"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

21 setembro 2010

Quando Jesus não salvou ninguém!

Por Marcos David Muhipointner Estou tendo o prazer, privilégio e responsabilidade de ministrar um curso na Escola Bíblica de Discípulos, na minha igreja local. O curso se chama O Evangelho de Jesus e o Jesus dos Evangelhos. Nesse curso abordamos vários aspectos da vida e ministério de Jesus como o Messias prometido. No nosso encontro de ontem vimos como Marcos apresenta Jesus Cristo. Ao contrário de Mateus, no seu relato, Marcos mostra a todo instante Jesus em ação, indo de cidade em cidade e realizando “sinais e prodígios”.
Mas um fato é marcante no ministério de Jesus: nas cidades de Tiro e de Sidom, Jesus não operou nenhum milagre. Apesar de visitar essas cidades várias vezes, Mateus relata que Jesus não operou nenhum sinal miraculoso nelas (Mateus 11:21). E o que chama ainda mais a nossa atenção é o fato que o próprio Jesus afirma que, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os mesmos sinais que ocorreram em Corazim e Betsaida, os habitantes daquelas cidades teriam se arrependido e se vestido de saco e cinzas!
Você percebeu o que não ocorreu? Jesus não fez nenhum sinal nas cidades mesmo sabendo que seus habitantes se arrependeriam! Ora, por que será que Jesus não operou nenhum milagre lá? Será que era por que naquelas cidades não havia nenhum doente? Será que era por que naquelas cidades não havia quem precisasse de salvação? Certamente que não. Jesus conhecia muito bem as necessidades dos habitantes dessas cidades impenitentes. Jesus tinha ciência desse fato e não operou nenhum milagre nessas cidades, simplesmente, porque não quis fazê-lo.
Jesus tinha alguma obrigação de fazer milagres? Os milagres, sinais, prodígios e maravilhas testificavam a Sua obra messiânica, mas Jesus não tinha necessidade dessas obras para ser crido como Messias. Pelo contrário. Quando Tomé exigiu um sinal visível para crer, Jesus lhe adverte dizendo que mais bem-aventurados são aqueles que creram mesmo sem ter visto (João 20:29). Portanto, Jesus não era e não é um “fazedor de milagres”. Ele nunca precisou de milagres para ser crido como Messias. Nem o diabo conseguiu convencê-lO a fazer milagre contra Sua vontade (Mateus 4:1-11).
Será que conseguimos entender que, por não realizar nenhum milagre nas cidades, Jesus limitou o oferecimento da salvação àqueles habitantes? Ora, se eles creriam com os milagres, mas Jesus não os realizou, eles não foram despertos para a salvação como os habitantes de outras cidades. Será que estou exagerando? A Bíblia ensina que a salvação pertence ao Senhor (Jonas 2:9). Já que a salvação pertence ao Senhor, Ele a dá a quem Ele quiser. Será que entendemos isso? Deus tem obrigação de salvar? Não! Ele não tem nenhuma obrigação de nada. Ele tem misericórdia de quem Ele quiser ter. E ponto!
Se a salvação é de Deus, Ele é que tem a prerrogativa de salvar ou não salvar. Na relação com a humanidade, a parte ofendida é Deus. É Ele que precisa oferecer o perdão. É Ele que precisa aceitar o pecador arrependido. É Ele a parte traída. Mas, arrogantes como somos, dizemos que nós é que aceitamos a Jesus como Salvador. Egoístas como somos, dizemos que fomos nós que escolhemos a Jesus. Pecadores que somos, dizemos que fomos salvos porque cremos em Jesus.
Se não tivéssemos recebido de Deus a fé para crermos em Jesus, jamais nos voltaríamos para Ele. Se Ele não nos tivesse amado primeiro, nunca amaríamos a Deus. Se nosso coração não tivesse sido regenerado antes, jamais teríamos escolhido o caminho da salvação. Se não fosse Ele ter operado em nós “tanto o querer com o efetuar” estaríamos ainda na nossa vida de inimizade contra Deus, andando a passos largos em direção ao inferno. Se Deus permitisse que toda a raça humana, de todos os tempos e eras, fosse punida justamente com o inferno, mesmo assim Ele continuaria sendo justo, bom e amoroso.
Lembremos sempre: fomos salvos porque Ele nos quis salvar; fomos perdoados porque a bondade dEle nos levou a isso; fomos lavados das nossas impurezas porque foi o sangue dEle que nos purificou; nosso nome está escrito no livro da vida, porque Ele mesmo o escreveu lá; nós só conseguimos amá-lO por que Ele nos amou primeiro; Ele nos aceitou porque fomos aceito por intermédio de Jesus. A nossa salvação é nossa porque nos foi dada, nós não conquistamos, nós não a merecemos, nós não a garantimos. Quem garante a vitória é o sangue de Jesus e mais ninguém.
Nota:Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível em "Música, Ciência e Teologia" 

17 setembro 2010

Não há salvação pelas obras, porque não há bem naquilo que o homem obra



 Por Mizael Reis *
 
O que a mente alienada de Deus, mancomunada com as trevas, de mãos dadas com o maligno jamais entenderá, é que a salvação em e por Jesus Cristo, se dá única, exclusiva e efetivamente pela graça e por ela somente. A graça de Deus não age na mesa da barganha nem na peita do “uma mão lava a outra”. Não espera ser correspondida pelo seu objeto de alcance, pois se assim o fosse tal graça reduzir-se-ia banalmente a uma mera recompensa, porém, uma recompensa inalcançável, inacessível, pois o objeto que por ela obrasse, a saber, o homem, jamais a alcançaria, posto que tal homem sem Deus, jamais moverá sequer um passo em sua direção, isso porque o veredicto dado pela Escritura Sagrada o desfavorece, neste julgamento do qual Deus é o supremo Juiz e aferidor da sentença:

“Deus olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um.” (Sl 53.2,3)

