para não sermos condenados à perdição eterna. E esta é a maior prova do Seu amor.

Hoje, passados três anos, estou novamente lendo o terceiro livro da Bíblia, e maravilhando-me. Ao invés de provar a "crueldade", vejo a manifestação da graça e misericórdia de Deus. Em suas páginas, a descrição detalhada dos sacrifícios de animais a fim de que sacerdotes, indivíduos e o povo de Israel expiassem os pecados, levá-nos até a crucificação do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade Santa. O ritual de purificação era um prenúncio, um sinal, a indicar o que ocorreria quando o eterno Filho de Deus encarnasse, se fazendo homem igual a nós e, na cruz do Calvário, nos substituisse pagando os nossos pecados e reconciliando-nos com Deus [2Co 5.18-21]. O sangue dos animais ali derramado significava o sangue imaculado do Senhor que se verteria por nós. Aqueles animais, primogênitos e perfeitos em sua natureza (macho, sem manchas ou defeitos) anunciavam o Cristo, o unigênito Filho de Deus, perfeito e sem pecado [Hb 7.26], que por Seu muito amor, fez-se iniquidade para que os Seus eleitos fossem salvos.

Ao escolher o animal conforme Lv 1.2-3, o ofertante colocava a mão sobre a cabeça do animal, numa simbologia a qual o animal "recebia" os pecados dele, e então, era sacrificado, e os sacerdotes aspergiam o sangue da vítima em redor do altar para expiação dos pecados. Parece cruel e injusto um inocente, ainda que seja um animal, ser morto para que os pecados do homem fossem purgados... Mas não foi o que aconteceu com o Senhor? Sendo Deus, eterno, puro, santo e justo, Cristo fez-se como nós, e escolheu padecer na cruz para que tivéssemos a vida eterna [Fl 2.6-8]. Não é injusto?... Não! Pois assim aprouve a Deus fazer [Is 53.10]. Era necessário que a nossa iniquidade, os nossos pecados, a desobediência e a afronta a Ele fossem pagas. E como não fomos capazes de cumpri-la, Ele decidiu fazê-lo por nós [Jo 10.17]. Há algo mais maravilhoso? Saber que mesmo imerecidamente, ainda que sejamos iníquos, que não possuamos nada com o qual Deus se alegre, merecendo a condenação eterna no fogo do inferno, somos feitos justos por Ele, justificados eternamente pelo sangue derramado do Cordeiro no Calvário! Que Deus maravilhoso! Que grande libertação! Glória eterna ao Senhor!

As religiões pagãs sacrificam seus filhos. Milhões de bêbes foram mortos e ainda são em favor dos seus deuses; esposas foram sacrificadas juntamente com seus maridos mortos; virgens foram ofertadas para aplacar suas "iras"; velhos, doentes e aleijados encontraram a morte para afugentar os "maus espíritos" e as consequências de tudo o que eles representavam... Em meio as densas trevas que satanás impos a esses povos, eles continuaram e continuam sob a ira de Deus, e se tornaram apenas em assassinos frios e cruéis; pois a ignorância que os conservou não servirá de desculpa para os seus crimes diante do Tribunal de Cristo. 

Mas Deus não escolheu sacrifícios e sacrificados para Si [Hb 10.8]. Ele mesmo se fez sacrifício por nós, imolando-se a Si mesmo em favor dos Seus escolhidos. Ele não quis nada de nós, antes nos deu tudo. Não exigiu nada, e nem esperou que fóssemos capazes de atender a alguma exigência, pelo contrário, "E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" [Rm 8.30] ; capacitando-nos pelo Espírito Santo a crer, sermos fiéis, e instrumentos para a realização da Sua boa obra no mundo. Nem quis nossos corpos autoflagelados, nem autopenitentes, nem que "pagássemos promessas" a fim de agradá-lO, nem o cumprimento de qualquer ritual, nem peregrinações e romarias, nada, absolutamente nada! Porque? Simplesmente por que não há algo que possamos fazer que Cristo não fez. Nem há nada que agrade mais ao Pai que Cristo não tenha feito. Se Ele, o Filho Amado, cumpriu todas as exigências da justiça divina, como melhorar o que já é perfeito? Se pensamos em fazê-lo, desmerecemos a obra consumada do Senhor Jesus, e queremos nos fazer iguais a Ele, e estamos condenados, porque jamais alcançaremos a salvação por mérito próprio. Antes, devemos nos rejubilar pelo que o Senhor fez em nosso favor, quando éramos inimigos de Deus [Ef 2.5;Cl 1.21]. Os sacrifícios não são mais necessários [Hb 7.27], pois o próprio Deus se encarregou de fazê-lo em nosso lugar [Ef 5.2]. Cristo nos substituiu, pagando a dívida que tínhamos para com Deus e a Sua justiça. Somos livres, e estamos livres unicamente pela Sua graça e amor.

Se você, como eu no passado, não compreendia os sacrifícios de animais em Levítico, saiba que os pagãos o achariam simples em demasia para os seus padrões de impiedade, e saiba que isso é fruto da corrupção da alma; e de que somente através da obediência, da subserviência e da entrega total de nossas vidas ao Senhor, encontraremos finalmente a paz, reconciliando-nos com o Princípe da Paz [Is 9.6], Rei dos reis e Senhor dos senhores [1Tm 6.15]. Pois não é necessário mais nenhum sacrifício, porque Cristo é o único holocausto que satisfez a Deus [Hb 10.12]... agora há somente o gozo de saber que Ele jamais se lembrará dos meus pecados e iniquidades... e desfrutar da Sua glória e salvação eternas.

06 março 2010

Bíblico ou Antibíblico?
















