No final do ano passado participei de algumas bancas de defesa na universidade onde trabalho. Pude julgar pesquisas levadas a cabo, estruturadas em forma de monografias meticulosamente elaboradas.
Tudo teria ocorrido normalmente não fosse por um comentário que ouvi acidentalmente de uma aluna no final de uma defesa. Ao se dirigir a outra pessoa ela disse: “o professor Alfredo precisa de terapia.”
Em circunstâncias diferentes isso teria me encafifado, pondo sob profunda reflexão a minha atuação como pesquisador, docente e membro das várias bancas. Mas o comentário cheio de ironia foi mais que um elogio, foi uma lisonja, pois a referida aluna se baseou na minha postura contrária ao marxismo e seus desdobramentos.
Meus comentários como membro das bancas de defesa insistiram nessa postura crítica contrária a toda metodologia ou cosmovisão esquerdista. Na oportunidade reafirmei minha total discordância relacionada ao marxismo e seu estilo ultrapassado e panfletário que, como método, não consegue dar conta dos fenômenos sociais mais específicos, fazendo-o ficar anos-luz das análises mais sofisticadas (vale ressaltar que até mesmo o estruturalismo binário de Lévi-Strauss ou a lingüística de Saussure não me são simpáticas).
Paralelo às pesadas criticas contra o marxismo, apresentei como sugestão aos formandos as várias teorias culturalistas que, a meu ver, são as melhores opções que temos na atualidade para a compreensão de certos fenômenos humanos, seus conflitos e suas adaptações.
Minha militância (ou loucura) anti-esquerdista já se tornou conhecida na universidade, suscitando admiração por parte de alguns e ódio da parte de outros.
Sempre que dou palestras, ministro aulas ou realizo orientação, busco persuadir ou até mesmo dissuadir os alunos para que se libertem da análise que se detém quase que unicamente sobre os modos de produção. Incentivo-os a mergulhar em aspectos mais específicos e peculiares ao cotidiano.
Nessa empreitada, utilizo até mesmo o bom humor. Em minha sala, por exemplo, há dois pôsteres engraçados: o primeiro traz o ator Ramón Valdés (Seu Madruga da “Turma do Chaves”) estilizado de Che Guevara; o segundo pôster traz a figura de um asno ao estilo “looney toones” onde se pode ler: “looney left, it’s all folks”. O mais surpreendente é que a maioria não percebe a zombaria carregada de sarcasmo e humor.
É por causa disso que fui chamado de alguém que precisa de terapia. E se a necessidade de terapia significa loucura, logo sou o maior mentecapto da universidade, e faço questão de ser reconhecido assim. Quero ser visto como louco que rejeita as teorias, as éticas, as morais, as estéticas e as políticas oriundas da esquerda (o uso do plural é de proposito).
E por que sou assim? Sou assim porque sou um cristão reformado, ora bolas! Devo ser coerente com o que professo! Como cristão quero combater os horrendos pecados promovidos pelo esquerdismo moral, ético, estético e político. Afinal de contas, ser cristão reformado hoje em dia é ser viril teologicamente, corajoso epistemologicamente, é ser lúcido holisticamente. O meu compromisso com as Sagradas Escrituras faz de mim um tresloucado para o mundo, e não há Freud nesse mesmo mundo que possa “curar” esse estado de espírito incondicionalmente compromissado com o Evangelho.
A alegria que tenho está em frustrar a minha aluna crítica (sim, ela é minha aluna no curso que coordeno), pois não há remédio capaz de “curar” esse devaneio que mantém a minha voz contra la belle théorie tão bajulada desde o início do século XX.
Para falar a verdade, sou louco porque sou lúcido!
Sola Scriptura
* Nota - Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originalmente em Alfredo de Souza
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