"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

22 abril 2012

Ayres Britto, Maquiavel e a mentalidade revolucionária

Por Fábio Ribas



Assisti estupefato à entrevista do nosso atual presidente do STF, Ayres Britto, no Jornal da Globo nesta semana. Minha perplexidade foi constatar, diante dos meus olhos, tudo aquilo que homens como Julio Severo e Olavo de Carvalho já nos têm alertado há mais de uma década.

O discurso de Ayres encarna perfeitamente o anti-cristo de Maquiavel, o Estado que se opõe a tudo aquilo que se chama Deus. A mentalidade revolucionária com todas as suas mais mesquinhas características estão ali presentes nas palavras ditas pelo Ministro. A conclusão infeliz é que nada mais há para esperarmos de um STF que há décadas tem sido montado para a defesa de uma visão revolucionária e maquiavélica e que, agora, será coroado pelo Príncipe que faltava para que o caminho seja finalmente desobstruído de todos os seus inimigos.

Antes de seguir adiante, preciso esclarecer uma diferença que é fundamental para a maioria dos leitores deste texto: profeta e revolucionário. Assumo aqui a diferença proposta pelo filósofo Olavo de Carvalho no seu ótimo livro “Maquiavel ou A confusão Demoníaca”. Profeta é aquele que vaticina o futuro revelado por Deus, enquanto o revolucionário o força, planeja o futuro e busca o seu advento por meio da influência intelectual exercida sobre um governante e sobre os candidatos a governantes. O revolucionário quer mudar a História e definí-la pela força do seu discurso. Mas o discurso é apenas o anzol com o qual se fisga o futuro, pretendendo-se instaurá-lo no presente, porque a instauração da revolução se dá pela força militar e pela imposição de leis que deflagrem essa Nova Era. E é aqui que vemos as palavras de Ayres se encaixarem perfeitamente não só com Maquiavel, mas com Gramsci e Hegel também. Do outro lado, o profeta é tão somente boca de Deus e não um usurpador do lugar de Deus pela força do Estado.

Sigo a linha de que o profeta e o revolucionário, histórica, biblica e filosoficamente, não são apenas contrários mas, principalmente, são inimigos um do outro. E, portanto, Ayres encarna a mentalidade revolucionária contra a qual os profetas são convocados por Deus a fazerem oposição. Ainda para esclarecer melhor, ofereço a definição de mentalidade revolucionária proposta pelo filósofo Olavo de Carvalho: “projeto de mudança social profunda a ser realizado mediante a concentração de poder numa elite revolucionária”. E seja o Nazismo, seja o Comunismo, seja a Nova Ordem que vem se implantando nos EUA, no Brasil e por vários outros países do mundo, esta mentalidade revolucionária é o que torna comum todos estes movimentos (que são mais do que movimentos, são uma mentalidade, uma cosmovisão).

O profeta, ao contrário do revolucionário, poderá ouvir de Deus: “Você falará, mas eles não se converterão”. E mesmo assim o profeta deve obedecer ao chamado feito por Deus. Já o revolucionário jamais dobrará a sua vontade pessoal, nem sua ânsia pela reengenharia social - esta sua cobiça por impôr o Reino de Deus pela força e pela espada - para se submeter ao controle de Deus. O anseio do revolucionário está para Barrabás, assim como o do profeta está para Jesus. O revolucionário destituirá todos os poderes vigentes, legítimos ou não, para impôr sobre o presente a sua certeza de futuro. O profeta, consciente de seu legado histórico, convencido de que há um lastro, uma tradição, uma presença histórica e interventora de Deus, ele se definirá na oposição ao revolucionário: o profeta sempre será um conservador, porque tem plena consciência de que vaticina as palavras do Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Porque, nas palavras do filósofo Olavo de Carvalho, o "conservador é aquele que legitima suas ações em função da autoridade do passado". E todo profeta sabe que o nosso Deus permanece sendo o Deus de nossos pais. E o revolucionário, neste contexto, é exatamente aquele que não honra o seu e a sua mãe.

Então, quando Ayres diz que “O Supremo se tornou uma casa de fazer destino” e que a opinião pública, as controvérsias surgidas na imprensa sobre o papel do STF, não incomodam aos juizes, aos magistrados, é de se assustar tamanha independência de um poder que, numa democracia, tão conscientemente se desconecta do povo ao qual deveria servir e com o qual deveria se importar. 