Por Jorge Fernandes Isah


Explorei em vários textos os argumentos bíblicos acerca do amor de Deus. Pode-se lê-los Aqui, Aqui, Aqui e Aqui, dentre outros. Mas muitos não se convenceram da não existência do amor genérico, nem de que os réprobos estão eternamente privados do amor divino. [1]
Para os que consideram indistintamente o amor de Deus por suas criaturas, pergunto-lhes:
1) Deus amou ou ainda ama satanás e os anjos caídos?
2) Se, em algum momento, Deus os amou, sendo um dos seus atributos a imutabilidade, como explicar que Ele agora os odeia? E, porque não lhes deu a chance de arrependimento ao invés de lançá-los, inexoravelmente, no lago de fogo? [2]
3) Ou será que, desde o princípio, os odiou assim como odiou a Esaú antes mesmo dele fazer o mal?

Podemos refletir da seguinte forma:
1) Se Deus amou ao diabo antes [quando ainda era um querubim de luz], e agora o odeia, tanto que criou o Inferno para ele e seus demônios, onde serão atormentados por toda a eternidade [há de se entender que Deus será Aquele que executará o castigo prometido a eles e aos pecadores inconversos], podemos afirmar seguramente que Deus é mutável. Contudo, esse ensino é antibíblico, e, em momento algum, é validado pelas Escrituras.
2) Ao passo que, se Deus, desde antes da fundação do mundo, criou satanás com o nítido propósito de ser o que ele é, a Sua ira já estava sobre ele [muito antes dele existir], então, podemos afirmar seguramente que Deus é imutável, conforme todo o ensinamento bíblico assevera.

O que nos leva às conclusões:
1) Crer na possibilidade de Deus mudar a Sua disposição mental, de ontem amar e hoje odiar ou vice-versa, implicará na descrença da Escritura ou, no mínimo, a deficiência em sua leitura. Quem assim considera a Deus está em oposição à Sua palavra [ainda que transparecendo certa piedade], e a sua atitude é antibíblica.
2) O que crê na imutabilidade divina tem a sua consciência norteada pelas Escrituras, portanto, ela é bíblica.
3) Todo aquele que apelar ao amor fora das Escrituras, o faz antibiblicamente.
4) O que se conformar ao ensino escriturístico do amor, o faz biblicamente.
5) Quem descartar o ódio divino como uma manifestação da Sua justiça e providência, age antibiblicamente.
6) Quem o aceitar como a manifestação da justiça e providência divinas, age biblicamente.

Resta-nos uma última pergunta:
Quem você é?
Um cristão bíblico?
Ou suas premissas são antibiblicas, calcadas no humanismo?

Notas: [1] Uma boa discussão sobre o assunto foi travada no Tempora Mores, postado pelo presbítero Solano Portela.
[2] Vejam bem, em momento algum, questiono ou questionei qualquer decisão de Deus. Compreendo a Sua soberania [o que implica na independência e liberdade completa em Suas decisões] como algo mais que legítimo, algo fundamental e indispensável à ordem do universo, como reflexo da Sua autoridade e poder sobre tudo e todos sem distinção, quer se aceite ou não. Chego a dizer que se Ele, em Seu poder, me destinasse ao fogo eterno, ainda assim eu aceitaria a decisão como fruto da Sua sabedoria, santidade, justiça, perfeição, e amor para com os eleitos.
Portanto, essas perguntas são voltadas exatamente para aqueles que, a despeito de certa reverência e piedade, vivem a questionar exatamente aquilo que Deus revelou e nos deu a conhecer na sua palavra. Aceito as Escrituras assim como Ele a revelou, como palavra santa, inspirada, infalível, inerrante; pelo convencimento e entendimento dados pelo Espírito Santo, os quais, ainda que não me aprazem como pecador, reconheço e amo-a como a fiel mensagem divina aos Seus filhos e herdeiros em Cristo.


27 fevereiro 2010

Zumbis Intelectuais












Por Jorge Fernandes Isah

Em poucos anos de conversão, tenho ouvido muitos crentes dizerem-se avessos à teologia. O argumento mais usual, distorcido e surreal é afirmar que a “letra mata e o espírito vivifica” [2Co 3.6], abrindo espaço para todo o tipo de sandice dita espiritual que abunda nas igrejas [Paulo alude claramente à impossibilidade de salvação pela lei, pela letra, a qual é capaz de trazer apenas a condenação ao homem, visto que a lei não salva, mas revela-nos o nosso pecado e nos dá a condenação. Somente a obra consumada de Cristo pode livrar-nos do inferno. Portanto, o versículo não é uma proibição para se estudar as Escrituras].

O pouco convívio com a Bíblia, a falta de senso crítico, e o estímulo que muitos líderes imprimem à experiência pessoal, a qual ganhou uma relevância ímpar em nossos dias, acentuada pela ignorância teológica dos seus defensores, levam os crentes, de uma forma geral, a negligenciar o zelo que os irmãos de Beréia tinham [At 17.11], e a uma espécie de torpor espiritual que os faz aceitar de bom grado tudo o que lhes é proposto sem examinar as Escrituras, conduzindo à morte da razão. No pouco ou nenhum conhecimento da Palavra eles são abatidos pelas armas que satanás lhes dá, as quais julgam provir do Senhor mas nem remotamente percebem que ao puxar o gatilho tornam-se alvos de si mesmos.

O conhecimento de Deus passou a ser subjetivo e cada um pode tê-lo a seu modo, facilitado pela completa alienação doutrinária; amoldando-o a qualquer recipiente blasfemo, herético e diabólico.

Parece-me que os crentes estão meio que perdidos; são tantos os ataques do inimigo [e o seu desejo é a destruição da igreja, visto que o Senhor Jesus morreu por ela], são tantas as suas artimanhas, que os crentes não têm idéia do que seja uma vida cristã [a base que se tem dado aos crentes é muito frágil, e “ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11). Não se prega a Bíblia expositivamente (2Ti 4.2-3); é psicologismo pra cá, humanismo pra lá, e individualismo por todos os lados; não se estimula os crentes a lerem teologia, a ler livros que os levem à santidade, a aprofundar-se nas doutrinas; e muito porcamente dizem que as Escrituras são a única regra de fé. Mas como isso é possível sem conhecê-la, sem entendê-la?].

