"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

01 julho 2008

QUEREM TIRAR A GLÓRIA DE CRISTO!

Por Martyn Lloyd-Jones

“Que são os israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém” – Romanos 9:4-5.

O famoso comentário escrito por Sanday e Headlam diz concretamente que provavelmente esta declaração tem sido mais discutida que qualquer outro versículo de todo o Novo Testamento. Por que há de ser assim? A controvérsia surgiu desta maneira: para começar, a dificuldade de alguns é com a expressão “sobre todos”, por isso vamos examiná-la primeiro. Que é que a palavra TODOS significa aqui? Literalmente significa tudo. Não devemos limitar o seu sentido a todas as pessoas, nem a um certo número de pessoas; significa sobre o céu e a terra, o mar, o inferno, tudo – sobre todas as coisas do universo inteiro e de todo o cosmos. Depois a questão é: a quem se refere? Quem “é sobre todos, Deus bendito eternamente”? Há aqueles que dizem que é o Senhor Jesus Cristo, enquanto outros sustentam que é Deus o Pai.
Pois bem, é importante examinar isso porque vivemos numa época em que se vendem muitas traduções diferentes da Bíblia, e as pessoas, em sua inocência, as compram, muitas vezes sem perceber o que estão fazendo. Assim, essa é uma das razões pelas quais eu chamo a atenção de vocês para isso e para que tratemos disso exaustivamente, para vermos o que essas traduções têm para dizer a respeito. Vivemos também numa época na qual há uma tendência marcante e notoriamente demoníaca para desacreditar a glória do Filho de Deus, privá-lO da Sua deidade singular, e reduzi-lO ao nível e à medida da humanidade. Essa tendência começou no fim do séc. XIX e avançou pelo século XX afora.
Além do que, estamos vivendo dias em que toda espécie e todos os tipos de “religiões” se propagam, vendedores pérfidos vindo à nossa porta para venderem os seus livros, parecendo crentes na Bíblia e aparentemente conhecendo as Escrituras.
Pois bem, a Versão Autorizada* diz: E de quem veio Cristo segundo a carne, que é sobre todos, Deus bendito para sempre. Amém”. Isso está bem claro, não está? Ela fala o tempo todo sobre o Senhor Jesus Cristo. Que dizer da Versão Revista (inglesa)? É igual, vejamos a Nova Bíblia Inglesa. Ela não descreve Cristo como DEUS BENDITO PARA SEMPRE. Não, aqui está essa tradução: “deles, por descendência natural, procedeu o Messias. Que Deus, supremo acima de todos, seja bendito para sempre!”. Vocês enxergam o que isso significa? Esse é o Pai – não o Filho. Aí está a diferença, e vocês podem ver por que estou chamando a sua atenção para isso. “A Nova Bíblia Inglesa” – as pessoas dizem – “magnífica, maravilhosa, todo o mundo pode entendê-la! Aí está o livro que se deve comprar, aí está a Bíblia que se deve ler, nenhuma das dificuldades que se têm na Versão Autorizada; aí a temos numa linguagem que podemos entender”. Exatamente! Essa é a isca, mas aí está o anzol – ocultando, ou melhor, privando o Filho de Deus deste título e desta glória.
Como isso tudo começou? As pessoas que realmente começaram isso foram os tradutores da Versão Revista (RV); foram eles os primeiros a introduzir isso nesta questão de traduções. Originariamente começou, é claro, com o movimento da “alta crítica”* na teologia da Alemanha desde 1840, aproximadamente, porém apareceu em traduções, aberta e popularmente, primeiro com a publicação da Versão Revista. Isso porque, embora a Versão Revista traduza no texto a frase corretamente, também inclui notas de rodapé – “traduções alternativas” – e foi ali que toda essa questão começou. Ela oferece três traduções alternativas:
1) “e de quem Cristo veio segundo a carne. Ele, que é Deus sobre todos, seja bendito para sempre”.
2) “e de quem Cristo veio segundo a carne. Ele, que é sobre todos, é Deus bendito para sempre”.
3) “de quem Cristo veio concernente à carne, o qual é sobre todos. Deus seja bendito para sempre”.
Noutras palavras, nesta terceira tradução os tradutores concedem que Cristo é sobre todos, mas depois colocam ponto final, seguido da frase “Deus seja bendito para sempre”.
Assim, em cada uma das três possibilidades, vocês podem notar, essa condição de “bendito” é atribuída, como doxologia, a Deus o Pai e é abstraída de Deus o Filho.
E então, que dizer da Versão Revista Padrão (RSV) da América, que desde o fim da segunda guerra mundial tem sido muito popular e tem sido vendida tão amplamente? Eis como ela traduz a referida frase: “e da raça deles, segundo a carne, é o Cristo. Deus, que é sobre todos, seja bendito para sempre”. É de novo a mesma coisa, e também assim é na tradução de Moffat.
