"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

20 junho 2011

Piper e o dom de línguas


By Vanderson M. da Silva

John Piper
John Piper, um dos grandes expoentes atuais do neocalvinismo. Créditos: Rachel Ford James (sob Creative Commons)


E não é que o pastor e escritor batista reformado americano John Piper defende a contemporaneidade do dom de línguas? Confira o leitor mesmo aqui.
A posição dele sobre essa questão é compartilhada por outros que, juntamente com Piper, são os expoentes do chamado neocalvinismo, como Paul Walsher e Mark Driscoll (malgrado divergirem entre si sobre outras questões). Discordam, assim, que a Bíblia ensine que certos carismas da Igreja Primitiva hajam cessado no presente, como os dons de línguas e o de profecia — embora seja lícito questionar como este último dom pode se coadunar hoje com o princípio de Sola Scriptura, por exemplo.
Todavia, quero me ocupar aqui com o dom de línguas, manifestando minha discordância quanto à sua continuidade atual e expondo minhas razões para assim pensar. É o que farei a seguir.
Pois bem, o Senhor Jesus disse que línguas eram um “sinal” (Mc 16.17). Nas ocorrências em Atos, fica implícito que se tratava de um sinal indicativo da universalidade do Evangelho, destinado não só aos judeus (os primeiros recipientes da mensagem), mas também aos prosélitos (cap. 2), gentios (cap. 10) e mesmo aos joanitas (19.1-7). Portanto, confirmando que absolutamente todos os grupos possíveis eram abarcados pelo cristianismo. Mesmo o remanescente dentre a nação judaica (representado pelos apóstolos) teve dificuldades para aceitar que os gentios foram “enxertados” na oliveira (Romanos 11), mas o sinal das línguas serviu para atestar tal verdade aos judeus fieis (At 11.1-18).
Mas o que fica implícito nesse livro, Paulo deixa explícito em 1 Coríntios 14.21,22. Lemos ali: “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis”. O que o apóstolo queria dizer com isso? Simplesmente, que o dom de línguas (que se manifestava em Corinto) era sinal para o povo judeu (os “infiéis”), e isso para cumprir a profecia de Isaías 28.11,12. Lembremos ainda que, desde o seu estabelecimento na cidade, tal igreja enfrentou forte oposição judaica (cf. At 18: parece mesmo que aquela ficava bem ao lado de uma sinagoga, v. 7; ainda, tal oposição recrudesceu justamente quando Paulo decidiu “partir para os gentios”, vv. 6ss).
A profecia citada por Paulo é um trecho de um capítulo que fala do juízo de Deus sobre Efraim e Judá por causa de sua impenitência. É também em Isaías 28 que temos o bem conhecido versículo: “Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse” (v. 16). Tal pedra é Cristo, rejeitada pelos judeus, em sua maioria, os quais sofreriam o devido castigo pela rebelião ( 1Pe 2.1-10), castigo do qual Jesus trata em seu longo Sermão Profético (Mt 24, 25). O propósito de tal carisma foi cumprido: independentemente da visão escatológica que se adote, nenhuma contempla a volta da necessidade da manifestação das línguas para atestação à nação judaica do caráter universal da religião de Cristo.
Todavia, alguns ainda insistem que tal dom poderia ter por finalidade viabilizar a proclamação do Evangelho para falantes de outros idiomas, e usam o próprio texto de Atos 2.1ss para respaldar tal ideia. Nesse caso, porém, não é crível que os judeus de outras partes do mundo, que ali estavam em peregrinação, e que visitavam a Judeia regularmente, não tivessem um meio comum de comunicação com os seus compatriotas locais, seja aramaico, hebraico ou mesmo grego koiné. Assim, as línguas manifestadas eram cumprimento de profecias do AT e sinal de que o Evangelho era de fato universal — e que abrangia também os odiados gentios, em cujas terras aqueles judeus viviam como estrangeiros, em hostilidade e desconfiança.
Por tudo isso, entendo que, pelo menos quanto ao dom em apreço, não se pode cogitar que ele não tenha cessado para a nossa era.

