"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

12 setembro 2010

O Filho do homem, por que?







Por Helvécio S. Pereira*

Que a Bíblia seja repleta de declarações e revelações únicas é um fato. Que muitas são controversas ou até incomprensíveis até o presente momento, também constituem em mais um fato facilmente observável e constatável. Entretanto há, por várias razões e conveniências, uma preferência por algum texto, declaração e revelação, em detrimento franco de outros. Esse também é outro fato.
Muitas vezes nos debruçamos sobre algum tema, não por ser primordial naquele momento, mas por simples gosto, ignorando decididamente elementos e coisas que no nível individual e pessoal se fazem claramente mais importantes. Não é ilegítimo e nem tão  pouco errado, trata-se de fato de uma exercício as vezes aleatório. Essa é uma abordagem, digamos fascinante, como todas as feitas em cima do que as Escrituras revelam, mas que não podem servir de complicador ou de tropeço a caminhada e ao conhecimento pessoal do Senhor, e de Seus perfeitos propósitos. O que não quer dizer que seja desprezável, antes pelo contrário.
Uma expressão encontrada casualmente nos Evangelhos, pode ser usada no dia a dia, por simples gosto ou simpatia por parte de alguns crentes, sendo dai para frente de uso corrente no exercício da sua teologia popular, ou ainda que seja, uma teologia leiga:  a expressão "Filho do Homem". Normalmente por descrição mais objetiva e clara, e Sua divindade, referimo-nos mais comumente a Jesus como "Filho de Deus", por Sua particular e única forma de existência. O dogma máximo do cristianismo e que não pode ser movido, é sem dúvida alguma  "Jesus Cristo é Deus e Filho de Deus". Qualquer igreja ou denominação cristã, independente de seu tamanho e poder institucional, organização, etc, que mover e modificar essa declaração, jaz em terreno movediço e de franca negação do que as Escrituras claramente declaram na sua unidade doutrinária. 
Em um bom compêndio teológico, a simples bibliografia de referência, em que o autor se baseia, ultrapassa uma página inicial do capítulo. Se desejar repisar os passos do autor terá de adquirir, fazer o mesmo estudo e chegar as mesmas ou outras variantes, da mesma conclusão. Tentarei portanto, com as minhas palavras, fugindo do termos teológicos que transforma qualquer abordagem em um gueto, em que contempla somente os que tem prazer e podem usar tais termos, excluindo desse modo da compreensão  os demais leitores, o que pretendo ainda que primariamente evitar.
Direta ou indiretamente, a expressão "Filho do Homem" leva-nos a lembrar da humanidade de Cristo. Para a maioria dos Cristãos, Cristo não era um fantasma, não era uma ilusão, não era um sobrehumano, mas inteiramente e perfeitamente humano. Ninguém imagina o Jesus  da ascensão subindo aos céus pelo fato de ser uma miragem, uma névoa, mas um corpo sólido, com massa de um corpo humano, com imagináveis  bem menos que oitenta quilos. Não era  um Jesus com obesidade mórbida e nem tão pouco um faquir. Era normal, perfeitamente normal com um corpo adequado a todas as funções normais e portanto passíveis de serem plenamente executadas por um corpo funcional.
Vale ter uma relativa atenção ao fato que  a expressão "Filho do homem" foi usada preferencialmente pelo próprio Senhor Jesus e não por outra pessoa. Ninguém mais o usou referente ao Senhor. A igreja primitiva não usou esse título com relação a Jesus Cristo, nosso Salvador. Guarde essas três coisas, esses três detalhes. Uma excessão foi por ocasião do suplício de Estevão ( Atos 7:56). Na boca do próprio Senhor, nos registros dos quatro evangelhos, são mais de sessenta e cinco vezes. Pode-se e deve-se rever cada uma dessas vezes com o uso de uma chave bíblica e recorrendo a traduções diferentes das Escrituras ( daí a diferença de uma para outra dos números ).
Como já repeti ( eu não estou reiventado  presunçosamente a roda ) a expressão tem a ver com a humanidade de Jesus. Refere-se, segundo a abordagens mais antigas à humanidade de Jesus e a Sua identidade com  os homens. Tem, entretanto um problema, ignora o uso e contexto histórico da expressão nos dias de Jesus ou antes. Então há mais do que simplesmente estilo literário ou de  fala empregada.
Os motivos são, portanto, segundo estudiosos, óbvios:
                                     
Tal título não existia em aramaico, língua corrente à época e materna de Jesus.
 Por razões linguísticas o termo é intolerável, considerado como vocábulo impossível. 