Há ainda outra tradução, e lamento ter que apresentá-la, mas sou constrangido a fazê-lo. O mestre prudente deve advertir as pessoas contra erros, e contra perigos e heresias. As Escrituras são claras sobre isso, e o pastor que não protege o seu rebanho e não procura os interesses do seu rebanho nem procura adverti-lo dos perigos é um mercenário, e não merece o nome de pastor.
E, pois, meu dever chamar a atenção para isso. No último estudo referi-me ao Dr. William Barclay, professor na Universidade de Glasgow, e novamente o menciono porque muitos evangélicos o consideram confiável. O Dr. Barclay é um especialista em lingüística, e é muito bom quanto ao sentido das palavras. Mas você pode ser muito bom quanto ao sentido das palavras, e ainda assim descaracterizar a verdade. Há diferença entre perito em lingüística e um bom teólogo. Há muitos que são muito bons sobre a mecânica das Escrituras e que não entendem o seu ensino, e o prof. Barclay é adepto declarado da “Alta Crítica” das Escrituras. Ele não crê na doutrina da expiação como os evangélicos crêem: ele é universalista e diz que todos serão salvos. E em seu comentário sobre a Epístola aos Romanos ele traduz esta passagem nestes termos: “e deles, em Seu lado humano, veio o ungido de Deus. Bendito para sempre seja o Deus que é sobre todos. Amém” Ele deixa a questão aí; contudo o seu significado é claro e evidente.
Outra tradução, a do ex-prof. do Novo Testamento em Oxford e Cambridge, C. H. Dodd, autor de um comentário sobre Romanos, com alto índice de venda popular. Como ele a traduz? “Deles é o Deus que é acima de todos bendito para sempre”. Essa tradução liquida com o nosso Senhor, vocês vêem! Ele forma da frase uma nova sentença, mantendo também essa mesma idéia. Mas ele tenta dar uma explicação do motivo pelo qual o apóstolo introduziu de repente esta doxologia, esta atribuição de louvor a Deus e desta proclamação dEle como bendito: “Movido pela idéia do imensurável favor de Deus para com o Seu povo, Paulo irrompe numa ação de louvor votado a Ele”. Portanto, Dodd não somente traduz dessa forma o texto, mas também procura justificar a sua nova tradução.
Por que será que toda essa gente se opõe à tradução da Versão Autorizada? Eis a resposta – de novo citando o Dr. Dodd – “uma tão direta aplicação do termo DEUS a Cristo seria única nos escritos de Paulo; mesmo atribuindo a Cristo funções e dignidades coerentes com nada menos do que a deidade, ainda assim ele evita chamá-lO categoricamente ‘Deus’”. Essa é a razão dada pelo prof. Dodd, e por isso ele diz que devemos mudar essa tradução (da V.A)*.
Por que é importante? Por que demorar nisso? Por que dar resposta a todas essas traduções alternativas? Por que defender a Versão Autorizada, e como fazer isso? Responderemos a essas perguntas em nosso próximo estudo.
Estamos vivendo dias de frouxidão e de debilidade em que as pessoas geralmente dizem: “Que importância têm estas coisas? Todos nós juntos somos cristãos, trabalhemos juntos. Introduzamos entre nós até Roma, sim. Que importa, contanto que todos nós sejamos contra o comunismo?”! Vivemos nesse tipo de clima de opinião e atmosfera, e algumas das verdade mais preciosas estão sendo negociadas, e muitas vezes por pura ignorância da parte do povo de Deus, por não conhecer e não perceber a sutileza.
Por conseguinte, continuemos protestando e sustentando a verdade, enquanto Deus nos der fôlego e energia. Digam os homens e as mulheres o que disserem, não podemos calar-nos enquanto, de diversas maneiras, como essa, eles tentam tirar do nosso bendito Senhor algumas das Suas prerrogativas eternas.

*Nota: 1- A Alta Crítica tem como o maior dos seus pecados, não acreditar na inerrância da Bíblia, na sua inspiração divina, na sua infalibilidade, portanto, analisam-na como um outro livro qualquer (traduções como a ARA, NVI, Almeida Séc. XXI, NTLH, Almeida Melhores Textos e tantas outras que proliferam nas prateleiras das livrarias evangélicas se baseiam nas “traduções” da Alta Crítica.
2- Versão Autorizada é a KJV, ou Versão do Rei Tiago, cuja tradução em português é a ACF (Almeida Corrigida e Fiel) publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
3- O Dr. Lloyd-Jones aponta várias passagens nas cartas do apóstolo Paulo nas quais ele afirma que o Senhor Jesus é Deus (comentando-as no cap. 7, de sua Exposição de Romanos 9).

Do livro Exposição sobre o Capítulo 9 de Romanos: O Soberano Propósito de Deus - Ed. PES, pg 97 a 102

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