[João 21.18-25]
Por Dr. Rousas John Rushdoony*
"18. Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras.
19. E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me.
20. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara
também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair?
21. Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? 22. Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.
23. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?
24. Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.
25. Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém". [João 21:18-25]
A conclusão ao Evangelho de João não tem sido justamente exposta. Ela é impressionante! No v. 18, nosso Senhor diz a Pedro: quando eras jovem, fazia muito bem o que lhe agradava, mas, na tua velhice, outros farão contigo o que desejarem. Há uma sugestão de morte nas palavras de Jesus, de execução nas mãos dos outros. Pedro certamente entendeu que o significado era algum tipo de prisão e execução. Isso veio claramente como um golpe sobre Pedro. Ele olhou para João, e então perguntou a Jesus sobre o futuro dele: E o que será deste homem? A resposta de Jesus foi bem dura: “Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu” (v. 22).
De forma bem óbvia, as palavras de nosso Senhor pressupõem predestinação. É Ele quem ordena a vida de todos os homens, e Ele tinha decretado a vida e morte dos Seus discípulos. Sua declaração é enfática: “Se eu quero”. Tudo depende da Sua vontade soberana. Nem Pedro, nem qualquer outro discípulo disputa isso. Seu propósito predestinador difere de uma pessoa para outra, de forma que ninguém existe igualmente em Sua predestinação. Ele poderia decretar que João permanecesse vivo até a Segunda Vinda, embora não tenha feito isso.2 Sua advertência foi interpretada por alguns como isentando João da morte, um tolo mal-entendido. O que Ele
disse foi que Sua vontade é soberana, de forma que ninguém pode se queixar sobre sua própria porção. Como Paulo escreveu em 1 Coríntios 4:7: "Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?".
O que somos é parte do poder predestinador de Deus tanto quanto o que será de nós no futuro e na eternidade. Por conseguinte, a declaração dura de nosso Senhor: “Que te importa a ti?” Os propósitos de Deus para nós são determinados por Ele, não por nós.
Mas isso não nos absolve do nosso dever. A predestinação não significa que somos autômatos; somos criaturas responsáveis com uma responsabilidade e liberdade secundária. Portanto, nosso Senhor diz a Pedro: “Segue-me tu”. Isso Pedro pode fazer, como nós. No grego, a ordem das palavras é, “Tu – segue-me”. É pessoal e intensivo. Não devemos olhar para os tratamentos dos outros por Deus e então invejar as suas bênçãos. Somos todos chamados para servir numa esfera e modo particular, e estamos sendo também preparados para o nosso chamado eterno.
Mas isso é um problema, pois nossa era é uma que enfatiza a igualdade. Embora possamos estar plenamente cientes dos males do igualitarismo, ainda somos os filhos do nosso tempo, que anseiam por um nivelamento que nos favorecerá. Esse igualitarismo tácito é anticristão. Nossa compulsão em dizer “Por que, Senhor?” é errônea.
De novo, sem a predestinação não existe graça. Predestinação e graça são simplesmente aspectos diferentes da soberania de Deus. Se removemos de cena a eleição de Deus, temos então as obras auto-eletivas do homem, e nenhum evangelho.
João, por todo o seu Evangelho, enfatiza a soberania e a predestinação de Deus. Na conclusão, ele registra que Jesus confrontou os discípulos com esse fato. O que Ele disse a Pedro aplicava-se a todos. João poderia não morrer nas mãos de executores, mas seus sofrimentos não seriam menores que os de Pedro. A ilha de Patmos (Ap. 1:9), onde ele esteve como prisioneiro, era um lugar de trabalho escravo particularmente brutal que poucos sobreviviam.
Cada discípulo seria usado pelos homens exatamente como Deus ordenara, pois todos eram testemunhas de Cristo.
Nos vv. 24-25, João afirma que seu relato é atestado como verdadeiro.
Novamente, como em 20:39, João nos diz que mais livros poderiam ser escritos sobre Jesus que o mundo poderia conter. Sem dúvida, se um jornal diário tivesse sido mantido pelos discípulos, teríamos vários volumes extensos de relato detalhados.Mas isso não parece ser o que João quis dizer. O que sua linguagem em 20:30 e 21:25 nos diz é que descrever e explicar plenamente
Jesus Cristo é impossível: como a Palavra de Deus, Deus o Filho, Ele é, como o Pai e o Espírito, inexaurível.
