"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"
04 julho 2008
TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
Por Celso Sousa*
I. INTRODUÇÃO
No início do século XX, a partir das grandes guerras que assolaram as grandes potências, surge no cenário internacional respostas ao fracasso da razão e a crise do sistema religioso.
Em busca dessas respostas, houve um acentuado aumento da especulação no sistema teológico, tais como as teologias 'do Processo', 'da Esperança', 'da Morte de Deus', 'da Libertação”, dentre outras.
O surgimento de fragmentos teológicos sem controle, gerou diversidade no foco, objetivo e propósito da exposição da Palavra de Deus. Tais focos não são mais os mesmos que a história do cristianismo ou a teologia bíblica propôs ao longo da sua trajetória: Deus, o mundo imaterial, eternidade, Cristo, salvação. Agora, isso não é mais o cerne da mensagem cristã e sim os desejos e vontades humanas, aquilo que é palpável. A satisfação espiritual e eterna de um relacionamento com Deus foi trocada pelo aqui e o agora. Deus que era o centro passou a ser a periferia. O homem que era periferia para si mesmo passou a ser o centro.
Toda forma de doutrina estranha, não leva em conta os fundamentos lançados pelos seus fundadores.
Pretendemos analisar e contrapor os ensinos da mensagem pregada pelo Apóstolo Paulo, especialmente em Atos 17:15-31, com os ensinos da teologia da Prosperidade. Para tanto, buscaremos as bases históricas dessas teologias.
Queremos por meio de uma hermenêutica sadia analisar, à luz da Bíblia, os principais argumentos.
O autor tem como princípio de análise não a parcialidade, mas o envolvimento espiritual e intelectual, visando lançar luz sobre o assunto proposto.
II. TEOLOGIA PREGADA POR PAULO X TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
Teologia da Mensagem Paulina
1) Público Alvo: Filósofos estóicos e epicureus - gentios.(18)
2) Base Teológica: Cristo Ressurreto.(31)
3) Como Deus é visto: Criador, sustentador, soberano.(24-25)
4) Deus em Si: Auto-suficiente.(25)
5) Alvo da mensagem: A necessidade humana da salvação divina.(30-31)
6) Necessidade humana: Vida espiritual.(30)
7) Essência da mensagem: Teocêntrica.(24-31)
8) Atitude Necessária: Arrependimento.(30)
9) O homem: Servo.
Teologia da Mensagem da Prosperidade
1) Público Alvo: Pessoas necessitadas, carentes em diversas áreas - 'Os excluídos'.
2) Base Teológica: Os filhos de Deus devem ser prósperos.
3) Como Deus é visto: Negociador
4) Deus em Si: Servo dos desejos humanos.
5) Alvo da mensagem: Desejos e caprichos humanos.
6) Necessidade humana: Vida material.
7) Essência da mensagem: Antropocêntrica.
8) Aitutde Necessária: '...tomar posse...'.
9) O homem: Sócio.
III. PÚBLICO ALVO DA TEOLOGIA PREGADA POR PAULO EM ATENAS - ATOS 17:15-31
O apóstolo Paulo era um homem de grande eloqüência, e detentor de grande conhecimento em sua época. Estudou com o Mestre Gamaliel, um dos mais respeitados de sua época.
Após uma experiência no caminho de Damasco, ele afirma ter visto o Cristo ressurreto. E que daquele momento em diante seria o portador de Sua mensagem, que afirma ele, recebeu do próprio Senhor Jesus Cristo.
Paulo, denominado apóstolo de Cristo, passou a ser um pregador itinerante, pregando o Cristo ressuscitado e a necessidade humana desse Cristo. Ele enfatiza o ministério, morte, ressurreição e ascensão desse Cristo.
Em atos 17:15-31, Paulo tem como ouvinte os gentios, principalmente, os filósofos epicureus e estóicos.
Os epicureus não estavam interessados com as questões metafísicas e sim em a matéria em movimento: o átomo. Seu fundador, Epicuro (300 a.c), foi quem criou o sistema religioso: o deísmo. Doutrina essa que afirma que Deus criou tudo, mas que não interfere na nossa realidade. Deus 'deu a corda no relógio', este não precisa mais do relojoeiro. Essa escola filosófica tem como base o prazer intelectual, a “gnôsis”. Sendo portando esses filósofos contrários ao ensino da teologia pregada pelo apostolo Paulo.
Os estóicos, por sua vez, tem como fundador Zenão. Dentro da realidade imaterial, metafísica, os estóicos acreditavam no determinismo dos eventos históricos. O homem só é realmente livre para aceitar o seu destino. Tem como sistema de pensamento o Panteísmo: Deus está em tudo e tudo é Deus. 'O mundo é o corpo de Deus e Deus é a alma do mundo'.¹
Sendo esse povo gentio, mais especificamente de Atenas, o apostolo Paulo direciona a mensagem do evangelho a um público que tinha como anseio o conhecimento puro e simples. O modo de pensar e os costumes eram obstáculos que precisavam ser transpostos sem deixar de lado a mensagem do Cristo Ressurreto, que era escândalo e loucura para seus ouvintes.
