INTRODUÇÃO
Por Herman Hoeksema
O leitor deve saber que em minha viagem recente à Europa, entrei em contato com alguns irmãos da Sovereign Grace Union em Londres, Inglaterra, particularmente com o secretário geral daquela União, o Rev. Henry Atherton e seu povo da Grove Chapel. Tive o privilégio de passar o Dia do Senhor no meio deles e de ministrar-lhes a Palavra de Deus em dois dos seus cultos. Não é o meu propósito, contudo, escrever sobre essa União neste artigo. Se o Senhor permitir, espero devotar algum espaço a essa assunto interessante e importante nas futuras edições do nosso Standard Bearer. Deixe-me dizer, no entanto, aqui mesmo, que os líderes da Christian Reformed Churches não podem concordar com os princípios dessa União, mais especificamente com o Rev. Atherton e sua Igreja. Eles são estritamente calvinistas e enfatizam as próprias verdades que a Christian Reformed Churches negarem em suas declarações, no Sínodo de Kalamazoo em 1924. Para mencionar apenas um assunto importantes, eles negam enfaticamente que a pregação do evangelho seja uma oferta sincera de salvação da parte de Deus a todos os que a ouvem exteriormente.
Por diversas vezes o Rev. Atherton enfatizou em nossa conversa que a graça nunca é uma oferta, e que a pregação do evangleho não pode ser a oferta de salvação de Deus a todos. Eles creem na predestinação e pregam-na sem reservas. Se o Rev. Atherton fosse ministro na Christian Reformed Churches, ele teria sido expulso, assim como nós o fomos. Considero que é melhor para todos os envolvidos que haja uma clara compreensão deste assunto, pois trata-se de uma verdade simples. Mas sobre a Sovereign Grace Union, sua obra e propósito, espero escrever mais tarde.
Desta vez, embora eu não possa escrever uma resenha extensa sobre o livro nesta edição da revista, eu insto para que os nossos leitores consigam uma cópia da publicação mais recente da Union. Refiro-me à obra intitulada: Calvin’s Calvinism. O livro é uma obra do próprio Calvino, que a escreveu em seus anos mais maduros, na qual ele lida particularmente com o assunto da predestinação. O livro foi publicado pela primeira vez em 1552, traduzido pela primeira vez para o inglês em 1856, e agora reimpresso e publicado pela Sovereign Grace Union.
Sendo a obra de seus anos posteriores e sendo devotada inteiramente ao assunto da predestinação, o livro oferece um visão mais completa, clara e madura de Calvino sobre esse assunto do que aquela que encontramos nas Institutas. Também sobre o conteúdo desta obra pode ser dito que a Christian Reformed Church não pode concordar com João Calvino. Os líderes daquela Igreja afastaram em muito dele e da fé calvinista. Fiquei surpreso ao tomar conhecimento que o Prof. Louis Berkhof escreveu uma resenha muito favorável sobre o livro. Eu não li a resenha ainda, mas espero fazê-lo e criticá-la num futuro próximo. Como o Prof. Berkhof harmonizaria a seguinte citação com o Ponto I de 1924 e com tudo o que ele escreve em defesa da visão que o evangelho é uma oferta de salvação até mesmo àqueles que são réprobos?
“O próprio Pighius confessará que há uma necessidade de iluminação para aqueles que eram adversários de Deus; mas ele, ao mesmo tempo, sustenta ferrenhamente à ficção (ênfase minha) que a graça é oferecida igualmente a todos (ênfase minha), mas que é em última instância tornada eficaz pela vontade do homem, tão logo alguém esteja disposto a recebê-la.” (p. 51).
“Mas com referência ao Seu endurecimento do coração dos homens, essa é uma forma diferente de Deus trabalhar, como já observei. Pois Deus não governa o réprobo por seu Espírito regenerador; mas Ele os entrega ao diabo, e deixa que sejam seus escravos; e assim, Ele governa as suas vontades depravadas por seu julgamento e conselho, para que eles não possam fazer nada senão o que Ele decretou.” (p. 319). (ênfase minha)
“Pois, não obstante toda a sua conversa vã sobre isso, a verdade é que um coração de carne e um novo coração não são prometidos a todos os homens indiscriminadamente, mas aos eleitos peculiarmente, para que eles possam andar conforme os mandamentos de Deus.” (p. 315).
Sem dúvida, caso o Sínodo de 1924 descobrisse essas passagens na obra de Calvino, e tendo achado, constatado que Calvino é “fundamentalmente Reformado, mas com uma inclinação à unilateralidade”, eles o teriam expulsado das Christian Reformed Churches!