Parte disso deve ser creditada aos acadêmicos [muitos deles inconvertidos e educados em seminários e faculdades nitidamente opositores do Evangelho], que tratam o estudo da Bíblia com mais frieza do que um legista disseca um cadáver; é como um labirinto onde se tem a certeza de que jamais se sairá dali; visto que o homem cada vez mais está preocupado com a sua glória pessoal, “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” [Rm 1.21]; “e, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm” [Rm 1.28]; pois, “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” [2Co 4.4].

Então, prefiro autores que conciliam doutrina com doxologia, ao estilo de Lloyd-Jones, John Owen, Charles Spurgeon, Jonathan Edwards, Arthur Pink, John Piper, John McArthur... Guardadas as devidas proporções, eles tentam repetir o que Paulo fazia divinamente inspirado: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas Cristo Jesus, o Senhor” [2Co 4.5]; “para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” [2Ti 3.17]. Enquanto isso, os Warrens, Malafaias, Cavalcantis, Mclarens, Hinns e Yansens da vida ganham cada vez mais espaço nas livrarias, nas estantes, e em mentes loucas, porque o que eles fazem é meio que anestesiar a consciência, um inibidor que impede as pessoas de pensarem como crentes, os quais devem ter a mente de Cristo [1Co 2.16], transformados pelo Evangelho; e não mantidos em coma pelo humanismo/secularismo/místico com que são tratados, tornando-as em zumbis intelectuais, em natimortos espirituais. Na vaidade das suas mentes, “entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração... se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza” [Ef 4.18-19].

Só há um antídoto: a leitura diária, devocional e reverente da Palavra em espírito de oração; porque “toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” [2Ti 3.16], e a “tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre" [Sl 119.160]; sabendo que os pensamentos de Deus são mais altos do que os nossos, e os Seus caminhos são mais altos do que os nossos [Is 55.9]; “porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas, glória, pois, a ele eternamente. Amém” [Rm 11.34-36].

Então, não nos furtemos a “conhecer os mistérios do reino de Deus”, o qual nos é dado pela revelação das Sagradas Escrituras, mas aos outros é dado “por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam” [Lc 8.10].

21 fevereiro 2010

Dízimo, Oferta e o Crente


 





Por Jorge Fernandes Isah*

Tenho lido muitos artigos sobre o dízimo e ofertas. Quase todo dia, me enviam textos "descendo a lenha" no que chamam a "falácia do dinheiro a Deus". Como já expus há alguns irmãos a minha convicção pessoal, e creio, também bíblica, e visto que me chegou às mãos um artigo intitulado "Salário do Pastor: um peso na carteira!"1 (cujo autor não sei quem é, mas já o reprovo pelo título), enviado por uma irmã que me pediu um comentário, resolvi escrever minhas impressões sobre o assunto e a minha convicção bíblica a respeito.
 

PRIMEIRO: UM ALERTA!
O problema de muitos articulistas é a falta de honestidade. Não que desejam ser "desonestos", mas é que não se preocupam com TODA a honestidade; pois estão satisfeitos demais com a honestidade que já têm, ainda que não seja suficiente. O ataque é sempre baseado em uma premissa, um pré-conceito instalado e arraigado, simplesmente opinativo (refletindo o desejo e prática pessoal ao invés da vontade de Deus), ainda que sejam citados alguns versículos bíblicos (normalmente fora do contexto e a pretexto de) e algumas fontes "abalizadas", que justificam a execração pública, seja da igreja, do pastor ou do crente fiel que oferta (isso não é privilégio dos articulistas cristãos, mas é uma prática usada secularmente, desde que o homem caiu no Éden). Não há preocupação com TODA a verdade. Uma parte dela, mesmo ínfima, já é o suficiente, e se houver alguma distorção, quem se importará?
Então, a questão passa a ser moral, e se omitimos deliberadamente alguma informação, ou não fazemos uma pesquisa cuidadosa, emitindo um conceito como sendo divino (o que é uma manipulação, um sofisma), faltamos com a verdade, e nos tornamos em mentirosos, fraudulentos. Há de se ter cuidado com tudo o que lemos, para que não caíamos na armadilha, sendo enganados por negligência, por desprezarmos uma acurada análise crítica do que está sendo proposto. É assim que começam as heresias, é assim que Satanás engana o homem, é assim que se torna fácil confundir, beligerar, dominar, e isso é pecado, e não podemos jogá-lo para debaixo do tapete, como se fosse possível escondê-lo. A Bíblia afirma que, "Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará". (Gal.6.7), e que, "os pecados de alguns homens são manifestos, precedendo o juízo; e em alguns manifestam-se depois. Assim mesmo também as boas obras são manifestas, e as que são de outra maneira não pode ocultar-se" (I Tm 5.24-25).
 
Então, como ovelhas no meio de lobos, sejamos prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas (Mt 10.16).
 
Usualmente temos o defeito de sermos relapsos, pouco atentos aos cuidados que se deve ter com a Palavra. Se lemos um texto, mesmo que de um renomado escritor ou teólogo, devemos cuidar para não crer "afoitamente" em tudo o que ele diz. Se nos são apontados versículos bíblicos, que os consultemos, atentando para o contexto do capítulo, seus versículos anteriores e posteriores, que nos darão o entendimento correto do que o versículo citado quer realmente dizer. Por sermos omissos, acabamos crendo em todo tipo de "sandice" professada e confessada, como sendo verdade e proveniente de Deus. Não podemos nos esquecer de que as Escrituras são a verdade, e de que ela é a nossa única regra de prática e fé, mesmo que a maioria de nós a tenha (e venha) negligenciado. O Senhor nos alerta a vigiar e orar (Mc 14.38), e não nos deixar enganar por supostas "verdades", "as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria... mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne" (Cl 2.23).
 
