"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

11 março 2012

A Impossibilidade de Ateísmo Real



Por João Calvino

Isto, sem dúvida, será sempre evidente aos que julgam com acerto, ou, seja, que está gravado na mente humana um senso da divindade que jamais se pode apagar. Mais: esta convicção de que há algum Deus não só é a todos ingênita por natureza, mas ainda que lhes está encravada no íntimo, como que na própria medula, que a contumácia dos ímpios é testemunha qualificada, a saber, lutando furiosamente, contudo não conseguem desvencilhar-se do medo de Deus.

Ainda que Diágoras, e tantos como ele, através de todos os séculos, zombeteiramente motejem de tudo quanto diz respeito à religião, e como Dionísio tem ridicularizado o juízo celeste, esse não passa de um riso sardônico, pois que em seu interior o verme da consciência rói mais pungente que todos os cautérios.

Não digo o que Cícero dizia, que com o correr do tempo os erros se tornam obsoletos; enquanto que, com o passar dos dias, mais cresce e melhor se faz a religião. Ora, o mundo, como pouco adiante se haverá de dizer, tenta quanto está em seu poder alijar para bem longe o conhecimento de Deus, e de todos os modos corrompe-lhe o culto. Afirmo simplesmente isto: enquanto na mente se lhes enlanguesce essa obstinada dureza que os ímpios avidamente evocam para repudiarem a Deus, no entanto cobra viço, e por vezes medra vigoroso, esse senso da divindade que, tão ardentemente, desejariam fosse ele extinto. Donde concluímos que esta não é uma doutrina que se aprende na escola, mas que cada um, desde o ventre materno, deve ser mestre dela para si próprio, e da qual a própria natureza não permite que alguém esqueça, ainda que muitos há que põem todo seu empenho nessa tarefa.4

Portanto, se todos nascem e vivem com essa disposição de conhecer a Deus, e o conhecimento de Deus, se não chega até onde eu disse, é caduco e fútil, é claro que todos aqueles que não dirigem quanto pensam e fazem a esta meta, degeneram e se apartam do fim para o qual foram criados.5 Isto não foi desconhecido nem aos próprios filósofos. Ora, Platão6 não quis dizer outra coisa, visto que amiúde ensinou que o sumo bem da alma é semelhança com Deus, quando, apreendido o conhecimento dele, toda nele se transforma. Daí, muito a propósito, nos escritos de Plutarco arrazoa também Grilo, quando afirma que os homens, uma vez que a religião lhes seja ausente da vida, não só em nada excedem aos animais, mas até em muitos aspectos lhes são muito mais dignos de lástima, porquanto, sujeitos a tantas espécies de males, levam de contínuo uma vida tumultuária e desassossegada.

Portanto, o que os faz superiores é tão-somente o culto de Deus, mediante o qual se aspira à imortalidade.

Notas: 4. Primeira edição: “Donde concluímos que não é matéria que se haja primeiro de aprender nas escolas, mas de que desde o ventre cada um é mestre a si [próprio] e de que não sofre a própria natureza alguém se esqueça, inda que, com todas as forças, muitos isso intentem.”
5. Primeira edição: “Logo, se todos foram nascidos e vivem nesta condição, [isto é,] para conhecerem a Deus, mas, a não ser que a este ponto hajam [ele] de chegar, difuso e evanescente é o conhecimento de Deus, é evidente que da lei de sua criação aberram todos estes que a este escopo não destinam os pensamentos e ações todos de sua vida.”
6. Fedon e Tecleto.

FONTE: INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ - VOL. I - PG. 55-56 - EDITORA CULTURA CRISTÃ

Um comentário:

Anônimo disse...

Graça e Paz abençoado
Muito edificante o blog
que Deus possa te usar como voz profética nesses últimos dias da igreja na terra ..