"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

16 setembro 2010

Escatologia Individual


Por Paulo Brasil *


A MORTE

A Escatologia individual considera aquilo que é dado como certo na existência das pessoas. Logo, o primeiro ponto a ser considerado é a morte. O adágio popular leva o homem a saber que "da morte ninguém escapa". Mesmo que a experiência objetiva da morte não seja estendida a todos, conforme às Escrituras, podemos afirmar que em regra geral todos se depararão com ela. 
Compreendê-la, pois, é de vital importância dentro do propósito da Escatologia individual. Devemos, primeiramente, identificá-la, quanto possível por sua dimensão: 
(1) a dimensão física ou natural que todos podem observá-la; 
(2) a dimensão espiritual onde, pela Revelação e a experiência dos santos na regeneração, pode-se  efetivamente compreendê-la.
O texto de 1 Tm 5:6:
 “entretanto, a que se entrega aos prazeres, mesmo viva, está morta.”
oferece o ensino de morte e vida em uma mesma pessoa. O contexto mostra que pessoas que vivem desordenadamente, à parte da santidade exigida por Deus estão vivas sob determinado aspecto, mas mortas sob outro. Necessário é definir sob qual aspecto há vida, e sob qual há morte. Recorreremos ao livro de Gênesis para caminhar em direção a compreensão do texto supra. A seguir a advertência divina feita a Adão (Gn 2.17): 
"mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás". 
Há eventos que ocorreram que permitirão concluirmos: 

(1) Adão foi expulso do do Jardim, conforme Gn 3:24: 
"E havendo lançado fora o homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma espada flamejante que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida".
Depreende-se que a partir desse momento o homem ficou privado da árvore da vida, uma dimensão da morte aqui nos é revelada. 

(2) Lemos ainda em Gn 5:5: 
"Todos os dias que Adão viveu foram novecentos e trinta anos; e morreu."
O contraste entre os termos "viveu e morreu", oferece-nos com clareza que a morte de Adão ocorreu conforme observamos em todos os nascidos. 
Ao primeiro evento, atribuímos o nome de morte espiritual, pois ocorreu quando da quebra da unidade entre o Autor da vida e o homem. Morte que Adão experimentou imediatamente após sua transgressão, o que, por sua vez, nos obriga afirmar a existência da vida em sua dimensão espiritual.
Ao segundo, chamamos de morte natural ou física, ocorre quando quebra da unidade constitucional do homem, a saber, parte material e parte imaterial da criatura. Morte essa que Adão experimentou mediatamente após novecentos e trinta anos de vida, o que nos obriga afirmar a dimensão da vida física ou natural. Em relação à morte natural, 
Salomão retratou-a no livro de Eclesiastes, com a visível separação do corpo (pó, referenciando-se à origem do corpo) e do espírito. 

“e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. (Ec 12:7)

Nossa existência é uma herança passada de geração a geração desde de Adão, portanto herdamos de nossos pais as duas dimensões da existência - natural e espiritual. Nascemos, estamos vivos na dimensão natural, mas mortos, na dimensão espiritual, o que está de acordo com o texto inicial, e ainda com: 
"Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente".(1Co 2:14) 
Assim, a morte espiritual é evidenciada pela rejeição das verdades bíblicas, em virtude da incapacidade natural do homem em discerni-las. Logo mesmo viva (natural) está morta espiritual. Esta condição é também conhecida como Depravação Total. Sendo comum a todos descendentes de Adão, conforme Rm 5:18, que diz: 
"Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida." 
Observe o contraste entre "juízo para condenação" e "graça para justificação e vida".  Podemos concluir que a morte espiritual é ausência de relacionamento com Deus, que toda a humanidade herda por natureza. 
O restabelecimento da vida é feito por um ato exclusivo, livre e soberano de Deus que é a Regeneração (União com Cristo), que como consequência produzirá a fé.  
Portanto, vida e morte NÃO devem ser entendidas como EXISTÊNCIA e NÃO-EXISTÊNCIA, mas sim, como união ou separação de Deus, ambas com existência, ou seja, com consciência. A vida é a existência em unidade com Deus, portanto morte é a existência separada de Deus. Compartilha desta posição Erickson :  
“A morte e a vida, de acordo com as Escrituras, não devem ser entendidos como existência e não-existência, mas como dois estados de existência; não é como costumamos imaginar, extinção.”[1]
O ESTADO INTERMEDIÁRIO
Este tópico trata do intervalo de tempo entre a morte física e a ressurreição, à guisa da Revelação.
temos dificuldades nesta doutrina, a primeira é a escassez de material escriturístico para sua plena sistematização. A segunda, é a perspectiva da Teologia Liberal que influenciou todas as gerações a partir da segunda metade do século XIX, que apontava contrariamente à ressurreição física, contudo afirmava  a imortalidade da alma. Doutro lado a Neo-ortodoxia veio com um conceito de ressurreição necessária, que apregoava que a existência humana exige corporalidade, o que implicava na não existência da alma separada do corpo. 


O Liberalismo, com sua NÃO RESSURREIÇÃO, e a Neo-ortodoxia com a IMPOSSIBILIDADE DA EXISTÊNCIA REAL FORA DO CORPO são os dois falsos conceitos que contribuem negativamente para a aceitação desta doutrina.
Devemos tomar como ponto de partida uma verdade das Escrituras: Há um estado intermediário e que ele é inadequado ou transitório, mas real. Pois o apóstolo expectava por um revestimento, onde é clara a alusão ao corpo ressurrecto. 
"E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial; ..[..]..  , para que o mortal seja absorvido pela vida". (2 Co 5:2-4)
Na ressurreição dar-se-á este revestimento (1 Co 15), quando receberemos um corpo aperfeiçoado, eterno. A existência deste estado é claramente mostrada no Evangelho de Lucas 16.22-24.


"Aconteceu morrer o mendigo ..[..].. morreu também o rico e foi sepultado ..[..]... estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama".

Vemos que ambos, Abraão, o rico e Lázaro, passaram pela morte, porém se encontram em situações totalmente diferentes. O rico demonstra consciência mesmo pós a morte: Reconhece Abraão, expressa seu tormento, suplica por algo que amenizasse sua dor e sabe quem é Lázaro e de que ele seria capaz de fazer. Esta passagem permite afirmar da existência de vida consciente após a morte. Podemos inferir que a condição do rico, pelo menos, era de desencarnado.
"..[..].. morreu também o rico e foi sepultado".(v. 22)
Concluímos que o estado Intermediário, ou seja o intervalo de tempo entre a morte e a ressurreição é caracterizada por vida consciente. E pessoas que neste estado se encontram gozam do consolo e a expectação da ressurreição, enquanto outros se encontram em tormentos. Erickson diz :
"Entre a morte e a ressurreição, há um estado intermediário em que crentes e incrédulos experimentam, respectivamente a presença e a ausência de Deus." [2]
[1] M. ERICKSON, Introdução à Teologia Sistemática, p. 484.
[2] M. ERICKSON, Introdução à Teologia Sistemática, p. 493.


Nota: * Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível em Através das Escrituras

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