"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

01 julho 2011

Tristeza e esperança, deserto e sarça

Por Roberto Vargas Jr. 

pastorgeremias Geremias Couto (via twitter)
Embora o deserto seja, aos nossos olhos, um lugar inadequado, é ali que a sarça arde.
A mitologia de Tolkien é densa para muito além de “O Senhor dos Anéis” e do filme de Peter Jackson. Gosto dela porque as histórias (pois são muitas) em si são boas. Mas gosto principalmente porque há uma constante nostalgia nelas. Uma nostalgia que mescla tristeza e esperança.
Na mitologia há os filhos do Único, elfos e homens, primogênitos e sucessores. As histórias são contadas pelo ponto de vista dos primeiros, que são “imortais”, com seu destino ligado ao do mundo em que vivem. Já os homens, mortais, possuem a dádiva, concedida pelo Um, de passar para além dos círculos do mundo.
É interessante, ao menos para mim, que são os elfos que vivem esta nostalgia, mas que este espírito triste e esperançoso seja mesmo o espírito dos homens. Talvez, Lewis apontasse que são ambos “nau”. “Sim, são os filhos de Ilúvatar”, provavelmente responderia Tolkien. E, se este é o espírito humano, ele é mais próprio na imagem restaurada do cristão. Não surpreende, pois, a tristeza e a esperança da pena do autor da mitologia.
Nem surpreende que a beleza seja sempre encontrada onde há esta mescla. A Poesia é esta nostalgia.
No entanto, a tristeza, bela que seja em nostálgica Poesia, não é fácil de ser vivida. Não falo dos dias de pranto e pesar apenas. Falo da vida. Pois viver esta nossa vida é viver a tristeza desde que nos corrompemos e morremos. E, ainda que, em certo sentido, como na mitologia a morte seja dádiva (o morrer é lucro...), ainda resta que vida e morte sejam sofrimento. Sofremos pela queda e seus efeitos. Sofremos, seja em pesar, seja em contentamento.
E, é verdade, tudo isso nos parece bem inadequado. Soa inóspito como um deserto. Talvez a vida fosse mais bela não houvesse a tristeza. Pode ser. Não posso, contudo, atinar como seria uma vida sem pecado, pois não é a vida que vivo. Entretanto, posso ter um vislumbre: olhos não viram, ouvidos não ouviram, nem há sombra em coração humano do que nos espera no porvir...
Então, se não fica menos difícil passar por este deserto que é esta vida de tristeza, não posso deixar de ver nela Poesia. Pois sofrimento presente algum pode desvanecer a alegria dada por primícias do porvir. Há, por dádiva, um fogo que arde em corações humanos. Naqueles corações que conheceram Aquele a quem chamam Aba... E a saudade da eternidade…
Não há palavras de consolo, no entanto, para aqueles que não se inclinam a esta esperança.
Por isso é que esta mescla nostálgica, tristeza e esperança, se bem que fale a todo espírito humano, orna melhor a cristãos. Nós sabemos que “embora o deserto seja, aos nossos olhos, um lugar inadequado, é ali que a sarça arde”.

SOLI DEO GLORIA!

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