A tragédia maquiavélica se instaura ainda mais quando Ayres diz, ao ser perguntado sobre o casamento gay e a questão dos aborto eugênico, para que serve o STF:“Para arejar costumes, mudar paradigmas, inaugurar eras de pensamento, de sentimento coletivo, e nós somos submissos à Constituição” (grifo nosso). Ayres, com estas palavras, revela-se arauto da mentalidade revolucionária. Mas faz parte do embuste do revolucionário transvestir-se de profeta para enganar a muitos, por isso muitos entre os cristãos confundem os dois papéis e o revolucionário aproveita-se dessa confusão demoníaca. Sobre essa confusão tramada pelos revolucionários, que acabam assumindo um papel de anti-profeta, Olavo diz: “...investir-se da autoridade profética para lutar contra a Providência e tentar inverter o curso divino da História não é uma “moralidade”. Não é nem mesmo perversão política. É a rebelião metafísica, o pecado contra o Espírito Santo” (p. 46).

Assim, para que não haja dúvida da cosmovisão que molda a cabeça de Ayres, ele consegue ligar alhos com bugalhos, quando o repórter lhe pergunta o que pensa sobre a Ministra Eliana Calmon e suas duras palavras contra “os bandidos de toga”. Ayres diz: “Mas, no fundo, o que ela quer é o judiciário na vanguarda da renovação dos costumes”. A não ser que Ayres esteja afirmando que os costumes do judiciário são esses mesmos, isto é, os costumes são a bandidagem de toga e isso precisa ser renovado, na verdade, mais uma vez, ele faz um salto para nos indicar qual caminho ele seguirá à frente do STF: a revolução dos costumes. E como Ayres fará isso? Em determinado momento da entrevista, ele saca do bolso do paletó sua mont blanc e diz que ele tem apenas uma caneta e não uma varinha de condão. Mas sabemos que Ayres tem mais, muito mais do que apenas uma caneta em suas mãos. Há um STF montado para seguir adiante com a agenda revolucionária anti-cristã (e nem vou desenvolver o tema do sério risco que corre o mensalão de prescrever sem julgamento), há um Congresso fraco e débil em sua oposição ao Governo e uma “Presidenta” que corrobora com a agenda mundial do pós-cristianismo.

O caminho no Brasil e no mundo está aberto e a Mentalidade Revolucionária já faz parte da nossa cultura, mas ainda pouquíssimos acordaram para o que está acontecendo. Infelizmente, a Igreja se perde em discussões alienantes e que, na verdade, só corroboram com a mentalidade revolucionária. Um bom exemplo disso foi o artigo Deus é de Esquerda ou de Direita? Um texto de Hermes C. Fernandes e que menospreza os fatos da história, esconde escândalos terríveis muito mais satânicos e diabólicos do que qualquer mazela financiada pela chamada Direita e coloca, sorrateiramente, o comunismo como se fosse apenas o outro lado de uma moeda, uma simples outra opção. Todavia, essa manipulação absurda dos fatos também faz parte da mentalidade revolucionária. “O filósofo precisa falar da verdade com a qual ele mesmo se relaciona. Verdades que ele conhece e não um jogo de intelectualidade absurda. O filósofo deve voltar a apelar ao seu testemunho solitário e confessar da sua relação com a verdade. Precisamos voltar ao conhecimento sincero para podermos confrontar a rede de mentiras”, diz Olavo de Carvalho. É preciso discernir as mentiras e a manipulação dos fatos. Os fatos são os mesmos e eles estão à frente dos nossos olhos, mas nossos interesses pessoais, nossas ideologias, nossas cosmovisões podem manipular, distorcer e até mesmo usar os mesmos fatos ora a favor de um argumento, ora contra o mesmo argumento.

Enfim, o Príncipe já está assentado em seu trono e seus consultores e conselheiros lhe assediam diabolicamente para que ele arrogue para si não somente a autoridade de Deus, mas ele deve fazê-lo “com plena consciência de que esse Deus é inimigo dos cristãos e da humanidade em geral. Em bom português: ele deve fazer da imitação do diabo a nova forma da imitação de Deus, ao mesmo tempo que, posando ante as multidões como um novo Deus, as leve a crer que estão cultuando a Deus quando se prosternam ante o Príncipe-diabo” (p. 88).


Nota: O livro "Maquiavel, ou a confusão demoníaca", do professor e filósofo Olavo de Carvalho, pode ser adquirido na Livraria do Seminário de Filosofia, entre outros títulos.