¹ R.N.Champlin.Teologia e Filosofia.Agnos.Vol. 2. pág.448.
IV. PÚBLICO ALVO DA MENSAGEM DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NA CONTEMPORANEIDADE
Com o fracasso do racionalismo e a crise do sistema capitalista no tocante a resolver os problemas econômicos, sociais, existenciais e de identidade do ser humano, a volta à religião tornou-se uma constante.
Pesquisas feitas nos Estados Unidos mostram que existem duas vertentes históricas para o crescimento da teologia da prosperidade: O pentecostalismo e as seitas metafísicas.
Embora o pentecostalismo não seja o que gerou tal doutrina mas, serviu de refúgio durante muitos anos. Dentro dessa vertente cristã, a grande abertura para visões e revelações longe da Palavra já revelada na Bíblia, dá suporte à nova doutrina, cujos fundadores alegam ter recebido do próprio Cristo.
As seitas metafísicas que influenciaram a teologia da prosperidade, enfatizam a “confissão positiva”. Hoje não conhecemos essas seitas como antes, mas um modelo visível delas hoje é os ensinos da Nova Era (McConell, 1988).
Segundo a teologia da prosperidade, é inconcebível que os 'filhos do Rei' vivam na pobreza ou que sofram de algum mal físico. Esse argumento revela uma influência das seitas que pregam que o espírito domina sobre o corpo, logo, se somos filhos, nosso espírito precisa se portar de modo que nada de mal ocorra com o corpo.
Veja o que o marketing da teologia da prosperidade enfatiza:
Desemprego, caminhos fechados, dificuldades financeiras, depressão, vontade de suicidar, solidão, casamento destruído, desunião na família, vícios (cocaína, crack, álcool, etc.), doenças incuráveis (câncer, aids, etc.), dores constantes (de cabeça, coluna e pernas), insônia, desejos homossexuais, perturbações espirituais (você vê vultos, ouve vozes, tem pesadelos, foi vítima de bruxaria, macumba, inveja, olha grande), má sorte no amor, desânimo total, obesidade, etc. ... Nós! Sim, temos a solução para você! (Ultimato de 93,14).
Portanto, essa teologia surge como um auxílio aos pobres, necessitados e excluídos, que por estarem à margem da sociedade, precisam de uma mensagem que resgate seu senso de valor. Além disso, tem um forte apelo às necessidades vitais e anseios do homem. Talvez esteja aí a resposta para tanta popularidade.
V. BASES E ENSINO BÍBLICO DA TEOLOGIA PREGADA POR PAULO EM ATENAS - ATOS 17:15-31
Paulo, denominado apóstolo aos gentios, tinha a possibilidade e a competência de transformar seus ensinos em pura filosofia diante dos filósofos atenienses. No entanto, ele não teve essa pretensão diante de seus contemporâneos. Por mais que a vontade do povo grego fosse ouvir mais um pouco sobre filosofia, Paulo resolve pregar simplesmente a mensagem Cristã: Cristo ressuscitado e glorificado. Ao optar por esse viés ele não despreza os seus ouvintes e nem enfraquece o seu discurso, mas lança mão da cultura da época para explica-lhes o Caminho.
Apresentando Deus como Senhor sobre todas as coisas, e o Deus que criou tudo que existe, o apóstolo expõe que esse mesmo Deus se importa com a criação e foi por isso que Ele enviou um varão que morreu e ressuscitou dentre os mortos (teísmo x deísmo). Isso para os epicureus e estóicos era quase que inconcebível, pois, como um Deus pode se importar com a criação?
Vemos que a mensagem pregada em Atos 17:15-31, não perde a sua essência, mas que com sua simplicidade alcança novos solos e culturas, levando a necessidade vital à vida: o arrependimento. Olhando por esse prisma Deus e somente Ele se torna Senhor e o homem servo. Esse era o interesse de Paulo, mostrar que sem arrependimento e o reconhecimento de uma instância superior, eles, os gregos, ficariam nas trevas da idolatria.
E importante ressaltar que a mensagem pregada não é um sincretismo religioso, ou um discurso aos desejos humanos, mas às suas necessidades.
O apóstolo lança mão da cultura da Grécia para expor o Cristo puro e simples, não vacilando em colocar Deus como o centro da sua mensagem, sendo Ele mesmo o Auto-suficiente e soberano sobre tudo e todos.
