Por Dr. Heber Carlos de Campos
Há um pensamento vigente em vários círculos cristãos de que o diabo é quem está no camando do universo. Ele tem sido responsabilizado por todas as coisas ruins que têm acontecido no mundo. Em vez de as pessoas dizerem "bendito seja Deus", bem que elas poderiam dizer "bendito seja o diabo", porque ele tem sido o responsável por todas as coisas que elas vêem e com as quais não concordam. É verdade que ele é inimigo dos filhos de Deus, mas é verdade também que ele é parte do processo providencial de Deus, como um instrumento nas mãos de Deus. A sua ação cumpre os propósitos divinos para o universo. Todavia, somente quando estudamos devidamente a doutrina da providência é que eliminamos de nossa mente qualquer pensamento de que Satanás está no controle deste mundo.
Deus está no comando e aceita a responsabilidade de todas as coisas que acontecem neste seu universo, sejam boas ou más. Deus está envolvido em cada evento que acontece na história do mundo, mesmo nos mínimos detalhes. A isso chamamos de providência soberana de Deus.
Quando as pessoas não compreendem devidamente a doutrina da providência, elas cometem erros muito feios, que demonstram uma incompreensão da cosmovisão cristã. Responsabilizando Deus pelas coisas boas que acontecem e o diabo pelas coisas más, elas podem ser culpadas de uma heresia antiga chamada "dualismo". O que é isso? É a crença na existência de dois poderes em que o Deus, que é bom, está em luta contra o Diabo, que é mau. São dois poderes independentes e igualmente poderosos que lutam entre si titanicamente para ver quem obtém o controle do mundo.
Os cristãos que possuem essa cosmovisão ficam na esperança do deus bom ganhar, mas vivem pintando o fim da história como algo trágico e inevitável, não porque os decretos de Deus estão sendo cumpridos, mas porque o diabo é poderoso para resistir até o fim, e não será vencido até que muitos estragos tenham sido feitos na igreja e no mundo. Essa é uma heresia muito perniciosa e está ligada muito frequentemente ao movimento carismático, especialmente o de batalha espiritual.
A pergunta que se faz é a seguinte: Por que cristãos sinceros têm essa compreensão errônea de Deus? Por que atribuem o bem a Deus e o mal a Satanás? Talvez porque eles tentam proteger Deus ou evitar que ele seja considerado o autor do mal. Na compreensão deles, um Deus de amor não pode estar relacionado a coisas que são imperfeitas ou malignas. Crer num Deus de amor é muito mais fácil e palatável do que crer num Deus de soberania absoluta.
Eu li de uma enfermeira que trabalhava na sala de emergência de um hsopital que disse que, quando alguma pessoa de uma determinada igreja evangélica que havia se acidentado ou sido acometida de algum mal súbito aparecia na emergência, logo vinha correndo o pastor e dizia para a família ali presente: "Lembrem-se de que Deus não tem nada que ver com isso!". Talvez esse pobre pastor quisesse evitar que os membros atingidos pela desgraça desaparecessem de sua igreja. Aquele pastor certamente possuía uma visão muito distorcida da cosmovisão cristã que ensina que Deus está por detrás de todos os eventos, sejam bons ou maus. Alguém que tenta "proteger" Deus não o conhece de fato e não tem uma noção correta de sua obra providencial. Se Deus não é o responsável último por todas as coisas que nos acometem, estamos todos nas mãos de quem? Do diabo? Ou o fatalismo começa a invadir nossas igrejas também? Esse tipo de dualismo deve desaparecer da mente dos genuínos cristãos, pois ele é uma grande injustiça aos ensinos da Escritura sobre a providência de Deus.
Extraído do livro "O Ser de Deus e as suas obras - A Providência e a sua realização histórica" - Editora Cultura Cristã
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