Mas eu abordarei essas questões, tão longo o tempo permita. O meu único propósito agora é recomendar ao nosso povo que adquiram e leiam este livro.
A Sovereign Grace Union fez um grande trabalho ao reimprimir esse livro.Tradução: Felipe Sabino Neto
Fonte: http://www.prca.org/pamphlets/pamphlet_87.html
Agradeço ao Felipe Sabino, do site Monergismo, a gentileza de autorizar a publicação deste texto, recém-traduzido.
3 comentários:
Hoeksema, tenta forçar as palavras de Calvino para buscar sustentação para sua igreja. É claro que Calvino não concorda com o fato da graça ser oferecida IGUALMENTE a todos, já que a graça é ofertada eficazmente para os eleitos, embora seja oferecida geralmente para todos.
O que não pode ser ignorado é que Calvino sustentou claramente a oferta de Cristo a todos sem exceção:
5) “Para as ovelhas perdidas da casa de Israel”. "Ele dá a denominação de ovelhas da casa de Israel não somente para os eleitos, mas para todos aqueles que eram descendentes dos santos pais; porque o Senhor incluiu todos no pacto, e foi prometido indiscriminadamente a todos como um Redentor, assim Ele também se revelou e se ofereceu a todos sem exceção. É digno de observação, que Ele se declara ter sido enviado para as ovelhas PERDIDAS, de modo que Ele nos assegura, em outra passagem que veio salvar o que estava perdido (Mateus 18:11). Agora, como nós desfrutamos desse favor, nos dias de hoje, em comum com os judeus, nós aprendemos qual é a nossa condição até que Ele surja como nosso Salvador". John Calvin Matthew 15:24
"Novamente, a palavra “ovelhas” é aplicada até mesmo para os réprobos, que, propriamente falando não pertencem ao rebanho de Deus, porque a adoção se estende a toda a nação; assim aqueles que mereciam ser rejeitados, por conta de sua traição, são em outros lugares chamados filhos do reino Mateus 8:12.) Em resumo: pelo termo “ovelhas” Cristo recomenda os judeus aos apóstolos, para que eles possam dedicar seu labor a eles, porque eles não poderiam reconhecer ninguém como rebanho de Deus, a não ser aqueles que foram recolhidos ao aprisco". John Calvin Matthew 10:6.
Emerson,
entendo o seguinte: há um chamado ao arrependimento, de que Deus será misericordioso com o pecador arrependido; é proclamado a todos os homens através da pregação. É o chamado para que todos se arrependam [mas somente os eleitos o farão]. Isto é uma coisa. A outra coisa é a graça, que não é oferecida, mas é outorgada apenas aos eleitos, por isso ela é irresistível, de forma que o eleito a receberá [como a misericórdia divina]. Veja bem, o chamado é ao arrependimento, pois o homem é quem se arrepende, não Deus. A graça é um favor de Deus, e somente ele pode dá-la a quem quer. Logo, não podemos ofertar aquilo que não é nosso, ao contrário do arrependimento que somente o homem pode ter.
Assim, a graça é derramada sobre o eleito primeiramente [tentando definir uma sequência lógica sobre a salvação] para então ele se arrepender e receber a misericórdia de Deus. Nesse ponto, a graça opera a misericórdia, e não o contrário.
Hoekesema, ao meu ver, está dizendo exatamente isso. E me parece, nos trechos pinçados por ele do livro de Calvino, que esse também era o entendimento do reformador. A graça não pode ser ofertada, pois como pode-se ofertar algo que não se pode dar?
Há uma oferta geral para o arrependimento [pois, ao contrário de Deus, não sabemos quem é ou não eleito; quem se arrependerá ou não], mas o arrependimento somente será eficaz no eleito, que recebeu a graça divina, e decorrente dela a misericórdia, na forma do perdão.
Cristo o abençoe!
Jorge, concordo com praticamente tudo que disse.
Realmente se falarmos da "graça" nos referindo à graça irressitivel, isso não é oferecido para ninguém, mas concedido apenas aos eleitos.
Mas se falarmos da "graça" nos referindo a Cristo, ou ao perdão dos pecados, então realmente há uma oferta para todos, mas nem todos a recebem.
Calvino, no caso, nega que existe a primeira oferta, mas sustenta a segunda.
Um abraço e que Deus o abençoe ricamente!!!
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