Estejamos pois alertas, revestidos de toda a armadura de Deus, para não sermos apanhados nas ciladas de Satanás (Ef. 6.11)

 
SEGUNDO: UM FATO.
O dízimo é bíblico e refere-se à nação de Israel. Primeiramente, não eram ofertas a Deus, mas taxas para suprir o orçamento nacional, visto que Israel era uma teocracia, os sacerdotes levíticos atuavam como um governo civil. Representava não a décima parte mas aproximadamente 25% em taxas que eram doadas pelos israelitas. É uma ordenança ao povo de Israel. Assim, os crentes do N.T. não são chamados a dizimar. Mas temos de DOAR, OFERTAR. Como o pr. John MacArthur disse: "A linha de direção para a nossa doação para Deus e Sua obra é encontrada em II Co 9.6-7: 'E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria'"2.
 
Ao crente não é cobrado o dízimo, mas a oferta, que deve ser dada segundo o coração; e como ele ofertar, Deus conhecerá o seu coração (é uma hipérbole, visto que Deus JÁ conhece o coração de cada um desde toda a eternidade).

 
TERCEIRO: UMA MENTIRA.
Afirmar que pelo fato do crente não estar "preso" ao dízimo, ele não deve contribuir para a igreja, ou ele pode dar qualquer ninharia que Deus se alegrará (ninharia aqui tem o sentido de você separar uma ínfima parte do que tem, as migalhas que sobraram, e não como alguns fazem parecer a passagem de Lc 21.1-4, onde a mulher deu duas moedas, mas era TUDO o que tinha). Afirmar que as ofertas para a "'obra de Deus' significa, naturalmente, assalariar o cargo de pastor e pagar as contas mensalmente para manter o edifício sem dívidas"3, não parece, no mínimo, uma falta de compreensão e ignorância quanto às Escrituras e a obra de Deus (e com o próprio Deus)? Não lhe parece tendenciosa e facciosa tal afirmação? Será que TODOS os pastores estão reprovados porque uma parte deles é réproba? O crente, então, não tem de sustentar o pastor e a igreja? Qual é a base bíblica? Quais são esses versículos?

 
QUARTO: A VERDADE.
O crente não só deve, mas tem o DEVER de sustentar a igreja. Foi o apóstolo Paulo quem afirmou em II Co 11.7-9: "Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus? Outras igrejas DESPOJEI eu para vos servir, recebendo delas SALÁRIO; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da Macedônia SUPRIRAM a minha necessidade, e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei" (grifo meu). Paulo reprova os coríntios por não lhe terem suprido as suas necessidades. E de que os Macedônios e outras igrejas o fizeram. E ainda assim, ele pregou-lhes o evangelho.
 
O mesmo Paulo disse em I Tm 5.17-18: "Os presbíteros que governam BEM sejam estimados por dignos de DUPLICADA HONRA, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: DIGNO é o obreiro do seu SALÁRIO" (grifo meu). Se o apóstolo dos gentios não afirma a necessidade de honrar os obreiros (presbíteros, pastores, missionários, etc) com o salário, não faço a menor idéia do que ele quis dizer nesta epístola.
 
Ao contrário, certos autores insistem em detratar os pastores, de uma forma geral, como se fossem todos eles crápulas, pústulas, uma classe de sanguessugas, cânceres sociais, a escória do mundo, criminosos... "Somos espiritualmente obrigados a PATROCINAR o pastor e sua equipe?"4 (grifo meu). A resposta é que cada crente deve manter, sustentar a obra de Deus, como afirmou o apóstolo Paulo. E ele diz mais! Em II Co 9.1-13 (leiam atentamente cada versículo, por favor!) lemos que Paulo os exorta a coletarem ofertas a fim de ABENÇOAR aos irmãos da Macedônia (parece que os coríntios, como muitos crentes hoje, achavam que podiam obedecer a Deus, sem cumprir o chamado de ofertar à igreja; talvez por isso, eram desobedientes em tantas outras coisas, e uma igreja fraca e cheia de tantos escândalos como o apóstolo relata em suas cartas).
 
Preocupado com o pouco zelo dos irmãos de Corinto, Paulo manda uma comissão à sua frente com a epístola, para que os Coríntios providenciassem a coleta (que não era dos frutos da terra apenas, mas de dinheiro), "a fim de, se acaso os macedônios vierem comigo, e vos acharem desapercebidos, não nos envergonharmos nós (para não dizermos vós) deste FIRME FUNDAMENTO DE GLÓRIA. Portanto, tive por coisa necessária exortar estes irmãos, para que primeiro fossem ter convosco, e preparassem de antemão a vossa BÊNÇÃO, já antes anunciada, para que ESTEJA PRONTA como BÊNÇÃO, e não como AVAREZA" (grifo meu). Ele afirma que a oferta preparada para os macedônios seria uma bênção, e os exortava a que procedessem no firme fundamento de glória, e não como avareza. Há alguma dúvida de que ofertar é um mandamento para os crentes? E de que o devemos fazer como uma obediência a Deus, servindo de bênção à igreja e aos irmãos (e aos incrédulos também)? E de que glorificamos a Deus quando assim procedemos, sabendo que somos administradores daquilo que Ele mesmo nos deu e tem dado, sabendo que o nosso dinheiro não nos pertence, e de que, se o utilizamos apenas em nosso próprio proveito, nos fazemos egoístas, avarentos e de que, tanto o egoísmo como a avareza são pecados (Ef. 5.5)?
 
"Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, GLORIFICAM a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos" [II Co 9.12-13 (grifo meu)].

 
QUINTO: UM COMENTÁRIO.
Estes e muitos outros versículos são "esquecidos" pelos detratores e inimigos da igreja. Sabemos que Satanás tem como alvo principal a igreja, pela qual o Senhor Jesus Cristo morreu. Ele não morreu pelo mundo, nem pelos que estão ou estarão queimando no Inferno; mas pelos crentes, aqueles que pertencem a Sua Igreja e Noiva. Por ela, o Senhor encarnou, andou pelo mundo, pregou o evangelho, curou, morreu na cruz do Calvário, ressuscitou, e chamou cada um de nós à conversão, restaurando-nos, vivificando-nos quando ainda estávamos mortos em ofensas e pecados (Ef. 2.1).
 
Muitos usam o dízimo como argumento para não ofertar, não doar, não acolher, não ajudar, não auxiliar, tanto a igreja, como irmãos e incrédulos. Dizem que Cristo cravou na cruz toda a Lei (no que estão certos), e de que se é livre para agir, pensar, e comportar como bem entender, no que estão errados.
 
Se o dízimo não pertence à igreja, os crentes da igreja primitiva dispunham de TUDO o que possuíam. Atos 2.44-45, diz: "E todos os que CRIAM estavam juntos, e tinham tudo em COMUM. E vendiam SUAS PROPRIEDADES E BENS, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister" (grifo meu). Quem você conhece que vendeu tudo o que possuía e entregou à igreja? Ou distribuiu-o aos irmãos? O que vemos hoje é uma igreja insensível, e irmãos igualmente insensíveis, que não obedecem a Deus; que se fingem de moucos, de cegos, de paralíticos, para não participarem da obra de Deus. São os deficientes modernos, os quais precisam da cura do nosso Amado Senhor. Não digo, com isso, que se deve vender tudo e despojar-se a favor da igreja. Isso nem é o mais importante. Mas se crentes se apegam tanto ao seu dinheiro que não o ofertam, não estarão igualmente apegados à sua velha natureza e ao pecado? Se não consigo “abrir a mão”, afim de ser uma bênção e glorificar a Deus no mínimo, poderei fazê-lo quando me for exigido o máximo, por exemplo, a minha própria vida? Será que tenho devotado meu tempo à leitura da Bíblia, à oração, ao evangelismo, aos trabalhos de discipulado e ensino dos irmãos? Ao conforto daqueles que se encontram afligidos e desamparados (não somente material, mas sobretudo espiritualmente)? Usando o meu tempo, dons e bens para a glória de Deus? Será que meus pensamentos estão em Deus ou, como narciso, vejo apenas a mim mesmo em todos os cantos? Serei capaz de algum sacrifício para glorificar o bom, misericordioso e gracioso Deus que me resgatou da condenação, quando o único lugar que mereço é perecer eternamente no Inferno?
 
São perguntas que devemos nos fazer. É fácil agredir as pessoas e ser injusto. É muito fácil desprezá-las. E mais fácil ainda ignorá-las. Mas Deus nos chamou por amor, e pelo amor. E é por ele (o mesmo amor que o Senhor teve e tem por nós), que devemos ter pela igreja, pelos irmãos e por aqueles que se encontram perdidos no mundo. E o amor implica em renúncia, em entrega, em sacrifício. Não foi assim com o Senhor Jesus? Será que o nosso dinheiro é mais importante do que o nosso dever de crentes em Cristo?
 
Para finalizar este tópico, quero deixar-lhes o versículo de Hb 13.16:"E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada".

 

SEXTO: CONCLUSÃO.
1)Quanto a obediência aos pastores, fico com Hebreus 13.17; Paulo diz: "Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil".

2)Quanto a oferta às igrejas, com I Coríntios 16.1-2: "Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às IGREJAS da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar" (grifo meu).
 
3)Quanto ao sustento dos pastores, I Timóteo 5.18: "E: Digno é o obreiro do seu salário".
 
4)Quanto à acusação aos pastores, I Timóteo 5.19: "Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas" (e não genericamente, como se todos fizessem parte de uma quadrilha).
 
Por fim, exorto-os a seguir a Cristo, que é a cabeça, cujo corpo, nós, a igreja, devemos nos apresentar gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível; onde Deus distribuiu os dons aos homens (uns evangelistas, outros pastores e doutores), querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo, por Cristo e em Cristo (Ef. 4.11-16).
 
Sabendo que Deus detém promessas aos Filhos que doam com amor e alegria (II Co 9.6-7), e de que esta é uma forma de adoração. E só para ficar claro, essas promessas não se referem, necessariamente, a bênçãos materiais.
Finalizo com as palavras do pr. Ron Riffe sobre a questão:
'Portanto, com ardente instância, recomendo que cada cristão individual ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade' [1 Coríntios 16:2] e dê por meio de sua igreja local e de forma regular. E, se você não tem confiança que os líderes da sua igreja usam o dinheiro de uma forma responsável e honesta diante de Deus, então precisa procurar outra igreja para freqüentar! O dízimo não é requerido dos cristãos no Novo Testamento, mas devemos amar o Senhor e não nos limitarmos a dar apenas 10% de nossa renda. Observe que o verso citado anteriormente diz '... conforme a sua prosperidade’. Em outras palavras, o princípio do Novo Testamento é dar em proporção àquilo que Deus provê para nós” 5.
 
*(O autor não é pastor, presbítero ou seminarista; e escreveu o texto em Fevereiro/2008).
 
