"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

16 maio 2009

A MÃO DE DEUS NO SOFRIMENTO


Por Mark R. Talbot*

Desde acontecimentos tão pequenos, como a queda do menor pardal (Mt 10.29), até a morte de seu querido filho nas mãos de homens iníquos (At 2.23 c/ 4.28), Deus fala e depois cumpre ou executa a sua palavra (Is 46.11). Nada que existe ou ocorre escapa da vontade ordenadora de Deus.
Nada, inclusive nenhuma pessoa, coisa, acontecimento ou feito iníquio e mal. A preordenação ou predestinação de Deus é a razão final por que tudo acontece, até mesmo a existência de todas as pessoas e coisas más e a ocorrência de todo e qualquer ato ou acontecimento iníquo. Nesse caso, não seria impróprio falar de Deus como o criador, o mandante, o autorizador e, algumas vezes, como o instigador do mal. É isso que as Escrituras alegam explicitamente. Por exemplo, Isaías 45.7 apresenta Deus declarando: "Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas". A palavra para "criar" nesse versículo é o termo hebraico "bara", a mesma palavra que é usada para descrever o trabalho criativo de Deus em Gênesis 1; e a palavra para "mal" é "ra' ", que é quase sempre traduzida por "mal" no Antigo Testamento, e que podemos encontrar em lugares como Gênesis 2-3; 6.5; 13.13; e 50.15,20. E também quando Amós pergunta retoricamente: "Tocar-se-á a trombeta na cidade, sem que o povo estremeça? Sucederá algum mal à cidade sem que o Senhor o tenha feito?" (3.6). Isaías também diz: "O Senhor derramou no coração deles [os líderes das cidades egípcias de Zoã e Mênfis] um espírito estonteante, eles fizeram estontear o Egito em toda a sua obra" (19.14).
Tampouco manter que Deus nunca faz o mal é equivalente a dizer que ele não envia o mal. Algumas vezes ele envia espíritos maus - como o que atormentou o rei Saul 16.14-23), outro que levou os líderes de Siquém a agir traiçoeiramente com o rei Abimeleque (Jz 9.23), e um terceiro para mentir por meio dos profetas de Acabe, levando-o a viajar até Ramote-Gileade, onde seria morto (1Rs 22.13-40). E algumas vezes ele envia ilusão, como afirma Paulo quando diz que: "aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos... Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça" (2Ts 2.10).
Deus manda seus anjos para destruirem Sodoma e Gomorra (Gn 19); em Êxodo 7-12, ele envia dez pragas; ele envia cobras venenosas para picar os israelitas resmungões (Nm 12.6); ele enviou sobre Israel uma peste que matou 70 mil homens (2Sm 24); após haver jurado anteriormente que, em razão dos pecados de Manassés ele traria sobre Jerusalém e sobre Judá "tais males (ra')... que todo o que os ouvir, lhe tinirão ambos os ouvidos" (2Rs 21.12); mandou sobre Judá, bandos de saqueadores estrangeiros para destruí-la por causa dos pecados do rei Manassés. Tudo isso veio sobre Judá pela palavra de Deus (ver 24.3); Deus promete enviar a Assíria contra Judá infiel, mas depois promete também que "castigará a arrogância do coração do rei da Assíria" (Is 10.12), enviando uma praga entre seus guerreiros (v.16).
As Escrituras também estabelecem que Deus permite que outros façam o mal, como quando ele permitiu a Satanás que destruísse as propriedades e os filhos de Jó, pois isso deixaria claro que mesmo assim Jó não amaldiçoaria a Deus (Jó 1.6-12), e quando ele permitiu que as nações estrangeiras no A. T. andassem cada uma em seus caminhos pecaminosos (At 14.16). A idéia de que ninguém jamais fará o mal contra outra pessoa a não ser que Deus o permita ou conceda é sugerida por outras passagens como Gn 31.7; e em Ex 12.23; e em Lc 22.31.
Na realidade, algumas passagens bíblicas, como Isaías 19.2, retratam Deus induzindo outros a fazer o mal: "Farei com que egípcios se levantem contra egípicios, e cada um pelejará contra seu irmão e cada um contra seu próximo; cidade contra cidade, reino contra reino" (ver 9.11). Outras passagens: 2Sm 24.1; Jó 1.6-12.
Debrucei-me sobre as Escrituras com o propósito de provar este ponto: como um de meus alunos afirmou maravilhosamente em resposta ao teísmo aberto: "Os adeptos do teísmo aberto estão tentando inocentar Deus do mal. Mas Deus não quer ser inocentado"... Nada - nenhuma obra, pessoa, acontecimento ou ação maligna - está fora da vontade ordenadora de Deus. Nada acontece, existe ou permanece independentemente da vontade Deus. Portanto, mesmo quando o pior dos males nos assalta, em última análise ele não procede de nenhum outro lugar senão das mãos de Deus.

*Fiz uma síntese de parte do texto de Talbot sem, contudo, comprometer a sua mensagem. Apesar da afirmativa do autor de que Deus "permite" o mal, presumivelmente como algo alheio à Sua vontade, como se o poder de permitir fosse uma submissão ao desejo de suas criaturas, Talbot apenas "ameniza" a situação, visto que ele sustenta ser Deus o criador, o planejador, aquele que decreta, ordena e faz cumprir seus decretos, ou seja, toda a ação de Deus é objetiva e positiva em relação a tudo o que acontece no universo, inclusive o mal. Portanto, para não deixar os seus leitores mais "chocados", ele não usou o termo "autor do mal" para Deus. O que, no fim das contas, dá na mesma.
Como Talbot vai muito além do que a maioria em relação à soberania de Deus e o mal, considero a sua abordagem correta, ainda que seja amenizada e diluída em alguns aspectos, tornando-a indiretamente conclusiva.
(Jorge Fernandes)

Leia os meus comentários ao livro AQUI.
Extraído do ótimo "O Sofrimento e a Soberania de Deus", Editora Cultura Cristã, o qual pode ser adquirido AQUI

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