4 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Transcrevo o meu comentário no Blog Casal 20:
"Fábio,

o Brasil se arvora uma democracia, assim como no mundo, em geral, o termo democracia vem-se resumindo à uma forma de eleição quadrienal, de escolha dos governantes. Mas o fato é que, em breve, isso não será mais necessário, pois os meios para se instituir uma ditadura já estão postos à mesa. O STF, assim como todo o Judiciário, cujo papel seria zelar pelo cumprimento da lei, tem-na extrapolado, ultrapassado e, em vários casos, anulado-a em favor de um princípio individual e subjetivo do magistrado [mas que na verdade é o espírito de uma elite estatal]. O legislativo tem-se tornado facilmente em motivo de chacota e revolta dos cidadãos por culpa exclusiva da sua inoperância, preguiça, omissão, e a capacidade de se corromper até o impossível.
Uma das formas de se implantar uma ditadura é revogar à força todos os elementos relacionados à cultura judaíco-cristã [a moral e ética bíblicas, família, igreja, etc], e estabelecer pela força as metas revolucionárias de um grupo encastelado no poder. Pouco a pouco, vai-se fazendo a revolução, sem armas ou guerras, e a mente revolucionária implanta-se na sociedade sem que ela se aperceba.
Assim foi no caso do Paypal, quando o Júlio Severo teve os recursos de sua conta bloqueados pelo "clamor" ditatorial do movimento gay [não de todos os gays, que em sua maioria desconhecem Júlio Severo, mas de uma casta que diz representá-los]. Assim como, agora, a mesma casta gay está exigindo que a Avon não venda os livros do Silas Malafaia [o que, do ponto de vista espiritual pode ser benéfico, mas é imoral e feri os princípios da liberdade de expressão].
Pouco a pouco, como nos romances distópicos, as palavras, o comportamento e os costumes são redefinidos por uma elite revolucionária, numa espécie de ditadura do pensamento, onde, de todos, são exigidos uma mesma mente linear, sempre moldável e estéril, adaptada como as dunas do deserto ao sabor dos ventos, mas incapaz de produzir bons frutos. A esquerda no Brasil tem-se utilizado da novilínguagem para transtornar a cultura, a moral e a ética, transformando a verdade em mentira; a moral em imoralidade, ao ponto em que ninguém se escandaliza mais com os escândalos. Apenas a verdade, a moral, a ética e a justiça são motivos de ofensa e indignação na mente dominada pelo "senso incomum" dos rebeldes. E essa rebelião tem como objetivo destituir Deus do seu trono, e ali, sob as benesses estatais, "entronizar" um grupo seletos de "iluminados".
Paulo, em Romanos, nos diz que os homens, tendo o conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu... pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o criador [1.21,25].

[Continua]

Jorge Fernandes Isah disse...

[...]

Mas isso vem sendo engendrado nas últimas décadas de maneira quase silenciosa [ainda que os gritos de ordem sejam insuportavelmente altos], e a escola, como a vemos hoje, nada mais é do que instrumento de doutrinação para a "revolução".
Parabéns por tocar em assunto tão sério e que é negligenciado pela quase totalidade da igreja, que, diga-se de passagem, é outra área que tem sido cuidadosamente implodida pelos rebeldes, vide a teologia da libertação no seio católico e a teologia da missão integral entre os evangélicos, que nada mais são do que "planfetos" para a disseminação da ideologia marxista, da proclamação de um outro evangelho, e do afastamento derradeiro do homem de Deus.
Por isso, homens como Caio Fábio, Ricardo Gondim, Renê Kivitz, Padilha, Ariosvaldo Ramos, Robinson Cavalcanti, Danilo e Hermes Fernandes [que no texto citado não esconde o seu viés marxista indisfarçável], Pavarini, dentre outros, são cada vez mais lidos e ouvidos em detrimento dos verdadeiros profetas. E o seu modus operandi vai implantando uma mente revolucionária evangélica em que o Evangelho é desprezado em favor da luta de classes e de falsas conquistas sociais, verdadeiras armadilhas para prender cada vez mais o homem em si mesmo e em seu estado decaído, entregues às suas paixões infames; numa nítida objeção e rejeição ao Evangelho de Cristo. É distrair para iludir.

Grande forte abraço!

Cristo o abençoe!"

Casal 20 disse...

Grande comentário, Jorge! E não falo da extensão dele. Quero públicá-lo, na verdade, como um post à parte. Seu comentário vale uma aula. Abraços sempre afetuosos. Fábio.

Jorge Fernandes Isah disse...

Fábio,

como já disse, a aula foi sua. Fique à vontade para utilizar o meu comentário como achar melhor. Mas penso que você poderia usá-lo como ponto de partida para desenvolver algo mais completo sobre a revolução que se desenrola no Brasil pelas mãos dos marxistas. Como Gramsci defendia, uma revolução sem armas, e, talvez por isso, ainda mais perigosa e letal.
Grande abraço!