Somos salvos pela graça, porque pelo mérito seríamos condenados. Somos salvos pela graça, porque falta-nos a justiça necessária para entrarmos nos “santo dos santos” sem sermos fulminados. O homem sem Deus é ímpio, pois anseia tenazmente vaguear na senda incerta que o mundo o enclausurou com seus pés mancos, ouvidos moucos, visão turva e coração irremediavelmente entenebrecido pelo pecado que guerreia contra a paz de Deus, aprisionando-o no neste pecado, à mercê de suas insólitas consequencias. A ordem do Senhor para os que desejam agradá-lo é “Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada para sempre” (Sl 37.3). Porém, se tratando dos que querem agradá-lo sem responsabilizá-lo pela força e vida, tal como a seiva da raiz é responsável pelo fruto dos ramos de uma árvore, fracassarão, pois “Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque.” (Ec 7.20)
O ímpio não pode laborar a favor da verdade porque “Com as suas línguas tratam enganosamente” (Rm 3.13). Não podem com seu fôlego louvar ao Senhor porque sua “boca está cheia de maldição e amargura” (Rm 3.14). Não conseguem trilhar sua lida em busca do caminho que os leva á vida Eterna porque “Os seus pés são ligeiros para derramar sangue, em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz..” (Rm 3.15). Não hesitam em praticar a maldade porque “Não há temor de Deus diante de seus olhos.” (Rm 3.18)

Por essa razão, a salvação não pode estar sob ombros humanos, a depender de seu engajamento para satisfazer as exigências salvíficas, porque não há, e jamais haverá sequer uma partícula de luz no recôndito do seu ser a brilhar, deste para Deus, para que por essa suposta e utópica boa ação, seja por Deus conquistado e recebido para salvação porque "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém." (Jó 14.4). Analisemos a verdade da Escritura e o que por meio dela Deus nos revela. Se “do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt 15.19) e “uma vez que tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.” (Tg 3.12), como então seria possível a essa vontade, submetida a uma força maior e antecessora que a controla, trilhar autonomamente, os retos caminhos de Deus? Se o coração do homem é fonte de toda sorte de pecados e se de uma fonte apenas, não seja possível jorrar simultaneamente uma torrente de água doce e outra amarga, então não há nada que esse homem faça para que por meio de méritos próprios se faça merecedor de Deus, praticando um suposto bem o qual se acha enganosamente capaz de fazer, isso porque o homem sem Deus é homem perdido, irreconciliável, destinado a condenação. 

Certamente, ante a essa exposição radical e radicalmente bíblica, alguns que são simpatizantes a salvação que segundo acreditam, se dá sinergicamente entre Deus e homem, me dirão que há um justiça no homem sim, embora inerte, porém a espreita, a fim de que ladeada da força de Deus, motivando este Deus a agir pela a ação primeira daquele, ajam juntos para benefício da salvação do homem, mas “
Como, pois, seria justo o homem para com Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?" (Jó 25.4) Ou ainda, que homem, que por sua própria capacidade “poderá dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou de meu pecado?” (Pv 20.9). Nenhum homem pode ir contra sua própria natureza dantes boa, agora caída em sua própria estultícia porque “Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias.” (Ec 7.29) A Escritura Sagrada é a luz que vai adiante de nós, alumiando o caminho pela qual peregrinamos, e por meio dela, Deus desnuda-nos e mostra-nos quem de fato somos, e o que somos sem Deus, não agrada aos ouvidos do homem sem Deus.
Enquanto da Escritura a voz de Deus estrondeia a composição de nossa débil natureza, o homem sem Deus busca iludir-se ostentando uma força que não tem isso porque “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (jr 17.9). Ao Olhar Deus dos céus a vida dos homens na terra, ele sentencia: “Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” (Sl 14.3). Se Deus, ao observar nossa frenética vida existencial, que gira em torno dos desejos que circundam o nosso umbigo, diz que ao homem lhe é impossível fazer o bem por si só, como se encorajam alguns a dizer que nos passos pelos quais se consuma a salvação, cabe o homem dar o primeiro passo a fim de que Deus, por meio de uma ação correspondente de honra ao mérito humano, responda-o dando o segundo passo? Que graça é essa, que espera o passo inicial de alguém e ainda se intitula de graça? Se alguém receber alguma coisa por merecer a isso não devemos chamar de graça, mas sim de soldo ou ainda salário e “o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 6.23). Se a morte é seu soldo merecido e a graça é dom gratuito ternamente concedido, então a morte é o que o homem merece, embora não receba (digo dos salvos) e graça é o que ele recebe embora não a mereça. 
 
A pergunta é: Se o homem é pecador e se sua nascente é má, sendo os desejos que dela elevam-se de igual modo corruptos, donde virá o suposto bem que alguns dizem o homem ter?  A Escritura diz: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão se não há quem pregue? (Rm 10.14). Ou seja, como crerão naquele (porque por si mesmos não podem crer) que pode salvá-los, e como o conhecerão, senão por meio da palavra que apresenta Jesus aos seus corações, bem como acrescenta-lhes a fé necessária para crer nele, ou não “foi o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia?”(At 16.14). Sim de fato foi Ele, isso porque aa fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). A Fé vem, não nasce do coração do homem, vem de quem a tem para concedê-la, ela vem “descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” (Tg 1.17)
 
O homem sem Deus é tão imundo que se “tu, SENHOR, observares as iniqüidades, Senhor, quem subsistirá?” (Sl 130.3). Se Deus levasse em conta quem o homem é, nem ao menos sería estendido a nós a possibilidade de salvação. A Salvação iniciou-se não por um desejo de Deus em dar ao homem a oportunidade que lhe é de direito, mas sim “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou,” (Rm 9.23). Os que resistem em se renderem à doutrina bíblica de que Deus é plenamente soberano e soberanamente responsável por tudo que aos homens é acometido, devem compreender que a Salvação é um ato arbitrário de Deus (Resultante de arbítrio pessoal; de ninguém mais além dele), no sentido de que ele não sofreu coerção, nem imposição para levá-la a efeito; Deus não é forçado a salvar para corresponder a alguma coisa que alguém possa ter feito a ele, pois “quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?” (Rm 11.35) ou como para cumprir um roteiro de final feliz que alguém possa ter escrito para que assim o fosse. Pois então se Deus quisesse julgar-nos por aquilo que somos, nós aqui não estaríamos por isso o rogamos a que “não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente” (Sl 143.2). E se assim não quisesse agir, alguns inconsequentes entre os poupados, jamais estariam agora o indagando dizendo “Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?” (Is 45.9)   
Isso não me assombra, pois não é outra coisa, senão a medida dos homens no cabal cumprimento das profecias de Deus. Não há sequer uma ínfima possibilidade de o homem ser bom levando sua salvação a seu termo e não há justificativas plausíveis para dizer que ele o seja ou possa vir a ser autonomamente, face ao mal do qual ele, o homem, está dolosamente envolvido jurídica e soberanamente responsabilizado por Deus. Desde a mais tenra idade, ou ainda, desde o início do seu “vir a ser” ele é mal, pois “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras”. (SL 58.3). 