NOTAS:
1- O artigo “Salário do Pastor: um peso na carteira”, provavelmente foi extraído do livro “Cristianismo Pagão”, de Frank Viola.
2- Artigo de John MacArthur para
http://www.monergismo.com/textos/dizimos_ofertas/dizimo_mac.htm , com o título “Deus requer que eu dê o dízimo de tudo quanto ganho?”.
3- Trecho de “Salário do Pastor: um peso na carteira”.
4- Idem
 

5- Artigo de Ron Riffe para http://www.espada.eti.br/p264.asp , com o título “O Suporte aos Missionários”.

15 fevereiro 2010

Nascer ou Morrer








Jorge Fernandes Isah

Há um trecho que sempre me chamou a atenção na pregação de João o Batista, quando as multidões vinham ouvi-lo as margens do Jordão, desde Jerusalém e toda a Judéia, para serem batizados (Mt 3.5-6). Em dado momento, ele avista os fariseus e saduceus, e profere: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.7-8). É uma exortação que serve para qualquer um de nós, judeus ou não; é uma pregação dura, mas que também serve a qualquer pecador, revelando-lhe a necessidade de apartar-se do mal e fazer o bem (Sl 37.27).

Contudo, em vista de a quem a advertência foi dirigida, revelava a intenção dos corações e de seus verdadeiros intentos: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mt 3.9). Puxa, esse foi um direto, um verdadeiro “knockdown” que colocaria o tolo mais persistente a beijar a lona. Porque João lançou por terra qualquer expectativa dos fariseus e saduceus de serem herdeiros étnicos do céu. E mais do que isso, implicava em duas outras coisas:
  1. Nem todos são filhos de Deus. Nenhuma filiação religiosa ou étnica pode garantir a filiação divina. Como Paulo disse: “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28-29).
  2. Deus pode fazer o que quiser segundo a Sua vontade, sem precisar do consentimento humano, até mesmo tornar pedras em filhos de Abraão se assim desejasse. Pois, se não fosse pelo Seu poder transformador, quem creria? E quem se converteria?
O que isso quer dizer? Que esses judeus não consideravam a hipótese de arrependimento, em suas mentes corrompidas tinham a certeza de garantia do reino de Deus pela raça. Como mentes irregeneradas, perverteram a aliança e as promessas de Deus, ao seu bel prazer, assim como a lei. João o Batista mostra-lhes a necessidade de regeneração, do novo nascimento, a fim de se tornarem em verdadeiros filhos de Deus. Como o Senhor disse a Nicodemus: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3.3;6-7). Ao que Paulo ecoou o ensino de Cristo: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.7-8). 

Da mesma forma que os judeus acreditavam que o povo de Israel não precisava de um novo nascimento, percebe-se, hoje em dia, o mesmo sentimento errôneo de que através de dogmas e filosofias humanas (não se esqueça de que tanto o farisaísmo como o sadoquismo eram filosofias dentro do judaísmo), cristãos se consideram inseridos no reino de Deus, não pelo sacrifício de Cristo na cruz, mas pela tradição de que são herdeiros pelo nascimento, pelos rituais ou pela proteção eclesiástica. Pensemos sinceramente, qual a garantia a Bíblia dá de que, nascendo em um lar cristão, cumprindo os sacramentos cristãos, ou estando em uma igreja, a salvação está assegurada?

Em outra passagem, Cristo confrontou os judeus a conhecerem a verdade, pois a verdade os libertaria (Jo 8.32). Porém, eles se revoltaram contra o Senhor, em suas obscuridades espirituais criam que o fato de serem descendência de Abraão era a garantia de liberdade. Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34). Eles insistiram: "Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, farieis as obras de Abraão... Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou... Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (Jo 8.39; 42;44). 

Cristo mostrou-lhes como estavam enganados, e viviam uma crença completamente oposta àquilo que Deus havia estabelecido para os seus servos. Ali, Ele deixou claro que a genealogia, a etnia e, porque não, a fé equivocada, em nada assegurava-lhes a salvação. Os judeus invocavam uma justificação por obras, através de si mesmos, dos antepassados, da condição transmitida pela carne. Ao passo que Cristo revelou-lhes a completa loucura de suas mentes, as quais eram incapazes de compreendê-lO: "Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra... porque vos digo a verdade, não me credes" (Jo 8.43;45).

À mente natural, inconversa, não resta mais nada a não ser a morte. Não há vida, nem salvação. Para se ver o reino de Deus é necessário nascer do Espírito: "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1.12-13). Por que, então, alguns ainda negam o novo nascimento? Como se a salvação pudesse ser transmitida de pai para filho, através dos sacramentos, ou pela linhagem de um povo?

Os judeus acreditavam que apenas os estrangeiros e os que pertenciam a outras religiões careciam da conversão. Sairiam de onde estavam (a cultura, etnia ou crença) e seriam transplantados ao judaísmo. Da mesma forma, muitos hoje acreditam que a troca de endereços ou a permanência neles (saindo de uma igreja ou ficando) garantir-lhes-á a segurança do céu. Sem regeneração? Impossível! Nem se adequando ao formalismo religioso, ao cumprir certos rudimentos ritualísticos; mesmo tendo-se convicção intelectual, uma aceitação pela perspectiva meramente religiosa. Porque a vivificação é obra exclusiva do Senhor, a demonstração do Seu poder em resgatar o pecador da morte e da condenação: Porque Deus, "estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Ef 2.5-6). Esse é o poder que transforma o pecador em santo, o condenado em salvo, a criatura das trevas em filho de Deus; o qual opera independente da vontade humana, do homem querê-lo ou não, de buscá-lo ou não, pois essa prerrogativa é divina, algo que somente o Criador pode realizar, pois "a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção" (1Co 15.50). 

É preciso nascer de novo, ou morre-se para sempre.