VI. BASES E ENSINOS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
Ao contrario de alguns outros sistemas que prometem muito aos seus associados, mas, exigem um alto preço e renúncia de algumas coisas, ou até mesmo de sua própria vida (marxismo), a teologia da prosperidade é um apelo à ascensão fácil e rápida para quem quer ser alguma coisa no “mundo do ter”. Basta apenas que o seu 'associado' seja fiel e que suas doações sejam generosas na hora de colocar a mão no bolso. Como vimos acima (o caráter de seu publico alvo), não fica difícil saber o porquê de tamanho progresso desta doutrina.
A teologia da prosperidade tem um eixo que queremos analisar aqui. Trata-se de um tripé que consegue ser visível na contemporaneidade, e que foi fundamental para alcançar as mentes e os desejos do homem pós-moderno.
O primeiro eixo é a autoridade espiritual da mensagem. Para Hagin (um dos fundadores do movimento nos Estados Unidos, na sua forma embrionária), ele recebeu do Senhor varias revelações, chegando mesmo a ir ao céu e ao inferno por várias vezes. Em uma delas, o próprio Cristo revelou-lhe o segredo da fé contido em Marcos 11:23,24:
'(...) A essência dessa revelação era que, para obter resultados da parte de Deus, o fiel deve confessar em voz alta seus pedidos e nunca duvidar de que tenham sido respondidos, mesmo que as evidencias físicas não indiquem que a oração não tenha sido respondida. Uma vez feita à oração, o fiel deve afirmar constantemente a resposta, até que surja a prova (...)'
A autoridade espiritual, na teologia da prosperidade, fica centralizada entre 'os esclarecidos', enquanto a maioria da massa apenas ouve o líder cegamente. Sua autoridade não pode ser colocada em suspeita ou ser questionada, pois seria o mesmo que questionar a Deus.
Em segundo lugar, essa forma de 'evangelho' enfatiza em demasia as promessas de saúde e riqueza. Afirmam que 'se somos filhos, devemos ser prósperos'. Nessa forma de coerção dos desejos humanos, o homem precisa exigir seu direito de filho, porque o direito faz parte da promessa. Logo, Deus passa a ser escravo dos desejos humanos.
Ainda é proposta pela teologia da prosperidade, uma forma de pacto com Deus. Ele fará prosperar os caminhos do homem para que esse glorifique-O. Deus é colocado apenas como um banqueiro que precisa subornar o homem para que este o glorifique. Essa forma de relação tira a auto-suficiência do EU SOU, e dá ao homem todo poder.
Como se pode perceber, a ênfase é o antropocentrismo. Os caprichos humanos são colocados em relevo sobre o Ser divino. Jeová é colocado como sócio e o homem como aquele que pode, por meio de pressão ou chantagem (oração, jejum etc.), barganhar, e tirar proveito do Criador.
Em terceiro lugar, essa teologia é baseada no método da confissão positiva. Segundo Barnett, a 'confissão positiva' pode ser dividida em três partes: conhecimento, fé e confissão propriamente dita.
É preciso conhecer os direitos que Deus deu ao homem. A Bíblia é um contrato que Deus assinou e tem de cumprir. Trato é trato. Os filhos só sofrem porque não conhecem os seus direitos para poder exigir de Deus. A fé é o elemento que faz com que as coisas aconteçam, sendo exercitada cada vez mais pelo desafio aos seus fiéis, para que contribua com grandes somas de bens materiais para a igreja.
O outro aspecto é a confissão do que se crê. Para os teólogos da prosperidade, com a firmeza com que se acredita, deve-se confessar para que aconteça. Fica implícito, nessa teologia de auto-ajuda, que é o pensamento que materializa as coisas, já que Deus se transforma em servo.
VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para o leitor atento, o pesquisador coerente, e o religioso fiel, ficou evidente, ao longo dessa pesquisa, que a Teologia da Prosperidade não passa de conceitos de “palhas”, como disse Lutero sobre os livros que não tinham nenhuma relevância teológica em sua época; podemos aplicar isso, atualmente, à teologia que retira o mérito de Deus e glorifica o homem (não como fato, mas como tentativa frustrada).
A teologia da prosperidade lança ao esquecimento a historia do cristianismo e o desenvolvimento da história da teologia. Além disso, parte da premissa de que a Bíblia é o manual em que aprendemos as promessas de Deus para assim pressioná-lO o quanto bem entendemos, a fim de realizar os nosso desejos.
Essa forma de fazer teologia tem simplesmente obscurecido as mentes e mutilado as almas que buscam uma solução efetiva para os seus problemas.
Ao contrario, a velha e boa mensagem do Evangelho de Cristo está sendo alardeada em alguns púlpitos nesse século XXI.
É inegável que a mensagem de Cristo, cujo fundamento é a Bíblia Sagrada e a tradição apostólica, é muito superior a Teologia da Prosperidade. Além disso, essa é permeada de engodos e desvios da Verdade. Enquanto aquela é e sempre será a verdadeira Esperança do homem caído.
* O autor é aluno da Faculdade Batista de Teologia em BH.
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