Muitos são os que dizem que Deus, motivado por sua livre escolha de nos amar nos poupou do furor de sua ira, que justamente nos lançaria no inferno, onde a total separação com Deus imperaria eternamente. Somos alvos de sua infinita graça, de seu amor unilateral que jamais dependeu ou dependerá de seu objeto, de igual modo afirmam. Bom, então analisemos isso às últimas consequências. Se somos alvos de sua graça, o que de fato nós somos, então caso Deus optasse por agir de forma justa e não graciosa conosco, (o que ele fará com alguns), não poderíamos reprová-lo, nem argui-lo, pois estaria punindo-nos pelos erros que segundo nos constam, somos culpados. O que é culpa, senão o que Deus imputa em nos por sermos pecadores, e o que é graça senão a ação voluntária de Deus, em que, ao invés de permitir que sejamos ovelhas obstinadamente desgarradas, esse Deus, por si só e para si só, restitui-nos ao seu aprisco, buscando-nos quando não queríamos voltar, amando-nos quando o aborrecíamos, se entregando por nós, quando sequer beleza víamos nele para que o desejássemos? (Is 53.5) Sem Deus a nossa escolha seria o pecado, nada além de nos sujarmos no lamaçal do pecado “Porque o ímpio gloria-se do desejo da sua alma; bendiz ao avarento, e renuncia ao SENHOR." (Sl 10.3)

Se o homem nasce mal, isso significa que impossivelmente ele se tornará em algo além daquilo que ele inerentemente o é. Se caso houvesse no homem a capacidade de pelos seus próprios logros ser bom ou mau, tal ênfase que lhe é dada pela Bíblia, ao dizer que o homem é pecador seria incoerente, se caso lhe fosse possível ser um ou outro, bastando-lhe apenas correr atrás do prejuízo; mas isso, Israel bem que tentou. Com mãos sujas de sangue e templo profanado pela idolatria, Israel, pôs-se a tentar cumprir os mandamentos de Deus sem Deus. Mas o Eterno chamou o profeta e a seu povo por meio dele o exortou:

“Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” (Jr 13.23)

Portanto, salvação não pode acontecer pelas obras porque não há obras que lhe sejam boas, quando produzidas estritamente pela alçada humana.

Ainda alguém poderá perguntar: Mas por qual motivo faz-se necessário dizer tão enfaticamente que o homem é pecador? Além do fato de julgar tal proclamação relevante, pela razão de constarem tais declarações como minas na Escritura Sagrada, somente assim nós compreenderemos o quanto Deus se proclama como Soberano em nossa salvação. 

Somente assim entenderemos o Senhor Jesus a nos dizer que “sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5). Entenderemos Paulo quando diz que “Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus,” (2 Co 3.5), e assim daremos toda honra à Deus e sua justiça por estarmos onde estamos, nos lugares celestiais em Cristo Jesus, restaurados ao reino do filho do seu amor, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo.                 Finalmente, assim, somente assim subiremos humildemente “ao templo”, não a esbanjarmos uma louca auto-justiça diante do Eterno, mas sim batendo a mão sobre ao peito, ao menear de nossa cabeça, certificaremos o quão indignos somos de seus favores, e assim declararemos, no grito de um suplicante pecador: “O Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lc 18.13)  
Nota: * Texto gentilmente cedido pelo autor, e disponível originalmente em Somente pelas Escrituras e por ela somente 

16 setembro 2010

Escatologia Individual


Por Paulo Brasil *


A MORTE

A Escatologia individual considera aquilo que é dado como certo na existência das pessoas. Logo, o primeiro ponto a ser considerado é a morte. O adágio popular leva o homem a saber que "da morte ninguém escapa". Mesmo que a experiência objetiva da morte não seja estendida a todos, conforme às Escrituras, podemos afirmar que em regra geral todos se depararão com ela. 
Compreendê-la, pois, é de vital importância dentro do propósito da Escatologia individual. Devemos, primeiramente, identificá-la, quanto possível por sua dimensão: 
(1) a dimensão física ou natural que todos podem observá-la; 
(2) a dimensão espiritual onde, pela Revelação e a experiência dos santos na regeneração, pode-se  efetivamente compreendê-la.
O texto de 1 Tm 5:6:
 “entretanto, a que se entrega aos prazeres, mesmo viva, está morta.”
oferece o ensino de morte e vida em uma mesma pessoa. O contexto mostra que pessoas que vivem desordenadamente, à parte da santidade exigida por Deus estão vivas sob determinado aspecto, mas mortas sob outro. Necessário é definir sob qual aspecto há vida, e sob qual há morte. Recorreremos ao livro de Gênesis para caminhar em direção a compreensão do texto supra. A seguir a advertência divina feita a Adão (Gn 2.17): 
"mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás". 
Há eventos que ocorreram que permitirão concluirmos: 

(1) Adão foi expulso do do Jardim, conforme Gn 3:24: 
"E havendo lançado fora o homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma espada flamejante que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida".
Depreende-se que a partir desse momento o homem ficou privado da árvore da vida, uma dimensão da morte aqui nos é revelada. 

(2) Lemos ainda em Gn 5:5: 
"Todos os dias que Adão viveu foram novecentos e trinta anos; e morreu."
O contraste entre os termos "viveu e morreu", oferece-nos com clareza que a morte de Adão ocorreu conforme observamos em todos os nascidos. 
Ao primeiro evento, atribuímos o nome de morte espiritual, pois ocorreu quando da quebra da unidade entre o Autor da vida e o homem. Morte que Adão experimentou imediatamente após sua transgressão, o que, por sua vez, nos obriga afirmar a existência da vida em sua dimensão espiritual.
Ao segundo, chamamos de morte natural ou física, ocorre quando quebra da unidade constitucional do homem, a saber, parte material e parte imaterial da criatura. Morte essa que Adão experimentou mediatamente após novecentos e trinta anos de vida, o que nos obriga afirmar a dimensão da vida física ou natural. Em relação à morte natural, 
Salomão retratou-a no livro de Eclesiastes, com a visível separação do corpo (pó, referenciando-se à origem do corpo) e do espírito. 