Descrever plenamente um homem seria difícil, mas, porque o homem é uma criatura e é limitado, teoricamente isso poderia ser feito. Mas não é assim com Deus. Como pode alguém descrever ou compreender Aquele que é eterno, infinito e invisível, bem como todo-poderoso, sábio, santíssimo, absoluto e totalmente livre em todo o Seu ser? Compreender Deus requereria
de nós uma mente igual à de Deus. Embora Ele seja incompreensível, ainda podemos conhecê-lo verdadeiramente através da Sua revelação, pois Ele é totalmente auto-consistente em todo o Seu ser.
É a isso que João se refere, e é sobre isso que trata todo o seu Evangelho. Desde que João escreveu o seu Evangelho, o número de comentários sobre a vida de Jesus Cristo, estudos nos Evangelhos, obras teológicas sobre o assunto, e mais, tem crescido aos milhares. Todavia, cada
geração vê frescor em Sua relevância total, e nenhuma geração pode exaurir o Seu significado. João escreve, os cristãos ortodoxos sempre mantiveram, sob a inspiração do Espírito Santo de uma maneira única. Como em toda a Escritura, em João vemos as palavras que são dadas por Deus. Em João mais que em Mateus, Marcos e Lucas, a divindade de Jesus Cristo é tratada com
maior clareza, mas a palavra final de João é que o assunto é, como a Pessoa, inexaurível.
Mas João, em seu prólogo, nos dá um resumo (João 1:1-18) que toca como música. João Calvino escreveu certa vez que o Credo Apostólico deveria ser cantado, pois é música gloriosa.
Há outro fato curioso sobre o término de João. Marcos e Lucas concluem com a ascensão de Cristo. Mateus nos diz que os discípulos se reuniram no monte da ascensão, e embora ele conclua seu relato com a Grande Comissão, a ascensão está implícita. João não inclui a ascensão. Ele
nos diz sobre as muitas referências do Senhor à ascensão, mas a mesma não está registrada. Seu relato de Jesus Cristo apresenta-o como para sempre presente e, todavia, eternamente no trono de glória.
Duas vezes João nos diz que muita coisa permanece não dita sobre os sinais que Jesus “fez… na presença dos seus discípulos” (João 20:30s; 21:24s). Por que João não faz tal declaração no começo do seu Evangelho? Por que no final, em conexão com o relato da ressurreição, e Suas aparições posteriores? Os sinais eram milagres com um significado que revela o Evangelho. Nada revela mais claramente o Evangelho que a morte expiatória de Cristo e Sua ressurreição. Elas nos dizem que Jesus Cristo destruiu o poder do pecado e da morte. Portanto, João deliberadamente limita o número de milagres que ele registra, para apontar e concentrar-se na morte e ressurreição do nosso Senhor. O Jesus da história é Aquele que fez expiação por nós, morreu e ressuscitou. Sua vida não pode ser entendida à parte disso, nem podemos
conhecer Sua história em qualquer outra luz. Esse é o motivo do testemunho de João ser verdadeiro, e, enquanto livros enchendo a Terra pudessem não conter tudo o que poderia ser dito, o testemunho dado por João é fiel.
*Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Do Livro The Gospel of John, Rousas John Rushdoony, Ross House Books, p. 279-281.
FONTE: http://www.monergismo.com/
2 comentários:
Na minha modesta opinião, a predestinação é a “mãe das doutrinas”, pois dela deriva toda uma forma de pensamento. Ainda hoje não encontrei uma pessoa que tenha uma teologia sadia se não considera a verdade da predestinação.
Essa é uma opinião diferente da de Lloyd-Jones, que considerava a predestinação uma doutrina secundária. A predestinação, talvez seja a única doutrina que coloca Deus no trono e no centro de todos os eventos.
Tire a predestinação e esse trono ficará vazio para ser preenchido pelo homem e a desgraça estará feita.
Abraço, Marcos.
Marcos Davi,
O irmão está correto; e é isso mesmo: quando se tenta "tirar" Deus do trono (não crer na Sua completa soberania) o desejo é um só: que o homem ocupe o seu lugar. Foi esse o desejo de satanás. Por isso, bato tanto na "tecla" da soberania de Deus, sem a qual ninguém poderá reverenciá-lO e adorá-lO corretamente. O que implica também no "falso" conhecimento de Deus.
Abraços.
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