6 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Reproduzirei meu comentário no "Polemista Reformado":
"Vanderson,
faço coro com o Nelson: ótimo texto!
O que mais me intriga é que, por quase 2.000, os dons de línguas não se manifestaram na Igreja. Somente no início do século passado é que “voltaram” em uma forma não bíblica, como você e o Nelson afirmaram, e com a qual concordo. E o que temos nos dias de hoje? Uma verdadeira balbúrdia na maioria das igrejas, com uma profusão de onomatopéias [podem ser qualquer coisa, qualquer som ou ruído, menos uma língua que seja inteligível por alguém], sem que haja interpretação, causando escândalo para o nome de Cristo. Essas manifestações ferem claramente o princípio pelo qual o apóstolo Paulo disse que a igreja de Corinto deveria seguir, para que não fossem dados como loucos.
Outro grave erro é a interpretação de 1Co 13, quando Paulo diz que “se” falasse a língua dos anjos… Paulo não disse que podia ou poderia falar tal língua, mas disse que mesmo que a falasse, sem amor, de nada valeria. Portanto, não é dado aos homens falar como os anjos; por isso, esse “consenso” entre os carismáticos ou não cessacionistas é uma deturpação do real sentido ao que o apóstolo quis dizer.
Além do quê, a partir dessa suposta espiritualidade, muitas outras bizarrices e deturpações foram criadas nas igrejas, aumentando ainda mais o escândalo ao Evangelho; frutos claros de mentes carnais que se dizem espirituais; são guias cegos guiando outros cegos.
Grande abraço!
Cristo o abençoe!"

Helveciop disse...

O caro irmão Jorge e irmão Vanderson, é patente que irei discordar de ambos em suas colocações, mas não por discordar apenas, pois isso não edifica nem a nós nem a quem porventura ler esse nosso diálogo.
Duas coisas separadas: uma, a primeira, vocês repetem uma afirmação fechada e conveniente a certa altura da história da igreja protestante. Vocês de fato, não examinaram por si mesmo essa questão e dese modo podem repetir isso coerentemente por tempo: indefinido; segunda: terão que negar o fato de alguém falar em línguas e profetizar e claro citar todos os textos referentes ao assunto. Não faz diferença para a salvação se se crê, se se fala ou não em línguas ( aliás não é um dom único e aparentemente dado a todos os crentes da igreja ) mas terão que desqualificar todas as igrejas e portanto todos os crentes, das igrejas nascidas e fundadas após as igrejas históricas e tradicionais.

continua...

Helveciop disse...

Continuando...

Posto isso a parte da igreja, que a certa altura da história, pregou e afirmou a Bíblia como Palavra de Deus e a Salvação pela Graça unicamente, a qual hoje produz o maior número de apóstatas na igreja protestante ( por seus descendentes históricos não possuírem o mesmo fervor e fé bíblicos e não serem nascidos de novo ) é que deve ser tomada como o único modelo de fé e de prática, ou essa fé protestante continuou redescobrindo as verdades bíblicas dos tempos bíblicos e aprendeu a colocá-los em prática hoje. De fato não seria nem uma nem outra o modelo a ser imitado, mas a mais plena e total aplicabilidade da fé e sobrenaturalidade da obra da igreja primitiva. Obrigatóriamente se forem sinceros ( e sei que são sedentos das coisas de Deus ) terão que fazer uma opção. Reconheço que não é fácil, embora a décadas não seja nenhuma novidade. Aliás no Brasil a 100 nos, com a criação das Assembléias de Deus, por dois batistas suécos.

P.S: publiquei em meu blog algo sob John Piper, sem julgamento, apenas como registro.

De uma forma ou de outra, um abraço imenso aos irmãos.

Anônimo disse...