“e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. (Ec 12:7)

Nossa existência é uma herança passada de geração a geração desde de Adão, portanto herdamos de nossos pais as duas dimensões da existência - natural e espiritual. Nascemos, estamos vivos na dimensão natural, mas mortos, na dimensão espiritual, o que está de acordo com o texto inicial, e ainda com: 
"Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente".(1Co 2:14) 
Assim, a morte espiritual é evidenciada pela rejeição das verdades bíblicas, em virtude da incapacidade natural do homem em discerni-las. Logo mesmo viva (natural) está morta espiritual. Esta condição é também conhecida como Depravação Total. Sendo comum a todos descendentes de Adão, conforme Rm 5:18, que diz: 
"Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida." 
Observe o contraste entre "juízo para condenação" e "graça para justificação e vida".  Podemos concluir que a morte espiritual é ausência de relacionamento com Deus, que toda a humanidade herda por natureza. 
O restabelecimento da vida é feito por um ato exclusivo, livre e soberano de Deus que é a Regeneração (União com Cristo), que como consequência produzirá a fé.  
Portanto, vida e morte NÃO devem ser entendidas como EXISTÊNCIA e NÃO-EXISTÊNCIA, mas sim, como união ou separação de Deus, ambas com existência, ou seja, com consciência. A vida é a existência em unidade com Deus, portanto morte é a existência separada de Deus. Compartilha desta posição Erickson :  
“A morte e a vida, de acordo com as Escrituras, não devem ser entendidos como existência e não-existência, mas como dois estados de existência; não é como costumamos imaginar, extinção.”[1]
O ESTADO INTERMEDIÁRIO
Este tópico trata do intervalo de tempo entre a morte física e a ressurreição, à guisa da Revelação.
temos dificuldades nesta doutrina, a primeira é a escassez de material escriturístico para sua plena sistematização. A segunda, é a perspectiva da Teologia Liberal que influenciou todas as gerações a partir da segunda metade do século XIX, que apontava contrariamente à ressurreição física, contudo afirmava  a imortalidade da alma. Doutro lado a Neo-ortodoxia veio com um conceito de ressurreição necessária, que apregoava que a existência humana exige corporalidade, o que implicava na não existência da alma separada do corpo. 


O Liberalismo, com sua NÃO RESSURREIÇÃO, e a Neo-ortodoxia com a IMPOSSIBILIDADE DA EXISTÊNCIA REAL FORA DO CORPO são os dois falsos conceitos que contribuem negativamente para a aceitação desta doutrina.
Devemos tomar como ponto de partida uma verdade das Escrituras: Há um estado intermediário e que ele é inadequado ou transitório, mas real. Pois o apóstolo expectava por um revestimento, onde é clara a alusão ao corpo ressurrecto. 
"E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial; ..[..]..  , para que o mortal seja absorvido pela vida". (2 Co 5:2-4)
Na ressurreição dar-se-á este revestimento (1 Co 15), quando receberemos um corpo aperfeiçoado, eterno. A existência deste estado é claramente mostrada no Evangelho de Lucas 16.22-24.


"Aconteceu morrer o mendigo ..[..].. morreu também o rico e foi sepultado ..[..]... estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama".

Vemos que ambos, Abraão, o rico e Lázaro, passaram pela morte, porém se encontram em situações totalmente diferentes. O rico demonstra consciência mesmo pós a morte: Reconhece Abraão, expressa seu tormento, suplica por algo que amenizasse sua dor e sabe quem é Lázaro e de que ele seria capaz de fazer. Esta passagem permite afirmar da existência de vida consciente após a morte. Podemos inferir que a condição do rico, pelo menos, era de desencarnado.
"..[..].. morreu também o rico e foi sepultado".(v. 22)
Concluímos que o estado Intermediário, ou seja o intervalo de tempo entre a morte e a ressurreição é caracterizada por vida consciente. E pessoas que neste estado se encontram gozam do consolo e a expectação da ressurreição, enquanto outros se encontram em tormentos. Erickson diz :
"Entre a morte e a ressurreição, há um estado intermediário em que crentes e incrédulos experimentam, respectivamente a presença e a ausência de Deus." [2]
[1] M. ERICKSON, Introdução à Teologia Sistemática, p. 484.
[2] M. ERICKSON, Introdução à Teologia Sistemática, p. 493.


Nota: * Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível em Através das Escrituras

12 setembro 2010

O Filho do homem, por que?







Por Helvécio S. Pereira*

Que a Bíblia seja repleta de declarações e revelações únicas é um fato. Que muitas são controversas ou até incomprensíveis até o presente momento, também constituem em mais um fato facilmente observável e constatável. Entretanto há, por várias razões e conveniências, uma preferência por algum texto, declaração e revelação, em detrimento franco de outros. Esse também é outro fato.
Muitas vezes nos debruçamos sobre algum tema, não por ser primordial naquele momento, mas por simples gosto, ignorando decididamente elementos e coisas que no nível individual e pessoal se fazem claramente mais importantes. Não é ilegítimo e nem tão  pouco errado, trata-se de fato de uma exercício as vezes aleatório. Essa é uma abordagem, digamos fascinante, como todas as feitas em cima do que as Escrituras revelam, mas que não podem servir de complicador ou de tropeço a caminhada e ao conhecimento pessoal do Senhor, e de Seus perfeitos propósitos. O que não quer dizer que seja desprezável, antes pelo contrário.
Uma expressão encontrada casualmente nos Evangelhos, pode ser usada no dia a dia, por simples gosto ou simpatia por parte de alguns crentes, sendo dai para frente de uso corrente no exercício da sua teologia popular, ou ainda que seja, uma teologia leiga:  a expressão "Filho do Homem". Normalmente por descrição mais objetiva e clara, e Sua divindade, referimo-nos mais comumente a Jesus como "Filho de Deus", por Sua particular e única forma de existência. O dogma máximo do cristianismo e que não pode ser movido, é sem dúvida alguma  "Jesus Cristo é Deus e Filho de Deus". Qualquer igreja ou denominação cristã, independente de seu tamanho e poder institucional, organização, etc, que mover e modificar essa declaração, jaz em terreno movediço e de franca negação do que as Escrituras claramente declaram na sua unidade doutrinária. 
Em um bom compêndio teológico, a simples bibliografia de referência, em que o autor se baseia, ultrapassa uma página inicial do capítulo. Se desejar repisar os passos do autor terá de adquirir, fazer o mesmo estudo e chegar as mesmas ou outras variantes, da mesma conclusão. Tentarei portanto, com as minhas palavras, fugindo do termos teológicos que transforma qualquer abordagem em um gueto, em que contempla somente os que tem prazer e podem usar tais termos, excluindo desse modo da compreensão  os demais leitores, o que pretendo ainda que primariamente evitar.
Direta ou indiretamente, a expressão "Filho do Homem" leva-nos a lembrar da humanidade de Cristo. Para a maioria dos Cristãos, Cristo não era um fantasma, não era uma ilusão, não era um sobrehumano, mas inteiramente e perfeitamente humano. Ninguém imagina o Jesus  da ascensão subindo aos céus pelo fato de ser uma miragem, uma névoa, mas um corpo sólido, com massa de um corpo humano, com imagináveis  bem menos que oitenta quilos. Não era  um Jesus com obesidade mórbida e nem tão pouco um faquir. Era normal, perfeitamente normal com um corpo adequado a todas as funções normais e portanto passíveis de serem plenamente executadas por um corpo funcional.
Vale ter uma relativa atenção ao fato que  a expressão "Filho do homem" foi usada preferencialmente pelo próprio Senhor Jesus e não por outra pessoa. Ninguém mais o usou referente ao Senhor. A igreja primitiva não usou esse título com relação a Jesus Cristo, nosso Salvador. Guarde essas três coisas, esses três detalhes. Uma excessão foi por ocasião do suplício de Estevão ( Atos 7:56). Na boca do próprio Senhor, nos registros dos quatro evangelhos, são mais de sessenta e cinco vezes. Pode-se e deve-se rever cada uma dessas vezes com o uso de uma chave bíblica e recorrendo a traduções diferentes das Escrituras ( daí a diferença de uma para outra dos números ).
Como já repeti ( eu não estou reiventado  presunçosamente a roda ) a expressão tem a ver com a humanidade de Jesus. Refere-se, segundo a abordagens mais antigas à humanidade de Jesus e a Sua identidade com  os homens. Tem, entretanto um problema, ignora o uso e contexto histórico da expressão nos dias de Jesus ou antes. Então há mais do que simplesmente estilo literário ou de  fala empregada.
Os motivos são, portanto, segundo estudiosos, óbvios:
                                     