08 fevereiro 2010

Louvor: Como Implodir a Doutrina



Por Jorge Fernandes Isah 
 
A afirmação de que o louvor pode ser qualquer coisa, de qualquer forma, e de que Deus nos aceita como somos, remete-nos à seguinte questão:
O Senhor aceita o pecador inconvertido e sem arrependimento que mantém-se em rebeldia, rejeitando a Cristo como único e suficiente Salvador? Ou será necessário que, primeiro, esse pecador seja regenerado por Cristo e transformado pelo Espírito Santo para arrepender-se e receber o perdão divino, e então ser aceito? Da mesma forma, qualquer coisa que se faça em nome da Igreja e na Igreja somente será reconhecida por Deus se obedecer aos preceitos definidos na Escritura, os principios estabelecidos pelo próprio Deus.
É possível uma adoração santa quando se apela para ritmos sensuais, com o único objetivo de entreter e saciar a carne? É possível que se execute igualmente danças muito parecidas com a "dança-do-ventre" nos cultos, e crer que se está agradando a Deus? É possível agradá-lO com um discurso humanista, que exalta o homem, em detrimento da pregação expositiva bíblica que exalta a Deus? É possível uma diversidade de técnicas mundanas subir ao púlpito (o pragmatismo, o servilismo ao pecado, a acomodação aos padrões do mundo), e agradar a Deus? É possível agradá-lO sem ser bíblico? Baseado apenas nas sensações e tentativas humanas? O homem natural certamente não verá problemas, e responderá acertivamente. Contudo, o homem espiritual, aquele que tem a mente de Cristo e foi regenerado, dirá não. Porque o princípio da verdadeira adoração não são os efeitos pirotécnicos, nem a multidão de gestos, nem o grito tronitruante, nem o suor, nem calafrios, nem comoção pública, nem o cair ou cacarejar, ou qualquer outro fenômeno bizarro. O preceito da verdadeira adoração é a obediência a Deus e a Sua palavra, as Escrituras Sagradas.
As igrejas começam sempre abrindo uma exceção em suas práticas, as quais consideram sem importância. E, normalmente, começa-se pela liberalidade na música, no louvor. Acontece que os bodes precisam de diversão constante, e estão ali para distrair e, num golpe final, destruir o rebanho (como objetivo, porém não alcansável, visto que as ovelhas de Cristo são salvas e jamais destruídas pelo inimigo). E como isso se dá? Primeiro, corrompe-se o louvor, onde a santidade dá lugar a toda prática profana, com a apropriação dos sentimentos e valores do mundo para depois, progressivamente, implodirem a doutrina e a validade escriturística.
É esse o caminho que os ímpios impõem à igreja enquanto irmãos sinceros, mas iludidos com as falsas promessas de resultados (e a ignorância escriturística é fundamental para se manter crentes em estado de coalizão com as forças malignas; os quais veem erroneamente os valores humanos como sendo de Deus), permitem-se cair na blasfêmia, no mundanismo, na rebelião e no desprezo ao Senhor.
A igreja que acredita louvar a Deus na carne (repito: com ritmos sensuais, contagiantes, eletrizantes, danças profanas, e técnicas do show business) está assentada no lamaçal do pecado, e receberá a disciplina ou a ira divina. Porque a verdadeira adoração não é uma isca para fisgar espectadores através da musicalidade profana, da pregação artificiosa e antibíblicas; a verdadeira adoração é a submissão do crente a Deus, sujeitando-se à Sua vontade, e porque não, trabalhar para manter os bodes e ímpios fora da igreja ao invés de chamá-los para um acordo de paz, onde os bodes não cumprirão a parte assumida, mas dissimuladamente buscarão dispersar as ovelhas, se possível fosse, destruí-las.
Infelizmente a maioria dos adoradores modernos enquadram-se na sentença de Paulo: "Segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus" (Rm 2.5).

01 fevereiro 2010

RÓTULO











 Por Jorge Fernandes Isah * 

O rótulo é algo inevitável para o homem que precisa se identificar e identificar aos outros, sendo muito mais uma definição estética que moral. E entre os evangélicos há tantos dísticos que ficamos perdidos; muitos deles apenas estéticos, e alguns nem tão morais. Por exemplo, a questão da salvação é algo moralmente distorcida em nossos dias. Prega-se que o homem pode "aceitar" a Cristo, e o mesmo que O aceitou pode "rejeita"-lO, como se fosse o escolher brócolis no almoço e filé no jantar. Não se pode tratar Deus como um tubérculo ou leguminosa acomodados no freezer, o qual retira-se e coloca-se quando e onde quiser. Jesus disse: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” [Jo 15.16]

A causa de muitas profissões de fé falsas é a idéia errada de que posso aceitar e depois rejeitar a Cristo, e mais à frente aceita-lO novamente, e caso não queira mais, desprezá-lO quantas vezes quiser até que venha a “recebe”-lO, se houver tempo. Não é algo definitivo, nem mesmo é uma hipótese de definição, é efêmero e vacilante, podendo suceder-se por inúmeras vezes. Esse tipo de salvação é moralmente bíblico? Ele pertence à categoria do nascer de novo ao qual o Senhor Jesus afirmou ser necessário para se ver o reino de Deus? [Jo 3.3]

Ao depender de mim, da minha vontade e, especialmente, dos "métodos" para se "convencer" alguém de que uma vida com Cristo é o melhor, a minha salvação seria moral? Como pode um homem caído, separado de Deus em seus pecados ser moralmente apto para se reconciliar com o Senhor santo e justo? “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” [1Co 2.14]

Ao aceitá-lO, sou o agente moral, e, portanto, habilitado a estabelecer a comunhão com o Todo-Poderoso, o qual é passivo, dependente da minha vontade? E ao aceitá-lO e rejeitá-lO diversas vezes sou moral ou amoral? Responda-me: é realmente melhor ser um cristão? Já imaginou os sacrifícios, os obstáculos, as renúncias que temos de fazer num mundo que odeia a Deus e que apela tão baixamente para o que de pior existe em nós? Se é tão bom ser crente, porque não o fomos antes? Porque somente agora e não um ano atrás? O que mudou em minhas convicções e natureza que me motivaram a aceitar Cristo e servi-lO? Porque “decidi-me” pelo Deus bíblico, ao invés de permanecer com o deus genérico, popularizado, mistificado e comercializado por tantas religiões e sistemas filosóficos? 

