"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

01 junho 2009

Guerra Santa: Física ou Espiritual?


Por Tremper Longman III

A primeira voz que ouvimos no NT é a de João Batista que, à semelhança dos profetas do estágio 3, ressoa extraordinariamente:
"Raça de víboras! Quem lhes deu a idéia de fugir da ira que se aproxima? Dêem fruto que mostre o arrependimento! Não pensem que vocês podem dizer a si mesmos: "Abraão é nosso pai". Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir ilhos a Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo" (Mt 3.7-10; cf v.11,12).
João tinha a esperança de que aquele que viria depois dele cumprisse a tarefa do poderoso Guerreiro de banir da terra os opressores. Imagine sua surpresa, mais tarde, quando aquele que ele reconhecera pelo batismo passou a pregar as boas-novas, curar os doentes e expulsar demônios. Para falar a verdade, há um registro dessa reação em Mateus 11.1-19. Naquele momento, João estava preso e ouviu os relatos acerca do ministério de Jesus. Suas dúvidas o elvaram a enviar dois de seus discípulos a Jesus a fim de transmitir a cética pergunta:
"És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?" (v. 3).
Jesus respondeu: "Voltem e anunciem a João o que voc ês estão ouvindo e vendo: os cegos vêem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não escandaliza por minha causa" (Mt 11.4-6).
Pelas suas obras, Jesus informou a João que ele, de fato, havia escolhido a pessoa certa. Entretanto, Jesus sutilmente também mudou - na realidade, enriqueceu - a concepção de João sobre seu ministério. Numa realidade lacônica, Jesus era o Guerreiro divino, mas ele intensificou e elevou o nível da batalha. Não era mais uma batalha física contra inimigos de carne e sangue, e sim uma luta travada contra poderes e autoridades espirituais. Além do mais, era uma batgalha empreendida sem armamentos físicos.
Os exorcismos do NT são um caso à parte. Aqui percebemos a natureza violenta do conflito. Mateus 8.28-34 narra a história da permissão que Jesus deu aos demônios que habitavam dois homens para entrar em porcos, os quais se atiraram dentro de um lago e morreram.
O climax do estágio 4 é um método violento, mas irônico. Paulo volta seus olhos para a crucificação, retratando-a como uma vitória militar sobre o domínio demoníaco:
"Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz, e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz" (Cl 2.13-15).
A ascensão de Jesus aos céus também é descrita em linguagem militar, caracterizada pela citação de um hino de guerra santa do AT, o salmo 68:
E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo. Por isso é que foi dito:
"Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativos muitos prisioneiros, e deu dons aos homens" (Ef 4.8).
Jesus derrotou os poderes e autoridades, não pelo ato de matar, mas pelo ato de morrer!
Na verdade, a transição da antiga prática da guerra física para a nova era da guerra espiritual é dramaticamente ilustrada pela cena que se passa no jardim do Getsêmani. No momento em que Jesus era preso, Pedro, sempre impetuoso, sacou uma espada e decepou a orelha do servo do sumo sacerdote (Mt 26.47; MC 14.43-52; Lc 22.47-53; Jo 18.1-11). Jesus, na mesmoa hora, declarou:
"Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão. Você acha que eu não posso pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos? Como então se cumpririam as Escrituras que dizem que as coisas deveriam acontecer desta forma?" (Mt 26.52-54).
Quando Jesus ordenou a Pedro que guardasse a espada, era o mesmo que dizer à Igreja que esse exemplo de violência não poderia ser seguido para difundir sua causa*. O Alvo da guerra de Cristo não é físico, mas espiritual, e as armas utilizadas são espirituais, e não físicas.
*Em minha opinião (diz o autor), isso não põe fim ao debate entre os defensores da guerra justa e os pacifistas. Trata-se de uma simples declaração de que guerras em nome do cristianismo não são legítimas.

Extraído do livro "Deus Mandou Matar?" 4 pontos de vista sobre o genocídio cananeu - Editora Vida - Adquira o livro AQUI
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