Tal título não existia em aramaico, língua corrente à época e materna de Jesus.
 Por razões linguísticas o termo é intolerável, considerado como vocábulo impossível. 

A forma plural, "filhos dos homens"  entretanto aparece em Marcos 3:28. Estudiosos concluem em parte que Filho do Homem pode ser uma título messiânico. Há outras objeções linguísticas de menor importância se fossem verdadeiras, como a simples substituição da primeira pessoa  ( eu ) pela expressão "Filho do Homem", algo sem tradição e no costume do uso na língua usada pelos  judeus contemporâneos de Jesus. Trataria, de no mínimo, uma expressão invulgar.
Se não é comum no Novo Testamento, é amplamente usada no Antigo Testamento, a expressão "filho do homem" ( Daniel 7:13 e 14, Daniel 7:21 a 27 ). Mas sem pressa, estudiosos eruditos, a teologia acadêmica, não fecham o assunto com base nesses únicos textos.
O debate é longo e as leituras tem de ser obrigatoriamente refeitas não uma, duas, mas várias vezes, e sem contudo garantia absoluta de uma conclusão satisfatória e cem por cento segura, teologicamente falando. Entretanto gostaria de ressaltar algo bastante pertinente: a certa altura, Jesus contrasta o seu ministério ( serviço, obra ) com a de João Batista que, dentro dos propósitos divinos o antecedia.
Jesus contrastou sua própria conduta com a de João Batista. de que modo? Em que ponto exatamente?João veio como um asceta; Jesus, por outro lado, como o Filho do Homem, veio como um ser humano normal, comendo e bebendo (  Mateus 11:19 e Lucas 7:34 ). Em, Marcos 2:27 e 28 fica mais clara  a  possível reivindicação de Jesus ao usar a expressão "Filho do Homem" como um título somente atribuído e legitimamente a Si próprio:  "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. Pelo que o Filho do Homem (Jesus) até do sábado é Senhor." O Filho do Homem é portanto alguém com autoridade distinta dos demais homens, embora todos os demais homens sejam mais importantes que o sábado.
Em outra ocasião fica claro o contraste entre a autoridade e a condição de humilhação em que Jesus é exposto todos os dias do exercício de Seu ministério junto a nós, seres humanos. Em Mateus 8:20 e Lucas 9:58, encontramos:
"As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça."
Filho do Homem é portanto claramente um título que reflete uma missão, e o sue uso pelo próprio Senhor, tem caráter revelador de Seu ministério, tanto em poder como em extensão, alcance. Em Lucas 19:10 encontramos:
"Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido". Tal novidade, de fato o era para os seus interlocutores judeus, conhecedores  da visão de Daniel, os deixavam perplexos pois entendiam que aquele Jesus era pré-existente, um ser celestial, reivindicando uma deidade de Cristo. O fato do Filho do Homem pré-existente,  aparecer sobre a terra como homem entre os homens, em humildade e limitação e ao mesmo tempo ser homem celestial e pré-existente os chocava grandemente e demandava uma posição: crer ou não nesse fato e obviamente nas Suas declarações.
Vale ressaltar que a idéia de um "Filho do Homem" em glória era, não somente aceita e familiar, como desejável e esperada pelos judeus contemporâneos de Jesus. A grande "novidade", poderíamos dizer, era o fato de o "Filho do Homem" Jesus, ter que padecer e sofrer, submetendo-se a esse sofrimento e provação. Em Mateus 26:64  encontramos a predição da exaltação final do Filho do Homem:
"Vereis  o Filho do Homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu". Uma conclusão é que longe de inócua ou apenas expressiva como linguagem a expressão "Filho do Homem" 
revela a dignidade como Salvador (Messias) e sua função como Salvador, o que Ele, Jesus, deveria passar para efetuar essa salvação. Os discípulos, vale lembrar, já criam -No como Messias, mas a compreensão de como isso se daria era ainda distante.

Os ensinos de Jesus, nosso Senhor e Salvador, a respeito do Filho do Homem estão intrícicamente ligados aos ensinos do Reino de Deus. O Reino de Deus manifestou-se entre os homens de um modo inesperado. Jesus o futuro Filho do Homem glorificado, foi enviado, digamos incógnito, ente os homens, contra as mais humanas expectativas. A expressão Filho do Homem, empregada pelo próprio Senhor Jesus, quando corretamente equacionada, dá-nos a fiel descrição de Jesus como o Messias, um ser celestial e humano, nem mais um nem mais outro, com as duas características inegáveis ao Seu  messianato. 