O Deus bíblico, verdadeiro e único não pode ser passivo. Ele não fica de braços cruzados esperando as coisas acontecerem, alheias à Sua vontade, sem intervir direta e propositadamente, visto ser o Agente, o Autor de toda a criação, Aquele que atua na história, que determina todos os atos no universo [Ex 33.19; Is 14.24;27; Rm 9.15], os quais foram estabelecidos soberanamente antes da fundação do mundo. Portanto, o Deus bíblico não pode ser rejeitado impunemente. Não pode ser desprezado sem que aquele que o desprezou sofra as conseqüências do seu ato. O Deus bíblico não reconhece o homem como seu filho se ele permanecer "amoldado" à sua natureza pecaminosa. Para isso, é necessário que o nosso ser seja transformado, que esse homem renasça em Cristo, e pela ação do Espírito Santo, o caráter do Senhor seja implantado, pouco a pouco. Assim, regenerados, somos então capacitados a reconciliar-nos com Deus, ou a “aceitá-lO”; não sendo mais passivos no pecado, mas ativos em santidade. Sem isso, somos criaturas rebeldes, incomunicáveis com o Altíssimo, destinados à Sua ira, a perecer eternamente, sem jamais ser filhos e templo do Espírito Santo. Então, não é uma questão de escolha, mas de QUEM escolhe, e Deus escolhe, “Para que nenhuma carne se glorie perante ele” [1Co 1.29].

Se sou eleito de Deus, Ele jamais permitirá que eu me perca novamente, que eu volte ao reino de trevas, ao mundo caído de Satanás. Esta é a Sua promessa aos Seus escolhidos, porque “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”, disse Jesus [Jo 6.37].
 
O arminianismo, e o seu pai, o pelagianismo, são a razão do vai-e-vem sem fim nas cadeiras das igrejas, onde os crentes de hoje serão incrédulos amanhã, podendo novamente ser crentes, e por fim, apostatarem tempos depois; visto que a salvação é como uma partida de pingue-pongue; e não consigo imaginar-me disputando um jogo em pé de igualdade com o Todo-Poderoso, Criador, Salvador e Senhor, e ainda por cima, derrotá-lO. A salvação passa a ser uma pilhéria, e o Senhor motivo de escárnio, tais as possibilidades de variações quanto ao estado de salvo e perdido, quanto a uma insegurança que denota a fragilidade de um deus criado na mente corrupta e insana do homem... que nada tem a ver com o Deus Tri-uno, poderoso e Senhor de todo o universo. 

É possível que esse homem que crê deter o poder de "eleger" a Deus tenha a certeza da salvação? Visto que não há nada que a assegure, apenas e tão somente a vontade do próprio homem? O qual é fraco, volúvel, obstinado em sua pecaminosidade, bastando apenas o mudar para se perder outra vez? Ele pode afirmar-se salvo, se ele mesmo não o sabe nem tem certeza se o será? 

O homem deu um tiro no pé! Ao supor-se detentor de um poder que não possui. É ilusório, terrível, maligno. Pois nos dá uma sensação de liberdade irreal, impossível de nos levar a decidir por Deus, na medida em que ela é incapaz e inadequada de nos levar a escolhê-lO; pois o livre-arbítrio pressupõe o homem tanto bom como mau, contrapondo-se ao ensinamento bíblico, o qual assevera ser o homem essencialmente mau; “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” [Rm 3.23]; não há justo, nem um sequer” [Mq 7.2; Rm 3.10]; e “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” [Jr 13.23]... Logo, o homem encontra-se completamente incapacitado de vencer o seu pecado. 

A presunção é de que, se fazemos coisas boas e ruins, escolhas boas e ruins, elas indicam que sou capaz de eleger a Deus (pois rejeita-lO já o faço naturalmente, de manhã à noite); e de que esta escolha é não influenciada por alguma força, seja ela exterior ou interior; de que é isenta de causalidade, neutra, o que é utópico, pois somos sempre tomados por algum poder... a liberdade morreu no Éden com Adão e Eva, e estaremos sob o domínio de satanás até que o poder máximo do Senhor restaure-nos, e a liberdade seja finalmente ressuscitada. 

Ainda que não possamos "ganhar" ninguém para Cristo, pois esse papel cabe ao Espírito Santo, o qual dá o convencimento ao homem do pecado, da necessidade de arrependimento, e a compreensão da obra salvadora do Filho de Deus, não podemos nos escusar de levar o Evangelho aos perdidos [Mt 28.19-20]. É uma ordem expressa do Senhor, não sendo condicional, mas imperativa. Como instrumentos, Deus nos usará para alcançá-los, não nos cabendo questionar os Seus sábios métodos, mas certificar-nos de obedecê-lO prontamente.

E, para que não reste dúvidas quanto à minha posição, creio na doutrina da Eleição do homem por Deus, e de que Deus escolhe quem salvará; é uma obra completa d’Ele, na qual somos como barro nas mãos do oleiro [Rm 9.21], em vista de sermos incapazes de “escolher” salvar-nos; pois jamais o homem escolheria a salvação se Deus não o movesse a ela... É uma discussão que se arrasta há séculos, mas a Bíblia é clara quanto ao assunto: a eleição é de Deus, e não do homem! Como acertadamente disse o profeta: “Do Senhor vem a salvação” [Jn 2.9], pois a glória é somente e completamente d’Ele.

Ah... ia me esquecendo... quanto ao rótulo, podem chamar-me calvinista.

* Texto escrito em Agosto de 2008