por Rousas John Rushdoony
Quando Wyclif escreveu de sua Bíblia em inglês que “Esta Bíblia é para o governo do povo, pelo povo, e para o povo”, sua declaração não atraiu nenhuma atenção até onde dizia respeito sua ênfase sobre a centralidade da lei bíblica. Que a lei deveria ser a lei de Deus era mantido por todos; Wyclif afastou-se da opinião aceita ao dizer que o próprio povo deveria não somente ler e conhecer essa lei, mas também em algum sentido governar bem como ser governado por ela. Nesse ponto, Heer está correto ao dizer que “Wyclif e Hus foram os primeiros a demonstrar à Europa a possibilidade de uma aliança entre a universidade e o anelo das pessoas por salvação. Foi a liberdade de Oxford que sustentou Wyclif”.[1] A preocupação era menos com a Igreja ou Estado do que com o governo pela lei-palavra de Deus.
Brin disse, sobre a ordem hebraica social, que ela difere de todas as outras pelo fato de considerar-se fundamentada e governada pela lei de Deus, que a deu especificamente para o governo do homem.[2] Não menos que o Israel antigo, o cristianismo acredita ser o reino de Deus porque é governado pela lei de Deus como apresentada na Escritura. Há afastamentos dessa lei, variações dela, e lassidão na fidelidade a ela, mas o cristianismo se vê como o novo Israel de Deus e não menos sujeito à Sua lei.
Quando a Nova Inglaterra começou sua existência como entidade legal, sua adoção da lei bíblica foi tanto um retorno à Escritura como um retorno ao passado da Europa. Foi um novo começo em termos dos antigos fundamentos. Não foi um começo fácil, visto que muitos dos servos que vieram com os puritanos mais tarde estavam em plena revolta contra a fé e ordem bíblica.[3] Todavia, foi um retorno resoluto aos fundamentos do cristianismo. Dessa forma, os registros da colônia de New Haven mostram que a lei de Deus, sem qualquer sentido de inovação, tornou-se a lei da colônia:
2 de março de 1641/2: E conforme o acordo fundamental, realizado e publicado por consentimento pleno e geral, quando iniciou-se a plantação e o governo foi estabelecido, de que a lei judicial de Deus dada por Moisés e exposta em outras partes da Escritura, visto ser um limite e uma cerca para a lei moral, e não ter nenhuma referência cerimonial ou típica à Canaã, tem uma equidade eterna nela, e deve ser a regra dos procedimentos da colônia.[4]
3 de abril de 1644: Ordenou-se que as leis judiciais de Deus, como entregues por Moisés… sejam a regra para todos os tribunais nesta jurisdição em seus procedimentos contra ofensores…”.[5]
Thomas Shepard escreveu, em 1649, “Pois todas as leis, quer cerimoniais ou judiciais, podem ser remetidas ao decálogo, como apêndices a ele, ou aplicações dele, e assim abranger todas as outras leis como seu resumo”. [6]
É uma ilusão sustentar que tais opiniões eram simplesmente uma aberração puritana, e não uma prática verdadeiramente bíblica e um aspecto da vida persistente do cristianismo. É uma heresia moderna a que sustenta que a lei de Deus não tem nenhum significado ou nenhuma força obrigatória para o homem de hoje. É um aspecto da influência do pensamento humanista e evolucionário sobre a igreja, e ele postula um deus que evolui e se desenvolve. Esse deus “dispensacionalista” se expressou na lei numa época antiga, então mais tarde se expressou pela graça somente, e agora talvez se expresse de alguma outra maneira. Mas esse não é o Deus da Escritura, cuja graça e lei permanecem a mesma em todas as épocas, pois ele, como o Senhor soberano e absoluto, não muda, nem precisa mudar. A força do homem é a perfeição do seu Deus.
Tentar estudar a Escritura sem estudar a sua lei é negar a Escritura. Tentar entender a civilização ocidental à parte do impacto da lei bíblica dentro dela e sobre ela é procurar uma histórica fictícia e rejeitar vinte séculos e todo o seu progresso.
As Institutas da Lei Bíblica tem como seu propósito uma inversão da tendência atual. Ela é chamada “Institutas” no significado antigo dessa palavra, i.e., princípios fundamentais, neste caso, da lei, pois a intenção é ser um começo, instituindo uma consideração dessa lei que deve governar a sociedade, e que governará a sociedade sob Deus.
[1] Friedrich Heer, The Intellectual History of Europe (Cleveland: The World Publishing Co., 1966), p. 184.
[2] Joseph G. Brin, “The Social Order Under Hebrew Law,” The Law Society Journal, vol. VII, no. 3 (August, 1936), pp. 383-387.
[3] Henry Bamford Parkes, “Morals and Law Enforcement in Colonial England,” The New England Quarterly, vol. 5 (July, 1932), pp. 431-452
[4] Charles Hoadly, ed., Records of the Colony and Plantation of New Haven from 1638 to 1649 (Hartford: for the Editor, 1857), p. 69.
[5] Ibid., p. 130.
[6] John A. Albro, ed., The Works of Thomas Shepard, III, Theses Sabbatical (1649) (Boston: Doctrinal Tract and Book Society, 1853; New York: AMS Press, 1967), p. 49.
Fonte: Monergismo
Fonte: Extraído da introdução do excelente livro The Institutes of Biblical Law, Volume 1.Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – maio/2011
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