*Nota: Texto gentilmente cedido pelo autor e disponível originalmente em O Pregador

10 setembro 2010

Frustrações Proféticas




Por Natan de Oliveira*

O homem tem um defeito que é o do imediatismo.

Em geral os homens são ansiosos e impacientes, desejando que as coisas ocorram na sua vida e na sua geração.
Não são poucos os que eu conheço (cristãos) que acreditam piamente que não irão morrer, e que fazem parte da geração que irá ser arrebatada ainda viva.

O tempo vai passando e eles vão morrendo um por um.

Esta mania de que as profecias devam ou se apliquem a sua geração, acaba gerando certa frustração profética, que só não é mais grave porque os homens morrem antes da frustração se consumar totalmente.

Importante também notar que Deus trabalha com outro sistema de contagem de tempo, e parece ser tardio.

"Porque mil anos são aos Teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite." Salmos 90.4

Exemplos são vários:

- Especulo que Abraão sofreu de tal frustração, uma vez que recebeu a promessa de Deus e acabou morrendo sem ver “materializadas” todas as promessas;

"Disse-lhe mais: Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te este terra, para a herdares." Gênesis 15.7

- Jacó, reconheceu no final da vida que os seus anos foram sofridos, e talvez no final da vida com a posição de José, tenha se consolado e sido o que menos se frustrou, mas... também não viu as promessas feitas ao pai e avô se cumprirem;

"E Jacó disse a Faraó:... poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida..." Gênesis 47.9

- O povo que saiu do Egito, com grandes milagres, e o fim de uma escravidão de 430 anos, certamente saiu de lá com uma grande expectativa de na sua própria geração dar entrada na terra prometida, mas... a terra prometida ainda demoraria 40 anos para iniciar a ser conquistada. Morreram todos os adultos no deserto exceto duas pessoas (dos que saíram com vida do Egito);

"Neste deserto cairão os vossos cadáveres... contra mim murmurastes; Não entrareis na terra... salvo Calebe filho de Jefoné, e Josué, filho de Num." Números 14.29-30

- Uma vez na terra prometida, o milagre não caiu do céu... ela teve que ser conquistada cidade por cidade, luta a luta, com muito esforço, e por várias e várias gerações, e com algum retrocesso. A conquista foi lenta, e se deu na medida em que os animais selvagens foram ficando em menor número e na medida em que a iniqüidade dos povos a serem conquistados ia chegando a um limite de tolerância por parte de Deus. Assim Deus ia liberando a conquista na mesma medida que julgava tais povos cruéis e impiedosos;

"Não os lançarei (heveus, cananeus, heteus) fora de diante de ti num só ano... Pouco a pouco os lançarei de diante de ti, até que sejas multiplicado, e possuas a terra por herança." Êxodo 23.29-30

- A medida que os anos passavam e os profetas sinalizavam a vinda futura do Messias, o sentimento da expectativa da vinda do mesmo foi se intensificando, e dezenas de gerações morreram nesta espera;

"E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel e dos profetas... E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa." Hebreus 11.32...39

- O povo hebreu em cativeiro também tinha no coração tal espera, e Daniel estudando as escrituras entendeu que já haviam se passado em dado momento, os 70 anos profetizados sobre a duração do cativeiro do povo. Depois de um tempo, o anjo veio então lhe anunciar que 70 semanas de anos estavam ainda determinadas sobre o povo, e isto dava... que "frustração"... (70 semanas * 7 anos cada) 490 anos ainda a serem esperados;

"... eu, Daniel, entendi pelos livros que o número dos anos, de que falara o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de cumpri-se as desolações de Jerusalém, era de setenta anos." Daniel 9.2

- Mas enfim, os anos foram passando, e os 490 anos foram chegando a uma contagem cada vez menor, até que finalmente as profecias precisavam se cumprir, e de tal forma que o velho Simeão quando pegou o menino Jesus no colo, ele disse “Senhor, despede o teu servo pois....”. Certamente não passava (especulo eu) outra coisa na imaginação do ancião, de que o Reino estava próximo (e de fato estava) e que se “materializaria” trazendo grande prosperidade à Israel. Imagino que se ele não tivesse morrido logo após ter visto Jesus, acredito que seria mais um de certa forma frustrado profeticamente;

"Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão... E fora-lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele não morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor... Ele, então, o tomou em seus braços (o menino Jesus), e louvou a Deus, e disse: Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação..." Lucas 2.25...30

- Os apóstolos igualmente apostaram todas as suas fichas na implementação do Reino, e disputavam quem seria literalmente o mais próximo no Reino do Senhor. Imaginavam eles um Reino literal que os libertaria da mão do Império Romano.... Ao final totalmente frustrados não sobrou nenhum só junto ao Senhor quando da sua prisão, e depois só retornaram todos meio envergonhados a se ajuntarem quando souberam que o Senhor havia sido visto após a morte... Se não fosse a ressurreição, a frustração teria sido total;

"Então, deixando-o (os discípulos), todos fugiram. E um certo jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe a mão, mas ele, largando o lenço, fugiu nu." Marcos 14.50...52

- Mesmo após a ressurreição, e agora então sabedores que o Reino era espiritual, que o verdadeiro Israel não era mais o de sangue (nunca tinha sido na realidade), saíram fortemente motivados a pregar as Boas Novas e conseguiram isto por todo o mundo ainda naquela geração... mas... a expectativa da vinda do Senhor para implementar o Reino “literalmente” era grande entre eles, que até mesmo o apóstolo Paulo teve que corrigir que a vinda não seria em breve, e mesmo o apóstolo pode ter sofrido de tal “frustração” pois em um escrito demonstra que de certa forma almejava estar entre os vivos quando do arrebatamento;

"Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento... como se o dia de Cristo estivesse já perto." 1 Tessalonicenses 2.1-2

- O não entendimento correto (escrevo aqui pressupondo que o entendimento correto é o pós-milenista preterista parcial – mas respeito as demais correntes escatológicas) das profecias, levou desde aquela época até os dias de hoje, a que os cristãos marcassem a volta de Jesus por mais de 200 vezes desde o ano 100 (recebi esta lista não faz muito tempo de um amigo);

- E frustração sobre frustração... ele não voltou como idealizado;

Pois bem, vivemos uma geração que sofre do mesmo mal (a frustração profética).