Irmão Helvecio, acho que você não leu o meu texto. Em momento algum eu apelei à história da Igreja para fundamentar a minha posição. Tão-somente recorri à Bíblia Sagrada para alicerçar a minha argumentação.

Sds cristãs!

Vanderson M. da Silva.

Helveciop disse...

Prezado irmão, li o seu texto com atenção, e não citei a história da
igreja recente para simplesmente confrontá-lo, apenas inseri essa
informação. Mesmo porque não se trata de digamos, uma simples posição
teológica como em outras questões externas a individualidade cristã,
como o arrebatamento, como e quando ocorrerá e se ocorrerá. O Batismo
como segunda benção é ou não é fato, experiência real com Deus. Alguém
pode crer que ele de fato aconteça, e daí? E se ele não existir de
fato? Outro, pode igualmente nega-lo, e se for real e bíblico? Apenas
mostrei, ou tentei, argumentar que a história mostra claramente os
resultados entre um tipo de igreja e outro. E contra os fatos não há
argumentos que os negue, no máximo que os tente explicar.

De um aforma ou de outra, parabéns por não ter ignorado e colocado a
questão, ainda que legítimamente manifestado a sua sincera opinião.

Nosso deus nos abençoe. Um abraço.

Roupas Femininas e Masculinas Angel disse...

2. Porquanto quem se expressa em uma língua estranha, não fala aos homens, mas a Deus. De fato, ninguém o compreende, pois em espírito fala mistérios.
13. Sendo assim, aquele que fala em uma língua, ore para que possa interpretá-la corretamente.
(1 Coríntios, 14)

Como diz em 1 corintios 14 :2 as linguas a qual o texto cita fala que a pessoa fala em espirito a Deus e não é se não qualquer linguagem audivel ou entendivel senão como o texto.diz "misterios", logicamente hoje a uma desordem nas igrejas ao expressarem este dom e por conta disso pessoas cultas , sabias e intelectuais do evangelho que por crescer tanto em conhecimento e negligenciarem vida diaria de oração e o crescimento espirtual acabaram que ficando com tanto repudio de tais situações ocasionadas pelo pouco conhecimento que estas igrejas tem do evangelho genuino ,que devido a estes que deturpam o evangelho e usam os dons de forma.erronea estes doutorados querem arrancar 1 corintios 14 da biblia e por meio de versiculos isolados e explicações muitas vezes que não se encaixa muito bem com todo o contexto , querem provar de todo jeito seja com o cessionismo ou seja com explicaçoes das muitas traduçoes das palavras utilizadas , usam explicaçoes de alto teor de intelectualismo que acaba até levando a muitos a incredulidade .

É necessario e primordial que fiquemos só com as escrituras e se fizermos isso verdadeiramente voltaremos ao evangelho.simples ao qual se acredita na.ressureiçao de.Cristo , sim na ressureiçao pois tais homens chegam tanto a um nivel intelectual que não. acreditam.mais.no.espiritual e sendo assim.se estivem entre os discipulos na.epoca que Ele ressucitou não acreditariam que aquilo era verdadeiro nem tocando nas marcar como Tomé tocou .

É logico não podemos acreditar em.bizarrices porem não devemos.se incredulos a ponto de acreditar que Deus na.sua soberania não possa realizar sinais ou dar dons ao homem ainda que seja simplesmente ou maravilhosamente para edificar a si proprio como é falado ao.se tratar deste.dom.

Ao invés de ficarmos debatendo , apontando , tentanto provar a todo tempo com unhad e.dentes o que no.fundo não tem.certeza porque não orar por.almas , porque não chorar.dia.e.noite por um avivamento não como estes que.vemos.de movimentos.mais.sim.de.arrependimento , confissão de.pecado , humilhaçao perante.Deus , ao começar.orando.pelos que estão dentro.da igreja para que.voltem ao evangelho simples , para que voltem.aos pés. do Senhor , para que voltem a.ser.acrescentados.salvos ao.Reino.de.Deus....é isso a igreja precisa Arrependei vos e.crede no evangelho !