A forma plural, "filhos dos homens"  entretanto aparece em Marcos 3:28. Estudiosos concluem em parte que Filho do Homem pode ser uma título messiânico. Há outras objeções linguísticas de menor importância se fossem verdadeiras, como a simples substituição da primeira pessoa  ( eu ) pela expressão "Filho do Homem", algo sem tradição e no costume do uso na língua usada pelos  judeus contemporâneos de Jesus. Trataria, de no mínimo, uma expressão invulgar.
Se não é comum no Novo Testamento, é amplamente usada no Antigo Testamento, a expressão "filho do homem" ( Daniel 7:13 e 14, Daniel 7:21 a 27 ). Mas sem pressa, estudiosos eruditos, a teologia acadêmica, não fecham o assunto com base nesses únicos textos.
O debate é longo e as leituras tem de ser obrigatoriamente refeitas não uma, duas, mas várias vezes, e sem contudo garantia absoluta de uma conclusão satisfatória e cem por cento segura, teologicamente falando. Entretanto gostaria de ressaltar algo bastante pertinente: a certa altura, Jesus contrasta o seu ministério ( serviço, obra ) com a de João Batista que, dentro dos propósitos divinos o antecedia.
Jesus contrastou sua própria conduta com a de João Batista. de que modo? Em que ponto exatamente?João veio como um asceta; Jesus, por outro lado, como o Filho do Homem, veio como um ser humano normal, comendo e bebendo (  Mateus 11:19 e Lucas 7:34 ). Em, Marcos 2:27 e 28 fica mais clara  a  possível reivindicação de Jesus ao usar a expressão "Filho do Homem" como um título somente atribuído e legitimamente a Si próprio:  "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. Pelo que o Filho do Homem (Jesus) até do sábado é Senhor." O Filho do Homem é portanto alguém com autoridade distinta dos demais homens, embora todos os demais homens sejam mais importantes que o sábado.
Em outra ocasião fica claro o contraste entre a autoridade e a condição de humilhação em que Jesus é exposto todos os dias do exercício de Seu ministério junto a nós, seres humanos. Em Mateus 8:20 e Lucas 9:58, encontramos:
"As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça."
Filho do Homem é portanto claramente um título que reflete uma missão, e o sue uso pelo próprio Senhor, tem caráter revelador de Seu ministério, tanto em poder como em extensão, alcance. Em Lucas 19:10 encontramos:
"Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido". Tal novidade, de fato o era para os seus interlocutores judeus, conhecedores  da visão de Daniel, os deixavam perplexos pois entendiam que aquele Jesus era pré-existente, um ser celestial, reivindicando uma deidade de Cristo. O fato do Filho do Homem pré-existente,  aparecer sobre a terra como homem entre os homens, em humildade e limitação e ao mesmo tempo ser homem celestial e pré-existente os chocava grandemente e demandava uma posição: crer ou não nesse fato e obviamente nas Suas declarações.
Vale ressaltar que a idéia de um "Filho do Homem" em glória era, não somente aceita e familiar, como desejável e esperada pelos judeus contemporâneos de Jesus. A grande "novidade", poderíamos dizer, era o fato de o "Filho do Homem" Jesus, ter que padecer e sofrer, submetendo-se a esse sofrimento e provação. Em Mateus 26:64  encontramos a predição da exaltação final do Filho do Homem:
"Vereis  o Filho do Homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu". Uma conclusão é que longe de inócua ou apenas expressiva como linguagem a expressão "Filho do Homem" 
revela a dignidade como Salvador (Messias) e sua função como Salvador, o que Ele, Jesus, deveria passar para efetuar essa salvação. Os discípulos, vale lembrar, já criam -No como Messias, mas a compreensão de como isso se daria era ainda distante.

Os ensinos de Jesus, nosso Senhor e Salvador, a respeito do Filho do Homem estão intrícicamente ligados aos ensinos do Reino de Deus. O Reino de Deus manifestou-se entre os homens de um modo inesperado. Jesus o futuro Filho do Homem glorificado, foi enviado, digamos incógnito, ente os homens, contra as mais humanas expectativas. A expressão Filho do Homem, empregada pelo próprio Senhor Jesus, quando corretamente equacionada, dá-nos a fiel descrição de Jesus como o Messias, um ser celestial e humano, nem mais um nem mais outro, com as duas características inegáveis ao Seu  messianato. 

*Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originalmente em O Pregador

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