Vivemos uma geração que vive diariamente a marcar a data da volta do Senhor e que colocou Deus em xeque-mate, pois a “Figueira” é a geração de 1948 e Jesus então tem que voltar até que todos os nascidos neste ano ainda estejam vivos... Daria quem sabe 2068?

"Aprendei, pois, esta parábola da figueira... Em verdade vos digo que não passará este geração sem que todas estas coisas aconteçam." Mateus 24.32...34

Mas o Senhor virá neste limite? Provavelmente não. Principalmente porque ele virá inesperadamente como um ladrão.

"... porque o Filho do homem há de vir á hora em que não penseis." Mateus 24.44

Não é como nós queremos.
Os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos.

"Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos." Isaías 55.9

É muito provável, mas muito mesmo, que todos venhamos a morrer, a medida que o tempo passe.

Como se curar desta frustração profética?

Minha receita é:

- Entenda que o Reino não é deste mundo, mas com reflexos neste mundo;
- Trabalhe para que o mundo seja melhor e que os valores do Reino sejam levados a todos os lugares;
- Entenda que a sua vida pode terminar a qualquer momento, mas que a perspectiva do Reino enchendo toda a terra como as águas cobre o mar, pode levar ainda muitos e muitos anos;
- Não se omita de atuar na sociedade, ocupe os espaços que ninguém quer ocupar;
- Não seja pessimista quanto ao mundo, nem quanto ao futuro, por mais que as coisas piorem, trabalhe sempre pela melhora, pois o Senhor prometeu que estaria conosco até a consumação dos séculos;
- Creia na promessa do Grão de Mostarda;
- Creia na promessa da Levedação da Massa;
- Selecione o que os seus olhos vão ver: boas leituras, bons programas...;
- Não permita que seu filho e as novas gerações se contaminem com o atual pessimismo global, pregue a eles que o futuro a Deus pertence, mas cabe a nós subordinados a Ele trabalharmos por um futuro melhor a partir da realidade presente;
- Entenda que o sal foi feito para salgar (aqui e agora). No céu, já não teremos função de sal.

"Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar." Habacuque 2.14

É claro que mesmo aplicando todos os conselhos acima, é possível que você ainda seja atacado pelo “vírus” da frustração profética.

Mas entenda que:

- As profecias todas se cumprirão;
- A Escritura não falhou naquilo que ainda não se cumpriu;
- Apenas ocorre, que como os antigos (já listados acima alguns casos) interpretamos a escritura pela duração e o imediatismo da nossa vida de no máximo 100 anos;
- Deus não é mentiroso, apenas tardio (pela nossa perspectiva);
- Viva por fé!

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Porque por ela os antigos alcançaram testemunho." Hebreus 11.1-2

"Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixamos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos COM PACIÊNCIA a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus." Hebreus 12.1-2 


Nota: * Texto gentilmente cedido pelo autor e originalmente disponível no blog "Reflexões Reformadas"

01 setembro 2010

Igreja Ladeira Abaixo

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Por mais que busque justificativas para as bizarrices encontradas no meio das igrejas não encontro. Parece-me uma luta inglória. Estou ficando enjoado e enojado diante daquilo que tenho visto e ouvido. A grande marca das igrejas é a estreiteza de mente e uma busca implacável pela mediocridade. Tirando um percentual de comunidades que ainda preservam a Sã Doutrina, esbarramos em número assustador de comunidades e principalmente as neo-pentecostais praticando um anti-cristinianismo.

Gostaria de apontar algumas situações que tem me levado a obviar tais comunidades e líderes.
1 - Tenho visto com muita freqüência uma nociva insistência por parte de um grande percentual da liderança evangélica em desprezar o saber e principalmente o saber teológico. Insistem em desprezar a história e suas lições. Insistem em abandonar os marcos deixados e fazendo assim encontram-se sem parâmetros para seus comportamentos. Creio que a busca por uma teologia sadia é mais dolorosa do que a aceitação tácita de heresias grotescas. O grande problema é que quanto mais as lideranças distanciam da Sã Doutrina mais comprometidas ficam com os erros doutrinários e depois não possuem a hombridade de voltar atrás. Muitos líderes ouviram o galo cantar e não sabem onde. Ouviram algumas afirmações no passado e nunca procuraram saber se eram ou não verdadeiras. Em meu tempo de mocidade havia um livro que fez muito sucesso. Seu autor era Don Gosset e o livro era Há Poder Em Suas Palavras. Virou Best Seller. Aceitávamos como verdade as palavras do autor, pois, este era americano e se era bom para os americanos deveria ser bom para os Brasileiros. Conceitos distorcidos que durante anos vivi. Mas como Paulo disse em sua carta aos corintos chegou o tempo de deixar as coisas de menino e buscar as coisas de adulto. Aprendi na faculdade que é preciso dialogar com os autores e checarmos as bases de suas afirmações. Procurar encontrar o cerne ideológico dos mesmos e separar joio do trigo. Depois de muitos anos percebo que boa parte da liderança evangélica ainda aceita acriticamente os livros e nunca empreendem um diálogo com seus autores. Estão assentados em bases frágeis e se aferrenham a elas como bóias salva-vidas. Quase sempre não se abrem para outros pontos de vistas e insistem em argumentos ultrapassados e com data de validade vencida.

Realmente existe uma resistência à pureza do Evangelho simplesmente por falta de amor à verdade como Paulo disse. “Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade”. II Tm. 3:7 - II Tes. 2:10.
 
2 – Tenho visto com freqüência uma atitude de lassidão em relação ao pecado. E isso acontece no meio da liderança evangélica e se espalha pelo corpo de Cristo. Destaco o fato de que pecados cometidos por líderes não são tidos como coisas hediondas, mas normais. Sempre apresentam o mesmo argumento idiotizante que não podemos julgar para não sermos julgados. Fico pensando, se julgar é incompatível com a fé cristã como denunciaremos os erros dentro de nossos arraiais? Se existe incompatibilidade entre julgamentos e o crer em Deus então logo não existe pecado nem erros, pois, os mesmos não podem ser julgados. Atribuem esse julgamento a Deus somente. Se assim fora, teremos que erradicar do Novo Testamento as denúncias de Paulo e Pedro que abertamente apontaram para o pecado e mostraram o que fazer. Eis alguns exemplos: I Cor. 5:1-5; II Tm. 2:14-18; II Pe. 2.

Pecados de lideranças devem ser tratados com a maior intensidade possível, pois, seus exemplos são seguidos por muitos. Cristo disse que “... e, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”. Lc. 12:48.

Ficou normal um líder se divorciar e permanecer na mesma igreja como se nada tivesse acontecido. A igreja perdoa e tudo continua bem. Isso é uma aberração em nosso meio. Como permanecer na liderança aquele que não governou bem sua casa? Se houve adultério por parte da liderança, que exemplo foi dado para a igreja principalmente para os jovens. Muitos pensarão e agiram assim: “se o pastor pode também nós podemos”.
E o que dizer sobre os pecados contra a Palavra? Afirmações grotescas que ultrapassam e contradizem a Palavra de Deus são tidas como verdadeiras. Quem faz tais afirmações por ter grande visibilidade torna-se oráculo celestial inquestionável e infalível.

Aqui está em foco a igreja, seus membros. Essa tendência de aceitação acrítica de tudo que é exarado dos púlpitos é algo doentio. Pessoas com grandes capacidades mentais em seus segmentos de atuações se anulam dentro das igrejas, pois, têm medo de pecar contra Deus. Vêm as maiores aberrações sendo derramadas sobre suas mentes e nada dizem. Tais pessoas andam no limite da idiotice. Não existe incompatibilidade entre fé e conhecimento. Nunca existiu. Qualquer afirmação que Deus revelou ou falou deve passar pelo crivo, crisol da Santa Palavra de Deus e se se constatar desvio deve ser desprezada por completo.
 
3 – Tenho visto com freqüência uma insistência em desprezar a Palavra em troca de revelações estapafúrdias.
No meio neo-pentecostal isso é contumaz. Aceitam tudo como sendo de Deus e mesmo que ofenda a Palavra vale mais a pseudo-revelação. Isso da enjôo em qualquer um. Vi uns vídeos postados no youtube onde o pregador advinha a rua, o número da casa e trabalho das pessoas. O pregador dizia o tempo todo assim: “to entendendo Jesus, to entendendo Jesus...”. O que mais me entristeceu foi que pessoas que conheço pessoalmente aceitaram acriticamente tais coisas e achavam que eram revelações de Deus. Esse tipo de revelação já virou coisa comum no meio evangélico. A postura desses pregadores dá a entender que possuem uma comunhão especial com Cristo e que recebem revelações diretas e se intitulam profetas de Deus. Não pregam a Palavra, mas promovem espetáculos para as massas. Como diziam os romanos: “panis et circenses”. As pessoas rodopiam, caem, são arrebatadas, pulam como cangurus, choram e depois percebem que nada mudou. Paulo nos adverte contra tais homens: “Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. Mas é grande ganho a piedade com contentamento”. I Tm. 6:3-6.

Creio firmemente que as igrejas neo-pentecostais e suas lideranças inaptas estão jogando o evangelho ladeira abaixo. Creio que os estragos feitos são irreparáveis. Creio que o desprezo pelo ministério tem trazido mais vergonha do que glória para o nome de Cristo. Creio que o momento da igreja tenha passado no Brasil. Creio que os maiores culpados são aqueles que se calam covardemente diante de tais atrocidades. Creio que cada pastor consagrado sem o devido preparo, guardando as devidas proporções, será uma porta aberta para heresias e comportamentos exóticos e anti-bíblicos.

Por haver uma insistência em desprezar a Palavra o que sobra é a exaltação das emoções. Vale mais o sentir. Vale mais o arrepio. Vale mais o sensorial. Estou cansado de ver idolatria na igreja. Sim, idolatria mesmo. Quantos cultos têm como maior atrativo a entrada de um modelo da arca da aliança com seus querubins etc. Os líderes se vestem com longas batas e o povo e incentivado a tocar neste embuste em forma de arca da aliança. Em uma galeria em Belo Horizonte existe boxe somente para vender coisas ligadas à idolatria como: candelabro de sete pontas, modelos variados da arca da aliança, óleos especiais para unções variadas etc. Fiquei sabendo que em uma cidade do interior mineiro abriram uma loja gospel que vende kits para campanhas nas igrejas. Tudo já vem pronto é só pegar e distribuir. Se os kits não estiverem no balcão abrem um catálogo e você escolhe o que melhor lhe convier.

Precisamos encontrar o equilíbrio entre razão e emoção. Nossos cultos podem e precisam ser vivenciados com emoção, mas nunca emoção desprovida de razão. Paulo aponta para que nossos cultos sejam racionais e íntegros, mas isso virou carência.
 
4 – Tenho visto com freqüência uma insistência pelo imediatismo e pragmatismo.
Como vivemos em uma sociedade Fast Food, as soluções para vida também devem ter essa característica. As igrejas estão oferecendo soluções milagrosas a qualquer custo. Estão oferecendo soluções que nunca chegarão. Afirmações mentirosas e incabíveis são feitas para atrair os incautos. As pessoas querem o imediato o curto prazo. Daí termos profecias esdrúxulas e mundanas. Quem não se interessa ou quer ter vitória financeira rapidamente? Quem não ofertaria dinheiro para alcançar cura, salvação e libertação financeira. Em um país que tem um governo assistencialista e uma população que quer levar vantagem em tudo, tais promessas ou profecias são juntar o útil ao agradável.

Por pensar somente no curto prazo estamos degradando o meio ambiente, multiplicando os assaltos, matando desavergonhadamente no útero materno. Vi um vídeo onde Edir Macedo defende o aborto como programa de planejamento familiar. Trata o aborto como solução para criminalidade e pobreza. Tais posturas somente apontam para o curto prazo. Quem deveria defender a vida a processa, condena e executa sua sentença de morte em menos de sete minutos de vídeo.

Pastores oferecem soluções mágicas para verem suas igrejas cheias e seus caixas abarrotados de dinheiro, pois, assim ganharão prestígio socialmente. Oferecem ocuidade para o vazio do homem. Fazem das pessoas massa de manobra para alcançarem seus objetivos mundanos. Esquecem-se que prestarão contas das almas a Cristo o Senhor. Perderam o temor do Senhor e tratam a Sua Obra como empresas e não como igreja.

O certo é que esta visão de curto prazo não leva lugar algum. Somente aumenta o vazio do homem e fortifica a desesperança já reinante.

Soli Deo Gloria

Pr. Luiz Fernando R. de Souza

*Nota - Texto gentilmente cedido pelo autor e disponivel originalmente em Forca para Viver